A Magia do Amor

32. Revelações

32

Revelações

 

Maysa fechava os olhos, enquanto Daniel brincava com Tapioca e Agatha no jardim. Claro que ela ainda sentia raiva, não teve coragem de falar com a vizinha depois daquela revelação. Mas, estava nitidamente impaciente, nervosa, aquele mês passou arrastado; os dias eram até curtos e as noites longas, alimentadas de insônia. Um mês fugindo, evitando ao máximo qualquer contato com a morena. Mas, bastava fechar os olhos para imaginar Agatha fazendo parte de seus dias, lhe ensinando sobre ervas e flores, a casa teria o cheiro daquele perfume que a morena usava e que muito lhe agradava. E nas noites de insônia, elas poderiam simplesmente sentar juntinhas no terraço e observar as estrelas enquanto conversavam trivialidades. Ela contaria histórias para Agatha, que com certeza acabaria lhe questionando e alterando o destino de alguns personagens. Daniel seria ainda mais feliz, e enlouqueceria tendo a companhia de mais dois animais de estimação. Abriu os olhos e sorriu, pensou, o filho já estava feliz. A coruja já estava tão acostumada com o menino que toda manhã batia o bico na janela do quarto de Daniel, e logo após o desjejum o pequeno corria para o quintal, e lá se divertia; Tapioca sempre fazendo seu melhor papel de bobo ao ser enganado pelo gato. E a coruja piava, como se gargalhasse do que acontecia.

 

Aos olhos de Maysa aquilo era tão simples e perfeito, que poderia viver assim até os últimos dias de sua vida. Mas, é claro que as palavras de Roberto ainda martelavam em sua mente. As palavras, as visitas que ele fazia a Agatha, ainda que raramente fosse atendido, ainda assim, sempre, ele sempre fazia questão de mostrar que estava presente. E aquela parada estratégica que ele fazia, o sorriso que ia se formando nos lábios e, a olhada para janela do escritório da loira. Ele ainda tinha aquele ar de vitorioso. Irritou-se, bateu com a mão na peça que tinha ao lado da cadeira de balanço. Levantou.

 

– Dan, vem aqui.

– Oi, mamãe.

– Amor, pergunte a Agatha se ela pode ficar um pouco com você. __ o menino saiu correndo, gritando o nome da morena que não demorou para atendê-lo.

 

De início ela não entendeu nada do que o pequeno falou, precisou pedir para que ele parasse, respirasse e só então pode compreender. Até pensou em usar aquele pedido como uma forma de obrigar a loira a falar com ela, mas sabia que poderia acabar piorando a situação.

 

– Claro que fico, meu pequeno explorador de mundos!  __ apesar de Maysa sequer olhar em meus olhos, ela ainda confia em mim para ficar com o filho dela. De repente, houve um frágil frio de esperança.

 

Maysa poderia estar com raiva da morena, mas não seria capaz de punir o filho pelos seus dissabores. Arrumou-se, entrou no carro e em poucos minutos estava estacionando em frente à loja Eclipse. Teria uma conversa com a amiga, depois de ter ignorado todas as ligações que recebera de Eva, finalmente havia chegado o momento de ter aquela conversa.

 

*  *  *  *  *  *  *  *  *  *

 

– Tem certeza, Alana?

– Claro.

– Não sei se isso vai dar certo.

– Lucas, apenas faça o que lhe disse.

– Você sabe que se a Agatha souber disso…

– Ela não saberá. Eu não vou contar, você também não tem que contar.

– Alana… agora ela é a líder da nossa família.

– E por isso mesmo precisamos protege-la de todas as formas possíveis. Estou pronta para pagar o preço, e você?

– Não vou te deixar sozinha nessa. A Eva sabe?

– Não, contarei mais tarde. Quando liguei para loja ela disse que a Maysa estava lá.

– Espero que minha cunhada consiga fazer com que ela perca o orgulho.

– Não a culpo, talvez eu fizesse o mesmo se estivesse no lugar dela. Mas, não me preocupo quanto a isso.

– Por que?

– Simples, não existe nada mais forte que o amor.

– Porém, mesmo com amor, às vezes as pessoas decidem seguir por outros caminhos.

– Os caminhos de Agatha e Maysa estão traçados, agora como elas vão se resolver, já não sei.

 

*  *  *  *  *  *  *  *  *  *

 

– Muitos falam de magia, mas poucos sabem seu real significado, essa é a verdade!  __ declarou enquanto terminava de organizar os objetos no balcão.

– Não justifica.

– May, veja o quanto as pessoas têm medo daqueles que conhecem a si mesmos. Sabe porquê? Porque pessoas assim tem um magnetismo, uma certa aura, um poder e carisma, pessoas assim são livres de preconceitos e de tudo que seja contra a sua natureza. E as pessoas doutrinadas, presas a dogmas e opiniões implantadas dentro de suas mentes, tem medo de pessoas livres.

– Sim, eu concordo. Mas ela achou mesmo que eu ia abandoná-la por ser uma bruxa? Fala sério, Eva! E omitir o fato de ter outra pessoa? Estou com muita raiva, só não vou embora dessa cidade porque o Dan já ama isso aqui, e ama ela também.

– Bom…

– Bom nada, estou furiosa com você também, com certeza sabia de tudo isso e não me disse nada.

– Ei, pode parar. Eu não vou falar sobre a história da Agatha com o Roberto, só ela poderá te contar sobre isso…

– Eu não vou mais falar com ela.

– Claro que vai; primeiro porque a Agatha lhe disse a verdade, ela e o Roberto são separados. Depois, porque se te conheço bem, você não será injusta. Até onde lembro, você não é o tipo de pessoa que morre por orgulho.

– Ora, Eva!

– Ah, admita Maysa. Você gostou dessa possibilidade.

– Qual?

– Não se faça de tola. __ a loira continuou a olhar para amiga com carinha de menina que aprontou. – Gostou sim, quer saber mesmo o que eu penso? __ a outra assentiu. – Esqueça tudo, apenas vá até a Agatha e converse com ela. Posso afirmar que ela está sofrendo tanto quanto você com esse seu afastamento. May, a Alana vive me dizendo: “A tradição é uma arte que somente os fortes suportam carregar”, e que por isso toda bruxa sabe que existem vários caminhos entre o mundo visível e o mundo oculto, existem coisas que estão além do alcance dos cinco sentidos dos seres humanos. Existem coisas, May… que nem mesmo uma bruxa pode prever ou reverter, embora eu tenha certeza de que se a Agatha pudesse voltar no tempo, nem estaríamos tendo essa conversa. Ela te ama, e por isso aquele crápula está fazendo todo esse inferno para manter vocês separadas. E ele até agora está ganhando, mas, você vai deixar?

– Eva, nossa. Fiquei sem saber o que dizer.

– É por saber que estou certa.

– Ser casada com uma bruxa te fez bem, hein?

– Ahh May, você não faz ideia do quanto. Mas, aproveita enquanto tua felicidade ainda está te esperando.

– Okay.

– Você vai falar com a Agatha?

– Sim, não prometo falar, mas eu ouvirei o que ela tem a dizer.

– Agora sim, essa é a Maysa que conheço. __ abraçou a amiga. – Estou feliz por isso. Agora vamos que preciso fechar a loja e ir paparicar minha esposa e filhos.

– Babona!

– Como poderia ser diferente?

– Não poderia, minha cara. Não poderia.

 

Maysa esperou que Eva terminasse de fechar o estabelecimento, a acompanhou até o carro e ali se despediram com sorrisos e um desejo silencioso de “boa sorte”. Mas, apesar de Eva não ser uma bruxa ou ter se aprofundado em estudos sobre o assunto, ou até mesmo não tendo o dom da vidência, algo dentro dela dizia que tudo ficaria bem. Que de alguma forma ficaria bem. Deu partida no carro e foi para casa, no banco do carona, um buque de amarílis de cor amarela que ela levava para esposa. Sorriu ao imaginar o sorriso que Alana lhe daria, e pensou sobre o quanto Maysa estava certa; ser casada com aquela mulher, independente de seus crenças e loucuras, era a melhor coisa que lhe aconteceu. A amava.

 

*  *  *  *  *  *  *  *  *  *

 

– Como foi na escola hoje, meu amor?

– Ah, foi bem legal. __ ele sorria orgulhoso e sapeca. – Sabia que já sei escrever o nome da minha mãe?

– Uau! Isso é maravilhoso. __ e embora ela não estivesse nos seus melhores dias, a presença de Daniel lhe deixava mais calma, até mesmo feliz.

– Também sei escrever o seu, o da Duda, o do Tapioca, só ficou difícil escrever Aquiles, mas a professora me ajudou.

– Foram muitos nomes. __ sorriu.

– Sim, é que a professora pediu para escrever o nome de toda a minha família. __ e pela primeira vez o garotinho sapeca pareceu perder um pouco do ar arteiro. Mexeu na blusa, tentou disfarçar conversando algo com o cão e tornou seu olhar para Agatha. – Tudo bem eu ter dito que vocês são a minha família? Oh Agatha, por que você está chorando?

– Felicidade, meu amor. __ ergueu o menino e o abraçou. – Choro de felicidade, amei saber que você nos considera da família. __ depositou um beijo na bochecha do pequeno que ficou vermelhinho. Quem diria que o Daniel poderia ter seus momentos de timidez?!

 

Foi para o chão e retornou a brincadeira com os animais, corria de um lado para o outro. Tapioca o seguia, como qualquer cão fiel ao melhor amigo faz. Latia feliz, e às vezes se assustava com os pulos surpresas que Aquiles dava em sua frente, o gato parecia fazer de propósito. A coruja sobrevoava o céu, observava a tudo com certa distância, mas assim que ouvia o riso alto e feliz da criança, fazia seu voo rasante e pousava perto dele, algumas vezes, pousava na cabeça da criança. Daniel ia à loucura quando alcançava tal feito.

 

Enquanto observava Daniel brincar, a morena pensava em como seria bom ter filhos. Embora tivesse descartado essa possibilidade depois de tudo que ocorreu, naquele momento ia se dando conta do quanto desejava ser mãe. Os pensamentos começavam a brincar com ela, a imaginação tomava forma. E lhe veio a imagem nítida de um bebê, com olhos cor de esmeraldas e sorriso angelical. Seria incrível, o Daniel teria um irmão ou irmã. E ela, incrédula por estar pensando em algo como ser mãe, sorriu boba.

 

– Atrapalho?  __ Agatha foi retirada de seus pensamentos.

– Maysa!

– Esperava outra pessoa?

– Não. Não mesmo.

– Vamos conversar?



Notas:



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3 Respostas para 32. Revelações

  1. AInda bem que Eva conseguiu convencer Maysa a conversar com Agatha!
    Tomara que conversando elas se entendam!
    beijos
    Macoty

  2. Ai gzuiss, finalmente essas duas vão conversar! Minhas unhas agradecem! hahaha

    Bjão e até o próximo!

    • Oiê,

      Pois é, ainda bem que Eva sabe como lidar com a amiga!
      Deixe um pouquinho de unhas para os próximos capítulos, rsss’

      Beijos, até.

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