A Magia do Amor

5. Recordando o passado

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Recordando o passado
 

– Eu quero conhece-la! __ declarou imperativamente.

 

Agatha ergueu a sobrancelha enquanto continuava cortando as frutas que iriam ser desidratadas. Respirou fundo e tentou esconder o sorrisinho.

 

– Conhecer quem?

– Prima, não se faça de idiota. Como quem? A mãe do menino, e antes que você continue se fazendo de tonta e me pergunte que menino, eu já vou logo te respondendo, esse menino pelo qual você está completamente encantada. __ Alana passou a mão sobre a enorme barriga, com movimentos que indicavam uma pequena massagem para que os gêmeos se acalmassem. – Você fala tanto desse menino, mas fica evasiva quando o assunto é a mãe.

– Pelo simples fato da mãe não ser tão interessante quanto o filho. A única coisa que a Maysa tem de interessante é ele. __ falou em tom distraído e falho. – Se a devoção dela pelo filho não fosse tão explícita, provavelmente eu nem saberia quem era a pessoa que está morando na casa ao lado.

 

Não que Alana tivesse acreditado naquelas palavras, ao contrário, elas apenas confirmavam o quanto Agatha estava tentando fugir daquele assunto. O nome “Maysa” soou familiar, mas Alana optou por sondar um pouco mais.

 

– É bonita?

– Se comparada a quem?

– Com um terrível ogro que devora criancinhas?! __ gargalhou ao relembrar do que a prima havia lhe contado. – Aí Thata, fale de uma vez!

– Tudo bem, você não me deixará em paz mesmo. Ela nunca foi feia, mas agora, tem um corpo meio atlético, sabe? Só que nada em exagero, é como essas moças que costumam correr pela praia de manhã. Mas, o que sempre me chamou a atenção nela, já que você me obriga a opinar sobre isso, são os olhos. Ela tem um olhar tão intenso, chega a ser intimidador. __ rindo com aquela declaração, Alana apoiou o queixo sobre as mãos.

– Conta mais, me pareceu muito interessante.

– É sério que estou ouvindo isso de uma mulher que está prestes a trazer ao mundo duas crianças?

– Não tenha dúvidas! __ riram.

– Pois bem, é como acabei de dizer, se há algo de bom para ressaltar sobre o físico dela, continuo afirmando que são os olhos. E quando ela olha para o filho, eles ficam ainda mais lindos, em contrapartida, quando olham para mim, enchem-se de desconfiança e acredito que magoa também.

– Oxe! Que presepada é essa? Magoa, como assim? O que eu perdi?

– Alana, é a Maysa. Você está tão interessada em saber se ela é ou não gostosa, que ainda não juntou as peças.

– Para tudo! Aquela Maysa? A filha da Dolores? Sua melhor amiga que se declarou? A loira gostosa, mãe do garotinho é a Maysa… nossa, a filha do seu Álvaro, lembra que ele dava um monte de doces para gente e nos levava para o cinema? Saudades disso.

– Sim para todas as perguntas.

– Que merda, hein?! Agora eu entendo o porquê de toda essa tensão quando você fala dela. Já conversou com ela? Eu realmente preciso ver essa mulher!

– Nem pense, deixe-a lá. Ela não me reconheceu, quero dizer, até acho que reconheceu, mas prefere fingir que não lembra de mim, não quero mexer nisso. Deixemos o passado no passado, certo Alana?

– Isso é sério? Como deixar o passado no passado, se ele, melhor, ela veio morar na casa ao lado da sua?

– Tenha dó Alana, você não tem noção de como anda a minha cabeça.

– Precisamos ligar para o Lucas e contar isso.

– Não! Ele está em lua de mel, deixe seu irmão curtir a viagem. E você não deve ficar pensando nisso também, é preciso se cuidar, é nosso primeiro bebê.

– Bebês, Thata… bebês. __ corrigiu Alana, pegando a mão de Agatha e deixando que ela sentisse os chutes que os gêmeos davam para mostrarem que estavam acompanhando toda a conversa.

– O que a Eva acha dessa história de você me querer como acompanhante na hora do parto?

– Prima, eu já te disse, a Eva confia em você tanto quanto eu. Sem contar que quando ela chegou, isso já estava decido. __ era um acordo entre as primas, Agatha estaria presente no momento do nascimento dos filhos de Alana, assim como o contrário também ocorreria.

– Você teve tanta sorte de encontrar alguém que te compreende, aceita e ainda embarca nas tuas loucuras.

 

Alana sempre quis ter filhos, o desejo nasceu na adolescência, embora não gostasse da ideia de ter que ir para cama com um homem para tornar seu desejo real, já que queria gerar uma criança e não adotar. Ela ainda não sabia que existiam métodos não tradicionais que possibilitaria e tornaria o seu sonho uma realidade. Como também não compreendia a sua total falta de interesse por garotos, houve uma fase na sua vida em que ela afirmava ser assexuada, claro que isso só durou até ela conhecer sua primeira namorada, depois veio a segunda, terceira, quarta… e mais alguns casinhos, até que por fim, conheceu a Eva.

 

– Eu sei, amar é a melhor coisa que me aconteceu. Mas, amar e ser amada por ela… __ o sorriso e a suavidade de Agatha desapareceram. – Thata, o que houve com você e o Roberto já faz tanto tempo.

– Não penso mais nele, mas na forma como tudo acabou.

– Ele foi um filho da puta, não merecia você! Até pensamos em nos vingar em seu nome, mas sabemos o quanto você é correta e segue as regras, mas eu e o Lucas tivemos que nos segurar para não fazer nada contra ele.

– Vocês nunca gostaram dele.

– Não mesmo, um típico cafajeste, não há perdão para o que ele fez!

– Será que há perdão para o que eu fiz? Toda vez que me lembro daquele dia, automaticamente recordo que o Roberto fez comigo o mesmo que fiz com Maysa. Deve ter sido a lei do retorno fazendo o seu trabalho.

– Não faça isso, nem ouse comparar. Aquele crápula, desprezou você e o filho que você estava esperando, abriu mão de todo o amor que você sentia por ele e ainda pisou em você quando descobriu que havia perdido o bebê, por culpa dele.

– Foram dias sombrios, achei que ia morrer com tanta dor. Mas, também não fiz por menos com a Maysa, tripudiei do sentimento dela, zombei do amor que ela me disse sentir e ainda chamei aquilo de aberração.

– Você estava com medo, não sabia como reagir.

– Não justifica as palavras que usei. Acho que é por isso que não tive coragem de dizer que lembro dela, não quero trazer o passado de volta, não suportaria ouvir o quanto eu a feri.

– Thata, você também sofreu, chegou a procurar por ela, mas já era tarde. Não se compare ao traste do Roberto, você teve medo. E o medo nos leva a dizer e fazer muitas besteiras, agora aquele infeliz dos infernos, ele foi cruel, fez para machucar, não era medo por sentir amor, o que ocorria era justamente a falta de amor. Uma pessoa como ele, com certeza nunca conheceu o que é amor, primuxa. Vem cá, me abraça, garanto que tudo ficará bem.

– Como pode garantir?

– Porque essa é a minha função, saber das coisas. Sem contar que depois da tempestade sempre vem o sol, e você sabe que estou certa.

– Sim, você sempre está.

– Você já tem planos para o Natal?

– Não, ainda está longe.

– Quatro meses passam rápido e gostaríamos que você fosse passar pelo menos uma parte da noite conosco. Eva está tão empolgada, programando tudo! __ Agatha riu e saiu do abraço para colher algumas flores.

– E eu não perderia isso por nada.

– Ótimo, a família estará reunida! __ Alana inclinou-se um pouco para ter certeza se estava vendo direito, era uma criança e um cãozinho passando pela cerca das flores. Endireitou-se, não estava vendo coisas. – Temos visitas!

 

Não seria exagero dizer que os olhos da morena brilharam ao dar-se conta de que a visita se tratava de Daniel.

 

– Meu pequeno explorador de mundos! __ falou uma Agatha empolgada, mas logo olhou na direção da outra casa. – Sua mãe sabe que você está aqui?

– Sim, eu pedi a ela. __ Agatha lhe afagou os cabelos e o beijou a testa.

– Essa aqui é a minha prima Alana, ela já sabe que você é meu novo vizinho.

– Ah, você que tem três cães, a Agatha me dis… __ e o interesse de Daniel foi instantaneamente despertado. Seus olhinhos curiosos deram zoom e focalizaram, encantados, na barriga de Alana. – Você tem um bebê aí dentro?

– Tenho sim, mas na verdade são dois bebês.

– Dois? Como você sabe?

– Porque o médico me contou. E também porque eles chutam e se mexem o tempo todo.

 

Houve alguns segundos de silêncio, a criança estava tão admirada com aquela novidade que até esqueceu da sua tagarelice costumeira. Encantada com toda aquela fofura, antes mesmo do pedido ser feito, Alana pegou a mão do pequeno e levou-a até sua barriga.

 

– Está sentindo?

– Sim! __ realmente, aquele acontecimento parecia ter hipnotizado o pequeno, suas palavras eram sucintas, nele só havia espaço para contemplação. – Eles vão chegar logo?

– Tomara que sim!

 

As primas se divertiram bastante na companhia cheia de energia do pequeno, enquanto caminhavam pelo jardim, ou melhor, enquanto elas andavam e o Daniel ia saltitando e tropeçando até chegarem ao carro de Alana.

 

– Eu não tenho nenhuma prima, é bom?

– Sim, é muito bom! __ quem respondeu foi Agatha. – Alana, Lucas e eu, somos bastante unidos, somos como irmãos.

– Eu não tenho primos, talvez eu tenha um irmão ou uma irmã. Mas, a mamãe disse que eu já valho por muitos.

– E tenho certeza que ela está corretíssima. __ Alana concordou enquanto Agatha ria.

 

Alana sentiu-se observada e não era por Duda, afastou os cabelos do rosto e olhou para cima. Emoldurada pela larga janela do segundo andar da casa vizinha, estava uma mulher, parada com uma caneca vermelha nas mãos. Com certeza era a mãe de Daniel, ela era mais bonita do que a sua prima deixara revelar e essa simples omissão fez com que Alana sorrisse, ergueu a mão e acenou amigavelmente. Depois de um instante de hesitação, Maysa correspondeu ao aceno.

 

– Aquela é a minha mãe, ela vai trabalhar lá em cima.

– E com o que ela trabalha? __ Alana perguntou, estava curiosa para saber sobre o que havia acontecido com Maysa depois que amizade com Agatha foi desfeita.

– Ah, ela escreve histórias.

– Que interessante, deve ser divertido ter uma mãe escritora.

– Sim, às vezes eu a ajudo. Agora tenho que ir porque hoje é o meu primeiro dia de aula e tenho que me arrumar. __ Agatha abaixou para dar um abraço e dizer que ele podia voltar quando quisesse.

– Tchau, tchau bebês.

 

E o pequeno saiu correndo pelo gramado e Tapioca o seguindo.

 

– Não lembro a última vez que fiquei tão cansada e tão encantada, essa criança é um furacão de fofura. Agora entendo porque você anda toda babona. __ sorriu para Agatha e balançou as chaves para chamar a atenção da prima. – E a mãe não é de se jogar fora, ah, eu no meu tempo de solteira, prima você é uma boba!

– Eu nem vou me dar o trabalho de lhe responder.

 

Riram, Alana bem sabia que depois de Roberto a prima não se envolvera com mais ninguém e sentia-se bem assim. Pegou as flores, entrou no carro, engatou a marcha ré, deu tchauzinho e foi embora.

 

Agatha passou o restante da manhã entregando seus produtos. Ela gostava do seu trabalho, o negócio começara cinco anos atrás, satisfazia suas necessidades e lhe permitia o luxo de trabalhar em casa, podemos dizer que a morena é uma espécie de bruxinha boa; abandonou a faculdade de medicina para estudar as plantas, as flores e todas as variedades de ervas que a natureza pode oferecer. Ela sabe preparar essências, perfumes, óleos para banho e massagem, e até remédios, com perfeita maestria e resultados garantidos. Provavelmente, se ainda vivêssemos em séculos passados, ela corria o risco de ir parar na fogueira, e sempre que pensava nisso, caia na gargalhada. Ora, onde já se viu, queimar pessoas por elas simplesmente saberem fazer bom uso de uma planta?

 

Já era tarde quando ela voltou para casa, decidiu que trabalharia em seu jardim, sentiu o cheiro da mudança de clima e aproveitaria para semear algumas sementes, trocar as novas mudas de ervas. Aproveitaria a chuva que iria cair para dar ainda mais cores e cheiros ao seu jardim, não que tivessem anunciado que iria chover, mas ela sabia. Ela sempre sabia.



Notas:



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Uma resposta para 5. Recordando o passado

  1. Êita que essa pessoa já gosta de escrever do jeito mais fácil da gente se viciar.
    Já começou na pressão sem mi mi mi.
    Gente, esse Daniel é uma criança muito fofa, viu.
    Da vontade de apertar ele todinho. kkkk
    Só mesmo a Alana para abrir os olhos e o coração de Agatha.
    Beijos Afrodite!!
    Cidinha.

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