A Organização

Capítulo 15 – Fugindo do inimigo

Espremiam-se nas paredes do fundo do véu da cachoeira. Mal conseguiam enxergar do lado de fora e possivelmente os captores também não as enxergariam, o que não tirava a preocupação, pois estavam em uma posição difícil de se defender. Tinham junto a seus corpos as mochilas com algumas armas, munições e suprimento alimentar. Loren continuava fazendo a leitura da localização pelo mobile e mostrou o visor do aparelho quando os agentes da “Távola” pararam na margem do rio.

Três pessoas saíram do veículo. Ficaram algum tempo parados no mesmo lugar e depois se separaram. Cada um seguia para um lado diferente. Um deles veio em direção ao lago e a cachoeira, enquanto os outros dois se dispersaram pela trilha e pelo rio abaixo.

O agente tentava contornar o lago para se aproximar mais da cascata, porém chegou a um limite que não conseguiria mais prosseguir, a não ser, se andasse por dentro da água. As três tentavam enxergar melhor o que ele fazia e, em dado momento, Loren desligou o mobile. Ela fez sinal para as outras duas se espremerem mais contra a parede, deixando-as sob um jato de água. O agente retirara do bolso um equipamento fazendo uma varredura na área. Depois de alguns minutos os outros dois retornaram. Não conseguiam escutar o que falavam, mas conseguiram ver que eles entravam no veículo e seguiam. Ficaram ali escondidas por mais de uma hora.

Saíram detrás do véu da cascata. Estavam com frio e tremendo por terem ficado tanto tempo expostas a água.

— Deus! Eu estou morrendo de frio!

— Desculpe-me, Re, mas não poderíamos vacilar. Eles estavam utilizando equipamentos térmicos.

— Eu vi depois que ele passou pela frente de onde eu observava. Estão pegando pesado. Há alguns anos estes equipamentos eram comuns, mas hoje em dia… Tem mais alguma coisa nesta história. Não pode ser apenas por Helen ter fugido. Está certo que ela fazia parte de um programa escuso, mas uma agente não vale este esforço todo.

— Ah, obrigada.

Helen olhou Renee contrariada.

— Você sabe o que quero dizer, Helen. Pensa comigo, a não ser que você tenha informações de algo muito importante, é uma caçada insana para eles. Drones de última geração, rastreadores térmicos, veículos flutuadores… Não me espantaria se estiverem utilizando detecção via satélite do DNA de Helen.

— Isto eu não acredito que fariam. Seria muita exposição para o próprio governo inglês da “Agência Távola” e da operação “Torre Fulminada”, Re.

— E explodir uma casa em pleno centro histórico de uma cidade turística não chama atenção?

— Num país-colônia?  Não, Helen. O mundo não liga para estes ditos “sub-países”, como eles chamam. Só mantêm a ordem e a paz, pois ainda exploram as riquezas e seus compatriotas que gerenciam as industrias alocadas aqui, tem que ter locais dignos de subsistência.

Helen olhou para Renee. Loren havia falado com tanta tranquilidade, sobre os assuntos que abordavam as normas econômicas internacionais do país de origem da outra agente, que a própria Helen se envergonhou.

— O que foi? – Perguntou Renee.

— Você é realmente brasileira?

Renee sorriu ao ver o constrangimento de Helen.

— Helen, eu nasci no Brasil, mas não posso mudar a realidade das coisas. Ou pelo menos, não tudo. Por isso sou uma agente da Organização.

A agente piscou jocosamente, após terminar a frase, fazendo com que Helen a empurrasse com o ombro.

— Você não perde uma oportunidade para me cutucar, não é? Isso é o que dá eu me “compadecer” de você!

Helen respondeu irônica, fazendo Loren revirar os olhos mais uma vez. O fato é que a mentora começava a se preocupar verdadeiramente com o que estava acontecendo. Renee tinha razão. Tudo aquilo não poderia ser só para pegarem um agente que havia desertado. Poderiam tê-la perseguido por muito tempo até conseguirem pegá-la e com muito menos recursos dispendidos.

“Eles a tinham em Paraty. Por que não a mataram logo”?

Pensava que poderiam ser muito mais silenciosos, pegarem-na em uma esquina qualquer à noite e com um único tiro, acabarem com a perseguição de forma limpa.

— Eu sugiro ficarmos por aqui esta noite. Nada de acender faróis, lanternas, fogueiras. Podemos dormir no carro e comer as rações. Não ligarei o mobile até amanhã e não faremos contato com a Organização. Se não conseguirem pegar nada nesse período, pode ser que desistam do local. Re, tem certeza que limpou tudo na cabana?

— Tenho sim, Loren. Pulverizei todo ambiente com o ácido asséptico. Não tem como ter ficado qualquer resquício de DNA ou digital.

— Ácido asséptico?

Helen perguntou, mas logo depois balançou a cabeça em negativa.

— Deixa para lá. Só vou saber o que realmente é depois que tudo acabar mesmo. Vamos para o carro.

………..

— Quanto tempo até chegar à estrada e sairmos da mata, Helen?

— Segundo o GPS vinte minutos, Renee.

— Ótimo. Tem uma cidade a pouco mais de quinze quilômetros após chegarmos à estrada, onde podemos abastecer e, quem sabe, tentar algum contato.

— Segundo o mobile, não temos drones nos seguindo, mas quando alcançarmos a estrada, não poderemos divisar se tiver pessoas. O movimento nesta época do ano é grande.

— Mas você poderá ver se tem sinais em frequência diferente de vídeos-celulares ou pessoas em curso constante atrás de nós, Loren.

— É. A boa e velha observação…

………..

Chegaram à cidade e se dirigiram a um posto. Compraram lanches e algo para hidratar ao longo da viagem, abasteceram e seguiram para o norte.

 — Estamos indo na direção de Minas Gerais, Re?

— Sim. Achei que fuga por São Paulo seria muito arriscado. Pensei nos aeroportos de São Lourenço ou Poços de Caldas. São menores e temos gente lá para contatar, Loren.

— Então seguimos para Poços de Caldas. É pequeno e conheço nosso contato da estação que a Organização mantém lá.

— Ok. Para mim está ótimo, se é que a minha opinião vale de alguma coisa.

As duas agentes da Organização olharam para Helen.

— Não se trata de opiniões, Helen. – Renee pousou a mão sobre a perna de Helen. – Apenas estamos em uma condição melhor. Você está por conta própria nessa fuga e nós contamos com o nosso pessoal.

Helen sacodiu a cabeça, como se estivesse dissipando pensamentos.

— Desculpe. Eu nunca estive um uma posição em que não tomasse o controle sobre minhas ações, assim que… bom, relevem.

Renee a olhou complacente. Sabia o que era ter o poder de tomar decisões dentro de operações e entendia o sentimento de impotência, pelo qual Helen estava passando.

— Se tudo der certo, brevemente terá sua autonomia, Helen.

Chegaram numa cidadezinha no sul de Minas Gerais ao anoitecer. Procuraram um hotel de estrada para se hospedarem e descansar antes de prosseguirem. Não queriam chamar a atenção e desta forma, passariam por turistas aventureiras. Tinham que dormir um pouco para recuperarem as forças, pois desde que começaram a fuga não haviam tido uma noite, verdadeiramente, de sono. No primeiro dia, não dormiram mais que 4 horas na cabana e no segundo, o sono de cinco horas havia sido dentro do carro. Eram sete horas da noite, tomariam banho, comeriam algo e poderiam dormir relativamente tranquilas antes de seguirem viagem.

Ao longo do dia, Loren havia monitorado o perímetro que as cercava e percebeu que não havia qualquer movimento de perseguição, levando-as a tomar esta decisão. Na recepção, Loren pediu dois quartos.

— Por que não ficamos em um quarto apenas?

Helen inquiriu, um pouco incomodada por Loren presumir, que ela e Renee, quisessem ficar juntas e a sós.

— Porque eu preciso me distanciar de todo açúcar que vocês exalam.

— Eu não estou exalando açúcar nenhum!

Helen afirmou veemente e Renee começou a rir sem alterar seu passo. Tinha certeza que não era esse o motivo que levou Loren a pedir dois quartos e intuía o porquê, mas sabia que a amiga amava provocar quem quer que fosse. Helen era a bola da vez.

— Helen, pedi dois quartos, pois será mais difícil alguém nos pegar de surpresa se estivermos divididas. Mesmo que tentem, temos mais chances de alguém escapar e com sinceridade, eu preciso descansar e quero me livrar do ronco de Renee.

Desta vez provocou a amiga.

Renee e Helen entraram no quarto. Havia uma cama grande ladeada por mesinhas, um vídeo-celular e um controle por voz, num display na parede, próximo à cabeceira. Controlava as funções de amenidades que havia no quarto, como o climatizador, a tela de tv, a luz entre outras funções.

— Luz indireta.

Helen dava o comando para que luzes amenas acendessem, permitindo que elas enxergassem todo quarto.

— Climatização à 20 graus Celsius.

Foi a vez de Renee intervir na ambientação.

— Estou louca para tomar um banho. Ainda bem que paramos para comprar roupas naquela última cidade. Você sempre carrega essa quantidade de dinheiro consigo, Renee? É perigoso. Você pode ser atacada por um bando de ladrões querendo roubá-la.

Helen falou rindo para importunar Renee.

— Perigoso para quem? Para eles? Ora Helen, não sou tão selvagem assim. Não mataria os coitados. Talvez uma pequena mutilação, mas matar não.

Renee devolveu a provocação e, logo em seguida, respondeu a outra agente.

— Perigoso é utilizar cartões de crédito, Helen.

— Sim, mas não imaginava que tivesse trazido uma reserva tão grande.

— Peguei na cabana, afinal, era meu ponto de fuga e deixei armazenado lá. Vá tomar seu banho enquanto pego alguma bebida na máquina lá de fora. Observei que tem uma na varanda de acesso.

— Ok.

O ar da noite estava fresco e Renee inspirou fundo, olhando para a estrada que passava em frente. Parecia que as coisas estavam caminhando bem, mas uma sensação estranha a rondava. Estava apreensiva e incomodada. Introduziu a nota na máquina e enquanto as garrafas de água caíam, ficou repassando em sua mente, todos os momentos desde que Helen foi parar na Organização até agora.  Colocou mais uma nota para comprar suco. Pegou as bebidas, caminhou até a porta do quarto de Loren e bateu de leve.

Loren olhou pelo visor e abriu a porta perscrutando o ambiente em volta, desconfiada. Voltou seu olhar para Renee e notou uma pequena ruga em sua testa, mostrando a intranquilidade da agente.

— As coisas andam muito calmas…

— Hum-hum. Andei pensando sobre isso também, Re.

— Com a tecnologia que estão utilizando, não sei se conseguiremos viajar um dia inteiro sem que nos achem.

— É. Concordo com você. Fique atenta. Sei que temos que dormir, mas ainda não é hora de relaxarmos e Re… – Loren balançou levemente a cabeça. — Deixa para lá. Você sabe se cuidar.

Renee entregou duas garrafas que estavam em sua mão para Loren, uma de água e outra de suco e caminhou em direção ao seu quarto, sem nada mais falar.

Quando entrou, viu que Helen havia tomado seu banho e estava deitada, vestida com uma camisola que havia comprado. Se fosse em outro momento, esta visão incomodaria Renee sexualmente, mas se encontrava num estado de atenção tal, que passou por sua companheira de quarto, sem dar muita importância. Colocou as bebidas no refrigerador encrustado na parede, pegou na mochila um conjunto de short e blusa e se trancou no banheiro.

Renee saiu do banho, arrumou suas coisas e se acomodou ao lado de Helen, deitando-se de lado, voltada para fora da cama. Seus instintos diziam que não estavam seguras. Os tempos estavam mudando e a crise mundial havia feito com que determinadas tecnologias, ficassem caras demais para serem desperdiçadas e o fato da “Tavola” estar utilizando “artilharia” pesada, fez com que Renee entendesse que havia muito mais nessa história. Definitivamente havia mais coisas que envolviam Helen do que a Organização descobriu.

Renee sentiu a outra mulher se aconchegar a seu corpo. Não queria se distrair, apesar de ter gostado da ação da agente.

— Vamos dormir, Helen. Sairemos de madrugada.

— Re, eu sei que tenho sido muito reticente, mas você deve entender a minha posição.

Helen falava, ainda colada a Renee, num tom baixo e carinhoso.

— Tinha uma vida e de repente tudo virou do avesso. Você há de convir que, no nosso tipo de profissão, a gente tem que suspeitar de tudo, mas agora… bom…

Helen passava a mão sobre as curvas de Renee, fazendo com que a agente se arrepiasse.

— Fazer amor com você naquele dia…

— Então, você fez amor comigo, Helen?

A agente parou pensativa e, logo depois, recomeçou o carinho.

— Posso afirmar que para mim, não foi uma “transa” qualquer. Está bem, admito que não queria dar o braço a torcer e mais uma vez, lhe pergunto. Se estivesse na minha situação não faria o mesmo?

Renee virou-se de frente para Helen. Seria ótimo se pudesse aproveitar esse momento com a agente, mas não podia se distrair. Estavam em um momento crucial de sua fuga.

— Helen, por favor. Gostei muito de saber que para você foi algo significativo, mas estamos encrencadas e não acho que eles não saibam onde estamos.

— Re, depois de dois dias?! Estamos em um local distante de onde os despistamos, se estivessem nos seguindo, Loren tinha conseguido monitorar. “Me dá” um beijo, vai. Só um beijo…

O pedido do beijo foi feito com uma voz doce, carinhosa. O corpo e coração de Renee aqueceram e a agente não pode resistir ao chamado de suas emoções.

Beijou Helen com paixão. Fazia um enorme esforço para bloquear seu dom e não extrapolar os limites de sua segurança pessoal. Sua sanidade. Pela primeira vez, o dom da empatia que tanto se orgulhava ter desenvolvido, parecia uma maldição. Desde a noite da cabana, em que percebeu que não conseguia bloquear naturalmente os sentimentos de Helen, fizera um bloqueio total para que suas emoções não interferissem em sua racionalidade. Não permitia mais seu dom expandir, mas parecia que tinham arrancado um elemento de dentro de si. Sentia-se como se não fosse ela mesma ou não estivesse completa.

 O beijo se transformou em carícias e as carícias viraram em enorme desejo. Helen gemia colada a boca de Renee e as mãos ávidas, contornavam as curvas do corpo da agente extraindo gemidos roucos. A luta pela dominação do ato se acirrava.

Helen conduzia uma de suas mãos aos seios de Renee, enquanto essa, passeava uma de suas mãos na interseção das pernas da outra agente. Levantou suavemente a camisola de tecido sedoso, fazendo-a escorregar pela pele lisa e ardente da doutora. O sentimento de domínio entre as duas crescia e parecia que duelavam para tomar a frente no ato. Nenhuma cedia aos apelos de comando. Beijavam, mordiam e tateavam os corpos ávidos.

Com uma das mãos, impaciente, Renee agarrou os cabelos da ex-agente da Távola para afastar seu rosto e olhar diretamente em seus olhos, enquanto rasgava sua calcinha com a outra mão e a penetrava frenética. A ação pegou Helen desprevenida. Sentiu uma forte excitação percorrer imediatamente seu corpo, fazendo seu ventre contrair em um desejo pulsante. Vertia seu líquido viscoso pelos dedos da agente da Organização, denunciando o enorme prazer que sentia. Um gemido rouco brotou de seu peito e reagiu de forma reflexa, movimentando vigorosamente seu quadril. Nos olhos, as pupilas dilatadas e no peito a respiração arfante e pesada, denunciavam a fome descontrolada.

Renee reunia todas as suas forças para não liberar o dom, que pulsava em suas têmporas, anunciando a aura de agonia, implorando pelo contato.

Uns instantes mais e Helen desvencilhou-se da forte pegada, que segurava seus cabelos, lançando-se ao encontro dos lábios da agente, num beijo sôfrego que laureou seu gozo.

As barreiras que Renee levantara para conter seu dom ruíram e não pode mais conter a avalanche de emoções que invadiram seu corpo e mente. De repente, o medo. Um medo tão grande e pungente que fez se liberar imediatamente de sua amante. Levantou ágil, a fim de chegar até sua arma e tudo turvou. Caiu na escuridão.



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