A Ilha - Livro 1

25. A Ilha

3 dias atrás

Vanessa saiu do abraço da CEO. Aquele abraço significava ir ao céu e voltar para a terra. Significava também a conquista de anos de esforço e dedicação. Era como se ela tivesse construído um castelo e agora era hora de inaugurá-lo. Mas não. Victoria partiria num avião com Martina para longe.

Visivelmente abalada após se despedir de Victoria, foi para dentro do apartamento terminar de chorar o que não tinha chorado.

Seguiu para o escritório, lugar onde passou os melhores momentos de sua vida. Cada lugar daquele escritório a lembrava da CEO. Olhou a mesa da chefe e veio à sua mente sua forma de sentar, a forma como apoiava os dedos cruzados no queixo e olhava para cima antes de tomar alguma decisão. A forma como digitava nas telas no computador absorta ajeitando vez ou outra as mechas de cabelo persistentes a cair no rosto.

Nunca esperava aquilo de Victoria, ser sua substituta estava muito além das suas expectativas. Nunca havia parado para pensar nisso, mas ela tinha poder sobre tudo relativo à Victoria na empresa, sabia de todas as senhas, todos os contratos, todas as estratégias. Era como se a tivesse em suas mãos e só faltasse o principal, o seu amor.

Seguiu pela casa tateando as paredes e alucinando situações. O perfume de Victoria permeava o local qual lembrete que persistia a açoitar Vanessa. Seu fantasma habitava ali e lhe pregava peças ilusórias. Seguiu o rastro do perfume até a suíte principal. No centro do quarto, em cima da cama, um roupão branco repousava.

Já chorava, descabelada, arranhada, detonada. Ali era onde Victoria tinha sua intimidade revelada todos os dias. Tinha inveja daquelas paredes que tinham sempre a melhor visão da mulher que ela amava. Sentiu então raiva das paredes. Como meros objetos, matérias de construção e acabamento tinham mais privilégios que ela? Onde ela errava afinal?

Procurou por sua coleção de perfumes variados. Experimentou cada um e, conseguia curiosamente lembrar-se de ocasiões específicas no qual Victoria havia usado aquelas fragrâncias. Parecia que havia um padrão, para reuniões mais sérias usava amadeirado. Para dias leves os florais e para dias medianos, os cítricos. Tinha passado todos os perfumes dela, como se isso a fizesse estar mais perto.

Sua boca, sua respiração, seu leve arfar dos peitos e os sons proferidos… Um “ah” ou “oh” erguendo as sobrancelhas e esticando os braços… O estalar de dedos… O entrelaçar de pernas. Tudo! O cheiro, o aspecto asseado e as mãos… As mãos sobre o teclado, sobre o volante do carro e, sobretudo em seus braços ao andar na rua.

Quando menos espera encontra o espelho do closet, do chão ao teto, refletindo aquela figura destroçada, com olheiras inconfundíveis. Aquele mesmo espelho refletia a nudez da amada de todos os dias e tinha raiva disso.

Como um mero espelho tinha a melhor visão todos os dias e ela não?

Uma coisa singular lhe ocorreu. Eliminar Martina. Olhava-se nos olhos através do espelho e com uma expressão sombria, dizia: “A qualquer custo.”

Sua testa amparada ao vidro frio fazendo repousar todo o peso de seu corpo. Sua respiração embaçando o vidro. Com os olhos cerrados em sofreguidão. Socava com o punho direito cerrado repetindo a si as palavras direcionadas a Martina.

“A qualquer custo.”

Socava com mais intensidade e desejo mau. O vidro trincou.

Uma coisa deve ser dita: objetos são tão voláteis como emoções. Um espelho intacto se quebra daquele jeito fácil e corta a carne. A dor é boa, nem é sentida, pois compete com a dor interior, que é enormemente superior. O sangue jorra, mas não vence a melancolia crônica da psique. Olhar o sangue jorrar e chegar ao chão gotículas de fluído vermelho é uma visão acima de tudo digna naquela hora.

Podem ser comparados a sentimentos jorrando de si, de sua energia vital. Victoria era sua energia vital. Perdê-la era como sangrar. O corte se abria mais e sem poder reverter o destino e o tempo, não haveria cura se ela não agisse. Ela havia partido e Vanessa estava sangrando. 



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