A Magia do Amor

7. Desatino: Cheiro de flores e mar

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Desatino: Cheiro de flores e mar
 

– Afrodite, o que foi isso? __ Agatha ainda recordava do que aconteceu na cozinha de sua casa minutos atrás enquanto procurava algo para passar no corte. – O que foi aquele olhar? Me deixou completamente sem folego. Não, nem ouse a pensar nisso! Bom… talvez tenha sido no momento em que ela tocou minha coxa de forma tão delicada, ou foi quando a voz dela ecoou dentro de mim, e eu tenha me sentido atraída. Tudo bem, excitada! __ admitiu. – Mas isso não é um crime, temos uma história. Não Agatha, não fala isso, a Maysa é mãe do Daniel e é dessa forma que você precisa vê-la. Pare com esse frisson de adolescente, afinal, você já adora a presença daquele menino em sua vida, não coloque isso a perder! __ concluía o pensamento quando finalmente encontrou o frasco que procurava, um antisséptico natural.

 

– Oi, Agatha! __ aqueles olhinhos a observava, quaisquer que fossem os pensamentos de Agatha, eles desapareceram só de ver aquele sorriso travesso.

– Meu pequeno e lindo explorador de mundos, vamos entre! Me conte tudo, como foi no colégio?

– O nome da minha professora é Rosa e ela quis me contar historinhas, mas só a mamãe pode fazer isso, então ela é legal se continuar não contando historinhas para mim. Eu conheci o Enzo, o Davi, a Laurinha e outras crianças, e na hora de ir para o parquinho…

– Nossa! Acho melhor você se sentar, antes de fazer o relatório da tarde.

– Não posso sentar, porque estou escondendo uma coisa aqui.

– Sério? __ Agatha já tinha percebido, mas não seria ela quem estragaria o suspense que a criança estava gostando de fazer. – Por favor, me diz o que você tem aí?

– Um presente! __ a criança mostrou as mãos que seguravam um pequeno vaso com flores. – Na hora que fomos para o parquinho, escolhemos flores e plantinhas para trazer para casa. Eu escolhi dois, um para mamãe e outro para você.

– Para mim? __ os olhos da morena já estavam marejados quando Daniel lhe entregou o mimo. – São lindas, meu pequeno príncipe.

– São cris… cris… cris alguma coisa.

– Crisântemos! __ foi quase um murmuro embargado pela emoção.

– Isso, esse nome aí mesmo que você disse. Eu não sei todos os nomes das flores ainda.

– Sim, mas eu vou te ensinar.

– Para mamãe eu trouxe gérberas, iguais essas do seu jardim, porque são as flores que ela mais gosta.

– Sim, ela gosta de gérberas cor de violeta.

– Como você sabe?

– Tenho poderes mágicos! __ e riu ao ver o pequeno arregalar os olhos cheios de curiosidade e empolgação ao obter aquela informação.

– Agatha? A mamãe me contou o que Tapioca fez, você está brava comigo?

– Não, meu amor. __ o pequeno olhou para os arranhões do braço e viu o corte na coxa, abraçou Agatha.

– Desculpa.

– Está tudo bem, meu amor.

– A mamãe brigou com o Tapioca, ele ficou com medo e fez xixi em cima do lençol. Ela correu atrás dele, mas não conseguiu pegá-lo, agora ela disse que vai fazer uma casinha para ele no quintal e que eu e o Tapioca vamos morar nela.

 

A morena não conteve a gargalhada, pegou o menino no colo enchendo de beijos e finalizou com um abraço. Tinha certeza de que Daniel e Tapioca se divertiriam bastante se morassem em uma casinha para cachorro. Mas, anunciou que o ajudaria a treinar o cão, antes que ele destruísse toda a casa.

 

– Vou preparar um lanche e você termina de me contar como foi a sua tarde.

– Não posso, daqui a pouco tenho que ir jantar. Quer ir comigo lá em casa?

– Hum, que tal outro dia?

– É porque você não gosta da minha mãe? __ fez beicinho e os olhos ameaçaram marejar. – Você está brava com o Tapioca, né?

– Não, meu amor. __ sentiu o coração apertar com aqueles olhinhos tristes. – Claro que eu gosto dela, quero dizer, não nos conhecemos tão bem quanto antes… digo, é… __ o lapso de linguagem é uma maldição, a morena abriu um sorriso. – Tudo bem, vamos até a sua casa, mas não poderei demorar.

 

Em casa, Maysa encontrava-se na cozinha, tinha acabo de passar em frente a uma janela e parou por alguns minutos para olhar em direção da casa ao lado. Recordou de como a morena havia ficado brava, se tinha alguém que poderia desmanchar aquela feição séria e irritada, seria o Daniel. Sorriu ao lembrar de como era a amizade delas e por alguns instantes considerou a hipótese de que, pelo filho, poderia fazer o esforço de deixar as magoas do passado trancafiadas e conviver com Agatha sem deixar que tudo ficasse tão tenso entre elas.

 

Abriu a panela, a couve-flor e as batatas estavam prontas, começou a amassa-las, iria fazer um purê. Era um dos pratos favoritos do filho, não importava o sabor, desde que fosse purê.

 

Maysa gostava de como sua vida ficou após a maternidade, até se sentia culpada por ter dito inúmeras vezes para a Alessandra que a ideia de ter um filho era loucura. Depois que o Daniel nasceu, ela não consegue se ver desempenhando papel melhor, não que ser mãe fosse apenas desempenhar um papel, mas se tornou melhor nesse quesito do que por exemplo, ser escritora. Amava tudo, das obrigações e cansaços às alegrias e compensações, não era tão fácil como parecia, mas ver o brilho nos olhos do filho, vê-lo desenvolver-se cada vez mais, tanto emocionalmente quanto fisicamente, fazia seu peito inflar de tanto orgulho.

 

Enquanto acrescentava uma generosa porção de queijo à mistura, a loira ouviu os passos do filho pelo corredor. Sorriu já imaginando a festa que faria quando soubesse qual o cardápio para o jantar.

 

– Estamos evoluindo. Nem precisei te chamar, parabéns! __ e virou-se lambendo o dedo que estava melado com um pouco do purê. Agatha estava estática na porta, um pouco atrás de Daniel e fascinada com a visão que tinha. – Olá vizinha…

– Olá Maysa, não queria incomodar. __ sorriu sem jeito. – Mas, o Daniel convidou e eu não soube negar.

 

Fez-se um pouco de silêncio, a loira finalmente se deu conta de que estava usando a parte debaixo de um avental quadriculado, amarrado em sua cintura e um pano de pratos sobre o ombro. Foi incrível a velocidade com qual ela tratou de retirá-los.

 

– Ela pode entrar? __ o pequeno já arrastava Agatha pela mão.

– Claro, fique à vontade. Não repare muito nessas caixas, ainda não terminei de desempacotar as coisas.

– Sem problemas.

 

Agatha entrou, tinha curiosidade de saber em como a casa estava. Se continuou igual por dentro, já que a parte externa havia sofrido algumas modificações. O ambiente parecia mais claro, talvez pelo fato das janelas ainda não terem cortinas. Algumas caixas acumulavam-se pelos cantos, porém, todas organizadas. A cerâmica ainda era a mesma, mas as paredes da cozinha perderam o tom azul para ganhar um suave tom de lavanda, decerto, aquela escolha foi de Maysa. A geladeira era uma galeria de arte, assim como a parte branca do fogão e as portas dos armários, com certeza, as travessuras de Daniel com canetas coloridas, e o Tapioca dormia pacificamente em um cantinho.

 

– Essa casa é mesmo muito linda! __ comentou em um suspiro, recordando das inúmeras vezes que esteve ali, quando ainda era amiga de Maysa e dona Dolores fazia doce de leite em uma enorme panela, deixando a cozinha com o cheiro do doce.

– O meu quarto tem uma janela no teto e dá para ver o céu, também tem um monte de brinquedos e podemos desenhar, quer ver?

– Filhote, depois você leva a Agatha lá em cima, agora está na hora de lavar as mãos para jantar. __ regras são regras, horários são horários e Maysa tratava de ensinar isso ao filho, ele precisava entender que existia momento para cada coisa.

– Não vá embora, por favor. __ fez beicinho ao olhar para Agatha e sumiu pelo corredor.

 

Maysa sorriu, então seu plano havia dado certo. Não que tivesse enviado o filho com alguma exigência, foi o garoto quem pedirá para ir até a casa da vizinha, mas sabia que Agatha não iria resistir a um pedido de desculpas feito pelo pequeno.

 

– Aceita um vinho, uma água, talvez suco? __ a loira ofereceu.

– Pode ser uma taça de vinho, adorei os desenhos. __ apontou para a geladeira, fogão e armário.

– São as obras de artes do Dan, a primeira vez que o peguei fazendo isso, ele se justificou alegando que queria dar mais cor para geladeira.  __ sorriu. – Eu fiquei muito brava, mas acabei gostando. Depois ele desenhou no fogão, e agora são as portas do armário que sofrem. __ segurava a garrafa e lembrava que as taças ainda estavam dentro da caixa. – Será que você se importa de tomar Cabernet em uma caneca?

– Será uma experiência divertida! __ Maysa serviu o vinho. – Aos recomeços, certo?

– Sim, aos recomeços. __ a loira brindou e levou a caneca a boca para disfarçar o sorriso confuso e inseguro. – Com o que você trabalha, Agatha?

– Bom, era para eu ser médica, mas não aconteceu.

– Sinto muito. __ foi sincera.

– Não sinta, abandonei a faculdade por conta própria. Queria aprender sobre as plantas, sei que parece estranho, mas foi isso. Sou Herbalista, e me sinto realizada fazendo isso.

– Herbalista?

– Uhum… é quem estuda as propriedades medicinais das ervas, mas é uma área abrangente, não se estuda apenas plantas, mas também os fungos, abelhas, minerais…

– Então você se encontrou.

– Ainda falta algumas coisas para que esse encontro comigo mesma se torne pleno.

– Ah! __ a loira olhou para o teto e depois para a caneca com vinho, tomou mais um gole. Maysa não soube como aconteceu, mas de repente estava mais próxima de Agatha. – E os arranhões? __ com suavidade passou as pontas dos dedos sobre os arranhões do braço. – Ainda doem?

– Ficaram ardendo por um tempo… __ engoliu a seco. – Mas, não doem mais. __ sentiu um arrepio percorrer o corpo quando a loira fechou os olhos e aspirou o ar com certa satisfação.

– Você está com cheiro de flores e mar.

– É o remédio que passei no corte, feito à base de flores e alguns segredinhos. E, estamos perto do mar.

– Não é isso. __ os olhares se encontraram. – Você tem sempre esse cheiro, que por sinal é delicioso. __ a voz foi um sussurro fraco e embargado por puro desejo.

 

Se alguém perguntasse para Agatha como ela foi parar encostada contra a mesa, ela não ia saber responder. Mas, saberia dizer que sentir o corpo de Maysa tão próximo ao seu, fez seu corpo aquecer de maneira instantânea. Aquele par de esmeraldas brilhantes estavam paralisados nela, a boca rosada tão perto da sua, a morena nem precisa fechar os olhos para recordar o sabor que tinha.

 

Verdade seja dita, Agatha queria sentir, mais que tudo, aquele beijo outra vez. Respirou fundo, sentindo o último resquício de sanidade esvair-se e devagar, levou uma mão até a cintura da loira, a puxando com delicadeza, fazendo-se perder o distancia que existia entre elas, a outra mão foi ao rosto, fazendo um carinho. As respirações misturaram-se, o beijo estava anunciado, os corpos colados sentiam o calor que outro exalava e os lábios caminhavam para um encontro quando se fez ouvir os passos de Daniel descendo as escadas.

 

Créditos musicais:

Eu e Ela – Vander Lee (https://youtu.be/W3fSV1eaAxs)



Notas:



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Uma resposta para 7. Desatino: Cheiro de flores e mar

  1. Uiiiiiii…. Inflamou… Essas duas …
    Esse final foi tipo awn, Dani tinha que aparecer logo agora!!

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