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Dias das Bruxas: Salve o Samhain!
Passadas três horas, todos, com exceção de Eva e Maysa, pareciam estar totalmente tranquilos, até mesmo os pais de Alana, que deveriam estar com os nervos à flor da pele, mantinham a expressão serena. Eles estavam envolvidos pelo encanto de Daniel ao contar como foi a festa de dia das bruxas que acontecera no colégio.
Maysa observava como tudo estava acontecendo e continuava incrédula, ao lembrar das palavras de Amélia para Eva: “Um parto é a coisa mais natural do mundo, e na nossa família, todos nasceram em casa. Além do mais, não poderia existir noite mais que perfeita, salve o Samhain! Não se preocupe, Alana não poderia estar em melhores mãos.”
E era a mais pura verdade, da família, decerto não havia bruxa mais poderosa e inteligente, senão, Agatha. Mas, Maysa não tinha essa informação, e ainda se perguntava como todos conseguiam se manter calmos, ainda mais sendo um parto de gêmeos.
Mais alguns membros da família Márquez chegavam para contemplar e compartilhar aquele momento. A loira aproveitando o momento de distração saiu de fininho e foi até o quarto de Alana.
– Hã… como você está, Alana?
– Estou bem, eu realmente estou bem. As contrações só estão começando a ganhar um ritmo definido agora, acredito que não vai demorar muito para as coisas começarem a ficar sérias por aqui. __ ela estirou a mão e convidou Maysa para que se aproximasse e sentasse ao seu lado. – Estou feliz por vê-la aqui, e também gostaria de te fazer um pedido.
– Faça…
– Eu sei que minha esposa já deve estar bem agitada, e com certeza ficará ainda mais, será que você poderia permanecer ao lado dela, caso ela surte, desmaie ou coisa do gênero?! __ riram, Maysa conhecia Eva bem o suficiente para saber que todas aquelas opções eram bastante prováveis de acontecer.
– Sim, com toda certeza eu estarei com ela. __ apesar da resposta ser sobre ficar ao lado de Eva, os olhos de Maysa estavam pousados nos de Agatha. – Vocês precisam de mais alguma coisa?
– Não, obrigada. __ Agatha quem respondeu. – Eu já pedi para Olívia ir até minha casa pegar o que preciso, e tia Amélia já deve estar preparando a água, agora é só aguardar…
– Bom, eu vou estar lá embaixo com os outros, mas se precisarem, já sabem. __ sorriu para Agatha e apertou as mãos de Alana, levantou e saiu. Ates de fechar a porta atrás de si, a morena lhe acompanhou.
– Gosto de ter você aqui, de alguma forma, faz com que eu me sinta ainda mais segura!
– Acredite, todos confiam plenamente e cegamente em você. Eles estão tão tranquilos que seja ser assustador.
– Mas, e você? __ a morena quis saber.
– Eu? Eu o que?
– Você entendeu! __ era nítida a aflição de Agatha esperando uma resposta.
– Eu confio e acredito em você. __ antes mesmo que Agatha pudesse respirar aliviada foi surpreendida por um beijo, rápido e calmo, porém cheio de saudade e carinho.
A morena ainda se encontrava de olhos fechados quando Maysa se afastou e desceu as escadas. Ela voltou para o quarto e fechou a porta, ficou parada por alguns instantes e sorria consigo mesma. Alana observava a prima, e agradeceu aos deuses por Agatha já não negar o fato de estar apaixonada, até porque com aquela carinha de quem estava caminhando em nuvens, seria difícil esconder o que ela estava sentindo pela loira.
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Duas horas depois…
– Respire fundo… isso… continue. Continue respirando assim.
– Em nome de Hera, ninguém me disse que doía tanto! Ahhh… __ Amélia amparava a filha, deixando-a com as costas em seu colo, enquanto refrescava o rosto de Alana com um pano que havia sido embebido em uma essência de flor roxa e água, qual Agatha havia preparado. – Chamem minha esposa, quero ela aqui… Thata… chama a Eva.
– Amor, você sabe que não posso sair daqui agora, e também sabe que do jeito que a Eva está nervosa, não será uma boa ajuda. Vamos, continue fazendo força, estamos indo muito bem, logo acaba. Respire… __ a voz de Agatha era doce e calma, posicionou suas mãos sobre a barriga de Alana, fechou os olhos e seria possível dizer que após alguns segundos, não seria loucura afirmar que as energias quais Agatha evocava naquele momento ganhou tom e uma luz sobrenatural.
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– Ela só grita! Sério, da próxima vez sou eu quem irá engravidar!
– Vocês vão ter gêmeos e você já está pensando em mais filhos? Eva, você quer engravidar?
– Por que não?
– Meu Deus, o que o amor não fizer, nada mais faz! Agora assim, não quero me intrometer, mas, você não acharia melhor se o parto acontecesse em um hospital? Ainda mais que serão dois bebês?
– Hospital? Até pensei assim, mas com certeza não. Sabia que a Alana nasceu naquela cama? Acredito que ela se sentiria muito mal se os gêmeos nascessem em outro lugar, e eu me sentiria ainda pior por vê-la se sentir mal.
– Então, a companhia de um médico?
– Agatha é a melhor. __ palavras ditas e Eva até conseguiu relaxar um pouco.
– De fato. Parece que Agatha tem várias qualidades quais eu ainda desconheço. Mas, suponho que ela já tenha feito isso antes, né?
– Sim, mas, não é por isso o meu nervosismo, para falar a verdade estaria muito mais nervosa se a Agatha não estivesse aqui. Só que está demorando muito, e acho que poderia ser mais rápido! Poxa, Alana é uma bruxa!
– Eva, você não deveria falar assim da sua esposa. Sabe, durante a gravidez e na hora do parto ficamos sem paciência mesmo. Eu quis matar a Alessandra inúmeras vezes, e a cada contração a vontade de esgana-la só aumentava. __ riram.
– Ah… eu… __ Eva até ficou aliviada por Maysa não ter entendido. – Preciso me controlar, preciso de uma bebida.
– Com certeza.
– É que não é fácil ver quem você ama sofrer, mesmo que esse sofrimento traga a nossa maior felicidade.
– Sei como se sente. __ Maysa entregou um copo com algumas doses de whisky para a amiga.
– Obrigada. E como você está em relação a Agatha?
– Eu não saberia usar outra palavra a não ser amor. Mas, ela está muito diferente da Agatha que conheci.
– May, algumas pessoas evoluem e outras não, no caso da Agatha, por tudo que eu sei, ela evoluiu bastante. Ela é especial, sei que você a compreenderá, em partes graças a sua incrível imaginação, e pelo principal, o seu bondoso coração. Quando ela se sentir pronta, você saberá de tudo, e mesmo assim, você a enxergará como alguém diferente de todas as que você já conheceu. Amiga, se esse amor pela Agatha não morreu com o tempo, é porque ele é mais forte que tudo, então não deixe mais que nada as impeçam de ficarem juntas.
– Hã… certo. Mas, eu não sei se entendi muito bem.
– Na hora certa, se você conseguir se lembrar dessas minhas palavras, você entenderá.
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– Tia, segure firme as costas dela, tente deixa-la um pouco mais alta. __ tudo estava pronto, água fervida, tesoura esterilizada, cobertores aquecidos e o brilho dos cristais clareando o quarto.
Amélia sentiu uma pontada de preocupação e emoção, relembrou de quando ela mesma esteve naquela cama em trabalho de parto, piscou os olhos para afastar as lagrimas.
– Não empurre ainda. Vamos, respire… assoprando, como havíamos treinado… isso, muito bem. __ Agatha repetia aquelas palavras, enquanto controlava a emoção que teimava em querer lhe dominar. – Estamos quase no fim, você está indo muito bem.
Alana já nem sabia se ainda conseguia não empurrar, a dor já havia lhe consumido. – Thata, por Hera, por Afrodite… eu…
– Agora Alana, vamos, empurre.
As mãos de Amélia apoiavam fortemente a filha. Aquela conexão, aquelas trocas de olhares. Aquele momento era maior que qualquer outra magia, era mais poderoso que qualquer evocação.
– Você está indo muito bem, querida. Isso! Ahh, olha que lindeza, olhem só para este serzinho! __ Agatha ajudava o bebê com bastante competência. – Aguente firme, Alana… vamos, continue. Assim mesmo, continue… acredite, o próximo será mais fácil.
Sorrindo, chorando de dor e emoção e aos gritos, Alana deu à luz ao seu bebê.
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Na sala, a conversa foi interrompida, todos os olhares voltaram-se para cima, ao som do primeiro choro. Houve um silêncio absoluto e troca de olhares. Maysa emocionada, abraçava a amiga, enquanto olhava para o seu pequeno explorador de mundos, que dormia pacificamente no sofá.
– May, nasceram!
– Sim, você é mãe!
Antes mesmo que qualquer outra palavra fosse proferida, um novo grito ecoou pela casa, e em seguida, um choro mais agudo que o primeiro ressoou, trazendo ainda mais emoção.
Um momento mágico
Um bebê, dois bebês a chorar
– Que meus sobrinhos tenham saúde e paz! Que sejam bem-vindos a este mundo. __ a voz de Lucas percorreu a sala, enquanto ele abria uma garrafa que muito lembrava a de vinho, porém, ao derramar o conteúdo dentro de uma taça, podia-se ver que o liquido tinha cor verde.
Augusto, atravessou a sala, e sobre a mesa, acendeu uma vela verde e depois uma branca. Fechou os olhos e fez uma prece. Maysa observava tudo, completamente encantada. O senhor voltou para a sala, fez com que todos se reunissem perto dele.
– Duas dádivas que despertam nesta noite. Vindos do amor, pelo amor e para o amor, que desde esse momento até o último, eles caminhem pela terra carregados de bondade e sendo luz para todos que os rodearem. E que o mal jamais chegue em seus corações. Abençoados sejam!
– Abençoados sejam! __ todos proferiram tais palavras, alguns em tom mais alto, outras como uma oração. A bebida verde, foi passada de pessoa a pessoa, e a loira ficara maravilhada com aquela tradição. Sim, uma tradição da família Márquez, pensou ela. Ficou ainda mais extasiada quando a taça chegou em sua mão, e quando por fim, a mãe de Alana desceu as escadas convidando a todos para que fossem ver o casal de gêmeos que esperavam ansiosos para conhecer a mãe Eva e os demais parentes.
Por alguns minutos Maysa ficou parada, observando a amiga subir as escadas de forma frenética e totalmente emocionada, enquanto os outros caminhavam a passos curtos e sem pressa.
– Você não vem? __ perguntou Lucas.
– Ah, não… é um momento em família, vou pegar meu filhote e leva-lo para casa. Outro dia eu volto para ver os bebês e Alana.
– Largue disso, você já provou fazer parte da família também. E tenho certeza que a Thata iria gostar de te ver lá. Ande, vamos! __ foi sutil, porém, firme.
Maysa acordou o pequeno, que resmungou querendo ir para casa, mas logo despertou curioso ao saber que a mãe iria levá-lo para ver os gêmeos. E não tardou para que o quarto estivesse cheio, Amélia abraçada a Augusto, estes tinham os olhos brilhando e marejados pela emoção, não que fossem diferentes dos demais. Eva tinha um dos filhos no colo, enquanto Alana sorria e segurava o outro. Lucas e Olívia de mãos dadas, e poderia afirmar que estavam pensando em quando viveriam tal momento. Os olhos de Agatha e Maysa estavam conectados, enquanto o pequeno, já se fazia aninhado no colo da morena e observava curioso os bebês.
Ao longe, o velho sino na torre da igreja tocou, anunciando a meia-noite e o fim do dia das bruxas.
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– Eles são tão pequenos, Agatha! __ declarou Daniel e com cuidado passou o dedinho no rosto de um e depois, do outro.
– Um príncipe e uma princesa das fadas! __ Augusto pronunciou com os olhos brilhando de emoção.
– Sim, mas essas fadinhas precisam de descanso assim como a mãe deles, agora. __ Agatha proferiu as palavras calmas e firmes.
– Mas, eu me sinto ótima, já estou pensando nos próximos. __ Alana piscou para a esposa, enquanto os demais riam, ou a moça era mesmo muito corajosa ou bem maluquinha.
– Mesmo assim, vamos deixar também que a Eva tenha seu momento com a esposa e os filhos.
Ainda relutantes, a aglomeração que estava no quarto foi saindo aos poucos, obviamente, não antes de mimar mais um pouco Alana e serem entorpecidos de felicidade ao olharem mais uma vez os bebês.
– Maysa… __ Alana a chamou. – Será que você pode esperar um pouco e levar a Thata para a casa? Ela está nitidamente cansada, acho que até mais que eu.
Antes mesmo que Agatha pudesse se posicionar contra ou a favor, Maysa concordou rapidamente e poderia até dizer que, empolgada com aquele pedido. Pegou o filho que estava no colo de Agatha, e o ajeitou em seu colo, o pequeno já bocejava.
– Pode demorar o tempo que precisar, estarei esperando na sala.
Agatha só precisou de alguns minutos para passar as instruções para Eva, e fazer com que Alana prometesse se comportar. A morena ainda tinha dúvidas se era mesmo uma boa ideia ir dormir em casa.
– O que você acha que farei? Acabei de ter dois filhos, acredite, vou me comportar! __ falou uma Alana em um semblante sério, porém, com um riso sapeca formando-se nos lábios.
– Se eu não a conhecesse tão bem, até poderia me iludir e acreditar nisso. Eu só não dormirei aqui porque seus pais ficarão. Eva, se você precisar de alguma coisa durante a madrugada, pode falar com a tia Amélia ou pode me ligar. Só fique de olho nessa mocinha, e faça as coisas conforme te expliquei.
– Agatha, fica tranquila… Alana já está quase adormecendo. Vai descansar, qualquer coisa eu te ligo sim, mas não se preocupe, cuidarei muito bem das minhas preciosidades. __ as palavras de Eva deixaram Agatha mais tranquila. Ela deu uma última olhada nos gêmeos, beijou a testa da prima, recebeu mais um abraço e agradecimento de Eva e saiu de fininho, deixando o casal a sós.
Sim, Agatha estava exausta, suas energias foram basicamente exauridas. Seu corpo pesava, sua mente fadigava, e era um resultado normal depois de tudo que acabara de acontecer. Parou um pouco enquanto descia as escadas e respirou fundo, segurou seu amuleto com um pouco mais de força, a fim de captar um resquício de energia. Ao chegar na sala, deparou-se com Maysa sentada em uma poltrona, com o Daniel envolto em seu colo.
– Vamos? __ a loira sorriu, levantando com muita cautela para que o pequeno não acordasse. – Preciso admitir que tudo isso foi um pouco louco, mas você foi simplesmente incrível.
– Sabe o que realmente é incrível? Poder ajudar a trazer vidas ao mundo. Obrigada por ter ficado!
– Eu quis ficar, o Dan também quis. Ele com certeza fará sucesso no colégio segunda-feira, ao relatar os acontecimentos dessa noite.
– Ah, vai sim… foi uma longa noite, porém inesquecível. Onde estão todos?
– Alguns já foram, e os que ficaram estão na cozinha, atacando as comidas e bebendo. __ Agatha esfregou os olhos, indicando mais uma vez o cansaço.
– Vou me despedir deles rapidamente e podemos ir, tudo bem?
– Perfeito, você se despede e eu vou levar o Dan para o carro.
Enquanto aspirava o ar gelado da madrugada, a loira pensava que não deveria ter tomando tanto café enquanto esperava por Agatha, decerto teria que ficar trabalhando, ao menos por umas três horas, até que o efeito da cafeína passasse. Mas, ao olhar para janela do quarto de Alana, decidira que valera a pena cada instante daquela noite. Deitou o filho com cuidado no banco traseiro.
– Que madrugada linda, o céu está todo estrelado! __ Agatha murmurou enquanto se aproximava.
– Realmente. __ abriu a porta para Agatha. – Estava lembrando das palavras de Augusto quando os gêmeos nasceram, aquilo foi muito bonito. Depois teve o brinde e todos bebemos um vinho de cor verde na mesma taça. Algum tipo de tradição familiar?
– Podemos dizer que sim… __ a morena recostou a cabeça no assento, e antes mesmo de saírem da rua onde Alana residia, Agatha adormecera.
Créditos musicais: Dança dos Meninos – Milton Nascimento (https://youtu.be/iQnTVZPw1HM)
uhuhu! chegou na parte que eu estava acompanhando pelo outro site! amo essa historia! Adoro historias de bruxas e filmes de bruxas!quero vê como a Maysa vai reagir quando souber da Agatha!
beijos
Mascoty
Oiê, Adri
Sempre bom ver-te por aqui,
Eu também estou curiosa para saber como a Maysa vai reagir a tudo isso.
Beijos, flor
Mdssss!!
Que lacre de história…❤️❤️
Continua Afrodite, pois estou super curiosa para ver como será a reação da Maysa quando a Aghata contar que sua família são bruxas.
Cidinha,
kkkkk’ amei isso “que lacre”
Woowww, continuarei sim.
Obrigada por estar sempre incentivando.
Beijos, querida.