A Magia do Amor

36. A última jogada II

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A última jogada II

– E então foi isso!

– Nossa, e vocês estão bem mesmo? Tudo completamente resolvido?

– Sim, eu contei tudo para a Maysa, e você tinha razão, ela aceitou mais facilmente o fato de sermos uma família de bruxos do que o meu passado com o Roberto.

– Hum…

– Alana, o que foi? Desde que cheguei você está estranha. Cadê a Eva? O que está acontecendo?

– Nada não, estou feliz por vocês terem se acertado, Thata.

– Sei, e até agora não fez nenhuma piadinha e nem disse que estava com a razão, como sempre. Me conta…

– Bom… __ fez um beicinho de criança que aprontou e levou bronca da mãe. – Eu estava decidida a fazer um demboski para o Roberto.

– Você o que?

– Acredite, depois de tudo que eu vi, essa seria a melhor solução. Então eu contei para a Eva, e ela não aceitou muito bem. Saiu à noite e até agora não deu notícias.

– Claro que ela não ia aceitar, ninguém aceitaria. Eu não aceito. Como você pensou em fazer algo assim? Alana, o Roberto não vale as perdas que você sofreria caso fizesse isso.

– Eu sei, mas… __ Agatha ficou pálida, os olhos abriram-se mais, a pupila dilatou e aquela sensação foi tão forte. Não, não era apenas uma sensação, sequer um aviso. Era um fato. – Thata?

– Daniel! __ foi um sussurro tremulo. Foi o medo tomando conta de cada espaço do seu corpo e mente.

* * * * * * * * * *

– Para onde vamos?

– Fazer uma grande surpresa para sua mãe e a Agatha.

– É longe?

– Já estamos chegando. Vamos brincar de uma coisa bem legal?

– O que?

– Ver quem consegue ficar mais tempo quieto. Será que você consegue?

– Mas, o que vou ganhar? Quando brinco assim com a mamãe ela sempre me dá algo. Você conhece a mamãe de onde?

Desde que aceitou aquele convite do homem misterioso com a promessa de fazer uma surpresa para Agatha e Maysa, o pequeno explorador de mundos não conseguia conter a curiosidade à cerca daqueles acontecimentos. Lembrava de ter visto aquele homem de jaqueta escura e calça jeans saindo algumas vezes da casa de Agatha sempre resmungando porque ela não o atendia. Lembrava de ter visto ele passeando pela rua onde morava, mas não lembrava dele em ocasiões onde Agatha e os familiares ou amigos estivessem presentes. Nem mesmo dele em uma visita a sua casa.

– Moço, qual o seu nome, hein?

– Roberto.

– Você não disse onde conheceu a mamãe.

– Na casa da Agatha.

– Você é amigo da Agatha? Sabe, minha mãe e ela vão se casar. Eu vou ter uma irmãzinha.

– É bom ter sonhos garoto, pena que esses não vão se realizar.

– A Agatha disse que são irmãozinhos. O que é realizar?

Roberto que nunca teve paciência com crianças, começava a perder o pouco do falso carisma que apresentou ao pequeno. Para ele, tudo naquele garoto o irritava; a voz, as ideias, as perguntas, e principalmente, aquelas afirmações de que Agatha e Maysa ficariam juntas. E certo do sucesso de seu plano, sabia que isso não aconteceria.

* * * * * * * * * *

A loira estava subindo as escadas quando o cão apareceu agitado, primeiro estranhou a presença de Tapioca dentro de casa sem Daniel. Depois notou que já estava no horário do menino deixar a brincadeira de lado e começar a se arrumar para o colégio.

– Dan, já chega de brincadeira por hora. __ estranhou o silencio. – Olha só, até o Tapioca já apareceu, vamos filho. Não me faça ir buscar você. __ nenhuma resposta.

Maysa alcançou o quintal, tudo era silencio. Uma quietude apavorante. Voltou para dentro de casa, subiu as escadas e entrou no quarto, nada também. Olhou em seu escritório, e o cão sempre lhe seguindo. Cozinha, sala, dispensa, terraço, os outros quartos… e nada.

– Daniel… isso não é hora para brincar de se esconder.  __ a única resposta foram os latidos de Tapioca.

Voltou para o quintal, olhou por cima da cerca e ele não estava no jardim. Viu o boneco com o qual ele brincava abandonado no gramado. – Esses dois, nem bem começamos algo e ela já leva meu filho para casa dela sem avisar. Atravessou o gramado, caminhou mais um pouco e bateu na porta da casa vizinha, não houve resposta. Uma angustia quis se apossar do seu peito com maior violência.

– DANIEL, CADÊ VOCÊ? __ notou que o carro de Agatha não estava e recordou que a morena havia dito que iria na casa da prima. – Ora, ela não iria levar o Dan sem a minha permissão.

Foi então que ouviu o telefone tocar.

* * * * * * * * * *

– Moço?

– Está chamando, mas parece que sua mãe não quer atender.

– Ele está me procurando, porque ela disse para não sair sem avisar. E que era para ficar só no quintal.  Falei para você que tinha que dizer a ela.

– Será que você pode calar essa maldita boca por um segundo? __ exaltou-se, assustando o pequeno.

* * * * * * * * * *

Quando alcançou o telefone e atendeu, a ligação já havia caído. Pegou a chaves do carro e já saia porta a fora quando viu três carros parando em frente a sua casa.

Dizem que coração de mãe nunca se engana, e o de Maysa não se enganou desde o momento em que viu apenas o cão adentrar a casa, porém, ela não queria acreditar na angustia que crescia cada vez mais em seu peito. Ela só queria pensar que seu filho estava brincando no quintal como qualquer outra criança ou que ele estava em segurança, nos braços de Agatha. Mas, ao ver Lucas, Olívia, Eva ajudando Alana a pegar os gêmeos no carro de Agatha, e a morena caminhando em sua direção, ela não podia mais fugir daquela dor. Entregou-se.

As lagrimas rolaram pelo rosto da loira, seu corpo tombava devagar, deslizando pela porta. Antes que alcançasse o chão, foi amparada pela morena.

– Agatha… o Dan.

– O que houve, meu amor? O que houve?

– Ele sumiu. Ele não está em lugar nenhum. Agatha, cadê o meu filho?

* * * * * * * * * *

Daniel era jogado em cima do colchão velho e fétido, nem mesmo Roberto gostava de estar ali, mas como teve que bolar sua cartada final de última hora, aquele casebre de pescadores beira-mar lhe serviria.

– Olha aqui pirralho, se você tentar fugir novamente nunca mais verá a sua mãe.

– EU QUERO A MINHA MÃE, QUERO IR EMBORA.  __ a boca do pequeno foi amordaçada com um pedaço de pano velho que o homem encontrou pelo casebre, as pernas e mãos amarradas com tiras de uma antiga rede.

– Vou tentar falar novamente com a sua querida mamãe, para o seu bem, é bom que você esteja aqui quando eu voltar.

* * * * * * * * * *

– … foi quando eu saí e vi vocês chegando. __ Maysa entre lagrimas e soluços narrava pela enésima vez o que havia ocorrido para Olívia e o delegado da pequena delegacia da cidade.

– May… __ Olívia começou, e a loira apertou a mão da morena com mais força. – Se essa ligação foi da pessoa que está com o Daniel, é possível que ela entre em contato novamente.

– É verdade dona Maysa. E pode ser também até a mãe de um coleguinha dele querendo avisar que seu filho está com eles. Aqui na cidade é tudo muito sossegado, nunca tivemos um caso de criança desaparecida. Ele deve estar brincando por aí e se distraiu. __ disse o delegado.

– Dr. Paulo, mesmo que o senhor tenha razão, isso significa que meu filho pode estar perdido por aí!

Antes que o delegado pudesse retrucar, Lucas entrou na casa informando que olhou uma boa extensão da praia e não havia sinal do garoto, sequer pegadas de criança pela areia. Olívia então pediu permissão, na verdade, foi mais um comunicado, para começar a colocar em prática o seu dom. O dom de achar pessoas perdidas. Eva estava ao celular, ligava para os pais dos coleguinhas de Daniel. Alana com seus filhos e fazendo preces aos deuses para que suas visões não se concretizassem, para que todo o Olimpo pudesse proteger àquela criança. Foi então que o telefone da casa tocou mais uma vez. Em Agatha, a certeza de quem estaria no outro lado da linha, embora ainda rogasse em silencio para que não fosse verdade. Para que tudo aquilo não passasse de um pesadelo.

– Maysa, posso atender?

– Por favor, amor. Estou nervosa demais, acho que… __ e começou a chorar novamente.

– Alô?

– Exatamente a pessoa com quem eu quero falar.

– Nunca pensei que você pudesse chegar ainda mais baixo.

– Querida, eu não tenho nada a perder. Já vocês…

– Cadê o Daniel?

– Me diga, Agatha… será que esse amor é tão forte assim? Será que ela vai te perdoar quando souber que o filho morreu porque você foi teimosa. Afinal, eu disse para você se afastar dela.

– Seu monstro, deveria ter deixado você morrer quando tive a chance! __ Olívia aproximou-se de Agatha e acompanhava a conversa, tentando encontrar algum sinal que pudesse indicar aonde eles estavam.

– Quem vai morrer é esse moleque chato. Avisa para a mãe dele, que ligarei mais tarde para deixar vocês se despedirem.

– Roberto! Espera!

– Sim, querida?

– Não faz nada com ele, eu fico com você. Eu faço o que você quiser, mas não faz nada com ele. Por favor, não faça isso. __ Maysa que prestava atenção na conversa, não conseguia acreditar que depois de tudo que aquele o tal homem já havia feito para Agatha, ele ainda estava tentando destruí-las.

– Tarde demais. Não há mais jeito para mim, e já que você não quis me ajudar, escolheu a eles…

– Não faça isso! __ já não era possível conter as lagrimas.

– Querida, toda vez que ela te olhar saberá porque o filho morreu. __ desligou.



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