A Magia do Amor

16. O encontro II

16
O encontro II
 

“Você acha que pode casar com a mamãe?”

 

A morena não estava preparada para aquela pergunta, deixou a louça que lavava cair dentro da água. Respirou fundo e sabia que precisava encontrar as palavras certas, apesar de querer falar sobre o que ia em seu coração, Agatha optou por não criar expectativas na criança.

 

– Acho que não.

– É que eu ouvia os amigos da minha mãe falando que ela era muito sozinha e precisava de alguém. Você acha a mamãe sozinha?

– Não, ela tem você e o Tapioca. E se algum dia ela resolver casar, vai ser porque encontrou alguém que vocês três amam muito.

– Mas eu amo você, Agatha. O Tapioca também.

 

Se perguntassem como ela conseguiu deixar que uma criança a intimidasse e ao mesmo tempo a emocionasse tanto, Agatha não saberia responder. Embora tenha se sentido em um pequeno interrogatório, aquela declaração simples e direta a fez feliz e deixou uma lagrima escapulir.

 

– Meu lindo e encantador explorador de mundos, eu também amo vocês.

– E você também ama a mamãe?

 

Agatha sabia o quanto era preciso ter cautela ao pisar em terreno tão frágil e perigoso, mas aqueles olhinhos brilhando, esperando avidamente por uma resposta. Que ela deu, tratando de explicar que quando se cresce, o amor passa a ter significados diferentes, mas que se sentia imensamente feliz por todos estarem se entendendo e tornando-se amigos. Daniel ainda insistiu, confidenciando que a mãe nunca havia convidado alguém para jantar com eles, e que aquilo o fez pensar que talvez, elas fossem casar, que Agatha fosse morar com eles e que ele teria uma irmãzinha.

 

A conversa foi de um assunto a outro, quando terminaram de arrumar a cozinha, o pequeno já estava bocejando. Foram para sala, Daniel ainda tratou de apresentar Agatha para alguns dos seus bonecos preferidos, mas não demorou para ele acabar adormecendo no colo da morena, enquanto ela contava uma estorinha. Subiu as escadas e colocou o garotinho na cama. Não precisou de mais que uma breve olhada no quarto, para ter a impressão de estar entrando em um mundo de fantasias, qual qualquer criança gostaria de estar. Ela terminava de tirar os sapatos do pequeno, quando ouviu um ruído vindo da porta, ao olhar, deparou-se com Maysa a observando em silencio.

 

– Desculpa, não queria invadir o espaço de vocês, mas é que ele dormiu!

– Ei, calma! Não disse nada. __ aproximou-se, retirou a blusa do filhou e colocou uma mais confortável.

– Cuidado, posso roubá-lo de você! __ provocou, enquanto Maysa cobria o filho e Tapioca ajeitava-se no seu cantinho aos “pés” da cama. – Aproveitou o passeio?

– Uhum…  __ Maysa afastou os cachinhos do cabelo de Daniel, que lhe cobria o rosto e o beijou a testa. – Uma das melhores coisas da infância, é essa facilidade de simplesmente dormir.

– Ainda com dificuldades para dormir?

– Muitas coisas para pensar. __ pegou a mão de Agatha e a guiou para fora do quarto, deixou a porta aberta, como sempre. – É verdade que maior parte dos meus pensamentos é sobre você, mas tem outras coisas também.

– Hum… __ Agatha, parou no topo da escada. – Posso te ajudar, te dar algo que… __ balançou a cabeça e riu baixinho ao ver os brilhos nos olhos de Maysa e as intenções que eles revelaram. – Falo sobre um calmante natural, bem suave.

– Eu prefiro outra coisa. __ a morena balançou a cabeça outra vez, enquanto revirava os olhos e desceu os degraus.

– Aff’ Maysa, você não me leva a sério!

– Que absurdo, é claro que levo.

– Falo, como herbalista.

– Eu não tenho tamanha intimidade com esse assunto, mas não descarto. Como você foi mesmo parar nessa área? Sempre desejou ser médica.

– Não me senti qualificada para seguir com aquilo.

– Sério, Agatha? Você falando que não se sentiu qualificada para alguma coisa? Logo você, tão destemida e independente?!

– Ora, Maysa. Uma coisa não tem nada a ver com a outra. __ Agatha pegou a taça de vinho que a outra lhe oferecia. – Não saberia lidar com o fato de que não poderia ajudar todo o mundo. É uma profissão linda, tem muitas compensações, mas não sei ficar cercada por sofrimentos. O que faço hoje em dia, me dá paz e ainda satisfaz minhas necessidades. Além do que, eu prefiro trabalhar sozinha.

– Entendo perfeitamente. Meus pais ficaram loucos quando souberam o que eu estava escrevendo. Eles esperavam algo grandioso, impactante. E eu fui escrever fantasias.

– Eles tinham muito orgulho de você!

– Sim, do jeito deles. Apenas sinto pela teimosia deles e devido a isso perderam a oportunidade de conviver com o neto.

– Isso ainda te machuca, não é?

– Não sei, acho que não mais. Eles queriam uma filha com casa de jardim, churrasqueira para os encontros familiares no final de semana e um esposo perfeito de sorriso simpático.

– Isso não é tão ruim…

– Não, e eu tive exatamente isso. Trocando a casa por um apartamento, o jardim era na varanda, o esposo na verdade era esposa. E eles não eram capazes de aceitar. Depois que o pai faleceu, achei que a mãe iria compreender mais as coisas, e foi bem ao contrário, sempre que nos víamos, ela insistia que eu precisava ter um homem e iniciar uma família. Eu já tinha a minha família! __ lembrou meio amarga das palavras ditas pela mãe, sorriu amargo e bebeu mais um gole do vinho.

 

Foi uma necessidade de proteger, de dar certeza que tudo ficaria bem. Foi automático o abraço que Agatha deu em Maysa.

 

– Você não poderia ter se saído melhor, enfrentou tudo e tem um filho lindo.

 

Maysa sorriu, acolheu ainda mais a morena em seus braços, e ficaram ali, olhando as estrelas. Era bom estar no terraço, não fumando e espionando a vizinha, mas quase deitada naquele confortável banco, com Agatha em seus braços. Sorriu, prendeu o queixo de Agatha entre os dedos. – É bom estar com você!

 

O sorriso foi tímido, mas havia reciprocidade neles. Maysa roçou os lábios sobre os de Agatha, que entreabriu, convidando-a para um beijo. As taças foram postas de lado, e o beijo ganhou forma e sabores.

 

Sabor…

O gosto daquele beijo era tão doce, tão quente. Era acolhedor e excitante, um verdadeiro convite a se perder. A pele morena e macia era tão suave e tentadora. E o suspiro que Agatha exalou, tão tremulo e leve que estremeceu o corpo de Maysa.

 

Mas, obviamente, Maysa não era mais uma adolescente ansiosa se agarrando com a namorada no escuro. Aquele tsunami de desejo que sentia, poderia ser controlado. Até porque, sentia medo de entregar a Agatha a totalidade de sua paixão e assustá-la. Então, usaria o benefício da sua experiência. Diminuiu o ritmo do beijo, sentia o sangue percorrer por cada veia de seu corpo. Cada gesto, carinho e toque dolorosamente calmo, era retribuído com muita ternura.

 

Agatha sabia que nunca havia sido tomada daquela maneira, ainda que em um beijo, sentia a delicadeza mesclada com avidez, e aquilo era maravilhoso. A língua de Maysa brincava com a sua, aquelas mãos firmes e ao mesmo tempo tão suaves lhe acariciando de forma sedutora. E quando a loira passou a dar-lhe beijos no rosto, queixo, pescoço, seu corpo arqueou tão certo do que queria, desejando loucamente que a outra lhe desse mais e mais daquelas sensações. Ela sabia que estava prestes a render-se à Maysa, aquilo era tão certo quando a brisa que sentia em sua pele. E mesmo sabendo que seu gesto a deixaria mais perto do total descontrole, não podia mais resistir a necessidade de tocar aquela pele.

 

Controlar-se por medo de passar dos limites, acabou se tornando uma tortura.

Maysa sentia-se beirando a loucura, ao passear as mãos pelas curvas do corpo de Agatha, as coxas grossas e torneadas instintivamente abrindo-se para que Maysa ficasse mais encaixada. A loira sentia a pele da morena ficar febril em seus lábios. Era torturante… torturante não puxar aquele vestido e provar uma pouco mais daquele corpo. Sentiu os mamilos de Agatha enrijecidos, pressionados contra o vestido e contra o seu corpo, o que lhe arrancou um gemido inesperado, tornou a beijá-la.

 

A boca de Agatha recebeu a loira com urgência. As mãos da morena moviam-se sobre Maysa com desespero. Mas, Agatha sabia que ainda não era o momento, embora elas estivessem sob a luz das estrelas, o terraço iluminado com velas, elas estavam embaixo da janela onde uma criança dormia, mas poderia acordar a qualquer momento, procurando pela mãe. Porém, haveria um momento, muito em breve, em que ela não iria poder mais resistir, não iria mais conseguir pensar e se entregaria a Maysa, e aceitaria as consequências que isso lhe implicaria.

 

– Maysa… humm… ___ quase sem voz e precisando dar ar para os pulmões, ela virou o rosto e o encaixou entre o ombro e o pescoço de Maysa. – Você não tem noção do que faz comigo.

– Então me conte. Quero saber…

– Você me faz sentir um desejo… um desejo absurdo a ponto de doer. __ me faz ter esperanças de que tudo pode ser diferente e bom. Fechou os olhos o mais forte que podia, e estremeceu ao sentir os dentes de Maysa prender sua orelha. – Ah! Ninguém… ninguém jamais me deixou assim. E isso me causa um certo medo.

– Não posso negar que também me dá medo. __ Maysa afastou-se um pouco e seus olhos estavam escuros de tanto desejo, era um olhar faminto. – Entretanto, também não posso negar o meu desejo de querer levá-la para o meu quarto nesse exato momento, para minha cama… e fazer amor com você. Hum… fazer amor com você, Agatha; é algo que desejo tanto quanto respirar.

 

Agatha sorriu e sentiu o coração disparar ao ver tal imagem se formando em sua mente. Com certeza se não saísse logo dali, não saberia se seria capaz de manter-se controlada.

 

– Quando olho para você… quando sinto o teu desejo se misturar ao meu, e tão nitidamente tornaram-se uma coisa só, eu passo a acreditar no inevitável. Eu acredito em destino, Maysa. Acredito em sorte, nas pegadinhas e artimanhas que os deuses costumam aprontar. E o que eu mais quero é ser tua, mas preciso me sentir pronta. Assim como você precisa ter certeza de que realmente quer isso, você sabe que não seria algo sem significâncias, e sabe que tudo isso vai ter consequências. Você não pode fazer as coisas apenas pelo impulso, precisa ter certezas. E eu também.

 

Agatha que a essa altura já estava em pé, abaixou-se para deixar um beijo carinhoso e calmo nos lábios da loira. Sorriu e recuou.

 

– Eu amei essa noite. Durma bem, Maysa! __ tinha certeza de que pelo menos naquela noite, a loira conseguiria dormir, ao contrário dela.

 

Créditos musicais:

Fotografia – Gal Costa (https://youtu.be/SiyIt_mUbs4)



Notas:



O que achou deste história?

4 Respostas para 16. O encontro II

  1. Que capítulo m.a.r.a.v.i.l.h.o.s.o.o, lindo como sempre…
    Ain mds!!
    Meu casal ?❤?
    Passei pra te deixar um beijinho e dizer que estamos juntas…
    Te amo Afrodite.??
    “mais que chocolate “

  2. Estava na ansiedade desse capitulo e valeu a pena a espera, amando a história a cada cap. Parabéns Autora. Cheiros

    • Oi, Jú!

      Fico feliz por tua espera ter sido válida.
      Obrigada pela companhia e comentário.
      Beijinhos, moça.

Deixe uma resposta

© 2015- 2017 Copyright Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução total ou parcial do trabalho sem a expressa autorização do autor.