A Ilha - Livro 1

30. A Ilha

― Mamãe, esta é a Victoria Weber.

Victoria acenou com a cabeça para a mãe de Martina que era, segundo seus olhos, tão bonita quando a filha, o que fez a morena imaginar como Martina ficaria quando envelhecesse. Se ficasse assim, sorte dela.

― Prazer, Victoria.

Lucinda foi fria, mas educada.

― Prazer.

Martina tinha apenas um objetivo aquela noite: jantar e fazer com que todos saíssem dali vivos e bem.

― Vamos jantar? ― Thomas percebeu certo desconforto no ambiente e decidiu quebrar o gelo. Martina piscou para ele agradecendo.

A janta tinha ficado magnífica. Cevite a molho rosé e de entrada uma salada francesa com croutons, a favorita da mãe de Martina. Todos comeram e conversavam calmamente sem muitos percalços.

― Shazam! ― O assistente tirou de sua mochila uma garrafa de vinho do Douro que tinha adquirido nas caves, arrancando sorrisos ansiosos de todos.

― Agora eu fico feliz, amigo. Abra logo isso. ― Lucy exclamou.

― Desde quando a senhorita gosta de beber assim, hein?

― Ai, mãe, sabia que a senhora ía “chiar”!

― “Chiar”? Não existe essa palavra no meu dicionário.

Victoria estava adorável fazendo piadinhas com a filha. Martina não sabia se aproveitava para se deleitar com sua presença ou vigiar a mãe que a qualquer momento poderia dar o bote.

― No dicionário da senhora Victoria Weber, “chiar” é o que, então? ― O assistente se atreveu a perguntar. Ele tentava abrir a garrafa do vinho, mas sem nenhum sucesso.

― Ora, ora. ― Martina brincou com ele, tirando a garrafa de sua mão e pegando o saca rolhas.

― Na verdade, “chiar” para mim é quando o pulmão está cheio de secreção e o médico escuta o chiado dele!

Todos gargalharam, menos a mãe de Martina que estava muito concentrada na forma como aquele vinho tinha a rolha mais dura da história da humanidade.

Victoria já havia percebido o temperamento arredio na mãe de Martina, só não entendia o motivo.

― O que vocês fizeram na parte da tarde?

Victoria se mostrou interessada no que a cidade tinha a oferecer.

― Nada de mais, não é, Vó? Visitamos o hotel, andamos no Centro. Comemos… E comemos mais.

― Eu queria ter feito uma nova tatuagem. Mas… Thomas não deixou. ― Lucy revelou. Thomas olhou automaticamente para Victoria.

― Eu não me meto nisso, querido. ― respondeu a CEO.

― Essa bola a minha mãe passou para o meu pai, Thomas.

― E onde está ele, Lucy? ― No mesmo milésimo de segundo Lucinda resolve entrar na conversa.

Martina consegue se livrar da rolha, só que ela voa direto para a cicatriz em sua sobrancelha. A ruiva cobriu com a mão em dor. Vendo a comoção de todos, os tranquilizou.

― Não foi nada. Vou a cozinha colocar gelo e já retorno.

Retomando a conversa, Lucy continua respondendo Lucinda.

― Meu pai está no Brasil.

― Fazendo o que? Por que não está aqui?

Lucy olha constrangida para Victoria que não muda a expressão em momento algum. Thomas fecha a expressão completamente.

― Ele está com a namorada dele. Nós nos separamos há mais ou menos um mês, Lucinda. ― responde Victoria de forma calma.

― Um mês?

― Sim. ― Victoria em momento algum tira os olhos da mulher. ― Algum problema?

Um silêncio mortífero se instala na sala. Thomas faz um sinal para Lucy e o assistente. Os três saem da sala.

― Eu não tenho problemas com você, menina. Eu vejo que você é uma boa pessoa. Só quero que escute uma coisa, eu não vou deixar você estragar a vida da minha filha mais uma vez, ouviu? Você nunca a viu como eu a vi, destroçada, depressiva, a beira da morte.

Lucinda aparentava ser uma mulher adorável, mas poderia também soar um tanto imperativa quando lhe apetecia.

― Ela não é mais uma menina. Ela sabe o que está fazendo e eu também.

― Não. Vocês não sabem. ― Lucinda tinha fogo nos olhos e parecia que os cabelos de fato estavam pegando fogo. O fogo da sua raiva.

― Você acha que sabe, mas olhe para você, não passa de uma aventureira. Mal separou do marido e já correu para os braços dela. Quando conseguir o que quer irá abandoná-la como fez da última vez.

― O que você quer de mim, Lucinda, que mande ela embora?

― Que saia da vida dela, o quanto antes possível, para o seu bem e o bem dela. Garanto que em pouco tempo você arruma outra coisa com que se entreter, não é mesmo?

Martina retorna a mesa e leva um choque ao ver a cena que não queria, Lucinda e Victoria frente a frente, sozinhas. Vendo a cena, sequer se deu o trabalho de se sentar.

― O que aconteceu? O que eu perdi?

― Tua mãe.

Victoria tinha as mãos espalmadas na mesa, rendida. Martina olhou para a mãe. Os olhos verdes queimando de raiva. Será possível que não tinha como segurar a língua?

― Não me venha com esse olhar, Martina. Eu te fiz um favor e você vai me agradecer.

― E que favor é esse?

Victoria se põe de pé prosseguindo com o que era para fazer. Virou-se para Martina, que era um pouco menor que ela e olhou nos seus olhos apreensivos.

― A tua mãe quer que eu peça a sua mão em casamento aqui, agora, antes que comecemos a namorar, é isso! Você sabe que ela te ama muito e cuidou de você quando nos separamos no passado. Ela não quer que eu te magoe de novo, meu amor… Martina, você quer se casar comigo?

Martina olha para Victoria estupefata. A morena estava tentando se abaixar para ficar de joelhos, mas a bota ortopédica não deixava.

― Você é louca? Eu não pedi NADA disso! ― Lucinda, nesta altura, já estava de pé, de queixo caído. Não previu que Victoria tinha seus meios de surpreender e foi pega totalmente de surpresa.

― Você aceita, amor?

Victoria era de fato muito boa atriz. Martina não pode deixar de se lembrar da primeira vez que se beijaram, como resultado de uma encenação de um espasmo no ombro da morena. Ela estava agora a centímetros da sua face, aguardando uma resposta.

― Eu aceito? ―Martina soou mais baixo do que gostaria, mas suficiente para ser ouvida.

Victoria vai além do teatro e chega perto de seu rosto dando-lhe um beijo carinhoso nos lábios, com os olhos fechados, o qual fez Lucinda cerrar os olhos e voltar a se sentar.

― Ah, e não tem anel, porque fui pega de surpresa. Mas prometo ver isso amanhã… Vou me deitar. Boa noite, Lu. Foi um prazer.

Victoria soava tão convincente que era difícil até para Martina saber onde terminava a encenação e onde iniciava a verdade. A morena fez um carinho no seu ombro e foi se retirando.

Victoria deixou a sala calmamente, rindo internamente. Ao fechar a porta da suíte deu um sorriso de orelha a orelha e gargalhou sem fazer nenhum barulho. Adorou o sentimento de ter deixado a mãe de Martina sem chão e de ter ao menos uma vez na vida desistido de não agradar a tudo e a todos. A sensação era maravilhosa.

*****

― Que mulher descarada. Viu como ela te enfeitiçou, Martina?

Lucinda andava de um lado para outro, enquanto a caseira retirava a mesa, com a ajuda de Martina.

― Mamãe. Eu não sou mais uma adolescente.

― Eu sei. Você já é uma mulher. Mas seu coração resgatou esse sentimento juvenil. Pare de pensar como uma menininha. Faz apenas um, um mês que ela separou do marido!

As palavras de Lucinda colocaram uma interrogação na mente de Martina. Não era mentira que ela estava recém-separada do marido há apenas um mês, mas isso não era problema para Martina, pelo que entendeu. Victoria não era feliz com ele.

― Escute, eu vou embora. Foi ótimo te ver, filha.

― Também foi bom te ver, mamãe.

― Mas escute uma coisa apenas, muito cuidado com o que o teu coração quer enxergar e o que a realidade de fato é.

― Vou pensar.



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