A Magia do Amor

20. “Onça pintada, quem te pintou?”

20

“Onça pintada, quem te pintou?”

 

Como combinado, Hellen chegou cedo à casa de Maysa para buscar Daniel, teriam um dia apenas deles. Claro que aproveitou o tempo em que o pequeno estava terminando de se arrumar, para tentar arrancar alguma informação de Maysa sobre a cena da noite passada.

 

– Namorada? Estou vivendo aquela música: “eu namoro ela, mas ela não namorada eu”. __ riram! – Pior que é verdade. E sabe, eu não fazia ideia de que ela estava morando aqui quando decidi voltar para casa, mas confesso… assim que a revi, por Deus, todo o sentimento voltou e está ainda mais forte. É mais forte que eu.

– E como ela está reagindo a tudo isso?

– Ela? Ainda não se sente preparada para viver algo assim. Acho que nunca vai estar!

– Eu não acho que a sua paixão de infância seja tão indiferente assim a esses sentimentos. Ela só faltou me tirar daqui aos tapas ontem à noite! Deve ser de família, a prima dela quase me bateu quando chamei a Eva de gostosa! __ gargalhou ao relembrar.

– Você não tem jeito!

– May, vamos ser sinceras, a Evinha está mais gostosa do que antes. Pena que, parece ter realmente mudado, olhava para esposa com tanto amor e devoção, nem acreditei quando ouvi “e casada”.

– Quando vi o quanto a Eva está compromissada com a Alana também me etei, mas depois você se acostuma com a ideia. Pois é, até a Evinha casou e você nada…

– Ihh, sabia que ainda sobraria para mim. Nem venha, não quero ficar como você ou a Eva, Deus me livre! __ balançou a cabeça negativamente. – Quem diria, a rainha da pegação e minha primeira namorada, casada com a prima do seu grande amor do passado. E você, completamente derretida novamente… eu fico feliz por isso!

– Você não está chateada? Não acha que estou sendo apressada ou cometendo um erro?

– Por que eu acharia isso?

– Por causa da Alessandra…

– May, meu amor… você e a minha prima viveram o que precisavam e mereciam viver. Foram felizes enquanto a vida permitiu e, eu tenho certeza que ela, aonde estiver, quer que você seja feliz, e que a pessoa ao seu lado seja boa para com você e com o Dan, que saiba proteger vocês, cuidar e o mais importante, respeitar e amar. E pelo que vi ontem, acredito que Agatha pode sim, ser essa pessoa. __ olhou para o relógio. – Será que o Dan já pegou tudo? Posso passar mesmo o dia todinho com ele, né?

– Claro, confio em você. Mas, por favor, não faça todas as vontades dele, não deixe que ele coma muitos doces. E estejam aqui, estourando, às 19:00. Faça tudo certinho, que penso sobre o seu pedido.

– Você ainda está pensando sobre isso?

– Claro! Sei que o Dan ama os avós, mas passar todas as férias com eles?

– Não seria apenas com eles, eu que estaria responsável pelo Dan.

– Mas, todas as férias?

– Em Salvador, você poderá ir nos ver a qualquer momento. Pense nisso com todo o amor que existe em seu coração, eles são chatos mesmo, mas amam o Dan. Ele é a lembrança mais viva que eles têm da Alê.

– Vamos ver…

 

Antes que Hellen pudesse argumentar, Daniel apareceu na sala, arrastando sua mochila de explorador de mundos, seguido pelo Tapioca e com um boneco do Darth Vader em mãos.  Ao ser questionado sobre o brinquedo, ele respondera que o boneco estava muito estressado e precisava passear um pouco. Como sempre arrancou sorrisos, ganhou um abraço apertado da mãe e vários beijinhos, até pedir socorro para Hellen, conseguir escapar do abraço, e sair correndo porta a fora em direção ao carro, mas, não sem deixar de olhar para casa ao lado, na esperança de que Agatha estivesse no jardim, ele queria abraça-la e se despedir.

 

– Mamãe, a Agatha não está aqui fora! __ fez beicinho. – Queria falar com ela.

– Eu sei, filhote. A mamãe irá vê-la mais tarde, e quando você chegar, deixo que vá vê-la também. Combinado?

– Combinado!

 

Saiu pulando alegre, como se tivesse fechado o melhor acordo do mundo, Daniel sabia que aquele domingo prometia muita farra, era sempre assim quando Hellen aparecia. Maysa viu o pequeno entrar no carro, a porta fechar… e esperou o carro desaparecer na rua, só então retornou para casa.

 

Oras, Daniel tinha razão: Aquele domingo…

Ah, aquele domingo foi diferente para todos. Agatha acordou com o pensamento de que, depois das revelações do dia anterior, e até mesmo do seu momento de ciúmes, não podia mais negar ou tentar se manter afastada do que sentia, ainda que quisesse, já era tarde demais. Saber que Maysa nunca a esqueceu, esmagou todas as suas incertezas. Suspirou fundo e sorriu, estava pronta para viver aquele dia. Enquanto deixava a banheira encher, relembrou o passado:

 

Foi em uma viagem feita com Alana e Lucas ao Rio de Janeiro, resolveram fazer uma trilha na Floresta da Tijuca. Por um momento de distração, Agatha afastou-se dos primos, quando deu por si, estava em meio a mata fechada, ouvindo um rosnado, ao olhar, viu uma onça pintada já à espreita, aguardando o momento mais propício para atacar. O medo fez com que a morena ficasse paralisada, seus músculos só retomaram o controle do corpo quando a onça avançou, e na tentativa fracassada de fuga, a morena se desequilibrou e caiu em um precipício. Não lembrava quantas vezes seu corpo rolou até tombar em um velho tronco. Antes dos seus olhos se fecharem e ela mergulhar na escuridão, conseguiu ouvir o rugido da fera, provavelmente insatisfeita por perder aquela “guerra”.

 

Quando finalmente acordou, estava em um quarto de hospital. Era o dia do seu aniversário, e foi sua mãe quem estava ao seu lado, lhe fazendo carinho. Apesar de ter sido uma aventura sem grandes danos, aquela experiência a marcou, lhe deixando com uma cicatriz na pele e na alma. Desde então, Agatha tomou aquilo como um renascimento, a morena dedicava aquele dia para fazer tudo ou nada, desde que fosse do seu querer. Poderia passar o dia todo na cama, ou comer todas as guloseimas que mais gostava, ou ainda, passar o dia vendo filmes.

 

Entregou-se ao luxo de ter tempo. O banho fora mais demorado e relaxante que o comum… óleos perfumados no corpo, sais para relaxar os músculos, uma mistura de flores e alguns segredos para tonificar o rosto.

Ouviu ruídos, e teve a leve impressão de ter ouvido a voz de Daniel perto de seu jardim, mas decidiu que fora apenas impressão, e permitiu-se permanecer naquela banheira por mais algum tempo.

 

Para aquele dia… um dia de domingo, não haveria regras ou medos, a morena apenas desejava desfrutar dessa magia que é estar viva, e mais que isso, desejava sentir esse pulsar de vida percorrendo por todo o seu ser.

 

Quando saiu do banheiro, estava dentro de um robe de cor rubra. Os cabelos brilhavam mais que o comum, a pele hidratada e com cheiro de flores. Considerou a ideia de voltar para cama e dormir mais um pouco, já estava por alcançar a cama quando ouviu batidas na porta da frente, fora atender, e era uma entrega, logo pensou ser algo dos seus pais. Assinou, pegou a caixa, agradeceu ao entregador e entrou. Deu um grito de alegria ao confirmar que aquela encomenda era mesmo de seus pais. Colocou a caixa no chão, abaixou-se para começar a desembrulhar, os olhos brilhavam. Dentro da caixa de papelão havia uma outra caixa menor de madeira antiga, notava-se que havia sido muito bem envernizada e polida. A madeira exalava cheiro de alecrim e canela. Agatha sentou apoiada nos calcanhares, e até deixou uma lagrima escapar ao lembrar-se dos pais, e como eles sempre conseguiam surpreendê-la, viviam aquele velho chavão: “eles estão distantes de mim apenas fisicamente, mas nunca longe do meu coração.”

 

Começou a abrir a caixa de madeira com calma, admirou-se com o conteúdo que ali estava. Um colar cujo pingente era uma pedra de cor verde profunda. Agatha sabia que aquela joia pertencia à família da sua mãe por gerações, tinha consciência do valor emocional e da história que aquele colar carregava. Sentiu mais lágrimas escorrerem pela face ao se dar conta de que estava sendo passado para ela. Deu uma olhada rápida para a caixa de papelão e notou que ainda haviam outros mimos, logo sorriu ao lembrar que seu pai não deixaria de também enviar-lhe algo. Um livro antigo, literatura inglesa, histórias de amores que superaram tempo e até mesmo a morte, e uma escultura de âmbar; era uma onça, decerto para que ela nunca esquecesse daquele dia, e das decisões que tomou a partir daquele acontecimento. Definitivamente, eles queriam testar suas emoções, era a única explicação.

 

Era certo que no Canadá, haviam duas pessoas ansiosas, esperando pela ligação da filha. Loucos para saberem o que ela achou dos mimos. Guardou os presentes, fechou a caixa de madeira e levantou-se. Quando foi em direção ao telefone, ouviu batidas na porta dos fundos. Seu coração parou por alguns segundos e voltou a bater rápido e incerto. Seus pais teriam que esperar.



Notas:



O que achou deste história?

5 Respostas para 20. “Onça pintada, quem te pintou?”

  1. Essa atitude de Hellen foi incrível, dando força pra Maysa seguir em frente, ela sabe quem é que faz ela se sentir feliz e bem consigo mesmo, ela respeitar isso é muito bom!
    Diz que elas vão aproveitar esse domingo para se amarem, please?
    Ahhh, seria perfeito!! Seria demais!! ??
    Minha Afrodite, você bem que poderia liberar mais um capítulo né? Por favorzinhooo *-*
    Bjs minha Afrodite ?
    Cidinha.

    • Oi, Cid…
      Às vezes é o que precisamos, de alguém que nos diga que tudo ficará bem, e que é justo e bom seguir em frente.
      Beijos, amada.

  2. Aaaaaaaaaaahhh isso é muita sacanagem terminar o capítulo deste jeito!?!?

    Vou ficar horas imaginando o quê aconteceu, quem era (kkk) e o que fizeram (a melhor parte kkkkkk).

    Paciência pra esperar o próximo,

    Bj

Deixe uma resposta

© 2015- 2017 Copyright Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução total ou parcial do trabalho sem a expressa autorização do autor.