A Magia do Amor

30. O leão

30

O leão

 

– Duas semanas! Duas semanas, Eva.

– Eu ainda não estou acreditando que você a pediu em casamento.

– Pedi. Não um pedido bonito ou tão romântico quanto ela merece. Mas, eu pedi. __ Eva a olhava séria, mas não conseguiu segurar o riso. – Do que você está rindo?

– De você, parecendo uma adolescente, agindo por impulso.

– Eu sei. __ sentou-se e se distraiu com o cristal que tinha em mãos.

– Fique tranquila, com certeza ela te dará uma resposta em breve.

– Deve estar me achando uma louca, não a culpo por estar fugindo de mim.

– Por que acha que ela está fugindo?

– Vai me dizer que você não fugiria se fosse pedida em casamento daquela forma.

– Não sei. Eu penso que se ela fosse lhe dar uma resposta negativa, já o teria feito.

– Ah, já cogitei essa possibilidade, mas prefiro não me agarrar em falsas esperanças.

– Se você a encontrasse agora, o que diria? Ia dar para trás e dizer que se precipitou ou…?

– Claro que não ia voltar atrás, eu a quero. Fui sincera em tudo que disse. E se ela precisa de um tempo para me dar a resposta, eu espero. Tomara que não demore a vida toda. __ sorriu.

– Então aproveita que ela está chegando e diz isso. __ sorriu arteira.

 

É verdade que Maysa estava ansiosa para rever Agatha, não conseguia esquecer o último encontro.

 

– Então, você vem?

– Maysa, eu… __ respirou fundo, aquilo estava mesmo acontecendo?

– Você?

– Eu não sei o que responder. Sinceramente, eu não sei.

– Tudo bem, não…

– Calma, é que você me pegou de surpresa. Não esperava algo assim.

– Agatha, você já é parte da minha vida, dos meus dias. Só quero oficializar.

– Eu só preciso de um tempo para pensar sobre isso. Estou feliz, mas muito surpresa.

– E assustada?

– Não… assustada eu não estou. Mas, não posso tomar uma decisão dessas sem pensar, Maysa. Me entende?

– Uhum, entendo. __ era nítida a frustração da loira, ainda que compreendesse que aquele pedido foi demasiadamente impulsivo. Fechou os olhos e deixou os músculos relaxarem dentro daquele abraço que a morena lhe dava.

 

Ainda sentia a sensação que era estar naquele abraço quando foi desperta pelo “bom dia”, que a outra lhe dava ao entrar na loja. Não soube responder, apenas acenou com a cabeça.

 

– Oi, Agatha… não ligue para a May. Ela anda com a cabeça nas nuvens mesmo. O que trouxe para mim?

– Dessa vez, o de sempre.

– Nenhuma novidade? __ Eva se divertia com a cena. Agatha tinha o olhar fixo em Maysa, que por sua vez apresentava até uma certa timidez. – Pelo visto, não é só a Maysa que está com a cabeça nas nuvens…

– Hum?

– Nenhum produto novo?

– Não, eu não consegui me concentrar essa semana.

– Imagino. Bom, vou guardar essas coisas, fica de olho na loja para mim? Não demoro.

 

Eva saiu carregando as poucas caixas que a morena lhe entregou. Agatha sentia o arrepio provocado pelo olhar que a loira lhe dava, o corpo parecia querer obriga-la a se aproximar. A respiração lhe parecia presa em seus pulmões. E, mesmo seu coração pulando de alegria por encontra-la ali, sua mente tratou de lembrar-lhe que ainda devia uma resposta a Maysa.

 

– Maysa, eu acho que…

– Não sei se esse é o melhor lugar para falarmos sobre isso, Agatha. __ foi mais dura do que gostaria, mas quem poderia lhe culpar, o coração batia tão apreensivo que parecia estar parando.

 

Quando a loira viu Agatha entrando na loja, foi como se um sopro de vida pousasse sobre ela, as tais esperanças que não desejava se agarrar estavam entranhadas nela. Mas, aquele olhar que ela lhe direcionou ao falar seu nome, era pesado e sério demais, não estava pronta para ouvir o sonoro não que a outra provavelmente lhe daria.

 

– E quando, então?

– Não sei, acho que não quero ouvir sua resposta.

– Você não sabe o que vou dizer.

– Ah, Agatha… eu te conheço. É um milagre que não tenha fugido. Apesar de ter se escondido de mim por quase três semanas.

– Maysa, eu só estava pensando e tentando trabalhar. Havia as encomendas da loja e de alguns outros clientes.

– Okay…

– Eu a amo, Maysa. __ os olhos da loira ganharam um novo brilho. Estava mesmo ouvindo a morena dizer que a amava? – Mas, um casamento agora é algo muito precipitado. Querendo ou não, estamos nos reconhecendo, e…

– Não diga que me ama e depois que estou sendo precipitada. Eu não me importo em estar apressando as coisas e, depois do que acabei de ouvir, eu não me importo mesmo. Preciso e quero você na minha vida.

– Eu já estou na sua vida. __ a morena lhe sorriu enquanto pensava em como era difícil lhe contar tudo, logo ela que desde que aceitou seu legado, jamais se amedrontou. Toda via, naquele instante ela parecia uma criança com medo. Era medo de perder Maysa, era aquela sensação de que a perderia. E como poderia viver sem ela depois de tudo que estava lhes acontecendo? – Estou na sua vida e, você sabe disso.

– Agatha, foi difícil para mim aceitar tudo o que estou sentindo. E eu quis correr para bem longe desse sentimento que mora aqui dentro. ___ bateu no peito.  – Mas, não consegui. Tudo me levava para você, até meu filho me leva para você ou te traz para mim. Eu te amo, sempre amei. Não posso ser apenas sua vizinha, muito menos continuar agindo como uma adolescente que está namorando as escondidas. Quero mais. __ só então se deu conta de que seu corpo já estava tão próximo do da morena, os olhares não se desgrudavam. – Você disse que me ama. Agatha, você disse que me ama.

– Sim. Maysa… eu a amo. __ a morena não conteve a necessidade de abraça-la. – Acredito que você já sabia disso. A amo mais do que imaginei, mais do que queria. Porém, casamento é algo que…

– Algo que deveríamos fazer. Hoje mesmo se possível. __ a abraçou ainda mais forte. – Agatha, disse a você tantas vezes que não estava brincando de conquistar a vizinha terrivelmente linda e apaixonante. __ afastou-se para que pudesse lhe falar olhando em seus olhos. – Antes de reencontra-la, eu acreditava que tudo estava completo e perfeito. Agora, a sensação que tenho é a de que me falta algo. Alguém. Esse alguém é você. Quero que escolha ficar comigo. Que escolha ficar conosco.

– Gostaria que fosse tão simples assim, Maysa. Não quero que sofra, mas nesse instante, ainda não posso lhe dar uma resposta. __ a loira afastou-se um pouco mais e conteve a lágrima. – Quero que me encontre hoje, depois que o Daniel dormir. Tenho que lhe contar algo e, se depois de tudo que eu lhe disser… se… se você ainda desejar ser minha e que eu seja sua. Não haverá impedimentos para que eu me jogue em seus braços e aceite o seu pedido.

– Tudo bem, preciso ir. Até mais tarde então, Agatha.

 

O abraço foi duro, de emoções contidas. Maysa saiu como se um elefante estivesse sentado sobre o seu coração, pesava e doía. Atravessou a rua distraída, não deu ouvidos ao motorista que a chamava de louca e, apenas seguiu caminhando.

 

“Era assim que a Alessandra se sentia quando eu dizia que não podia aceitar o pedido dela? Não deveria ter aceitado ir lá hoje à noite…” __ desviou do galho de uma arvore que pendia para a calçada. “Ora Maysa, ela tem razão… foi impulsivo.  Passaram-se o que? Uns dez anos… muitas mudanças. Eu mudei, ela mudou.” 

 

Ela não percebeu o homem que vinha em sua direção, é verdade que ele poderia desviar. Já que o mesmo não tirava os olhos da loira desde que a viu caminhando naquela calçada. Foi supostamente inevitável aquele esbarrão.

 

– Opa, desculpa. __ ele a segurou com um sorriso gentil.

– Eu quem peço desculpa. __ afastou-se se ajeitando. Mas, ele continuou a lhe encarar com aquele sorriso que embora gentil, tinha um ar malicioso ou até mesmo misterioso.

– Está tudo bem, até outra hora. __ sorriu, piscou e caminhou.

 

Aquilo foi estranho, ela pensou. E seguiu para a casa, para tomar o seu café forte na caneca do Darth Vader, sentar em sua cadeira confortável e tentar escrever enquanto não dava o horário de ir buscar o pequeno no colégio.

 

*  *  *  *  *  *  *  *  *  *

 

– Não! __ e sorria. – Eu não acredito!

– Pois é, meu amor. __ Eva secava-se do banho enquanto contava as novidades para a esposa que amamentava um dos gêmeos.

– E a minha prima lenta ainda não deu uma resposta?

– Não, mas a Agatha disse que a ama.

– O que?

– Ela disse, tudo bem eu não deveria ouvir, mas quando voltei do estoque estava um climão entre elas. Não quis atrapalhar.

– Aí minha esposa linda e esperta, ouviu sem querer a conversa?

– Isso mesmo, amor. Muito sem querer. __ riram.

– E a Maysa?

– Ela também a ama. __ o semblante de Alana modificou totalmente, entregou a filha para que Eva a segurasse. – Amor, está tudo bem?

– Não, algo irá acontecer. A Agatha precisa de mim, amor. Precisa de todos nós.

 

E Alana tinha razão. Em casa, Agatha tentava aparentar calma e tomava seu chá de maçã com canela, caminhando pela cozinha, enquanto ensaiava mentalmente a forma mais “fácil” de contar tudo que necessitava a Maysa. O clima havia mudado, a noite tomou formas estranhas, o mar ganhou tons mais escuros, Daniel e Tapioca eram os únicos que pareciam alheios a toda aquela tensão. Maysa ainda passeava de um lado para o outro da sala, havia afastado os móveis, pois sentia necessidade de espaço, uma angustia diferente de todas as outras lhe queimava o coração. Estava atrasada, sabia que estava. Mas, tinha receio da consequência que geraria aquela conversa.

 

As batidas na porta da frente da casa de Agatha fizeram com que ela estranhasse, estava esperando Maysa, mas normalmente a vizinha costumava aparecer na porta de sua cozinha. Caminhou devagar e seu coração batia lento e forte, segurava a xícara com maior força. Ao abrir a porta, seus olhos esgazearam, a xícara escorregou por suas mãos e trincou no chão, derramando o restante de chá.

 

– Saudades, baby? __ Agatha continuava estática, tentava ter certeza de que não se tratava de uma alucinação. – Não vai dizer nada? __ não era uma alucinação. – Vamos, me deixe entrar! __ e adentrou na residência da morena.

– O que você está fazendo aqui?

 

O homem observava as pequenas, porém, notáveis mudanças que haviam sido feitas pela casa. Caminhava com intimidade pelos cômodos, ignorando por completo a morena. Sorriu ao ver que não tinha mais fotos do casal espalhadas em porta retratos pela casa. Alcançou a cozinha, pegou uma pêra e deu a primeira mordida enquanto retirava da parte interna da jaqueta preta de couro um pedaço de tecido, Agatha reconheceu de imediato.

 

– Acredito que isso lhe pertence! __ não que tivesse ficado intimidada por ele, mas foi inevitável não corar ao recordar-se da noite que fizera amor com Maysa na praia.

 

Tomavam banho, quando ela se deu conta que deixara algo para trás…

– Será que alguém nos viu? __ não que estivesse preocupada, mas continuava com aquela sensação de que haviam sido observadas.

– Não sei, mas com essa chuva, eu duvido muito.

– Hum, perdi minha blusa lá. __ sorriu arteira e ensaboava a loira com delicadeza.

– Você deixou sua blusa? Podemos ir busca-la!

– Não senhora, ainda chove. E no mais, é só uma blusa.

– Se você diz…

 

Sim, ela não se importava com uma blusa tola depois de todas as coisas que aconteceram, porém, que assim que teve oportunidade voltou a praia, mas não encontrou a peça. A mesma peça de tecido que lhe era devolvido dentro daquele sorriso malicioso e ao mesmo tempo terno. Balançou a cabeça incrédula. Tomou a blusa das mãos do ex noivo com certa fúria.

 

– Vou lhe perguntar novamente, o que faz aqui?

– Senti saudades, decidi que estava na hora de voltar para o meu amor. __ a morena sentia-se cada vez mais enojada. – Mas, veja só que surpresa; a encontrei feito uma adolescente no cio, nos braços da amante. __ gargalhou. – Maysa, né? Vai querer usar o pirralho dela como um substituto para o nosso? __ a morena sentiu o peso e a dor daquelas palavras abrindo as feridas de seu coração sem nenhuma piedade.

– Por que você é tão cruel? O que você quer, Roberto?

– Agatha, Agatha… você sabe porque voltei. Ou achou mesmo que eu iria abandonar minha noiva?

 

Roberto era desses homens com ar de cafajeste, sorriso maroto, alto e corpo de quem vai algumas vezes na academia. Cabelos bagunçados de forma proposital, barba por fazer, mas sem deixar de ter seu charme. Olhos escuros e com um brilho perigoso, usando sempre botas, uma calça jeans surrada e camisa branca. A tatuagem no braço de um leão com a boca aberta e um rosto feminino dentro dessa boca se destacava.

 

– Noiva? __ a voz de Maysa se fez presente pela cozinha.



Notas:



O que achou deste história?

9 Respostas para 30. O leão

  1. Gente, esse Roberto é fogo! como ela surge numa ora dessas! Po, Agatha ja ta cheia de problemas em conta para a Maysa a verdade. Esse cara ainda surge! estava calo demais mesmo!
    Beijos
    Mascoty

  2. Olá autora!
    Boa noite!

    Estou sentindo saudade da sua história.
    Volta a escrever e postar por favor.
    Bj no coração

    • Oi, Kelly
      Boa madrugada!

      Voltei!
      Desculpe a demora, alguns probleminhas, mas estou tentando solucionar.
      Obrigada pelo carinho, beijinho.

  3. Olá mohine
    Estava tudo tranquilo mais, fiquei com medo deste sujeito que deve ser o mesmo que esbarrou na Maysa. Também será um momento de Agatha se abrir e que a Maysa não a deixe lá depois da surpresa péssima do tal ex noivo da Agatha junto com este fdp.
    Alana e Eva vai ajudar e colocar este cara para fora.
    Bjus e até o próximo capítulo

    • Oi, Jamille…
      Parece que ainda tem muita água para correr por baixo dessa ponte.
      Beijinho, obrigada pela companhia e desculpe a demora.

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