A Ilha - Livro 1

23. A Ilha

Estar na sala da CEO e sentar em sua mesa deixava Vanessa um tanto dispersa. Era dali que a chefe comandava tudo e aquela sensação de poder deixou Vanessa apreensiva.

― Victoria pediu que oficializa-se este documento assim que possível.

Quando Maximiano entrou na sala não se comoveu de ver Vanessa no posto da CEO. O diretor de RH pegou a carta e leu.

Vanessa presumia que ele não se alegraria com a notícia, afinal ele perderia um bom bônus deixando de ser o substituto da CEO.

― Eu acho que você não terá problemas em comandar a empresa. Você já faz grande parte das coisas, só não manda completamente.

― Como assim? ― Vanessa não entendeu e tomou aquilo como crítica. Maximiano foi até o aparador da sala de Victoria e chamou Vanessa para mostrá-la o plano de carreira dela, que Victoria atualizava fielmente. Plano este que Victoria não permitia ninguém mexer.

― Este é único plano de carreira que eu vejo uma CEO se importar com ele e acompanhá-lo diretamente. Você é praticamente uma cria dela, Vanessa! Ela te deu muita coisa além do que era para você fazer. E eu sinceramente, acho que você nem percebeu.

Vanessa olhou o plano de carreira, organizado trimestralmente, especificando as tarefas que a assistente desenvolvia e a relação com a atividade fim da empresa. Em amarelo estavam as tarefas fora das funções normais de uma assistente executiva, e era a maior parte das tarefas.

― Você está me dizendo que as tomadas de decisões que ela me demanda não são minha função?

― Sim, não são. Tampouco liderar reuniões de planos estratégicos para ela.

Ele guardou o plano e foi até a mesa, pegando o documento da nomeação de Vanessa.

― Olha, ela pensou em tudo perfeitamente. Não se esqueça disso. Ou você nunca percebeu que o seu salário está bem acima de outras assistentes executivas? Você só deve pensar o seguinte: que todos os caminhos te trazem pro agora. E o agora chegou!

Maximiano era um sujeito de boas palavras e fez Vanessa colocar a cabeça no lugar. Ela a princípio achou Victoria louca ao escolhê-la para um cargo tão importante e que exigia muito conhecimento. Logo chegou à conclusão que Victoria realmente a considerava muito e talvez a amasse. Ela nunca poderia imaginar que a CEO fosse capaz de tal coisa.

Mas por quê ela?

*****

Lucy e Thomas embarcaram num avião da BRASFLY com destino a Porto naquela mesma noite. Em conversa com ao telefone com Martina chegaram a saber que a CEO havia lesionado as vias aéreas e após uma cirurgia de emergência não havia acordado ainda. As radiografias do tornozelo revelaram uma fratura. Martina, por sua vez estava para receber alta.

― Boa noite, Martina. Descansas-te bem? ― perguntou a enfermeira gentilmente.

― Sim.

Martina viu a mulher incrivelmente jovem se juntar a ela após deixar a janta no móvel á esquerda. Ela trazia um smartphone e pediu que lesse algo nele. Martina pegou e leu, não sabendo qual cara fazer. Ela havia perdido todo o apetite desde que soube que Victoria tinha piorado.

― A rainha vem até Porto? Isso é piada?

― Parece que a rainha se comoveu e prefere visitá-la do que recebê-la. Além do que, é bastante inteligente, pois os britânicos estão tratando os brasileiros como assassinos. Ela vir aqui demonstra muita consideração, não acha?

Martina ficou aliviada com a notícia de que a rainha viria e o problema da sede da BRASFLY de Londres seria resolvido pelos próprios britânicos.

Olhou o celular com mais calma. Haveria uma comitiva real para selar a confiança entre os dois países. O artigo explicava ainda que Victoria não poderia viajar, pois estava em estado grave. Entregou o aparelho para Manuela e conseguiu por fim ler o resto que estava escrito em seu crachá.

― Obrigada, estagiária!

― Por nada, diretora.

A menina pegou a janta e começou a arrumá-la para Martina.

― Amanhã você já terá alta.

― Como sabe?

― Os médicos. Um deles é meu marido.

Ela serviu Martina de uma sopa e aumentou a temperatura do quarto que estava um pouco frio. Martina jantou e estava tomando chá quando Manuela saiu da sua presença. Ela era uma excelente cuidadora. Martina já começava a pensar aonde iria ao sair dali. Foi quando recebeu uma ligação direta de Vanessa. Ao olhar o visor, sentiu resistência em atender.

Por fim atendeu e não com muita vontade a inteirou do estado de saúde de Victoria. A voz de Vanessa se apresentou solicita pela situação das duas, o que fez Martina achar que ela estava comovida com a situação.

― O que sei aqui é o mesmo que está nos jornais. ― responde Martina quando a outra perguntou sobre a visita da Rainha.

― Certo. Lucy e Thomas já estão a caminho daí. Uma pessoa do escritório de Lisboa irá assessorar vocês por aí, com relação à acomodação e tudo mais. Ele já deve estar chegando.

O tom de voz de Vanessa não era mais inquisitivo como costumava ser. O que teria acontecido com a mulher? Estaria tão chocada quanto Martina com a possibilidade de perder Victoria?

― Ok… Obrigada… E você? Não virá?

Martina não poderia desligar sem saber o porquê que a fiel assistente não viajaria de encontro a amada. Vanessa pensou contar para Martina que estava no lugar de Victoria como CEO e surpreendê-la, mas logo desistiu, pois isso não levaria a lugar algum.

― Eu tenho minhas atribuições aqui. Breve nos vemos, Martina. Melhoras!

O que havia acontecido com aquela alma era o que a ruiva desejava saber.

― Obrigada. Até mais, então.

Martina acabou dormindo após solicitar um calmante. Antes de Manuela ir embora ela confirmou que Victoria estava a apenas três quartos dali.

*****

O dia terminou no Brasil com Vanessa indo ao cabelereiro.

― Muito bem. Que tipo de corte você quer?

― Eu quero mudar, eu quero algo novo. Algo que exprima os meus sentimentos.

O cabelereiro a olhou como se estivesse a avaliar sua personalidade e seu estado. Percebeu sua expressão seca e firme, diferente da menina doce e meiga que frequentava aquele salão de tempos em tempos.

― O corte curto é para quem deseja ser menos sensível na vida. É libertador e atrevido.

O cabelereiro olhava o reflexo dela no espelho e dizia olhando em seus olhos.

― Adorei. Vá em frente!



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