A Magia do Amor

17. Coisas que o tempo não apaga

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Coisas que o tempo não apaga
 

“O amor antigo vive de si mesmo,

não de cultivo alheio ou de presença.
Nada exige nem pede. Nada espera,
mas do destino vão nega a sentença.

O amor antigo tem raízes fundas,
feitas de sofrimento e de beleza.
Por aquelas mergulha no infinito,
e por estas suplanta a natureza.

Se em toda a parte o tempo desmorona
aquilo que foi grande e deslumbrante,
o antigo amor, porém, nunca fenece
e a cada dia surge mais amante.

Mais ardente, mas pobre de esperança.
Mais triste? Não. Ele venceu a dor,
e resplandece no seu canto obscuro,
tanto mais velho quanto mais amor. “

 

O amor antigo, Carlos Drummond de Andrade in Amar se aprende amando

 

 

Como supunha, Agatha mal conseguiu pregar os olhos durante aquela noite, Maysa e tudo que ela representava, fizeram festa em sua mente. Passou um bom pedaço da manhã dentro de casa, tentou fazer uma infusão para compor um novo perfume, mas sem muito sucesso. Tudo a levava para os acontecimentos da noite passada, as perguntas que Daniel a fez ainda ecoavam, e ela continuava sem respostas exatas, porém, uma coisa era certa, não poderia negar que aquela pergunta: “Você acha que pode se casar com a mamãe?”, fez com que ela passasse horas e mais horas imaginando como seria tal situação.

 

Já era final de tarde quando Agatha finalmente decidiu colocar o nariz, melhor, as pernas para fora de casa, aproveitou para caminhar um pouco pela praia. Precisava sentir o cheiro da maresia e queria se perder no barulho do mar, perder-se em qualquer coisa que não fossem as marcas que a loira havia deixado nela. – Talvez, tenha sido por isso que nada deu certo com o Roberto. Doeu, claro que doeu, mas reencontrar a Maysa e estar livre para poder ficar com ela é algo maravilhoso…

 

– Olhe, ela está ali! __ falou a moça de cabelos ruivos e voz delicada, que estava abraçada a Lucas, era Olívia.

– Ah, te encontramos sua danadinha! Vamos, que Alana está esperando na varanda da sua casa! __ concluiu Lucas, ao cumprimentar a prima com um abraço.

– Boa tarde. Eu estou bem, obrigada por perguntarem e vocês?!

– Estamos bem! __ quem respondeu foi Olívia. – Mas, queremos que você venha logo, temos muitas perguntas.

– Como assim? Perguntas? Vocês deixaram a Alana sozinha?

– Não, a Eva está com ela. Vamos, Agatha.

– Isso é uma intervenção familiar? __ apesar da enorme vontade de rir, a morena fez certo esforço, conseguiu manter a postura séria e até mesmo intimidadora.

– Ué priminha, avisei que voltaria com minha irmã para apurarmos mais sobre sua história com a vizinha!

– Vocês estão loucos? Que história? Não tem… não… é… não tem história! __ droga, a última coisa que ela gostaria era de gaguejar ao negar aquilo.

– Own amor, ela ficou vermelha! O caso é mais sério do que imaginávamos. __ acredito que ninguém poderia falar tais palavras de forma mais melosa e ao mesmo tempo apaixonante, senão, Olívia!

 

Vencida, não por cansaço ou argumentos, mas pelo simples fato de conhecer muito bem os primos. Sabia que eles não a deixariam em paz enquanto ela não falasse o que estava acontecendo, deu de ombros e voltou para casa, o casal a acompanhava com passos um pouco atrasado, trocando olhares de cumplicidade e torcendo em silêncio para que uma nova fase, cheia de alegrias e boas surpresas acontecesse na vida de Agatha.

 

*  *  *  *  *  *  *  *  *  *  *  *  *  *

 

– Isso é porque você não para quieta, tem um bicho carpinteiro dentro de você.

– Por Merlin! Eva, eu só estou grávida, e hoje eles não estão comportadinhos, não querem ajudar a mamãe aqui, devem está ensaiando alguma coreografia da Beyoncé, é a única explicação. Então, é normal eu me sentir mais cansada. __ se fosse outra pessoa falando até poderíamos acreditar, mas se tratando de Alana, era certo que aquele cansaço não era apenas pelo peso da barriga ou a agitação dos gêmeos, com certeza ela havia extrapolado um pouco.

– Eu fico um dia fora… só um dia Alana, e parece que você participou da São Silvestre!

– Amor, não exagera.

– Como eu gostaria de achar que ela está exagerando. __ Agatha chegava a passos mansos e sorria ao ver como Eva estava mais pilhada que a prima com aquela gravidez.

– Prima! Vem aqui me abraçar, porque eu não tenho capacidade de levantar dessa espreguiçadeira agora. __ o abraço foi sutil, um carinho na barriga da prima e logo sentiu os gêmeos se mexerem. – É, nem me fale, estão assim hoje. __ sorriram, e quase que contando um segredo Alana pediu ajuda para prima. – É sério Thata, ela está ficando louca já, nem um copo com água ela quer deixar eu pegar!

– Hey, eu estou aqui e ouvindo tudo isso! Não estou louca, nem surtando, só tentando cuidar de uma pessoa teimosa e que não facilita nem um pouquinho, daqui a pouco nossos filhos vão acabar nascendo enquanto ela comete a irresponsabilidade de estar dirigindo, ou tentando subir em um daqueles banquinhos da loja!

– Alana, você tentou fazer o que? __ não que Agatha tivesse alterado a voz, mas foi firme o suficiente para que a prima encolhesse os ombros e desse um sorriso arteiro.

– Já começaram sem nós? Está vendo só minha deusa ruiva dos olhos de mel, elas não têm nenhuma consideração por nós! __ salva pelo gongo, ou melhor, pelo irmão.

– Nossa, Lucas! Minha glicose deve ter ido nas alturas agora, como você está meloso, meu irmão. Não começamos nada, só estou tentando explicar para essas duas que estou grávida, não doente!

– De gêmeos, que podem nascer a qualquer momento. Portanto maninha, se a Eva e a Thata falam que você precisa andar na linha, é porque você precisa. Não quero nem você, nem meus sobrinhos correndo riscos desnecessários.

– Apoiado mômozão!

– É um complô, eu desisto! Thata, meu amor… cadê aquela limonada gostosa e fresquinha que você sempre tem para nos servir? Eu queria mesmo um vinho, mas já sei… nada de álcool.

– Alana, você não tem jeito. Esperem um pouco, ou poderíamos entrar…

– Não, está muito calor. E nós gostamos da sua varanda e desse cheiro de flores que tem aqui.

– Ok… já volto.

– Não demore, temos muito que conversar! __ sorriu achando graça de como a prima parou fez menção de retornar e falar algo, mas desistiu e foi em busca da limonada.

 

Agatha realmente não demorou, mas precisou da ajuda de Olívia e Eva para levar os lanches que havia preparado para eles. Ainda que nos últimos anos, não fizessem isso com a frequência que desejavam: torradas, geleia, sucos, limonada, sanduiches e frutas. Eles amavam os momentos em família, principalmente se fosse na casa de Agatha.

 

Logo depois que Lucas e Olívia relataram os acontecimentos engraçados e constrangedores da lua de mel, o assunto tornou-se Maysa. E mesmo que inicialmente Agatha estivesse se saindo muito bem em esquivar-se das perguntas, quando a conversa pareceu ter atingido seu age, a morena já nem percebia, mas falava sobre a loira com brilho nos olhos e tom de voz sereno. Só o fato de falar da Maysa a fazia se sentir em paz, e aquilo não passou despercebido. É verdade que ainda existiam ressalvas dentro dela, mas Agatha estava apaixonada, e talvez, mais pronta para se entregar aquela paixão do que imaginava.

 

– Então é você…

– Hum? Eu o que, Eva?

– A pessoa quem a May nunca esqueceu, o motivo pelo qual não se permitia uma relação mais profunda com outras mulheres.

– Ora Eva, me poupe! Ela casou, o Daniel está aí para provar isso.

– Agatha, você não sabe da missa o terço!

– Então conta, vida! __ Alana até ajeitou-se melhor na espreguiçadeira, os olhos estavam vivos de tanta curiosidade.

– Não sei se devo…

– Vai cunhadinha, não precisa dizer todos os detalhes sórdidos… __ foi a vez do Lucas entrar para o time dos curiosos, seguido da Olívia, e até mesmo da Agatha.

– Certo, vou resumir. Até porque o justo seria a May estar contando isso para Agatha. Em suma, depois que ela foi rejeitada por uma garota, que agora eu sei que foi você. __ olhou para Agatha. – Ela passou anos sem se permitir envolvimento emocional com outras pessoas. Se ela fez sexo, devo dizer que o passado da Maysa nesse sentido é bem mais movimentado que o meu e antes que perguntem, nós nunca fomos para cama. Nossa amizade é foi feita sem interesses sexuais, frequentamos muitas baladas juntas, conversávamos sobre literatura e o sentido ou melhor, a falta de sentindo da vida.

– Mas, amor. Até agora eu não entendi isso, a Maysa estava estudando em Salvador e você morava em São Paulo… e …?

– Depois da briga com a Agatha ela teve as férias mais louca da vida dela, e nisso foi passar uns dias em São Paulo, vida. Nos conhecemos em um curso, fugimos desse curso, conversamos por horas e horas em um boteco, tomando chope, comendo mini pasteis e Maysa fumando, vício de que segundo ela, tinha acabo de adquirir. De lá, fomos para uma balada. Depois disso maioria dos nossos finais de semana eram assim, às vezes eu morgava, mas ela continuava firme e forte. Ela precisou voltar para Bahia, mas sempre que podia estava em Sampa.

– Ah, entendi, amor… continue.

– Alessandra era minha amiga, não minha melhor amiga, mas uma boa amiga. Trabalhava na editora e sempre me deu a maior força com meus contos, um dia ela me convidou para uma festa e disse que eu poderia levar mais alguém, não pensei duas vezes, liguei para May que aceitou. E foi assim que elas se conheceram, a Alê ficou louca pela May, paixão, atração seja lá que nome vocês queiram dá, à primeira vista. Só que a Alê não fazia parte desse grupo de garotas que apenas curtiam um momento, e a May sacou isso em poucos minutos de conversa, mesmo assim elas ficaram naquela noite, e outras vezes. Mas, com a May sempre fugindo de um compromisso, e quanto mais ela fugia, mas a Alê acreditava que não deveria desistir, e não desistiu. Até que a May acabou aceitando um namoro, e pasmem, a garota baladeira desapareceu e deu lugar a uma pessoa compromissada, não demoraram para noivar, mas demoraram um pouco para casar. E essa demora foi justamente porque Alê sabia que o amor que Maysa sentia por ela, não era o mesmo que sentia pelo “fantasma”, você foi chamada assim por muito tempo. __ olhou novamente para Agatha. – Na verdade, houve muitos xingamentos para você, enfim, ninguém sabe exatamente o que aconteceu, mas um dia qualquer a May se declarou e pediu a Alessandra em casamento. Na semana seguinte estavam casadas e felizes, logo depois veio o Daniel, três anos depois a Alê faleceu. Maysa ficou arrasada e se isolou do mundo, só a víamos em alguns eventos literários, lançamento dos seus livros, e acredito que eu era a única amiga que mais tinha contato com ela.

– Nossa, a loirinha é realmente muito interessante! __ ah, tarde demais, já tinha falado.

– Como é, Alana?

– Nada, amor. Estou falando que esse pedaço da história dela, é interessante. E pelo que já vi, até posso afirmar que ela ainda sente algo, pela Thata!

– É porque cunhada, quando é um amor verdadeiro, o tempo não apaga. Pode até acontecer outras pessoas, podemos viver outras histórias, mas um amor verdadeiro, fica para sempre dentro da gente. __ romântica demais ou não, as palavras de Olívia pareceram sabias e foram aceitas por todos.

 

A conversa continuou… o sol cedeu lugar para a lua, e eles ainda estavam ali.

Conversavam, brincavam, gargalhavam, falavam de todos os assuntos possíveis, mas vez ou outra, voltavam para Maysa ou Daniel. E até mesmo quando jantavam, Lucas provocava Agatha, perguntando se ela não gostaria que ele fosse convidar a vizinha para que jantasse com eles. O que eles ainda não sabiam, e se dependesse da Agatha jamais iriam saber, era de que na noite anterior, foi ela quem jantou na casa da loira.

 

Após o jantar, ainda tiveram a rápida presença de Daniel, que havia ido ver Agatha e levar-lhe um desenho que ele mesmo tinha feito com a ajuda do Tapioca. O pequeno encantou a todos e arrancou alguns risos de alegria e constrangimento, com as suas perguntas, respostas e curiosidades.

 

E, quando finalmente aquela pequena reunião familiar chegou ao fim, Agatha os acompanhou até a calçada, estavam a se despedir quando notaram o carro que estacionara em frente à casa de Maysa. Alguns segundos de suspense, todos estavam curiosos para saber quem chegava àquela hora na casa da vizinha.

 

Créditos musicais:

Pra toda a vida – Frejat (https://youtu.be/elLapN_05eQ)



Notas:



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2 Respostas para 17. Coisas que o tempo não apaga

  1. Ótimo capítulo…
    Minha história, meu casal!!?❤?
    Amei os momentos em família.???
    Foi bom saber um pouco do passado da Maysa.
    Daniel hiper fofo *-*
    Quem será a pessoa misteriosa que chegou? Será que vai dar merda? KKKK
    Porque eu não tô com um bom pressentimento sobre isso?
    Afrodite, você sempre para nas melhores partes!!
    Cidinha.

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