A Magia do Amor

14. Gotinhas de chocolate

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Gotinhas de chocolate
 

Os dias que prosseguiram foram demasiadamente agitados, Agatha e Maysa mal conseguiram trocar algumas palavras. A loira estava envolvida com os projetos literários, com as recusas para participar de palestras ou dar entrevistas, afinal, era basicamente uma celebridade naquela cidade. E ainda precisava decidir se aceitaria ou não, que um de seus livros ganhasse uma adaptação para o cinema, estava tentada em aceitar, mas tinha medo de que a adaptação sucumbisse a máxima de que o filme nunca é equivalente ao livro.

 

A morena estava envolta com suas ervas e flores, os pedidos pareciam ter triplicado, o que era maravilhoso. Com certeza ela iria ter que contratar logo um ajudante, nem que fosse para fazer as entregas. Porém, ainda lutava contra aquela necessidade, pois simplesmente adorava todo o processo, desde o escolher das sementes ou mudas, o plantio, o cuidado, colher, até o transformar. Havia muito mais que beleza naqueles atos, era um ritual sagrado, qual ela ainda não estava pronta para compartilhar.

 

Era final de tarde, Agatha estava em uma saleta que mais parecia com o laboratório de um cientista louco, haviam tubos de ensaio, balões destiladores, condensadores, queimadores, alguns minis pilões, além dos frascos e vasilhas, porém tudo encontrava-se devidamente organizado. Ela fazia a última mistura daquele dia, quando Maysa bateu na porta da cozinha.

 

– Ei você, estou mesmo precisando de pingos de chocolate. __ disse com um sorriso sapeca, que muito lembrara o filho. – O Dan é o responsável pelos biscoitos, ele e os coleguinhas de classe vão fazer um piquenique, e preciso fazer muitos biscoitos para amanhã. __ a porta foi aberta.

– E por que você não compra biscoitos prontos? Não seria mais prático?

– Que espécie de mãe eu seria se deixasse o meu filho levar biscoitos industrializados para um piquenique? Nunca sabemos realmente a procedência desses produtos, imagine o mal que eu poderia causar para inocentes criancinhas! Você tem? Uma xícara já é o suficiente!

 

Agatha sorriu ao imaginar Maysa suja de açúcar e farinha de trigo, assando algumas fornadas de biscoitos. Uma bela imagem, pensou.

 

– Vamos, entre. Só preciso terminar uma coisa aqui.

– Nossa, sua cozinha está com um cheiro incrível. __ Maysa já estava para passar o dedo em uma pasta de cor rubra. – E o que é isso aqui?

– Não! Não faça isso! __ a morena avisou enquanto retirava o pote com a pasta das vistas de Maysa, me parece que a curiosidade de Daniel também é uma característica da mãe dele. – Isso é um concentrado de urtiga com formigas vermelhas da Amazônia. Você não deseja ver, muito menos sentir o resultado disso se ministrado da forma errada.

– Por acaso você está preparando uma poção mágica?

– Você é tão espirituosa… claro que não, hoje não é um dia propício para fazer poções. __ sorriu. – Estou fazendo um creme, serve como analgésico. E também como sedativo se souberem diluir a quantidade certa.

– Hum… e todo aquele material ali? Você não precisa de um certificado para fazer essas coisas?

– Já lhe disse, sou uma herbalista, não uma amadora. Tenho diploma de farmacologia e outros certificados, se isso a deixa mais tranquila. __ Agatha terminava de colocar as loções nos frascos.

– Hã… será que você tem algo que me faça dormir?

– Você anda com problemas para dormir?

– Sim, e já vou logo avisando que a culpa é sua! __ Maysa puxou Agatha com delicadeza, para que ela se virasse e pudesse olhar em seus olhos. – Eu não consigo parar de pensar em você. Não consigo parar de desejá-la. __ colou sua testa na da morena e até sentiu leve tontura com aquela aproximação. – Não consigo esquecer de tudo que senti com aqueles beijos.

– Sinto muito por isso…

– Sente mesmo?

– Não… é difícil sentir muito por saber que você fica acordada pensando em mim. E é bastante complicado saber qual a solução. __ suspirou. – Maysa, eu não sou indiferente. Mas…

– Eu já sei. __ Maysa soltou a cintura da vizinha. – Você não está pronta. Nunca esteve, nunca vai estar… __ e ao contrário do que se pensa, a voz não era de raiva por lembrar do passado, possivelmente carregada com uma certa tristeza, porém calma e complacente.

– Não é isso. Entenda que é um grande passo para mim, sem contar que nós precisamos ter uma conversa.

– Eu sei. Sei que precisamos conversar, sei que é um grande passo para você, mas acredite, também é para mim.

– Só peço a você para que possamos ir com calma, certo?

– Certo. Desculpa, eu havia prometido a mim mesma que não viria aqui para falar dessas coisas, na verdade, eu queria mesmo era te convidar para fazermos algo. Sei lá, passarmos um tempo juntas, jogar conversa fora. Passear e tomar um sorvete, talvez jantar. Qualquer coisa que as pessoas costumam fazer quando estão se conhecendo, ou reconhecendo.

– Eu vou adorar jogar conversa fora e tomar um sorvete, jantar ou sei lá. __ sorriu.

– Um jantar, que tal?

– Sim!

– Hum, podemos sair na sexta-feira. Acho que consigo arrumar uma babá. __ Maysa ficou muito séria. – Alguém em quem eu possa confiar.

– Pensei que seria um jantar para nós três.

– Sério? Você não se incomodaria?

– Claro que não, vou adorar.

– Isso é novo para mim.

– Por que?

– Agatha, tenho um filho. E o Dan é um milhão em um, eu amo isso. Porém…

– Nem continue, pois eu adoro o seu filho, ele é incrível e apaixonante. Se alguém que estiver com você não souber enxergar a criança encantadora e especial que é o Daniel, essa pessoa, nem por um segundo, merece estar com vocês.

 

Depois de tudo que passou com o Roberto, a morena tratou de deixar morrer qualquer desejo de ter uma criança por perto, abdicou até mesmo do desejo de ser mãe. Inexplicavelmente, apesar de conhecer Daniel há pouquíssimo tempo, o coração de Agatha já havia o acolhido.

 

– Você é maravilhosa. __ os olhos de Maysa estavam cheios d’água, eram lágrimas de emoção. – Sexta-feira, jantar na minha casa. Eu, você e o Dan. __ depositou um beijo leve e doce nos lábios de Agatha.

– Levarei a bebida.

– Que bom, porque eu nunca soube escolher bebidas. Então é isso, até sexta-feira.

– Ué, você não vai levar as gotinhas de chocolate? __ a loira gargalhou.

– Eu menti. Quero dizer, o Dan tem mesmo que levar biscoitos, mas nunca faltam essas guloseimas lá em casa. Era só desculpa para te ver e te convidar para sair comigo. Até que não fui muito mal, né?

 

Agatha até tentou manter uma expressão incrédula, mas não resistiu e sorriu ao ver Maysa saindo saltitando pelo jardim, feito criança que acabara de ganhar um doce.



Notas:



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4 Respostas para 14. Gotinhas de chocolate

  1. Finalmente Maysa assumiu a frente de tudo e chamou Agatha pra sair, uhull.
    Essa conversa entre elas vai ser essencial^^
    Quando um assunto fica mal resolvido é certeza que uma hora vai virar alvo de “jogar na cara” em certos momentos e acaba virando uma discussão inevitável!

  2. Oii Anjo!!!

    Agora começarei novamente a acompanhar teu romance.

    Adorei reencontrar sua história.

    Vou pensar num uso para as gotas de chocolate 😉

    • Oiê, “Zoe”

      kkkkk’ é bom ter ver por aqui.
      Tem muitas formas de uso essas gotas de chocolate, viu?!
      É só usar a imaginação. 😉

      Beijinho, flor.

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