A Ilha - Livro 1

37. A Ilha

Vanessa estava ao telefone quando Victoria entrou, fechando a porta atrás de si. Olhou Vanessa e não escondeu sua admiração, parando a passada, abrindo a boca, impressionada tanto pelo novo corte de cabelo dela e pela maquiagem. A assistente estava no viva voz conversando com Mark.

― Entendi, Mark… Mas agora é com a Victoria. Ela já está aqui. Acabou de chegar!

Mark se mostrou surpreso e deu as boas vindas a CEO perguntando como ela estava.

― Esta tudo no lugar embora doa tudo ainda! ― Victoria exclamou.

Mark diz que não quer atrapalhar a chegada da CEO e tornaria a vê-las mais tarde. Nesse ponto, Victoria já tinha puxado uma cadeira e se colocado ao lado da assistente.

― E aí? Como você ficou sem mim?

Vanessa não queria outra coisa senão pular para cima dela e beijá-la como na noite da virada. Sentia falta não só da presença, mas também da voz dela, das suas reações, manias de expressão e a forma de a tratar com atenção.

― Eu fiz tudo como achei que você faria, Vic. Você me surpreendeu, e muito!

Victoria sentia falta de Vanessa e percebeu isso estando ao lado dela. Sentia-se mal por tê-la usado e confundido, mas estava disposta a se redimir e galgar sua amizade.

― Se fiz isso não foi a toa. Tampouco foi em vão a preparação que sempre te submeti sem você saber.

― Max, me mostrou isso. ― Vanessa retirou o plano de carreira dela de dentro de uma pasta. Victoria começa a corar de leve. ― Eu quero saber se agora que sabe do meu potencial e me testou, vai querer me transferir para outro setor…

Victoria sente certo desapontamento na voz de Vanessa. A causa do choro e comoção de Vanessa no dia da virada foi em parte por sentir que aquilo significava que ela não trabalharia para sempre junto de Victoria.

― Confesso que penso sempre alto com relação a você. Você merece mais do que ser minha assistente.

― E se eu disser que “prefiro” ser sua assistente, que gosto e que não me interessa outro cargo?

Vanessa falava chegando perto de Victoria e repousando a mão sobre seu joelho de forma íntima. Victoria inocentemente coloca sua mão sobre a de Vanessa. Ouvir Vanessa falar que voluntariamente estaria disposta a servi-la para sempre era muito tentador. Se tinha uma coisa que Victoria amava e não escondia, era ter a atenção de Vanessa para si.

― Eu te responderia que… você vai mudar de ideia.

Victoria se levanta após perceber que por tocar Vanessa estava dando margem para ela fantasiar sobre as duas. Deu um olhar afirmativo para assistente e indo até sua bolsa, tirou alguns papéis de dentro.

Vanessa respeitou o gesto de Victoria, presumindo que causou reações na CEO.

― Bom, a passagem de serviço está aqui. Se discordar de alguma coisa posso te esclarecer.

― Obrigada. Tenho certeza que você conduziu tudo de forma perfeita. ― Victoria voltou a ficar a seu lado na cadeira e assinou todos os papéis sem ler.

― E como você está de saúde? Fiquei preocupada com você.

― Eu estou bem agora, mas estou toda dolorida e um tanto traumatizada.

― Imagino, Vic. ― Por dentro ela soltava fogos pois Victoria havia acabado de assinar a transferência de Martina.

― E Martina, está bem?

― Sim… Na verdade ela teve um corte na testa e levou alguns pontos. Você não sabe como foi horrível vê-la desmaiada dentro daquele avião cheio de fumaça.

Sinceramente, Victoria não tinha planos de abandonar Vanessa, tampouco escolher entre as duas. Ela queria Vanessa como amiga, para desabafar, sorrir e contar detalhes da sua vida como sempre fez. Isso seria muito bom a seus olhos.

Vanessa, porém, desejou internamente que Martina nenhuma tivesse aparecido ali. O ódio crescia cada vez mais, fazendo seu rosto esquentar. Tinha de eliminá-la e estava prestes a conseguir.

― Bom, eu já vou indo, Vic. Qualquer coisa estou a disposição.

― Desculpe, interrompo alguma coisa?

― Não, eu já estava de saída. ― Seu rosto queimava de raiva de uma forma que nem ela se reconheceu. Foi quando Martina bateu na porta e entrou.

Vanessa sai educadamente sem intenção de olhar no rosto de Martina. Se a olhasse sentia a degolar ali mesmo de ódio e raiva sem nenhuma dificuldade.

Victoria pede que Martina tranque a porta e ela o faz.

― Vem aqui, vem?

Victoria se levanta e a chama para sentar-se no sofá com ela, recebendo a ruiva num abraço apertado.

― Isso tudo é saudade?

― O que você acha? ― Victoria a conduz para o sofá a empurrando de forma que a ruiva caísse de costas e se joga sobre ela. ― Não vejo a hora de fazer amor com você de novo.

Queria beijá-la, sorvê-la, se fundir nela. Precisava sentir seu corpo nela. Estava em fogo e seu coração palpitava.

― Sabe que eu nunca imaginei na vida que uma mulher pudesse me fazer sentir desse jeito? Eu fiquei assustada, claro! Mas também me senti livre, como nunca antes!

― Tarada! ― Martina fazia questão de brincar com ela.

Os últimos dias tinham sido uma correria só. O corpo delas parecia não corresponder à altura da demanda. Desde que chegaram à sede não pensavam em outra coisa senão voltar para casa ou gastarem a tarde inteira no sofá do escritório de Victoria.

― Você leu meu pensamento me trazendo para este sofá e eu li o seu vindo aqui.

A CEO recostava a cabeça no ombro de Martina sentindo a essência do perfume amadeirado. Percebendo a mulher visivelmente cansada e quieta a ruiva pensou em chamá-la para dar fim ao dia e ir embora, afinal, passaram a noite voando e tinham direito.

― O que tem na agenda para essa manhã, chefe?

Victoria repousava a cabeça agora no colo da mulher, com as pernas pendendo para o resto do sofá. As duas estavam cansadas demais até para pensar.

― Apenas saber o que Vanessa fez na minha ausência. Sinceramente, confio nela de olhos vendados.

― Se você diz. ― A ruiva novamente usou o tom irônico característico.

― “Ta” com ciuminho de novo? ― Victoria olhava a ruiva de cima.

― Ciúme é para os fracos, eu tenho é possessão! ― Martina exclamou, afastando a cabeça da morena e indo até a janela, fechando um pouco o blind e recostando-se no móvel, de braços cruzados.

― Eu preciso saber de uma coisa.

Martina não era tão curiosa quanto Victoria. Ela sabia esperar o momento certo das coisas se revelarem para ela. Victoria gelou na hora, mas não transpareceu. A ruiva estava “altamente comestível” daquela forma, séria e encabulada por querer saber, provavelmente, de mais detalhes sobre Vanvic.

― Que história é essa de Vanessa ser louca por você? Não vai me contar? ― A perguntar que não queria calar. A indagação desde o primeiro dia que viu Victoria com sua assistente.

Victoria a olhava sem piscar e em breve os olhos cinzentos lacrimejariam de irritação. A dona deles por fim piscou e chamou Martina para se juntar a ela. A ruiva não se moveu de pronto.

― Por que isso é importante para você? Eu acabei de te dizer o quanto você mexe comigo. O que Vanessa pensa ou quer não importa. Nada vai mudar.

Martina ponderou suspirando. O problema era que ela tinha certeza de que tinha mais naquela história.

― Eu não quero ser inquisitiva, mas…

― Então não seja. Por acaso você nunca amou sem ser correspondida? ― Victoria se levantou e foi até ela a enlaçando pela cintura e indo de encontro a sua boca. Entre uma bitoca e outra Martina não acreditava que ela estava sendo capaz de fazer aquela comparação entra ela e Vanessa.

― Não tem comparação, Vic.

― Você não quer ser inquisitiva e eu não quero ser grossa, mas você tem que se lembrar que quando eu não quero, eu não quero. Eu não te escolhi no passado, lembra? Porque EU não quis. ― Victoria comparava água com óleo, talvez? ― Eu não a desejo. Ela é uma pessoa de confiança que eu não quero perder, mas não! Eu não a amo dessa forma romântica que ela me vê.

Victoria podia ter feito a comparação errada, mas foi genuína quando disse que não a desejava.

Martina se convenceu, pelo menos naquele momento. Victoria afastou-se indo em direção a sua mesa olhando a passagem de serviço.

― Eu estou cansada além da conta. Acho que vou ler essa passagem e vou embora.

― Minha casa ou sua casa? ― Martina ousou perguntar já voltando ao sofá.

― Onde nossos filhos não estejam, suponho.

― Supôs certo.

Thomas e Lucy escolheram ir direto para a casa da mãe de Lucy para descansar.

Martina sentou-se no sofá olhando Victoria concentrada nas folhas de papel. O que ela menos queria era dormir com Victoria na cama que ela e o marido dormiam. Sabia que camas eram simples objetos sem sentimento e sem vida, mas aquele ambiente poderia estragar qualquer clima que viesse a surgir.

Quando Victoria terminou de ler, assinou e colocou dentro de uma agenda que estava em cima da mesa. Martina cochilava no sofá igual um anjo que cairá do céu.

― Psiu. ― Victoria a chamou de longe, quase assoviando tão baixo. A ruiva percebeu e abriu os olhos. ― Vamos?

Viu a ruiva se espreguiçar para pegar a bolsa e levantou-se com ela, ligando para o motorista ficar a postos. Ao saírem pelo corredor Martina seguiu para sua sala pegar sua bolsa, no que Vanessa teve uma chance de abordar a chefe, que falou com ela primeiro.

― Parabéns, Van! Você foi fenomenal. Eu não teria feito nada diferente. Apenas arquive este documento, ok?

Era o envelope pardo com os documentos assinados pela CEO, os que ela deixou de ler. Dentre eles o pedido de transferência de Martina. Vanessa só faltou gritar com ela.

― Tem certeza, Vic? Max já aprovou.

― Certeza absoluta.

― Ok, tire o resto do dia para descansar. Deve estar cansada da viagem.

― Estamos. ― Victoria responde quando Martina aparece ao lado dela, agarrando seu braço de forma adorável e inconscientemente. A ruiva era uns centímetros mais baixa que as duas, que a olhavam de cima e ambas de salto pareciam superiores. Vanessa sentiu querer voar na ruiva ali mesmo.

― Bom descanso então. Vocês merecem. ― Soou sincera até mas queria mesmo voar no pescoço de Martina.

― Nos vemos amanhã, Van. Pode me ligar caso algo crítico surja.

As duas tomaram o caminho do corredor calmamente, deixando Vanessa por si. A assistente não olhou as duas partindo, pois o que se partia era toda a sua sanidade. Esperou o barulho do elevador se fechar para olhar o corredor vazio. Seu telefone toca e ela atende, séria.

― Está tudo certo. / Isso! Será amanhã. Agora tenho certeza.

Ela desliga e joga o celular de qualquer jeito na mesa.



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