A Ilha - Livro 1

15. A Ilha

― Boa tarde, senhores.

Todos os que estavam logados na sala virtual, os da sala da diretoria da BRASFLY no centro do Rio e os da filial em Londres, responderam brevemente à CEO que aparentava estar um pouco sonolenta na pequena imagem projetada no canto superior direito do data show. O primeiro slide da apresentação já estava aberto e sendo projetado para todos e informava: Reunião de Emergência – BRASFLY London Headquarters.

Ao ler o slide Vanessa olhou para Victoria tão incrédula quanto a chefe. Victoria pegou o controle da sala virtual e desligou o microfone para que pudesse conversar com Vanessa sem que ninguém escutasse.

― Emergência, Van?

― Até onde sei essa reunião é sobre as buscas, Vic. Estou tão etada quanto você. Liguei para Londres hoje cedo e ninguém me adiantou nada.

Victoria ficou calada e pensativa e tornou a ligar o microfone, aguardando o pessoal de Londres começar a falar. 

O espaço de trabalho que Victoria tinha em seu apartamento não era apenas uma simples sala de reunião formal. O ambiente contava com uma sala ampla contendo uma mesa de reunião expansível, para até vinte pessoas e três estações de trabalho personalizadas ao fundo, com a mesa da CEO no meio. 

Contava ainda com um ambiente de relaxamento com sofás, um tapete felpudo, um aquário enorme com luzes e peixes exóticos num canto a esquerda e um bar moderno em aço e madeira. 

Victoria trabalhava ali ao menos um final de semana no mês, por ocasião dos fechamentos mensais da empresa e também quando não se sentia bem para sair de casa. O ambiente era tão seleto que as cadeiras executivas foram compradas num leilão que Victoria calhou de participar durante uma visita a Nova Iorque. A sala tomava quase metade de um andar inteiro do apartamento triplex dos Weber. 

― Boa tarde a todos. Aqui quem fala é George Beltrão, da BRASFLY London Headquarters. Seremos bastante breves nesta reunião de emergência… 

A imagem projetada desde Londres mostrava George numa mesa com mais ou menos umas cinco pessoas. Ele interrompeu a fala e prosseguia gesticulando freneticamente, bloqueando o microfone.

― George? Tudo bem por aí? 

Victoria abriu o microfone e se atreveu a perguntar. Beltrão fora enviado a trabalhar em Londres pela própria Victoria. Ele chegou a fazer parte da equipe do Brasil por alguns anos antes de partir. 

― Só um segundo. 

Ele continuava gesticulando e agora havia se levantado. Victoria já estava bastante agitada balançando os pés embaixo da mesa, inquietamente. Seu coração não batia tão forte desde a notícia do sumiço do avião. Que emergência seria aquela? 

― Perdão… Não podemos demorar muito nessa ligação. Vamos começar. Esta manchete foi publicada hoje no The Sun

Beltrão passou para o próximo slide que mostrava a capa do maior tabloide britânico, estampando uma notícia polêmica, que nenhum britânico ficaria contente de ler. 

― O QUE? COMO ASSIM? 

Victoria e Vanessa falaram, quase gritando, ao mesmo tempo e se olharam incrédulas. A CEO levantou-se e foi de encontro ao fundo da sala virando-se de costas e colocando as mãos na cintura. Uma agitação peculiar de uma pequena guerra de perguntas e ideias dentre exclamações de desespero e compreensão dava para ser escutada da transmissão da sala da sede. 

― Senhores… Senhores? SENHORES, POR FAVOR! 

Todos estavam muito agitados para responder. Quando Beltrão se alterou o silêncio retornou. 

― Precisamos agir rapidamente! A situação aqui está caótica. Existe uma multidão em torno do prédio fazendo uma espécie de protesto que pode ficar violento e temos de evacuar o prédio. 

O homem falava de forma que sua voz parecia estar tremida. Olhava constantemente para o lado como se estivesse prestes a ter de sair. 

― Precisamos pensar no que fazer, em como agir. Não sabemos o que dizer as autoridades. Estamos sem chão… Victoria?

Victoria estava de costas, em pé. Tinha uma mão nos lábios e a outra na cintura, chocada e pensativa. Passou a massagear o queixo. Tinha o olhar perdido e parecia buscar no nada as respostas para tudo que necessitava. 

Talvez as respostas estivessem naqueles átomos do ar, invisíveis aos olhos humanos. Uma coisa era certa: desesperar-se não iria adiantar em nada. Como seu pai reagiria naquela situação? Ora, ela não era seu pai! Um militar turrão da ditadura militar iria nadando para a Inglaterra se fosse preciso para resolver aquela situação e no caminho ainda acharia o avião perdido. De certo que essas coisas eram impossíveis de fazer, mas que ele teria pulso firme, ele teria.

Acreditava que nada era por acaso. Se tudo tinha um objetivo aquilo não era sem sentido. Mas o que fazer então? Se não soubesse o que fazer não fazia sentido ser presidente daquela empresa.

O que anos de experiência como presidente tinham a agregar àquela situação? O que suas viagens ao redor do mundo, suas pesquisas inovadoras, cursos de ponta, mestrado internacional, especializações, discussões com especialistas, condecorações, prêmios de segurança, uma carreira brilhante e cem por cento no alvo tinham a ajudá-la naquele exato momento da sua vida, senão o mais difícil? Ela era a própria Victoria Weber em carne e osso, CEO da BRASFLY. 

Mas por quê? O que é ser CEO da BRASFLY afinal? 

Ela pensou em tudo isso e no PESO que ela carregava em seus ombros, virou-se, andou até a mesa, sem se sentar e DETERMINOU, assertiva e emocionantemente:

― Vocês devem fazer o que for preciso para manter a segurança de vocês aí em Londres. Evacuem o prédio e entrem em contato conosco assim que possível. Quero todos em segurança, ouviram? O que a BRASFLY e o governo brasileiro tem feito não mudará. Estamos no caminho correto. Não podemos fazer nada até que encontremos o avião, ou partes dele. O que tentarei fazer é pedir ajuda a mais países para que enviem aviões de busca. Estamos no caminho certo! O fato de alguém da realeza britânica fazer parte da lista de passageiros não é nossa culpa! Que dizer das outras vidas? São menos importantes? O que dizer das outras famílias? São menos importantes que a família real britânica? 

Após as palavras da CEO a expressão de Beltrão mudou para melhor. Ele completou com um detalhe interessante. 

― Pelo que eu li do artigo ela estava usando um nome falso para não ser reconhecida. 

― Bom para nós. Não podem nos acusar de ter encoberto informação… Vão! Evacuem o prédio. Eu irei a Londres essa madrugada! Irei pessoalmente cuidar disso, conversar com o governo britânico! Se eles querem uma posição nossa, eles terão!

― Obrigada, Victoria. 

Após as despedidas, enquanto Vanessa desligava a videocon, Victoria se sentou na mesa colocando as mãos sobre a testa, como se estivesse fazendo uma oração. 

― Tudo bem, Victoria? Se não estiver bem, me avisa. 

― Pode deixar que se eu for desmaiar, desmaio dos seus braços da próxima vez.

Vanessa riu com a piada da mulher, que sentou para tomar um pouco de fôlego da energia gasta. 

― Não estou brincando, Vic.

A assistente ficou impressionada com tamanho poder de decisão e soberania da chefe diante da situação. Vanessa sentou-se ao lado da mulher, que além de ser seu desejo, era sua amiga.

― Hoje percebi uma coisa, que nunca conversei com você… Nós somos tão próximas, e tão distantes ao mesmo tempo.

A CEO tirou as mãos da face e as repousou ao lado esquerdo do rosto.

― Como assim? 

Victoria sentiu suas batidas aumentarem. Vanessa estava finalmente tomando a inciativa. 



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