A Ilha - Livro 1

28. A Ilha

 Já faz dias que estou aqui e preciso de mais informações. Onde estamos? O que é de fato esta ilha?

Meu mentor me olhava com certa expressão de pena. O que eu menos queria naquele momento era que me olhasse com pena. Eu só conseguia sentir raiva.

― Está tudo diante dos seus olhos. Por que não enxerga?

Eu não aguento mais essas falas enigmáticas.

 Por que tudo tem de ser tão devagar?

 Confie em nós, que te acolhemos.

Eu sempre tive fé em Deus e nas coisas, mas essa situação já está me corroendo por dentro. Dois dias nessa Ilha, quatro dias após o acidente, eu e mais umas vinte pessoas presas nessa acomodação sem poder sair. E TUDO É TÃO ESTUPIDAMENTE BRANCO! EU ODEIO BRANCO!

Olhava em volta. Começava a mostrar sinais de desânimo e depressão característicos de quem vive em um cativeiro. Os efeitos dos sedativos haviam diminuído consideravelmente nos últimos dois dias e a direção da ilha manejava a situação da melhor forma que podia, seguindo todo o protocolo combinado.

Será que estou morto? Não pode ser. Tudo é tão real.

― Venha comigo para uma caminhada.

Fechou os olhos, juntando ainda um pouco de paciência e fé que restava em si. Saíram por uma porta nos fundos e passaram por um jardim e após, chegaram ao que parecia ser o limite da acomodação. Parou ali, olhando seu mentor.

 Está com medo? – Olhava para o mentor e para além da cerca que dava para uma grande parece chapiscada, iluminada por uma luz azul e logo após havia uma saída. Olhou para trás e viu a casa, harmônica e tranquila.

 Por que os outros não tem a mesma curiosidade?

 Os outros tem. Alguns já vieram ver como é aqui fora. Venha…

O mentor saiu na frente e só restou segui-lo.

Lá, além do muro, o chão deixou de ser grama e passou a ser areia de praia. Olhou a diante e viu a praia com a lua cintilante no céu. Era noite, a água estava serena, quase sem ondas. Ao final da praia uma luz acenava o que parecia ser de dentro das árvores uma luz neon, que se comunicou com o mentor algo o que parecia ser um código.

― O que é isso? Morse?

 Não. É um código interno de segurança. Não se preocupe.

Ele havia lido que a Ilha devia ser encarada como utópica e quem ousasse saber mais do que era revelado sobre ela, não seria punido, mas não chegaria a saber da missa a metade do que ela significava.

 Você acha que está morto ou em outra dimensão?

 E se eu estiver? – O olhou nos olhos. Ele nunca havia revelado seu nome.

O mentor voltou a ficar sério e a seguir o protocolo. Havia uma infinidade de formas de fazerem os hóspedes seguirem linhas de raciocínios que eles quisessem que seguissem.

 Posso te adiantar que não fazemos experimentos na Ilha, ela não muda de lugar e tampouco o tempo é paralelo aquiIsso que aconteceu com vocês foi um incidente. Não era para vocês pararem aqui. Os acolhemos e estamos tomando as providências para que retornem de onde vieram.

 E vocês são de qual país? A maioria da acomodação fala Português. Por que todo esse segredo?

 Você tem perguntas demais. Tenha calma.

O mentor fez um sinal para que retornassem, pois estavam quase na parte final da praia. Assim retornou com ele em silêncio pensando nas suas últimas palavras. Fazia bastante sentido. Ele se lembrava de ter ficado à deriva no mar, num bote, durante dois dias inteiros após o avião pousar no oceano. Eles de fato foram acolhidos pelo pessoal da ilha, após terem sido sedados. Mas ele queria saber mais.

Ao entrarem na acomodação sentou-se na varanda vendo o mentor partir.

 How’s the beach like? (Como estava a praia?) ― Uma voz feminina desperta a atenção. A dona da voz vinha em sua direção e já se sentava a seu lado.

 Dark. (Escura.) ― Não poderia soar mais desanimado.

 Gloria. – A mulher estendeu a mão branca na direção dele, desejosa de um contato. Ele retorna com o toque. ― Thank God you speak English! (Graças a Deus você fala Inglês!).

 Mateu.  Ele se apresentou e não conteve a curiosidade.  Have you been to the beach? (Você já foi na praia?)

 Two times, I guess. My mentor is cool. (Duas vezes, minha mentora é legal.) ― A mulher tinha a expressão mais tranquila que ele já tinha visto em alguém. O sotaque britânico dela era limpo e claro. Ela passava muita tranquilidade.

 Two times? Wow! Do you think we’re dead or something? (Duas vezes? Uau! Você acha que estamos mortos ou algo assim?)

Gloria começou a rir descontroladamente e arrancando risadas dele também pela forma que ela ria. Mateu se convenceu de que estava talvez fazendo tempestade em copo d’água.

 I’ll see you at dinner? I need to go for a shower. (Te vejo na janta? Preciso ir tomar banho.)

 Sure, Gloria. (Claro, Gloria.)

Gloria levantou-se deixando-o sozinho na varanda.

A comida não era exatamente boa tampouco ruim. O que chamava atenção era a quantidade de leguminosas, grãos e total ausência de líquidos. Mateu se perguntava de onde vinha, quem cozinhava, quem plantava, quem colhia.

Chega de interrogações por hoje.



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