A Ilha - Livro 1

36. A Ilha

Martina encarava Lucy esperando por mais alguma indagação ou exclamação, numa natureza característica de quem tem de ser servido na hora que lhe apetece. A ruiva decide rebater perguntando como estava o namoro deles. Thomas sabia exatamente o que a mãe estava fazendo: rebatendo a jogada.

Lucy foi pega de surpresa. Todos a olhavam esperando uma posição. Ela havia deixado o namorado frustrado nos últimos dias e ele, embora estivesse aguentando pacientemente, apático permanecia.

― Está bem, eu acho?

― O que aconteceu? Vamos aproveitar que estamos em família e resolver logo isso… ― Martina soou mais irônica do que desejava.

― Isso significa não trocar de assunto. ― Thomas revela, desviando o olhar.

Victoria olhava tudo sem exteriorizar nada. Lia os olhos de Lucy e sabia que estava com dificuldades de aceitá-la e que provavelmente tinha brigado com o namorado por causa daquilo.

― É… Eu acho que você me pegou, Martina. ― Martina a olhava com pena. Queria fazer entender que era mais simples do que se imaginava.

― Escuta, as coisas são naturais e apenas acontecem. Se aceitar naturalmente você nem vai sentir. A dor eventualmente passa.

― Passa? ― Victoria perguntou para a ruiva, se lembrando da dor que Martina teve de suportar ao perdê-la.

― Com o tempo sim, Vic. Você percebe o quão foi idiota de não querer entender e não forçar as coisas. A verdade é que o que tem de acontecer, acontecerá.

E assim era. Naquela época Victoria estava grávida. Não poderia largar tudo para viver uma aventura com Martina. Talvez naquela época não desse certo. Victoria fitava Lucy e Thomas respectivamente e viu que talvez nenhum dos dois estivessem ali caso ela tivesse escolhido ficar com Martina baseada num sentimento no qual sequer compreendia.

― Eu e Lucy somos bastante diferentes, sabe? Nós discordamos muito, mas no final ficamos bem. ― Thomas resolveu se justificar.

Victoria imaginava o quanto ela e Martina eram diferentes também. Victoria sempre fora muito indecisa, porém, recentemente, vinha surpreendendo Martina, que sempre foi muito estourada. No entanto, ela também surpreendia Victoria. Estava mais complacente e compreensiva.

*****

Após a “conversa de família” todos cochilaram, cheios de álcool no sangue e acordaram apenas próximos de descender.

Um raio não cai duas vezes no mesmo lugar! – À medida que o avião entrava nas nuvens e se aproximava mais do pouso, Victoria repetia a si mesma a frase de Martina.

O avião pousou bem suave com um toque imperceptível na runway do Galeão. Martina olhava da janela tudo passar em rápida velocidade, até desacelerar, chegando a uma velocidade segura. Estavam fora de risco, enfim. Olhando pela outra janela, a CEO pensava o mesmo. O trauma estava instalado, não tinha dúvidas, mas teria de conviver com isso de uma forma ou de outra.

O piloto anuncia a chegada ao Galeão dando breves descrições do clima atual no Rio de Janeiro. Olhando da janela os 34° estavam praticamente torrando a pista.

Ao desembarcarem, seguiram para a imigração e após trinta minutos já estavam à caminho o carro da BRASFLY que os esperava. Martina andava na frente com Thomas ao passo que mãe e filha andavam de mãos dadas.

*****

Vanessa havia preparado a passagem de serviço para Victoria e não estava nem um pouco preocupada com a reação da CEO frente às decisões que ela tomou.

― O carro deles já saiu do aeroporto. ― Paula avisou no ramal, conforme solicitado pela CEO substitua, título a ser perdido dentro de minutos.

― Obrigada, Paula. E venha aqui, por favor.

Vanessa a intrigava mais que palavras cruzadas e ela foi imediatamente. Entrou na sala e a olhou pela primeira vez no dia. Estava usando um terninho preto com um decote ousado. A maquiagem deixou Paula intrigada. A menina aparentemente inofensiva e fraca estava usando cílios postiços e blush. Nada exagerado, mas ideal para quem quer impressionar.

Paula percebeu que estava estatelada na frente de Vanessa sem reação já há alguns minutos. Vanessa deixava-se reparar. Aproveitava para ter uma resposta prévia de qual reação sua aparência estava causando nas pessoas.

― Tudo bem? Vai ficar aí me olhando? ― Paula desviou o olhar, tarde demais para disfarçar. ― Tudo bem. Fui eu quem te chamou, afinal.

― Sim. ― Pela primeira vez Paula se mostrava desarmada na frente de Vanessa e ela não gostava disso.

― Te chamei para agradecer por ter sido uma assistente tão solícita, eficaz e proativa. Irei te recomendar a Victoria. Você merece. ― Por essa a loira não antecipava. ― Espero que venhamos a manter nossa amizade.

Amizade? Paula só pensava em como ela surgiu com essa ideia. De onde havia tirado a “amizade” que tinham? Ela não sabia e chegou até a tentar resgatar alguma memória, qualquer olhar, gesto ou gentileza de Vanessa, mas não encontrou.

― Obrigada. Foi um prazer trabalhar com você, Vanessa. ― As palavras saíram docemente da boca de Paula, com um fundo de verdade. Vanessa percebeu o tom de voz da mulher mudar e embora estivesse sentindo um aperto no peito por ter de abdicar ser servida por ela todos os dias, reprimiu e engoliu.

― O prazer foi meu. ― Vanessa estendeu seu cartão de visitas para a mulher, inesperadamente. Paula não entendeu, pois já tinha o número de Vanessa e se quisesse alguma amizade usaria aquele meio. O cartão tinha o logo da BRASFLY e tinha informações extras de Vanessa escritas atrás. ― Eu participo de um grupo de estudo sobre macroeconomia na faculdade e estamos precisando de uma monitora. Eu vi que você estudou na mesma faculdade que eu. Se interessar entra em contato.

Paula estava etada. De onde vinha aquilo ela não sabia.

― Vou pensar. Te ligo.

A loira saiu educadamente dando uma bela olhada na morena antes de sair. Vanessa não sabia que o “namorado”, na verdade era “namorada”, ou melhor, amiga com benefícios.

Não deu cinco minutos que Paula saiu, Maximiano entrou ficando também perplexo em quão arrebatadora Vanessa estava.

― Vestida para matar?

― Nunca assisti esse filme. É bom? ― Vanessa brinca, como se ele estivesse se referindo a um filme. Max abre um sorriso ao se sentar de frente para ela.

― Vim trazer a carta de transferência de Martina. Espero que Victoria reconsidere.

― E qual seria motivo?

― Primeiro, sei que ela é uma mulher inteligente para saber que Martina é de grande valia aqui. Segundo, conforme os padrões da empresa ela tem até uma semana para aprovar tudo e submeter.

Maximiano queria dar tempo ao tempo. Estava se mordendo de curiosidade para saber como Victoria e Martina haviam ficado após todos aqueles acontecimentos. Se a CEO estivesse inclinada a descartar Martina ele prosseguiria, não tendo como negar a transferência. Caso tenham se dado bem, ele arquivaria.

― Querendo preservar Martina, Max? ― Vanessa era esperta demais para não notar as motivações subentendidas.

Ele não queria a preservar. Isso era certo.

― Veremos o que acontecerá.



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