A Ilha - Livro 1

34. A Ilha

Victoria acordou abraçada a Martina. Foi só abrir os olhos para perceber que não deixava quase nenhum espaço para a outra no outro lado da cama. Olhou em volta se certificando de que estavam sozinhas. Sentiu-se estranhamente dolorida nos braços e nas pernas como se tivesse feito algum esforço fora do costumeiro. Soltou-se de Martina e esticou os braços estralando as mãos. Levantou-se e foi ao banheiro mancando. Todo seu corpo doía.

Quando voltou Martina estava na mesma posição, de barriga para cima, espremida num canto da cama. Olhou a mulher e podia compará-la facilmente a um anjo. Os olhos cerrados, uma expressão tão tranquila. Voltou a deitar-se e de lado a olhava aproveitando o momento que nunca havia tido antes: ver Martina dormir. Os lábios eram perfeitos e bastante convidativos.

A mulher começa se mexer de forma tão adorável.

― Oi? ― Os olhos verdes a olhavam preguiçosos.

― Me desculpe, te acordei?

― Acho que não.

Martina afundou os dedos abertos no couro cabeludo de Victoria massageando de forma que só ela fazia. Esse era seu “bom dia” para a mulher que amava. As duas continuavam nuas, pois dormiram assim. O aquecedor era a melhor das invenções no inverno de Portugal.

― Eu “to” toda doída. Parece que um caminhão passou em cima de mim.

Martina a olhava com um sorriso tolo. A morena virou-se para ela e agora falava face a face, um dos braços a envolvendo na cintura e a puxando para si.

― Eu também estou bastante dolorida e atribuo isso ao esforço que fizemos ontem. Se bem que não foi nada demais, mas como saímos do hospital não faz nem dois dias, fomos corajosas, sabe? Estamos ressacadas de amor. ― Martina falava sério e calmamente.

Victoria ri do comentário e concorda.

―É mesmo! É justamente isso. Por isso eu quero outra dose.

Victoria se sentia estranhamente excitada ao fato de acordar com a nudez da ruiva ao seu lado. Além de ser bastante íntimo, era uma novidade imensa aos seus olhos.

― Será que tem espaço na agenda da Sra. Weber para isso? Hoje sua agenda retorna com tudo. E temos exatos 40 minutos para sair.

Martina olhava as horas no celular e se deparou com uma chamada perdida de Vanessa, que provavelmente devia ter ligado para Victoria, mas sem sucesso.

― Ah, não! A comitiva real. Rebobina minha vida!

Victoria fechou os olhos tentando se sentir fora da realidade. Sentia muita dor até para respirar.

― Se acalma. Vai dar tudo certo.

Martina falava já levantando da cama e alcançando sua mala. A roupa que usaria seria um vestido preto que lhe caía divinamente bem.

Victoria estranhou a simplicidade da mulher, com uma mala pequena parecia fazer milagre. Esticou o vestido na cama e ele se mostrou como se estivesse acabado de sair da loja. Martina só usava tecidos que nunca amarrotavam.

Victoria já estava de pé e seguia para o banheiro, desajeitadamente.

Martina a agarrou no caminho a abraçando ternamente, vendo que ela estava um caco.

― Vou tomar um banho e ver se melhoro, Tina.

― Eu vou me arrumar no meu quarto, se não se importar.

― Medo da Lucy?

― Digamos que é cautela.

Martina deu um beijo em Victoria e saiu de roupão carregando o que precisava. O quarto dela ficava no segundo andar, logo à direita. Eram 7:30 então não esperava encontrar ninguém acordado a não ser o assistente e a caseira. E acertou. O homem já estava pronto, de terno, com a mesa posta, conversando animadamente com a caseira.

Martina correu para o andar de cima e entrou no quarto dando graças a Deus que ninguém havia a visto. O quarto era bem menor que o de Victoria, mas tinha uma vista linda do mar e a cama ficava bem na direção da vista.

Victoria saiu do quarto arrumada exatos vinte minutos após e quando se sentou a mesa, o assistente e Martina já estava lá e pelo que viu já tinham tomado café. Thomas aparece de repente com Lucy a tira colo, os dois também muito bem arrumados.

― Eu não sabia que todos iam.

― Não chegamos tarde ontem, mãe. Não é todo dia que se tem oportunidade de conhecer a rainha.

O assistente de se retira da sala enquanto Martina se levanta, pedindo licença e parte para o escritório.

― Mãe, você está maravilhosa. Nem parece que voltou do hospital ontem.

― É muito amor seu. Sua mãe está destruída.

Victoria segurava a mão da filha carinhosamente.

Victoria entrou no escritório no que faltavam cinco minutos para saírem. Martina falava com alguém ao telefone e vendo a presença de Victoria apontou para ela uma cópia do relatório do fim das buscas, impresso.

― Sim, iremos assinar neste momento, Vanessa. / Não, não houve atraso. / Sim.

Pela expressão no rosto de Martina, Vanessa estava alterada ao telefone.

Victoria gesticula pedindo para falar com Vanessa, mas Martina não deixa e vai se afastando dela em direção ao janelão do escritório, até que encerra a ligação.

A ruiva se vira para a mesa, pega uma caneta e assina. Seu rosto particularmente vermelho.

― Algo que eu deva saber?

― Nada demais. Só falta você assinar.

Martina mentiu. Ela ainda não tinha engolido que Victoria tinha deixado Vanessa a substituir, mas não falaria disso com ela, afinal sempre tomava as decisões certas.

Victoria assina as folhas checando se os erros tinham sido corrigidos.

― Você está linda.

A ruiva dá uma piscada para ela e pega as folhas para digitalizar. Vanessa tinha se alterado com ela por causa da demora em retornar com as assinaturas, alegando que o governo estava cobrando para que fosse divulgado antes do encontro com a rainha: pura crítica infundada.

Victoria, por alguma, razão decidiu usar menos maquiagem do que costumava e Martina adorava a ver assim, mais crua. Ela mesma não era adepta de muita maquiagem, embora tivesse que caprichar em algumas ocasiões.

― Pronto! ― Martina exclama com alívio depois de retornar e enviar os arquivos por e-mail.

― Você tem algum remédio para dor no corpo?

― Tenho esse. Você tem que ver se pode tomar ele junto com os que já está tomando. ― Martina retirou uma cartela amarela da bolsa.

― Creio que sim. Os outros são anti inflamatórios apenas.

Martina tira dois comprimidos e estende uma garrafa de água para ela, engolindo um comprimido após.

― Nós estamos destruídas, Tina.

Martina abre um sorriso e dá o comprimido para Victoria.

― Férias. Sabe o que é isso? Eu sei que não tenho direito, pois acabei de entrar na empresa, mas não seria má ideia fugir por alguns dias para Angra.

― Angra? Gostei.

Martina não se atreve a chegar mais perto dela, pois sabia que enrolariam mais.

― Vamos? ― Martina pega a mão dela e as duas saem do escritório juntas. George as esperava na porta olhando o celular. Martina toma um susto ao vê-lo.

Victoria a cutuca para que olhasse a entrada da casa e Martina tem um susto maior. Homens de preto as aguardavam no que parecia ser uma escolta de verdade.

Um homem alto e loiro chega até elas se apresentando de maneira bastante formal no melhor inglês britânico e as avisa que o carro já estava à espera delas. Ele também entrega a elas o que parecia ser um roteiro das próximas duas horas.

Ele faz algum sinal para que abrissem a porta e as duas saem, escoltadas até um Land Rover preto, que tinha vidros estranhamente claros.

Além deste carro, outros quatro estavam estacionados um na frente do outro. Thomas e Lucy estavam no carro de trás.

Depois de entrar no carro, Martina decide dar a Victoria o recado de Vanessa. Naquela noite chegaria um avião da BRASFLY para o retorno deles.

― Bom. Depois do encontro com a rainha não há mais nada do que fazer aqui, não?

Martina ri para ela.

― Tem muita coisa a se fazer, só não tem a ver com trabalho.

Victoria pensa em como seria ótimo tirar uns dias de folga junto a Martina, mas o fato das buscas terminarem requeria a presença delas rapidamente na sede.

Os carros saem em fila e seguem na mesma velocidade, nem tão rápido, nem tão devagar pela ruas de Matosinhos até pegar uma via principal e seguir para o centro histórico de Porto, onde encontrariam a rainha no Salão Árabe do Palácio da Bolsa, um prédio histórico construído por volta de 1840, hoje destinado a turismo e eventos políticos da cidade.

Martina começa a ler o roteiro junto a Victoria e as duas percebem que o encontro seria bastante simples.

De acordo com o cronograma, dali a uma hora elas já estariam no Salão Árabe para uma sessão de fotos oficias do encontro e após tomariam chá com ela, numa sala separada, por vinte minutos. Após esta conversa, que seria documentada por fotos, mas sem gravações, voltariam para a sala Árabe onde a rainha falaria por alguns minutos e Victoria também.

― Imagino que nessa parte eu deva anunciar o fim das buscas, certo? ― pergunta a CEO apreensiva.

― Não vai ser tão ruim. Só cuide para o tom que você fala. Você é bem articulada, não se preocupe. Estarei lá com você.

Victoria estava bem acostumada a falar em público e a encontrar personalidades famosas da política e do mundo corporativo no qual estava inserida. A única coisa que a deixava ansiosa era como o encontro tinha caído justo no dia que as buscas oficialmente terminaram. Ela teria uma boa conversa com Vanessa quando voltasse.

Após vinte minutos os carros começam a entrar nas cercanias do Centro Histórico da cidade. Uma grande multidão fazia fila para entrar. O Centro havia sido interditado para pedestres e carros. Os pedestres só conseguiam entrar após revista e sem mochilas e bolsa grandes. Quando o carro delas passou, Victoria percebeu o quanto o encontro deve ter custado à cidade. A mobilização era surpreendente.

― Tudo bem? Não se preocupe que dará tudo certo. ― Martina alcança a mão de Victoria e resgata o seu olhar, um tanto apreensivo. Victoria olhava Martina de forma carinhosa, sentindo querer fugir com ela dali.

Ao chegar à frente do Palácio da Bolsa, Martina saiu primeiro do carro. Uma multidão enorme gritava do lado de fora ensurdecedoramente. Um telão instalado na frente do prédio parecia estar ali para transmitir o que aconteceria no Salão Árabe.

Ambas saíram e foram escoltadas para dentro do prédio, subindo as escadas da entrada do prédio. Na entrada, foi pedido que se virassem para tirar algumas fotos junto a alguns políticos que se apresentaram como o prefeito de Porto e o presidente de Portugal. Martina ia na frente os cumprimentando e Victoria após, agradecendo a acolhida deles naquele país maravilhoso.

Martina a olhava admirando como falava com propriedade e força. O tom de voz dela parecia ter mudado ao falar com eles e Martina teve certeza que qualquer receio dela naquele encontro havia sumido.

A Victoria CEO estava ali.

As fotos com o prefeito e o presidente foram tiradas e todos entraram para o prédio. O Palácio da Bolsa tinha uma entrada suntuosa, mas nada comparado ao Salão Árabe.

Ao entrar no Salão Victoria parou boquiaberta, estonteada pela reação visual que a acometeu. Teve a impressão de que era trabalhado em ouro do chão ao teto, mas se dirigindo ao meio dele, percebeu que os detalhes eram em estuque e madeira com inscrições em árabe no que pareciam pintadas a ouro.

Martina também se mostrava impressionada com tanto ouro reluzindo nos olhos. Ficou genuinamente confusa sobre o que era ouro e o que não era.

― Senhoras, a rainha já chegou ao prédio e está quase entrando.

Uma mulher portuguesa no que parecia ter um cabelo que não via creme fazia anos antecipou a informação.

Victoria se lembrou que ali no Salão Árabe falariam com ela e tirariam fotos se cumprimentando. Em menos de cinco minutos, homens de preto começaram a entrar na sala de forma organizada.

A rainha então entrou acompanhada de seu marido logo atrás, o duque de Edimburgo e foram cumprimentando a todos que estavam em uma fila para cumprimentá-los. A rainha por fim chegou a Martina, que apertou sua mão e se inclinou para frente em sinal de respeito. A rainha num conjunto de saia e terno de cor azul colonial e um chapéu de mesma cor, a cumprimentou de volta.

Ao se dirigir a Victoria se cumprimentaram e a rainha falou com ela com um sorriso na face. Enquanto as mãos não se soltavam o fotógrafo tirava fotos consecutivas.

A rainha perguntou como Victoria estava se recuperando do acidente. Ela respondeu brevemente que já estava nova em folha.

Após os cumprimentos seguiram para a sala separada onde sentaram numa mesa suntuosa.

Victoria foi encaminhada a se sentar ao lado esquerdo da rainha e após Elizabeth sentar, ouviu da rainha o que parecia ser uma piada.

― Senhora Victoria, me sinto feliz que esteja bem.

― Obrigada, alteza.

― Quero que saiba que não colocamos de forma alguma a culpa por Gloria estar no voo em vocês e muito menos no Brasil.

― É muita consideração da sua parte, Alteza. ― Martina respondeu.

― O povo britânico ficou comovido além da conta. Pedimos desculpas sobre o que aconteceu na sede da BRASFLY em Londres. Existem situações que saem do controle.

― Alteza, também pedimos desculpas sinceras sobre o acidente. Infelizmente, como já deve saber, as buscas finalizaram hoje.

― Sim, eu fui informada. Mas… A esperança é a última que morre, não é?

Enquanto falavam tomavam o tal chá que foi servido. O fotógrafo tirava fotos da conversa sem tirar a atenção delas.

O duque, marido da rainha, comentou:

― É uma pena que Gloria esteja entre os passageiros. Era uma menina fenomenal.

Victoria olhou Martina com certa apreensão. Sentia-se culpada por falar naquilo.

― Iremos anunciar o fim das buscas no Salão Árabe em alguns minutos. Vossa alteza está de acordo?

― Claro. Vá em frente. Faça o que for certo, Martina, não é?

― Sim, Martina.

O fotógrafo havia parado de tirar fotos e parecia que o chá havia terminado.

Uma mulher vem e avisa que em alguns instantes chegaria a hora de voltar para o Salão Árabe.

Victoria tomou a liberdade para perguntar sobre o boato da monarca ter usado um nome falso para embarcar no avião. O fez de uma forma que colocava a culpa em sua empresa por não ter percebido os possíveis documentos falsos da princesa.

A rainha respondeu que todos erramos em algum momento da vida e que mesmo que ela não estivesse usando documentos falsos, isso não impediria do acidente acontecer.

Martina olhava para Victoria com ternura, percebendo que a morena havia gostado da resposta da rainha. Não havia o que se preocupar.

A mulher retorna anunciando que ao entrarem no Salão, a CEO seria a primeira a falar à imprensa.

Todos se levantam da mesa e Victoria tem uma última oportunidade de falar com a rainha pessoalmente.

― Eu agradeço a compreensão. Desejamos tudo de bom para vocês.

A rainha agradeceu docemente e seguiram de volta ao Salão Árabe onde havia um local onde tinha uma mesa com microfones para que fossem dados os discursos, de pé.

Todos se sentam numa mesa comum, frente para a imprensa ao mesmo tempo que a rainha partia para o local de discurso.

A rainha agradece a acolhida do governo de Portugal para que o encontro acontecesse e continua falando sobre a relação do Reino Unido com Portugal e com o Brasil. Falando do Brasil ela revela que espera não haver mais comoção Britânica sobre o acidente com o avião, dizendo que é necessário encarar a realidade com maturidade. Ela ainda complementa dizendo que a BRASFLY, sendo uma das maiores companhias aéreas do mundo (o que fez Victoria sentir-se extremamente inflada de orgulho), merecia o apoio de todos. E assim passa a palavra para Victoria, a apresentando como a presidente da empresa.

Antes de levantar, Victoria olha para Martina que lhe dá um olhar de aprovação e incentivo.

Ela se levanta e toma o lugar da rainha, certa de que tinha as palavras corretas na memória. Elas viriam naturalmente.

Subiu ao lugar e olhou para frente, havia uma câmera virada para ela e uma mulher ao lado gesticulando para que começasse.

― Bom dia a todos. ― Victoria não gostava de falar com ajuda de scripts. Continuou sua fala num inglês perfeito que deixou Martina impressionada. ― Gostaria primeiramente de agradecer a rainha e ao duque de Edimburgo pela comitiva. ― Sua expressão passou de gratidão para preocupação em milésimos de segundos. ― Tivemos um encontro bastante produtivo e apropriado para o cenário que nos encontramos. A princesa Gloria, estando entre os passageiros do voo A232 trouxe uma comoção enorme no Reino Unido. Quanto a isso o que tenho a dizer é o seguinte: ― Martina percebeu um grau de ansiedade por parte dos jornalistas quando Victoria citou o nome da princesa. ― A princesa esta sim entre os passageiros. Além dela 363 passageiros perderam suas vidas neste acidente. As buscas começaram imediatamente após o acidente e acabaram hoje. ― Victoria teve cuidado nas palavras, mas foi o mais direta possível. Um silêncio tomou a sala. Victoria olhou a rainha que acenava com a cabeça em sinal de aprovação. Um bom sinal. ― Em nome da BRASFLY e do governo do Brasil, colocamos aqui as nossas sinceras condolências às famílias dos passageiros do voo A232. Essas famílias tem sido acompanhadas desde o sumiço do avião e prometemos continuar com o suporte que temos dado até que seja preciso. ― As palavras da CEO podiam soar como estocadas de uma espada, mas eram profissionais e bastante apropriadas. ― Agradeço ao governo de Portugal por ter permitido este encontro. Obrigada a todos pela atenção.

Victoria volta à companhia deles e agora era a vez do presidente de Portugal falar.

Ele começou por citar o acidente da BRASFLY no aeroporto do Porto e continuou falando sobre a boa relação com a nação irmã Brasil. Expressou sentimentos pelo sumiço do voo e disse mais algumas coisas relacionadas a relação política dos países envolvidos.

Ao final, todos se levantaram para tirar uma foto em grupo. Martina reparou que Victoria havia relaxado após seu discurso e sentiu-se aliviada também. Despediram-se da rainha e cada um partiu para o carro de onde veio.

A multidão parecia freneticamente interessada em ver a rainha, que sairia após.

― Onde estão Lucy e Thomas?

― Acho que devem ter ficado num lugar separado.

Como os carros partiram juntos imaginou que eles estavam também ali.

O caminho de volta foi mais rápido que a ida. Dentro do Rover Victoria olhou para Martina para agradecer.

― Obrigada pela companhia.

― De nada. Vem pra cá.

Martina a olhava com certa pena nos olhos, imaginando que talvez tenha sido difícil para ela decretar o fim das buscas. ― Martina a convidou a sentar-se mais perto dela, afinal, o motorista e o outro que estava ao lado dele pareciam mais robôs do que humanos. Victoria se chegou a Martina, ficando no assento do meio. Martina cruzou os dedos com ela. Já tinham saído do centro da cidade.

Victoria retribuía o carinho da ruiva e relaxava com aquilo. Se perguntava se realmente o avião viria a noite. Caso viesse provavelmente voariam durante toda a madrugada.

― Vanessa falou por acaso qual o avião que vem nos buscar?

― Não. Desculpe que não perguntei. Dois raios dificilmente caem no mesmo lugar, Vic.

Martina nem pensava nisso na hora da ligação. Vanessa estava alterada com ela.

Victoria permitiu-se confiar em Martina. Afinal ela era especialista em segurança de voo.

Chegando a casa em Matosinhos, Victoria não via a hora de se livrar daquele terninho.

― Mãe? Eu te assisti. Você estava deslumbrante.

Lucy, ao encontrá-las na frente da casa, abraça a mãe.

― Obrigada, meu anjinho.

Fazia tempo que Victoria não a chamava de anjinho. As duas entraram na casa abraçadas. Martina só restou abraçar Thomas também.

Ao entraram a caseira os esperava dizendo que o almoço estaria pronto em algumas horas. O assistente complementou dizendo que o avião que Paula, a assistente de Vanessa havia solicitado para as buscar já estava quase chegando no espaço aéreo europeu. Era um avião executivo menor que o Bombardier, mas bastante luxuoso.

― Eu quero caminhar na praia, antes.

Victoria sentiu seu estômago revirar um pouco, numa ansiedade diferente do que sentia. Estava aflita e um pouco traumatizada para entrar novamente em um avião.

Ir até a praia e passar algumas horas lá antes de voltar para se arrumar para ir embora era tudo que ela precisava para colocar a cabeça no lugar.

Na praia Victoria pede que Martina conte sobre o que ela perdeu da sua vida.

― Você não perdeu nada, Vic.

Victoria não achava ser justo considerando que Martina sabia tudo sobre ela. Ansiava que Martina contasse sua jornada pós-faculdade, o período de casada e depois quando se separou do marido quando morou na França, em Toulouse. Queria saber do projeto dos A380, da relação com sua mãe…

― Vamos ter tempo para isso, eu prometo. Você tem que relaxar para a viagem. Como está sua dor no corpo?

― Passou um pouco. E a sua?

― Também.

As duas caminhavam de mãos dadas que nem namoradas e nem percebiam, já era natural. O sol que fazia não aquecia nada e de vez em quando um vento frio batia. Eles haviam trocado de roupa antes de ir, com calças térmicas e cachecol, mas parecia estar frio demais até para aquele tipo de roupa.

Quando voltaram já era hora do almoço e foram recepcionadas pelo assistente na entrada da casa.

― Senhoras, o avião já pousou. Podem seguir viagem qualquer horário após o almoço.

Victoria agradece e entra na casa. Martina fica e pergunta ao homem, que fumava o que parecia ser um charuto.

― Você por acaso saber qual avião é?

― Acho que é um da Embraer, Phenom 300. Nada especial.

Martina não gostou do que ouviu. O que recordava era o acidente que havia ficado famoso com aquele avião. Em 2015, um Phenom 300 caiu em Hampshire, na Inglaterra, matando o piloto e três integrantes da família de Osama bin Laden, dentre eles a meia-irmâ do ex-lider da al-Qaeda.

Martina entrou na casa aflita. A verdade era que ela também estava preocupada com aquele retorno.



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