A Magia do Amor

8. Certezas incertas

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Certezas incertas
 

– Preciso ir embora! __ a morena entregou a caneca para a loira.

– Agatha… __ quase não conseguiu pronunciar o nome da vizinha.

 

Maysa afastou-se de Agatha como se aquele calor que elas sentiam, a tivesse queimado. Não tiveram a coragem de pronunciar uma palavra sequer, mas estavam visivelmente surpresas pelo que quase acontecera, principalmente, pela intensidade daquele momento.

 

A loira se perguntava mentalmente o que estava fazendo, como podia ser tão fraca e ir contra tudo que ela havia prometido a si mesma. Não aceitava tal desatino, talvez tivesse algum problema com cozinhas, como podia quase beijar a mesma mulher duas vezes no mesmo dia, e com o Daniel prestes a aparecer. E por que logo a Agatha?

 

– Maysa, eu…

– Minhas mãos estão bem limpinhas. __ completamente alheio a tensão que havia ali, o pequeno passou pelo corredor e foi mostrar as mãos a mãe, para que a mesma conferisse. – O que vamos comer?

– Eu fiz purê.

– Você fez purê? Agatha a mamãe faz o melhor purê do mundo. Janta com a gente? Ela pode ficar, mamãe? Por favorzinho.

– Ela disse que precisava ir, filhote.

– Sim. __ fez um enorme esforço para esboçar um sorriso tranquilo. – É muita gentileza sua me convidar, mas ainda preciso ir até a fazenda do meu primo.

– Agatha, me leva com você um dia desses? Quero ver os animais. __ a morena apenas assentiu.

– Não está muito tarde para fazer uma viagem? __ a loira pareceu preocupada, embora não quisesse demonstrar isso.

– Fica pertinho, menos de trinta minutos. __ a morena abaixou-se dando um beijo na testa de Daniel. – Obrigada pelas flores. __ deu alguns passos para trás, olhou para a loira, ainda sentia o corpo queimando. – Obrigada pelo vinho, boa noite Maysa.

 

Estaria exagerando se dissesse que Agatha saiu correndo, mas posso afirmar que ela estava fugindo, pois sabia que acabaria cometendo uma loucura se continuasse no mesmo ambiente que Maysa.

 

Chegou em casa, certificou-se de que Duda e Aquiles estavam alimentados, trocou de roupa e se apressou para ir até a fazenda de Lucas, não que houvesse real necessidade de ir conferir todos os dias se os animais estavam sendo bem tratados, mas desejava um lugar distante da loira e calmo o suficiente para pensar. Riu, ao pensar em como Alana reagiria quando soubesse o que aconteceu, ou pior, o que não aconteceu.

 

– Não por falta de vontade, Agatha… não por falta de vontade! __ pensou enquanto pegava as chaves. – Você precisa esclarecer seus pensamentos, precisa saber o que fará. Mantenha a calma e chegue a uma conclusão. Não entre em pânico. __ voltou para desligar as luzes que esquecera acesas. – Oras, deve ser apenas uma atração, a Maysa não é mais aquela menininha de anos atrás… não é apenas uma atração, é algo agudo, urgente, forte, profundo e intenso. Pelos deuses! Realmente preciso pensar sobre isso. __ entrou no carro e saiu.

 

Não demorou para que a morena chegasse na fazenda, foi comunicar sua presença ao caseiro, pois não queria correr o risco de ser confundida com algum larapio e sofrer as consequências, depois conferiu o celeiro, o estábulo e os outros ambientes, por fim foi até o escritório do primo e pegou uma das garrafas de vinho que o rapaz mantinha escondidas e voltou para a varanda.

 

Foi quase que um ritual, apagou as luzes e acendeu algumas velas, abriu a garrafa de vinho e preencheu a taça com o liquido vermelho, aspirou aquele aroma e deixou um suspiro escapar. A noite estava deslumbrante, embora algumas nuvens cinzas começassem a se formar, ainda era possível ver as estrelas. E os pensamentos da morena brincavam de vai e vem dentro de sua cabeça.

 

– Fala sério, eu sou uma mulher adulta. Totalmente livre para cogitar a ideia de ter uma relação mais íntima com a Maysa, afinal, ela também é livre e adulta. __ sorriu desanimada. – Para isso teríamos que conversar sobre o passado, não acredito que ela possa me perdoar. __ tomou um gole generoso do vinho. – Mas, supondo que perdoe, poderíamos sim ter um relacionamento. __ sorriu arteira. – Como gostaria que aquele beijo de dez anos atrás tivesse acontecido nos dias de hoje, com a forma que passei a enxergar as coisas, tudo seria tão diferente. Por que demorei tanto para aceitar meus sentimentos?

 

O embate entre razão e emoção deixava claro o quanto Agatha estava confusa com tudo que estava acontecendo. A vida que levava antes de conhecer Daniel e descobrir que Maysa era a mãe do garoto, aquela vida, parecia fazer parte de dias tão distantes e calmos.

 

– Ah Agatha, não se deixe levar tanto pelas emoções, você bem sabe o quanto relacionamentos podem ser devastadores. __ a imagem de Roberto se fez em sua mente e o gosto do vinho se tornou amargo. – Principalmente quando as pessoas são incapazes de aceitar as outras pelo que elas são, ou pior, quando fingem aceitar só para tirar proveito e depois te desprezar e humilhar.

 

Deixou que Roberto saísse de sua mente como onda que vai se desfazendo ao longo da areia, logo deixou um outro sorriso escapar, tinha certeza de que Maysa recordara dela, antes dos acontecimentos daquele dia, até considerava a ideia de entrar naquele jogo, mas naquele momento, conversar sobre o passado era algo que se fazia necessário.

 

– Será? Será que eu quero realmente arriscar mexer no passado e perder o presente? Seria compreensivo se a Maysa nunca mais quisesse me dirigir a palavras, mas tem o Daniel, e eu já gosto tanto daquele garotinho. __ tornou a encher a taça com o vinho. – Não sei se quero correr o risco de perder essa amizade só porque me sinto atraída pela mãe dele. __ engoliu o vinho como se ele lhe arrancasse todas as verdades. – Não posso me enganar, busquei pela Maysa desde o momento em que percebi que viver sem ela era a pior sensação do mundo, mas ela já tinha desaparecido. Agora que voltou, será que estou pronta para pagar o alto preço de um envolvimento emocional desse nível? Posso arriscar, mas se não der certo, todos sairão feridos.

 

Tomou o restante do vinho em silêncio, as confusões permaneciam em sua mente. O embate não havia acabado e ela sabia disso, mas ao menos uma decisão ela havia tomado, ainda que incerta, optou por acreditar que o melhor para todos, seria ela continuar a sua amizade com Daniel e manter uma distância segura de Maysa.

 

Créditos musicais:

Pessoa – Marina Lima (https://youtu.be/TDrp_k8g7QY)

 


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Notas:



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Uma resposta para 8. Certezas incertas

  1. Essa história já ta me matando.
    O pior é que sinto que ta na minha cara as respostas de tudo,e eu não consigo ver.

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