A Magia do Amor

40 – EPÍLOGO

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Epílogo

Discurso do historiador e arqueólogo Daniel Limas Barreto, ganhador do prêmio Explorateur De Mondes.

– Há trinta e poucos anos, minha mãe decidiu que o melhor a se fazer por nós, depois do falecimento da minha outra mãe, era regressar a sua cidade natal. __ e sorriu ao ver alguns rostos conhecidos no auditório. – Uma cidade do interior baiano, conhecida como um pedaço perdido do paraíso. E, foi lá, onde eu realmente comecei as minhas primeiras e grandes aventuras, pois é, e vocês achando que tinha começado na faculdade. Junto com o meu grande amigo, o Tapioca… __ fez uma pausa sincera ao lembrar-se saudoso do seu fiel e inestimável companheiro. – Fomos em busca de conchas mágicas, fizemos amizade com um gato e uma coruja, participei e ainda participo das melhores festas de dia das Bruxas. E ainda que alheio aos acontecimentos de uma certa noite de Samhain, até porque eu ainda era uma criança, presenciei o nascimento dos gêmeos Anna e Luís Augusto, a mãe de vocês é simplesmente uma mulher fantástica, uma das responsáveis por me mostrar o quanto a família é importante. __ ergueu sua taça em direção aos gêmeos e os olhou com carinho. – E, com certeza o mais importante, foi nessa pacata cidade onde a minha mãe, Maysa, reencontrou o seu grande amor. Elas precisaram passar por alguns obstáculos para poder encontrar o seu final feliz e quebrar a terrível ideia de que alguns serem não merecem ser feliz. A Agatha era nossa vizinha e se tornou a minha mãe, ela é também a pessoa qual devo todo o crédito por trazer magia para nossas vidas e, nos ensinar que nem toda bruxa é má. Alias, sou da crença de que nenhuma criatura deve ser classificada como unicamente boa ou má, pois, temos maldade e bondade abrigadas dentro de nós, cada um escolhe por onde deseja seguir. __ parou, respirou com pesar. – Nesse momento, recordo de um ser que optou por caminhar pela vida com o coração envenenado pela maldade. Um homem que sempre tentava ou conseguia roubar a luz de todos aqueles que ele encontrava. Um dia, esse ser decidiu que as minhas mães não teriam felicidade e por isso, na surdina, me pegou pela mão e me levou da minha mãe. __ olhos tão negros quanto a noite arregalaram-se e por alguns instantes perderam o brilho, também lembrava daquele dia. – Mas, sem saber, o que ele realmente conseguiu foi me dar alguns minutos de boa conversa com a minha falecida mãe, Alessandra. __ o corpo já não era tão esguio e atlético como outrora, porém, continuava a carregar sua postura e beleza, inclinou-se mais um pouco enquanto segurava firmemente as mãos da morena ao seu lado. – Eu estava tão assustado e começando a perder as esperanças… __ sorriu. – Então ela apareceu para mim e conversamos. __ sorriu arteiro, era a primeira vez que falava sobre aquela experiencia. – Pareço um louco dizendo isso, eu sei. Mas, com tudo que já descobrimos ao longo desses anos, conversar com um espírito não me parece a coisa mais estranha do mundo. __ fez com que boa parte dos presentes rissem. – Ela me disse que eu deveria continuar ajudando a mãe e a Agatha a ficarem juntas e viverem o amor que sempre foi predestinado a elas. Eu que já torcia muito para isso acontecer, para que essas duas lindas e incríveis senhoras que estão sentadas bem ali… __ apontou. – Me olhando com a emoção, orgulho e amor que só as mães podem ter, ficassem juntas. Me senti como um soldado que é convocado para uma missão. E assim foi. __ suspirou. – Acreditem, deu um trabalho danado, elas não costumam admitir, mas são bem teimosas. Até para casar essas duas tive que usar um dos meus dons, enchê-las de perguntas…

“- Mas, e quando vocês vão casar?

– Não sei, amor.

– Como não sabe, Agatha? Você não pediu minha mãe em casamento?

A morena que tinha a criança em seu colo enquanto assistiam a um filme infantil, ficou em silencio e olhando a esmo, como se recordasse de algo.

– Maysa!

– Oi, amor?! __ a loira surgiu descendo as escadas.

– Você me enrolou direitinho.

– Do que você está falando?

– Há quanto tempo estamos namorando?

– Três anos…

– O Daniel acabou de me lembrar que você aceitou o meu pedido de casamento, mas que ainda não casamos.

– Dan… __ o pequeno saiu correndo na companhia de Tapioca, Duda e Aquiles para o gramado. – Ah, pode correr, depois nos acertamos, seu pestinha.

– Ele está certo. __ a loira sorriu arteira. – Você precisa é se acertar comigo. Afinal, lembro-me perfeitamente de todas as vezes que você ficou chateada comigo porque eu não tinha lhe dado uma resposta para o seu pedido, e depois que eu fiz oficialmente o pedido, você me enrola, é isso mesmo?

– Meu amor, de certa forma, já estamos casadas.

– Ora, Maysa. Não se atreva a me enrolar ainda mais. __ a morena mantinha o semblante sério.

– Eu jamais teria coragem de enrolar uma bruxinha tão poderosa, se bem que você toda bravinha me faz ter umas vontades… __ aproximou-se um pouco mais de Agatha.

– Não estou brava. __ Maysa a enlaçou pela cintura e acabou com a distância entre os corpos. – Você…

– Eu? __ beijou-lhe o pescoço.

– Não pod… pode ficar me enrolando assim…

– Não estou, é meu desejo ser sua esposa, sempre foi. Você sabe disso.

– Então, o que estamos esperando? __ a loira parou a provocação para que pudesse mergulhar naquele par de olhos de cor betume.

– Nada. Não estamos esperando nada, se você quiser, podemos nos casar amanhã. O vestido eu já tenho.

– Você está falando sério?

– Agatha, esses anos de partilha, aprendizado, conversas e resgate de nossa cumplicidade, só me deram ainda mais certeza de tudo que eu já queria. Meu amor, não estou a te enrolar, só esperando o momento certo para que pudéssemos marcar a data, mas já que o Dan quis dar um empurrãozinho. __ sorriu. – Bom, eu quero me casar contigo, eu quero passar todos os dias da minha vida ao teu lado, ah, e também quero um bebê nosso. Então… vamos nos casar. Você só precisa me dizer qual a data.

A loira não estava brincando, a única demora para a celebração daquela união foi pelo aguardo dos pais de Agatha, na manhã seguintes, elas estavam trocando alianças.

 A cerimônia foi realizada por Alana no jardim da casa da morena, a manhã era de outono, e logo mais viria a noite de Samhain. Um juiz de paz estava presente para que pudesse oficializar civilmente aquele enlace. Daniel levou Aquiles no colo, na gravata do gato, estava o par de alianças. Duda piava do alto, de alegria, ao ver as noivas trocarem o primeiro beijo após o: já podem se beijar. Tapioca tentava roubar alguns dos docinhos que ornamentavam as mesas. Parentes e amigos estavam presentes, até os avós de Daniel fizeram questão de comparecer, tiveram a oportunidade de conhecer Agatha semanas antes e ficaram encantados pela morena. Todos estavam felizes, não por elas, mas com elas.”

– Vocês devem estar se perguntando porque estou contando tudo isso, ou porque eu não estou a falar da minha esposa, que está sentada bem ali, ao lado delas e grávida do nosso primeiro filho. Porém, a resposta é muito simples, meus caros. __ olhou para a esposa em contemplação, ela lhe sorriu de volta com todo o amor que poderia ter. – Nessas minhas aventuras pelo mundo, muitas vezes me encontrei em situações difíceis, me vi perdido, tão envolto em um emaranhado de perguntas sem respostas, e o que mais queria nesses momentos era voltar para o meu lar. Para o colo das minhas mães, para brincar com a minha irmãzinha, a Christal, e lhe contar histórias. __ sorriu para a jovem que o olhava fascinada. – Minha irmã, não sei se existe no mundo uma pessoa que foi tão aguardada e amada desde o primeiro momento em que soubemos que viria, quanto você.

Christal tinha os mesmos olhos de verde-mar, como os de Maysa, carregados de brilho e vida, mas o tom da pele e a cor dos cabelos eram mais algumas das características que tinha de Agatha. Depois de tanto insistir, um ano após o casamento de Agatha e Maysa, Daniel recebeu a notícia de que finalmente teria uma irmã. Lucas foi o escolhido como doador, os óvulos de Maysa e Agatha quem gerou. Christal, nome que Daniel escolheu, nasceu de um parto natural e em casa, no final de uma tarde do mês de abril, ah sim, ela era uma ariana, e das geniosas. Mostrou isso desde o primeiro momento em que chegou ao mundo. A família estava completa.

– Enfim, nesses momentos, em que eu me encontrava corrompido pela saudade, eram esses rostos, essas histórias, essas aventuras que vivi quando criança, que me davam impulso, me faziam continuar. Se hoje recebo este prêmio, tenho a obrigação de lhes informar que ele não é apenas pelo fato de eu e minha maravilhosa equipe termos descoberto cidades inteiras submersas ou indícios de civilizações mais antigas que os egípcios vivendo no continente africano. Ou ainda por termos provado a existência de seres mitológicos. Esse prêmio, ele é, principalmente, pelo amor e apoio qual sempre tive de todos estes que citei aqui. Infelizmente, alguns já não vivem mais entre nós… __ recordou-se de Alessandra, dos avós, e com muito pesar, de Lucas e Olívia que acabaram por falecer em um acidente. – Porém, serão eternos em nossos corações. E a vocês: mães, maninha, minha bela e amada esposa, Larissa. Tia Alana e Eva, primos… amigos, conhecidos e colegas de profissão, muito obrigado. Esse prêmio é tão de vocês quanto meu.

Loira e morena tentavam conter as lagrimas, inutilmente, enquanto juntavam-se a plateia que o aplaudiam de pé. Daniel ainda tinha aquele mesmo olhar expressivo e sapeca, o sorriso contagiante, algumas marcas de expressão já começavam a se formar próximo aos olhos e na testa, uma mexa de cabelo grisalho contrastava com os fios castanhos, porém, aquele ar quase que infantil e sonhador, continuava. O grande historiador e arqueólogo, seria para sempre o pequeno e amado explorador de mundos que se jogava no colo das mães para poder ser girado no ar e cair sobre elas naquele sofá do terraço. E, seu espírito estaria sempre pronto para mais uma aventura.



Notas:



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