CONTOS DE FADA NADA INFANTIS

A Bela Adormecida e o Beijo de Amor Verdadeiro

A bela adormecida e o beijo de amor verdadeiro

Aurora seguia no mundo de sonhos. Acontecimentos tão reais, que não parecia dormir.  Acontecimentos que faziam parte de sua vida ou daquele mundo que a abraçara de repente. Não pareciam somente lembranças. Pareciam mais…

***

– Não faça isso! – Pediu o rei.

– Ela será bela e feliz, mas quando seu vigésimo segundo aniversário chegar¹, Irá furar o dedo numa roca de fiar e cairá num sono profundo. Só um beijo de amor puro e verdadeiro poderá lhe despertar!

Malévola gargalhou assombrosa e saiu do salão do castelo daquele homem, que havia arruinado a vida dela e a inocência. O rei, angustiado pela maldição, mandou destruir todas a rocas de fiar do reino (Essa história todo mundo já conhece). Mandou que três fadas levassem sua filha para cria-la numa cabana no meio da floresta. Elas não poderiam voltar para o reino, antes que Aurora completasse vinte e dois anos.

Aurora cresceu linda e alegre. Aos quatorze anos, conheceu um filho de lenhador e fez amizade com ele. Parecia gostar rapaz, mas quando o menino a beijou, estranhou e não gostou do beijo babado. Continuaram amigos, pois ela era uma garota doce, no entanto, o evitava para que ele não quisesse a beijar novamente.

Seguiu a vida pacata na floresta, sendo educada pelas três tias, que diziam a ela que os pais haviam morrido. Conheceu o filho de um caçador quando tinha dezesseis anos. Entre caçadas com o rapaz, conversas e uma amizade crescente, deixou que ele a beijasse também, após ter dado a ela uma linda cachorrinha de pelos curtos e claros. O beijo não foi o que Aurora imaginava ou gostaria. Foi um beijo rude e bruto.  Afastou-se do rapaz, mas a cadela que ele deu, Aurora nomeou de Clir, que significava clara.

Ela se sentia contente com a vida, e seguia sempre acompanhada da cadela. Contudo, parecia que algo a incomodava. As tias ”fadas” a orientavam e diante da vida solitária de Aurora, não interferiam nas descobertas juvenis. Davam-lhe conselhos para que nunca ficasse com alguém que ela se sentisse mal com a presença. Não queriam que fosse oprimida em seus sentimentos.

Aos dezenove anos, Aurora conheceu o filho de um ferreiro. O beijo dele não era babado e nem rude, no entanto, não lhe dava a menor emoção. Decidiu que a melhor forma de viver era como a que levava. Sentindo segurança, e passando horas brincando nos campos e na floresta com Clir. Um dia, um pássaro negro pousou num tronco de uma árvore caída, onde ela descansava com a cabeça.

– Quem é você? – Ela perguntou. – Sinto que me protege há pelo menos um ano.

O pássaro se transformou numa mulher, lindíssima, que se deitou ao lado dela.

– Sou a fada Malévola. Eu lhe amaldiçoei, porque seu pai me mutilou cortando minhas asas, desgraçando-me da vida como fada. Quero lhe dizer que errei e peço perdão, por ter feito isto. Quando o fiz, você ainda era jovem e eu queria vingança, todavia no último ano, vim lhe ver e observei que é uma boa garota. Devia ter lançado uma maldição sobre seu pai e não sobre você.

– Senti sua presença ao longo desse ano. Você me traz uma alegria incomum. Sempre fui feliz, entretanto, nesse último ano, estou plena.

– Nunca quis lhe conhecer, porém, como estava se aproximando da maldição, resolvi lhe observar. – Malévola balançou a cabeça em negativa, arrependida. – Desculpe-me. Eu fui má e inconsequente.

– Meus pais morreram. Minhas tias me contaram.

– Eles não morreram. Ou melhor, só sua mãe morreu. Suas tias queriam lhe proteger. Eu as conheço. Elas pertencem às minhas terras e me criaram também.

Malévola contou a história dos pais e da maldição para Aurora nos mínimos detalhes. O fato é que apesar de chocar a princesa, ela não tinha a menor referência de lembranças ou de amor pelos pais. Após um tempo de silêncio, ela se pronunciou.

– Ele lhe fez muito mal. Tirar as asas de uma fada é como lhe cortar a vida. Imagino o que minhas tias fariam se cortassem as asas delas. Seria muito triste. Quantos anos você tem?

– Minha idade não é medida pelo tempo que você conhece.

– E como é medido?

– Não sei. Quando conheci seu pai, por exemplo, eu era uma criança na minha terra.

Aurora sentiu uma vontade incontrolável de beijar Malévola, como se quisesse consolá-la do sofrimento que via nos olhos, pelo arrependimento de ter lançado a praga. Beijou-a suavemente, como sempre quis que alguém lhe beijasse. Ela sentiu a presença da fada naquele ano e era um sentimento acolhedor. Foi um beijo poderoso, cheio de matizes diferentes e boas.

Aurora retornou para casa, feliz e radiante. Encontrou, finalmente, o que procurava. Encontrou o amor que nutriria sua alma para sempre. Contou a história para as tias, já esperançosa que a maldição se quebrasse por estar amando e por ser correspondida em seu amor. As tias se assustaram e lhe contaram que o pai esperava por ela quando fizesse vinte e dois anos.

– Eu não vou. Ele nunca quis me ver ou saber de mim. Malévola é meu amor. Quero viver com ela.

– Mas foi ela quem a amaldiçoou! – Retalhou uma das tias.

– E ele me abandonou e nunca quis saber de mim. Nunca veio me ver e ela está comigo há um ano. O que pensariam dele se tivesse enganado vocês e lhes cortado as asas?

As tias se entreolharam, entretanto viram que Aurora estava mais radiante do que nunca e, quem sabe, o amor por Malévola acabaria com a maldição de verdade!

Dois anos se passaram e elas viviam em paz e felizes. O reino mágico de Malévola floriu novamente, sob o efeito do amor das duas. Malévola nem se importava mais com as suas asas. Para ela, toda a alegria de viver era estar sob o olhar amoroso e a bondade de Aurora. Mas… chegou a hora em que a maldição mostraria se estaria quebrada ou não. Aurora fez vinte e dois anos.

Malévola se arrasou por ver a amada sucumbir sob a maldição que ela mesma invocara. 

***

– Eu destruí todas as rocas do reino! O que aconteceu?

O rei raivoso questionava as fadas.

– Você destruiu as rocas do reino, mas não a roca do tear dos destinos do mundo.

– Idiotas!

Ele exclamou, derrubando as três fadas com um empurrão, acreditando que ele poderia mover o destino do mundo. A arrogância do rei era imensa e achava que podia controlar até mesmo a vida.

– Quero o castelo vigiado! Hoje chegará o filho de um príncipe que a beijará. Eu procurei por cada canto, ao longo dos anos, um príncipe que abdicaria da própria vida para ter a honra de ter o meu reino quando eu morrer. Ele concordou que nunca levantará a voz para minha filha. Isso demonstra que ele será fiel e digno do trono.

Ledo engano do rei e mais enganoso foi pensar que Malévola não reagiria. Ela deixou que as fadas levassem Aurora, devastada pelo sentimento de ter infligido esse cruel destino a mais doce criatura que conhecera. Entretanto, mais tarde quando se refez, deu ouvidos aos amigos de sua terra encantada e partiu para resgatar a princesa do castelo do pai. Quando chegou, teve que se embrenhar entre trincheiras construídas pelo rei e finalmente entrou no castelo.

O tal príncipe havia chegado e beijado Aurora.  Ela não despertou, causando mais ira no rei, que rechaçou o “cretino infiel”, assim como ele fora outrora, com a fada Malévola.

O rei reforçou a guarda, esperando pela fada. Conseguiram captura-la, mas apesar da fragilidade de Malévola, a ideia de Aurora estar sozinha num mundo de sonhos a angustiou, pensando que a princesa não merecia aquela sina. Lutou!

Lutou com todas as suas forçar e destruiu a maioria dos soldados do rei e por fim, ficou frente a frente com aquele que destruíra sua vida.

– Você não me matará tão fácil! – O rei falou.

– Nós já nos matamos há muito tempo. – Malévola respondeu. – Você me tornou amargurada e eu tornei você um homem obcecado. Sua filha nunca teve uma importância real para você. A importância que você dava a ela, era não se mostrar fraco para o povo.

– Agrrr!

Ele uivou e partiu para cima da fada que o matou, sufocando-o. Ela não teve nenhum prazer naquilo, sentindo-se suja. Largou o corpo inerte e pensava em como encararia Aurora, ao lhe dizer que matara o pai, acaso a princesa acordasse da maldição.

Num lufar de vento, sentiu que algo mágico acontecia. Suas asas estavam de volta e uma alegria a invadiu, imaginando que fora perdoada por seus erros. Correu para o quarto de Aurora.  Não havia nada mais em sua mente, além da esperança de acordar a princesa com o amor que nutria por ela. Escancarou as portas do quarto, e correu até a cama.

Clir estava deitada em uma almofada, gruindo como se estivesse triste e as três outras fadas, ladeavam a cama desconsoladas.

– Será que se eu a beijar, ela acordará?

Malévola perguntou ansiosa.

– Você nutre um amor puro e verdadeiro por ela?

Uma das fadas perguntou.

– Eu a amo com todo o querer de meu coração.

Malévola respondeu esperançosa.

– Então o que está esperando?

Ao escutar as fadas, Malévola se inclinou e beijou os lábios rubros de Aurora, esperando que despertasse da maldição que ela mesma praguejou. Beijou-a suave e cheia de amor. Sentimentos que há muito tempo não desfrutava. Sentiu raros sabores, que não experimentava, desde uma época distante em que sorvia toda a leveza da natureza e de seu próprio eu.

Aurora não se moveu. Inerte estava e inerte ficou. Uma dor imensa atingiu Malévola, que se sentiu fracassada. Como o amor dela não despertou aquela que era a mais bela das mulheres? Como ela não acordou diante do amor que Malévola levava tão forte dentro de si?

Clir grunhiu novamente e se levantou, com o olhar baixo e triste, abanando o rabo. Agitou-se em volta da cama e não deu ouvidos para as advertências das fadas, que tentavam tirá-las de cima de sua amiga. Pulou na cama, ignorando os protestos daqueles seres, que para ela não tinham importância. Lambeu a face de Aurora, empurrando o corpo com as patas, da mesma forma que fazia há anos, todas as manhãs, para que ela acordasse e lhe dessa a comida matinal.

Aurora abriu os olhos e começou a afastar a amiga peluda, brincalhona.

– Para, Clir! – Aurora riu da cadela. – Já vou levantar e dar sua comida.

E assim, Aurora despertou da maldição. Se ela se casou com Malévola? Lógico que sim! Mas o amor puro veio por meio de sua companheira peluda de caminhadas.

Fim

Nota: Espero que tenham gostado dessa minha pequena e singela versão de “A bela adormecida”. rsrs Esta é uma forma de agradecimento a tod@s que vêem demonstrando, ao longo do tempo, carinho por mim e pelos meus escritos. 

1 – Adotei como vigésimo segundo aniversário como o ano da maldição de Aurora, a bela adormecida. Privilégio de quem escreve. Rsrs



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