A Magia do Amor

33. Revelações II

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Revelações II

 

Eva chegou em casa com um sorriso estampado no rosto, notou o carro do cunhado estacionado em uma das vagas, achou perfeito ele estar por lá; assim evitaria que a esposa cometesse atos impensáveis, além de ter companhia. Embora soubesse o quanto a esposa era obstinada e, raramente alguém conseguia fazer com que ela voltasse atrás de suas decisões. Ficou alguns minutos dentro do carro, até que viu a figura esguia e sorridente lhe aceno da porta.

 

– Amor, vem logo!

 

Saiu do carro e caminhou em direção a esposa, mas teve que retornar por ter esquecido as flores. Com as flores em mãos, lembrou de seu significado, Agatha quem havia lhe contado: “na mitologia grega, essas flores estão diretamente ligadas ao deus Apolo, que era muito conhecido pelo seu orgulho. Mas, ela também traz significados como altivez, elegância e graça. Quando você presenteia alguém com amarílis, na maioria das vezes, está a dizer o quanto sente admiração. E também se refere a angustia que é ficar distante da pessoa amada.”

Quando Eva passou em frente a floricultura e observou as flores postas na vitrine de forma qual ganhara destaque, recordou de imediato daquela singela explicação, não teve dúvidas. Admirava a esposa e sentia-se angustiada toda vez que precisava sair para abrir a loja e deixar suas preciosidades em casa. E com certeza, Alana poderia ser comparada a Apolo; na elegância, no orgulho, na teimosia e na beleza.

 

– Ah, flores! __ Alana lhe sorria apaixonada, e ver aquele sorriso era melhor que imaginá-lo.

– Estou com tanta saudade de você e dos nossos bebês, minha vida. __ depositou um beijo na testa da esposa.

– Pelo visto estou sobrando aqui, eu vou é buscar a minha esposa no escritório. Também estou com saudades da minha mulher, tá?! __ riu e provocou, enquanto a irmã e cunhada seguiam para dentro da casa.

 

*  *  *  *  *  *  *  *  *  *

 

– Então você é uma bruxa e tinha medo de me contar sobre isso?

 

O silencio que se fez desde que Maysa chegara perguntando se podiam conversar era finalmente quebrado, a loira não sabia como ser gentil ou ter tato para começar aquela conversa, fez a pergunta mais óbvia e, pensou ela, boba.

 

– Sim. __ Agatha ajeitou-se na cadeira, virando para que pudesse falar olhando nos olhos de Maysa. – Eu e boa parte da minha família. E sei que você está chateada porque não lhe contei desde o início, mas sinceramente eu não sabia como contar isso. __ a loira apenas a olhava. – Eu… ah, Maysa. Eu imaginei inúmeras formas de lhe falar isso. Talvez, sendo direta: sou uma bruxa. Mas, poderia ser mística também: sou uma filha da Lua, uma das escolhidas para levar adiante o legado de tempos perdidos, porém jamais esquecidos. Filha da grande Deusa, o elo com a natureza, com o sagrado. Líder do meu grupo. __ suspirou. – Mas, talvez se eu lhe dissesse assim, corria o risco de você me considerar no mínimo uma louca. Acontece que é essa a verdade, a Senhora do céu da noite, que guarda os nossos sonhos e visões, é a minha protetora e mentora, sempre me mostra como transformar sonhos em realidade e como viver bem com a minha verdade. Porém, depois que me permitir estar com você, pela primeira vez, eu não soube como falar sobre quem sou. Na minha crença, aprendemos que; aos outros devemos dar o direito de serem como são, mas que a nós, damo-nos o dever de ser cada dia melhor. As bruxas sabem muito bem que para existirmos e vivermos com a mais completa dignidade, teremos primeiro que conhecer a nossa verdadeira história, ter a consciência que cada hora, cada minuto está cheio de magia e significado. Não falhei apenas com você, falei comigo e com a minha família quando não te contei a verdade, quando em alguns momentos gostaria de realmente ser apenas a Agatha, sem o peso e a graça da magia.

– Agatha…

Somos o que somos, é o que mais ouço quando estamos em reunião familiar, e tenho muito orgulho de ser o que sou; uma curandeira, uma vidente. Não importa a nomenclatura. Dessa mesma forma, depois que aceitei o meu destino, nunca me importei em ser julgada por quem sou, mas, com você… ah, com você eu tive medo. Medo de perder a mulher que amo por ser assim. Eu não sou como minha prima, a Alana praticamente evocou todo o seu poder na frente da Eva quando começaram a se envolver e depois deixou que ela decidisse se queria mesmo continuar a relação ou não. Eu não sou assim. Eu não poderia perder você outra vez e, no entanto, olha como tudo ficou.

– Agatha, eu não me importo por você ser uma bruxa.

– Maysa, você não sabe o que está falando. Será que diria isso se estivesse comigo em algum momento em que eu fosse obrigada a utilizar todos os meus poderes? Será que se você tivesse visto o que ocorreu dentro daquele quarto, no parto dos gêmeos, você estaria dizendo isso? Não sou uma bruxa como nos filmes ou contos, não há ficção Maysa. Não existe “abracadabra”. Não tem “Salagadula mexegabula bibidi-bobidi-bu” isso é só uma coisa que a Disney inventou para a Fada Madrinha da Cinderela. Na vida real, a magia é diferente daquilo ali, e raramente com finais felizes.

 

Outra vez o silencio reinou, a loira sabia que Agatha não deixava ter sua razão. Embora não lhe assustasse o fato de ouvir que a morena tinha crenças pagãs, não atentou para todos aqueles fatos. Talvez, ainda estivesse pensando em algo como nos contos de fadas que escrevia. Porém, aquela frase ecoou em sua mente: “Não sou uma bruxa como nos filmes ou contos, não há ficção Maysa.”

 

– Eu…

– Não tem o que dizer.

– Realmente, quanto a isso não. É verdade que não tenho real noção de como tudo isso se dá, além da fantasia, porém, eu poderia aprender. Ter a certeza desse fato não me faria virar as costas para você. O que me entristece não é você ser uma bruxa, e sim, de não ter confiado em mim. O que me emputece, é o fato de você ter escondido um noivo de mim.

– Maysa, não é bem assim.

– E como é, Agatha? Eu te pedi para ser minha, para morar comigo. Para sermos uma família, e como se já não fosse torturante todos aqueles dias sendo ignorada por você. Quando finalmente decide falar sobre o assunto, chego na sua casa e tem um homem declarando ser o teu noivo. Como se explica isso? Como deveria me sentir?

– Desculpa, não queria que as coisas tivessem acontecido dessa forma.

– Sinceramente, eu não sei o que pensar…

– Quando abandonei o curso de0 medicina e voltei a morar nessa cidade, as coisas mudaram bastante. __ Maysa pareceu confusa com aquele início de frase. – Aquela garota que você conheceu, cheia de preconceitos e que abominava qualquer coisa que estivesse fora da minha realidade… bom, essa garota descobriu ser parte de algo maior que ela mesma. Foi um choque e um desafio compreender meus dons. Meus pais e tia Amélia e meus primos precisaram ter muita paciência comigo. E dentro de todo esse período de descoberta sobre quem eu realmente sou, eu conheci o Roberto. __ a morena levantou-se angustiada, olhava para o nada a sua frente ainda que sentisse o peso do olhar de Maysa em suas costas. – Eu lembro perfeitamente da noite, tinha brigado com a minha família, eu não aceitava, não queria aprender sobre a crença. Saí revoltada, literalmente chutando as pedras que encontrava pela rua, e acabei me esbarrando com ele. Me encantei de imediato, como acontece naquelas novelas clichês onde a garota troca olhares com o garoto e se apaixona. Depois daquela noite continuamos a nos encontrar, e por algum motivo eu confiei no Roberto, lhe contei sobre minha vidência; achei que ele iria sair correndo. __ sorriu amarga. –  Mas, foi o contrário, ele se aproximou ainda mais e conseguiu me convencer a usar esse dom em beneficio, não apenas meu, mas dele também. Claro que no fundo sentia estar agindo de forma errada, porém estava muito apaixonada para dizer não a ele, sem contar que eu tinha a certeza de que nenhuma outra pessoa iria me querer por ser daquele jeito. As coisas começaram a fluir, começamos a ganhar dinheiro e com isso veio o pedido de namoro, logo depois estávamos noivos. Meus primos o odiavam, e com isso ele me convidou para morarmos no Rio de Janeiro, aceitei logo depois que papai e mamãe foram morar no Canadá. Era outro erro que eu cometia, a primeira coisa é que não fui morar com o Roberto propriamente dito, ele arranjou uma casa, alugamos, eu fazia atendimentos as pessoas. O Roberto basicamente só aparecia para recolher o dinheiro do dia, fazer sexo, se alimentar e sair para esbornia.

 

Fez uma pausa, as lagrimas não podiam mais serem contidas. Maysa quis lhe abraçar e dizer que havia passado, mas não iria interromper, deseja saber tudo, ainda que sentisse o estômago revirar e a raiva crescer dentro de si, certo que se encontrasse aquele homem outra vez, não responderia pelos próprios atos.

 

– Quando eu reclamava, ele falava umas palavras doces e me levava para algum lugar bonito. E era como se o amor estivesse ali e eu era uma tola por duvidar. Mas, é claro que com tantos erros cometidos, apareciam as consequências. Fiquei sem forças e frágil. E sim, existe muita diferença entre estar fraca e estar frágil, e eu estava os dois. Depois, perdi meus dons, mas a Alana sempre fala que não os perdi, que apenas estava debilitada demais para enxergar as coisas com clareza. Não conseguir fazer com que ele ganhasse mais dinheiro foi como a gota d’água; o verdadeiro Roberto apareceu. É engraçado e ao mesmo tempo triste, algumas situações só compreendemos quando passamos por ela, antes de tudo isso eu achava que se uma mulher ficava dentro de uma relação sendo maltratada é porque ela se permitia a isso. Mas, naquela época, eu descobri que não era bem assim, que de alguma forma, eu ainda me sentia culpada por ele ficar bravo. E eu usava a frase, ele nunca me bateu, como uma justificativa, mas sabemos que para ser agressão não precisa ser apenas física. Chegou um momento em que não havia mais dinheiro para comprar comida, nem para pagar o aluguel e eu comecei a ir em busca de trabalho, sempre tive meu orgulho, não queria pedir ajuda aos meus pais. Eis que um dia voltei para casa e ela estava vazia!

– Vazia?

– Sim, vazia. Ele havia levado tudo. Minhas roupas, que já não eram muitas, estavam jogadas dentro de algumas caixas. Me joguei no chão e lá fiquei, mas foi uma dor, uma tristeza tão profunda, que não soube chorar, muito menos gritar. Apenas fiquei lá, para morrer, queria morrer.  Mas, a Alana sabia, ela sempre sabia quando algo estava errado comigo. Ela apareceu com o Lucas e o tio Augusto, me levaram para o hospital e lá eu descobri que estava grávida.

– Grávida? __ como assim a Agatha havia tido um bebê? Onde que estava a criança?

– Uhum. __ sentou-se outra vez com a dor daquela lembrança. – Grávida. Mas, perdi o meu filho em um aborto espontâneo.  E quando isso ocorreu, reencontrei o Roberto, e até achei que ele estava ali para me apoiar, me ajudar a passar por aquele momento, mas a verdade é que ele foi tripudiar da minha dor. __ a voz do ex noivo a chamado de inútil, de um ser incapaz de ter um bebê, se fez ecoar em sua mente.

 

Mergulhar naquele mar de lembranças amargas foi demais para a morena, não conseguiu mais conter o choro que estava preso em sua garganta. Maysa, que tinha o rosto molhado pelas lagrimas, amparou Agatha. Aquele abraço que as envolveu só continha dois sentimentos; amor e proteção. Mas, do outro lado da calçada, loira e morena eram observadas.

 

Créditos musicais:

We All Come From The Goddess



Notas:



O que achou deste história?

5 Respostas para 33. Revelações II

  1. Esse Roberto é maior fdp! se eu fosse da família de Agatha eu fazia um feitiço e mandava ele para o inferno! que mala.
    Maysa tem que ajudar Agatha a se livrar desse cara e casa logo com ela.
    beijos]
    Maacoty

  2. olá autora…acompanho sua historia desde o inicio, mas só agora tomei vergonha e resolvi sair da moita. Adoro essa historia, adoro Agatha e Maya, Alana e Eva também tem meu amor e o daniel… esse é uma fofura. Agora o Roberto vamos fazer uma força tarefa e acabar com a raça desse sujeitinho, sinto que ele ainda trara muitos problemas, mas confio no amor do nosso casal. Autora e nossa bruxinha Agatha vai mostrar os seus poderes? to curiosa pra ver ela com a mão na massa. beijos

    • Oiê, Sophie!

      Como falei no coment anterior; vamos mesmo ter que montar um esquadrão para descer a porrada em Roberto! kkkkkkkkk’
      Quanto a demonstrações de poder? Rsss’
      Hum… vamos ver o que os próximos capítulos nos trará.

      Beijinhos, moça.

  3. Fala pra Maysa que eu ajudo a encher o Roberto de porrada! Rsrs vc já tinha dado indícios, mas saber que ele destruiu a Agatha dessa forma… Ódio no coração rsrs consigo entender perfeitamente a Alana.
    Sinto que esta chegando ao fim… E já rola uma dor no coração. Historia deliciosa, personagens apaixonantes e magia… Oq mais poderia querer?
    Bjos

    • Oi, menina.
      Tudo bem?

      Então… acho que vamos precisar montar mesmo um esquadrão para cobrir o Roberto de porrada! (Apesar de eu não gostar de violência, nesse caso, podemos abrir uma exceção).
      Feliz por ter a tua companhia, e sim, estamos para chegar ao fim. E já sinto aquele apertinho no coração! Rsss’

      Beijos.

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