A Raiva Da Humanidade

1. Conto: A Raiva da Humanidade

A raiva da humanidade

Texto: Carolina Bivard

Ideia-tema de Aniversário: Marcela Ferreira — Zumbi

Revisão: Naty Souza e Nefer

Ilustração: Táttah Nascimento


A torre de observação do forte já não exibia com clareza quem se aproximava pelo caminho. Apesar do olhar treinado da coronel do exército Charlize Theonfort espreitar com cuidado, não conseguia mais divisar durante a noite se alguma alma desafortunada e cheia de fúria, se acercava dos altos muros. A energia geral da cidade entrara em colapso, restando somente os geradores solares da fortificação. Os holofotes se estendiam ao longo de toda a murada. Eram eficientes, entretanto o alcance era limitado.

Charlie, assim como os companheiros de armas a chamavam outrora, limpou a testa com o dorso da mão, que desprendeu momentaneamente do fuzil que empunhava, o suor do rosto e a poeira acumulada da noite inteira de vigilância. Estava exausta, não só da vigilância diária, bem como da luta dos três últimos anos, quando a pandemia tomou conta completamente.

Foi a única pessoa que restou dentro daquele refúgio. Seu batalhão inteiro morrera com a nova praga, com exceção da médica-pesquisadora Milla Jovach que, na necessidade em descobrir uma cura, utilizou o único helicóptero com combustível do forte para chegar à ilha Azul. A ilha tinha uma fortificação pertencente à marinha.

Durante meses as duas sobreviventes daquele forte travaram conversas com os pesquisadores da ilha, pois o governo, nos últimos momentos de lucidez, havia montado um laboratório avançado para pesquisar sobre a doença. No entanto, um dos pesquisadores teve que ir ao continente para capturar alguém infectado. Ele foi com apoio militar para protegê-lo. Retornaram ao laboratório e parecia que estavam avançando na descoberta de um soro.

Num dado dia, um dos militares começou a apresentar os sintomas da doença. Ele havia sido infectado na operação avançada de captura e ocultou da equipe. Isolaram-no, porém a sua negligência em esconder o ocorrido, custou a vida dos inúmeros militares e pesquisadores da ilha.

Charlie o culpava, bem como culpou por essa terrível catástrofe não só o seu governo, como muitos outros espalhados pelo mundo. Vários países, inclusive o seu, assumiram uma postura de negação da doença e das consequências dela, por vezes incentivando as pessoas a não se preocuparem. O mundo havia passado por uma pandemia virótica em tempos recentes e conseguiram controlar minimamente. Embora a covid-19 ainda causasse transtornos e somente parte da população colhia frutos ruins dela, era “aceitável”, pelos parâmetros governamentais e econômicos.

Entretanto, essa visão negacionista prejudicou quando um novo vírus surgiu.

O vírus da raiva era milenar, controlado e sem muitas mutações ao longo dos séculos. Todos acharam que um surto em uma cidade minúscula, num país pequeno da América Central não avançaria. Esqueceram-se que o planeta não tinha mais territórios isolados e vivíamos num mundo globalizado, onde as viagens aéreas intercontinentais ocorriam minuto a minuto.

O vírus da raiva sofreu mutação, como qualquer outro vírus. Essa foi a grande verdade que a humanidade negou. Minúsculos seres biológicos são mais resistentes e evoluem com mais rapidez do que nós. Ele não só exterminou praticamente toda a humanidade, como seus sintomas se  modificaram, levando as pessoas a sobreviverem por mais tempo, disseminando-o em uma velocidade maior.

A hidrofobia, sintoma peculiar à doença, agora se restringia a abundância de água diante da visão do portador, bem como ao contato direto. Os portadores dessa variação do vírus conseguiam beber água, contanto que não entrassem em contato direto com ela. A dificuldade em deglutir água não existia mais, dando lugar a um novo sintoma: aversão a quantidades grandes em contato com a pele. A sobrevida não veio somente pela falta de medo no consumo de água, mas também, supriam a carência de comida. A racionalidade limitada pela afetação neurológica foi suplantada pela necessidade de sobrevivência, fazendo com que infectados saíssem à procura insana por alimentos.

A fobia de luz era mais forte do que nas características da doença original, contudo, alguns infectados ainda se arriscavam a caminhar pelas ruas durante o dia, quando a insanidade e a fome se tornavam insuportáveis.

O vírus da raiva mutante passou a destruir o sistema neurológico mais lentamente, possibilitando ao indivíduo contaminar um número maior de pessoas ao longo de um mês inteiro, enquanto a doença efetivamente matava o infectado. As vacinas e soros para tratamento da raiva comum não faziam efeito contra esse novo agente biológico e as inúmeras tentativas de fazerem um novo soro não funcionaram.

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Charlie fez um cronograma para vigília que estava esgotando todas as suas forças. Todos os dias, antes do nascer do sol, percorria a murada, verificando as instalações de luz e da armadilha que idealizara para manter os infectados distantes. Ela elaborou um sistema de irrigação que era acionado assim que um corpo com mais de quarenta quilogramas chegasse no limite de um quilômetro do forte. A coronel determinou esse limite para a sua segurança, além de alarmes dispararem ao menor sinal de violação do perímetro.

Após repassar a segurança naquele início de manhã, foi até a horta que fizera dois anos antes, para pegar algumas hortaliças e tubérculos para seu café da manhã. Ela anteviu que os alimentos da despensa acabariam e tratou de organizar uma plantação com a maior diversidade possível. Para alcançar seu objetivo, saqueou algumas lojas que já estavam fechadas, na busca por sementes. Na época, ainda conseguia circular pelas ruas com um carro blindado. Infelizmente, a única proteína que conseguia consumir, hoje em dia, era proveniente da pesca. Aprendeu a pescar pela necessidade. Esse nunca fora um de seus hobbies.

Pescava na base do muro do forte, que fazia limite com o mar. Os infectados nunca se aventuravam pelo mar para se aproximarem da fortificação. Era provavelmente o local mais seguro de sua cidade.

Charlie entrou na cozinha industrial que, em outras épocas, abrigou diversos cozinheiros, que se desdobravam para alimentar, literalmente, um batalhão de homens e mulheres. Jogou os vegetais sobre a bancada e se espreguiçou, na tentativa de minimizar as dores do corpo.

— Merda!

Berrou. Ela podia. Estava só há muito tempo. Começou a falar consigo mesma, na tentativa de amenizar surtos psicóticos advindos da solidão prolongada.

— Que saudade de ter um ovo pra fritar. – Riu. – E as pessoas reclamavam do sinal de internet que caía… – Gargalhou. – Do que será que os sobreviventes do mundo estão reclamando agora?

Enquanto falava, lavou a couve e descascou a batata doce que cozinharia para seu desjejum.

— Se não estivesse aqui, e sim, lá fora, o que será que eu faria para ter um pouco de pó de café ou um bife duro de carne para comer? Acho que mataria…

Gargalhou, sem se importar que a altura do riso ecoasse pela cozinha. Terminou de lavar hortaliça e descascar a batata, colocando-a em uma panela com água.

— Não reclame, Charlie. – Repreendeu-se. – Pelo menos, não está vagando pelas ruas como um zumbi raivoso e uma sentença de morte.

Parou por instantes, observando a panela no fogo, e a desesperança a atingiu estoicamente.

— Para que viver? Vigio aquele muro todos os dias, vendo gente caminhando como animais raivosos, babando e estropiados, e para quê? Permanecer viva num mundo que cheira a morte?

Suas palavras não eram metafóricas. O cheiro dos corpos em decomposição, que se espalhavam por toda a cidade, chegavam ao forte, levados pelo vento. Cada dia mais aves carniceiras sobrevoavam a cidade e, apesar de poderem ser transmissoras do vírus original, ninguém sabia se as afetava nessa nova cepa de vírus.

Se Charlie não se trancasse durante o dia no alojamento dos oficiais para dormir, sentiria fortemente o odor fétido vindo da cidade, ampliado pelo calor do dia. Por todos os motivos que a levaram a trocar o dia pela noite, esse era um dos que mais a encorajava a continuar nessa rotina.

— Odeio matar gente! – Continuou sua reclamação. – Onde foi parar minha humanidade?

Perdeu seus pensamentos na ebulição da água da panela, pousada sobre o fogão industrial elétrico. Não conseguia mais se lembrar quantas vidas tirara durante aqueles anos. Após ter que atirar em soldados-amigos para que a doença não se alastrasse pelo forte, tentou se proteger emocionalmente para não enlouquecer. Falava que era preciso, e repetia esta frase para si mesma todos os dias, como um mantra.

— E quando o sistema de energia solar falhar? Vou ter que cozinhar sobre uma fogueira?…

— Milla, por que não conseguiu me contatar? Você não chegou na ilha Azul?

Naquele dia, Charlie estava particularmente sombria. Havia presenciado, logo no início de seu turno, na noite anterior, cinco infectados se aproximarem da murada. Foi um alívio quando eles se esbarraram. A doença da raiva não fazia amigos. Em nada era como um filme de zumbis, onde os mortos-vivos se agregavam em bando para comer cérebros humanos. Ao mesmo tempo, os infectados assemelhavam-se aos zumbis, pois a sociabilidade se perdia completamente.

Ela viu aquele pequeno grupo se atacar, brigando entre si como feras. Mordiam-se uns aos outros como animais defendendo territórios. Um deles saiu vivo, arrastando-se, emitindo sons desconexos, uma das pernas com uma fratura exposta, sangrando. Parecia não sentir a dor e, pelo que havia conversado com Milla, não sentiam mesmo. Este era outro sintoma. Ela mirou na cabeça do homem sobrevivente que, pela aparência, sofreria mais uma semana se não morresse de desidratação ou perda de sangue. O tiro certeiro o abateu.

Charlie pensou que se fosse ela naquela situação e alguém com piedade a matasse, agradeceria a qualquer força que pudesse chamar de Deus, mesmo que não sentisse dor.

Milla explicara para ela que os neurônios afetados inibiam a sensação da dor. Se um tiro os atingisse e não morressem, continuariam andando, raivosos, como se nada os tivesse abalado. Uma perna quebrada, uma fratura exposta, não deteria o infectado. A força de um ataque era descomunal, pois ele não sentia a restrição da musculatura em um movimento fora dos limites fisiológicos.

Ao longo dos meses, muitas pessoas morreram em confrontos corpo-a-corpo com os infectados. Charlie havia presenciado inúmeras vezes, pelo seu posto de vigia, corpos ambulantes, andrajosos e ensanguentados, arrastarem-se como animais feridos, ou brigarem numa disputa irracional, causando mais ferimentos a cada um dos envolvidos. Ela os matava, certa de que estava sendo piedosa com aqueles seres, que haviam perdido a sensatez e a humanidade. Todavia, morria a cada tiro que desferia.

Acreditava que sua alma não tinha mais salvação.

— Para que estou defendendo esta base?

A solidão pesava forte sobre a coronel.

Escorreu a água do cozimento e colocou num prato. Colocou sal. Este era um artigo culinário que não precisava se preocupar. Bastava deixar um pouco de água do mar secar ao vento em algumas bandejas e lá estava o tempero. Terminou de comer.

Olhou pela janela que descortinava o mar, descansando o pensamento sobre as ondas. Seu cansaço físico não se comparava ao emocional. Abriu no rosto um riso de loucura. Levantou-se e foi dormir.

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Charlie sabia que não conseguiria chegar na ilha Azul com a lancha. Além da distância, ela não tinha combustível suficiente. Na última semana, estudara o mapa de navegação e elaborara um plano para chegar na Ilha. Não aguentaria nem mais um mês sem saber o que acontecera com a cientista.

A última vez que havia saído do forte com a lancha, não demorou muito. A imensidão do céu sobre sua cabeça a apavorou, retornando o mais rápido possível para a segurança da fortificação. Não conseguira chegar à marina, que era sua intenção na época.

— Vamos lá, Charlie! Você é uma mulher ou um rato?

Falava alto como se o som de sua voz a acalmasse. Tentava focar no mar à frente, projetando mentalmente seu trajeto. O vento batia em seu rosto e, por vezes, ela ajeitava os óculos escuros que escorregavam pelo nariz. Mesmo a certa distância da costa, sentia o cheiro da morte que vinha da cidade. Colocou a mão no bolso e pegou um frasco de remédio. O olhou, lendo o nome do ansiolítico.

— Já tomei essa merda! Não posso ficar desnorteada. Não agora. Falta pouco, Charlie. Fique firme!

Aos poucos, a serenidade do mar e a constância da navegação tomavam lugar, amenizando a ansiedade da militar.

— Só mais meia hora e chego na Marina de Arranque.

Não tinha muito combustível e Charlie calculara que se chegasse à marina, conseguiria mais nas bombas de abastecimento de lá. Por isso, não poderia acelerar muito para não gastar além do necessário, além de ter abarrotado a lancha com armas, munição, água potável e alguma comida.

Aos poucos, a visão de barcos, veleiros, iates, começaram a se descortinar ao longe e, com a paisagem, chegou também o ar fétido de carne podre, indicando que a doença também chegara àquele local, que outrora era o recanto de recreação de pessoas ricas e poderosas. Esperava ao menos encontrar um veleiro, ou um iate em condições de levá-la ao mar aberto e combustível suficiente para chegar à ilha Azul.

Reduziu a velocidade até a parada completa, deixando que a lancha flutuasse. Queria observar melhor o lugar antes de atracar, para não ser pega de surpresa. Ela se atrapalhava um pouco com as manobras da lancha. Era do exército e não da marinha. Mesmo que soubesse pilotar uma lancha, pois o forte em que estava lotada, há anos, tinha barcos para locomoção, não era uma de suas especialidades.

Alguns corpos ainda flutuavam perto do cais e outros descarnados, comidos pelos abutres e secos pelo sol, espalhavam-se pelo atracadouro. Pegou um fuzil para operações urbanas. A coronha era mais curta, permitindo maior mobilidade. Seu coração acelerou. Lembrou-se de que teria que se preocupar também com animais. Humanos infectados eram alvos grandes e barulhentos, todavia ratos, gatos e cães poderiam surpreendê-la.

— E Deus sabe que esses bichos podem atacar com mais destreza.

Falou, assim que amarrou a corda da lancha na poita do atracadouro. Subiu e caminhou em direção às bombas de combustível, que avistara assim que se aproximou da marina.

Andou em silêncio, aguçando seus ouvidos para tentar captar o menor sinal de perigo, mesmo sabendo que a luz do dia e o sol intenso fariam com que qualquer criatura infectada se escondesse nas sombras. Entretanto, não poderia relaxar por completo. Qualquer um desses zumbis raivosos, seres humanos ou animais, ao menor sinal de perigo, poderiam reagir violentamente na busca pela preservação.

Chegou às bombas. Verificou e havia um pouco de combustível em cada uma delas. Conseguiria juntar fornecimento suficiente para sua empreitada. Cruzou a alça do fuzil nas costas e iniciou seu trabalho, pegando bombonas que estavam próximas para abastecê-las. Conseguiu encher doze, cada uma com vinte litros e foi em busca de alguma embarcação que estivesse em melhores condições. Deu preferência a um veleiro que parecia não ter sofrido tanto com as intempéries.

Estava atracado um pouco mais distante, talvez por ser o único local que um barco daquele porte conseguiria chegar na marina. Se aproximou e empunhou a arma. Caminhou pela rampa até chegar ao convés e parou, observando com cuidado o lugar. Parecia ter escutado barulhos na parte de baixo.

Por alguns segundos prestou atenção, entretanto só ouvia o vento sibilando, que batia nas velas fechadas e nas cordas. Subiu as escadas para chegar ao timão. Observou os equipamentos e tudo parecia intacto. Girou a chave de ignição e o motor roncou, mas não deu partida. Felizmente conseguiu ver que a embarcação estava com mais da metade de combustível.

— É esse o meu barco! Consigo limpar esse motor rápido e navegar.

Empolgada, desceu para o convés e depois para as cabines, tentando chegar à máquina do veleiro. Mal teve tempo de sacar a pistola, diante do rugido que surgiu da escuridão diante dela. Disparou quatro tiros, pulando para trás, na esperança de que aquele corpo caísse inerte.

Recuperada do susto, coração aos pulos, verificou se aquele homem havia tocado nela. Feito algum ferimento. Parecia que tudo estava normal e a respiração ofegante voltava aos poucos.

— Merda! Merda!

Exortou furiosa.

— Não posso vacilar, agora falta pouco… Não posso vacilar.

Mesmo sabendo que infectados não se associavam, temeu que aquele barco tivesse atracado há pouco tempo, e que os integrantes tivessem adquirido a doença na própria marina. Isso explicaria o porquê daquele homem estar ali.

Abriu uma das cabines e o cheiro da podridão a atingiu, fazendo-a trancar a porta de imediato, virando o rosto de lado. Tentou segurar o vômito que se avizinhou, diante de tamanho odor. Charlie visualizara um corpo em putrefação jogado ao chão e marcas na porta, sinalizando que aquela pessoa havia sido trancada e deixada ali para morrer.

Recuperou-se e caminhou no estreito corredor até chegar ao salão da popa da embarcação. Fora a pistola que continuava em sua mão, puxara o fuzil preso em seu dorso e o escorregou para a frente de seu corpo. Não queria mais surpresas. Outro barulho chamou a atenção da coronel e ela se virou, com o dedo no gatilho da pistola. Era um rato e não precisou pensar para matá-lo. A partir dali, vasculhou todo o barco não encontrando mais ninguém. Gente ou animal.

Passara do entardecer e não sabia que horas da noite eram. Mesmo assim quando terminou de limpar o motor, colocou-o para funcionar e abasteceu o veleiro com os armamentos, água e combustível. Também limpou todo o local, desinfetando-o. Jogou os corpos dos antigos donos no mar, encharcados de gasolina. Assim que acionou os motores, ateou fogo e dirigiu o barco para longe da marina.

Finalmente dormiria durante uma noite inteira.

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Estava ancorada algumas milhas da costa, quando reflexo do sol bateu em seu rosto, através da escotilha. A luz intensa a acordou e seu corpo parecia moído. Sentiu dores em cada músculo e espreguiçou-se. Há meses não dormia tão pesado. Cambaleou para fora da cabine, ainda desorientada pelo sono e subiu ao convés.

— Droga, já passam das dez da manhã!

Apressou-se em comer uma cenoura crua, enquanto recolhia a âncora. Tivera trabalho para higienizar tudo no barco e achava que tinha valido a pena. Sentia-se revigorada ao dormir uma noite inteira sem preocupações. Ligou o motor, verificou os instrumentos e partiu. Não queria perder mais tempo. A ilha Azul era distante da costa.

Às dez horas da noite estava exausta e com fome. Parou o veleiro e lançou a âncora. Daria tudo para ter uma cerveja e relaxar. Contentou-se em beber a água fresca que levara e se sentou por uns instantes no convés, apreciando a brisa noturna. No dia seguinte, chegaria à ilha.

— Por favor, Milla, esteja viva.

Rogou como se a própria cientista pudesse escutá-la.

— Não aguentarei saber que você não sobreviveu. – Tomou mais um gole de sua água. – Esteja viva e só então saberei que valeu a pena sobreviver nesse mundo desgraçado durante todo esse tempo.

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Parecia uma miragem, a visão da ilha no horizonte. Na medida em que se aproximava, a ansiedade tomava novamente o corpo da coronel, como se o céu sobre sua cabeça a esmagasse. Ligou o rádio, na esperança de que a sintonia do forte Ilha Azul estivesse conectada. Há mais de um ano que redes de celulares e telefonia comum haviam caído. Somente conexões por rádio de curta distância funcionavam, por não dependerem de energia geral ou antenas de transmissão.

— Aqui é Charlie Forte do Cabo. Alguém na escuta?

O chiado contínuo do rádio a desanimou. Daquela distância, se houvesse alguém na ilha responderia.

— Charlie Forte do Cabo chamando Ilha Azul. Alguém na escuta?

Novamente, o chiado atormentou seus ouvidos. Resolveu atracar na plataforma principal e sair com cautela.

Aproximou o veleiro e não conseguiu manobrar muito bem, fazendo a embarcação bater nos pneus de contenção da plataforma com força. O veleiro se afastou com o choque. Desligou os motores. Foi até a proa e pegou a corda de amarração, lançando-a na poita. A corda escorreu sem segurar e Charlie a recolheu. Lançou novamente e o laço segurou. Esticou a grossa corda, tentando puxar o barco. Aos poucos a embarcação se aproximou do cais. Satisfeita, lançou a âncora por segurança. Não sabia se esse era o procedimento normal, mas não queria perder aquele veleiro. Além de comida, água e combustível, tinha uma grande reserva de armas para sua proteção futura.

Desceu a rampa do veleiro e chegou à plataforma do cais, com o fuzil em punho. Tudo parecia calmo e silencioso. A brisa do mar batia em seu rosto e certamente balançaria seus cabelos se os tivesse. Há um ano raspara a cabeça e os manteve assim. Preocupar-se com os cabelos, foi o que não quis durante aqueles anos, principalmente quando viu que alguns fios cresciam brancos.

Parou para observar. A entrada da ilha parecia deserta, todavia algo lhe chamava atenção. Tudo estava muito bem cuidado. O cais limpo. Não havia cheiro de putrefação, bem como, somente aves comuns de costa marítima circulavam pelo céu. Um som estrondoso, um zunido. Ela se agachou.

— Vim em paz! Vim em paz!

Charlie berrou, ajoelhando-se no cais com as mãos para o alto. Não era idiota. Estava em campo aberto e não podia confrontar quem quer que estivesse atirando nela.

Uma silhueta apareceu em seu campo de visão, saindo da proteção que se abrigava, empunhando um fuzil do exército.

— Sei o que estou vendo, Charlie, mas não tô acreditando. Minha pouca sanidade diz que tenho que levar você para o laboratório e testar seu sangue, para ver se não está infectada. E, sinceramente, espero que não esteja, pois estou enlouquecendo aqui, sozinha nesse lugar.

Charlie começou a rir sem parar. Jogou seu corpo no chão e rolou para olhar o céu. Abriu os braços, sentindo o calor do sol e a brisa abraçarem seu corpo.

— Pode me algemar, Milla, e tirar um litro de sangue para seu exame.

Ela continuou rindo, como se a vida retornasse e sua alma estivesse salva.

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Milla tamborilava os dedos na bancada, esperando os resultados do equipamento a respeito do sangue da coronel. Seu coração batia descompassado. Queria muito que aquele resultado desse negativo.

Tempos mais tarde, foi até a cela em que prendera a militar. Ela a tinha acompanhado até a prisão, tagarelando e rindo. Parecia que a militar estava extremamente contente, ou louca.

Milla abriu a cela e se jogou nos braços da namorada. Beijou-a como se a própria vida dependesse daquele carinho.

— Deus! Eu passei um inferno, Charlie. Não sabia se algum dia veria você ou mais alguém.

Afastou-se e começou a socar a namorada.

— Por que não veio antes? – Falava mais alto, socando mais forte. – Tive que queimar os corpos de todos! Tive que matar meus últimos amigos…

O rosto de Charlie também estava molhado pelas lágrimas. Choraram abraçadas por minutos a fio. A alegria de se encontrarem e estarem vivas, se misturavam às inúmeras tristezas sofridas naqueles anos infernais.

— Eu não sabia o que fazer, Milla. As comunicações caíram e, também, não tive notícias de mais ninguém. Nem sei se ainda existe alguém vivo e são, além de nós, nesse mundo desgraçado. Também queimei os corpos de meus companheiros do forte; você mesma viu isso antes de partir. Mas agora estamos juntas, é o que importa.

Milla beijou Charlie outra vez e depois, fitou-a feliz e descrente de sua felicidade. Tocou o rosto e depois sobre a cabeça, cujos cabelos não eram mais que uma penugem em crescimento.

— Você raspou a cabeça… Seu cabelo era tão lindo!

A pesquisadora achava que estava tendo um surto psicótico e que a mulher em seus braços desapareceria. Apertou-a mais em seus braços. Não queria que aquele sonho acabasse.

Charlie envolveu-a, apertando forte seu corpo contra o dela. Como era bom ter alguém para conversar, tocar…

— Vamos! Tenho que te mostrar a ilha.

Milla puxou a namorada para fora da cela, levando-a pela mão, sorrindo, como se aquela alegria fizesse parte dela desde sempre. À medida em que caminhavam pelos corredores, a coronel pôde observar a limpeza e arrumação do local. Era como se as instalações fossem cuidadas todos os dias. Nada estava destruído ou acabado pelo tempo.

— Como conseguiu manter esse local? Eu não consegui fazer o forte ficar assim, tão limpo.

— Fiz rotinas de limpeza diária para não enlouquecer. Nem todos os prédios estão assim. Tranquei tudo que não utilizava e mantive apenas os locais de meu uso. Esse aqui está aberto, porque a sala de comunicação e as instalações de manutenção são aqui.

A coronel, assim que chegou ao pátio, colocou a mão sobre os olhos. O sol estava alto e a luz a incomodava.

— Onde colocou meus óculos escuros? – Charlie perguntou. – Vivi o último ano, basicamente, durante a noite. A luz do sol me incomoda. Vou ter que me readaptar.

— Está aqui. – Milla retirou os óculos do bolso. – Por que viveu durante a noite?

— Porque de dia conseguia dormir sem me preocupar com invasões. Os infectados raramente saem à luz do dia. Consegui fazer uma rotina de vigia ao muro durante a noite.

Charlie pegou os óculos, colocando-os no rosto.

— Assim está bem melhor.

Olhou ao longe, vendo o mar que cercava a parte de frente do prédio de manutenção.

— Por que aqueles barcos estão naufragados?

Havia várias embarcações da marinha que estavam adernadas ou parcialmente destruídas, encalhadas próximo à costa.

— Acredito que tenham sido alvejados para não atracarem. Quando cheguei aqui, já estavam assim.

— Não havia mais ninguém vivo quando chegou aqui?

— Na verdade, ainda tinham cinco cientistas vivos, mas todos infectados. – Milla respondeu, com tristeza na voz. – Quando pousei com o helicóptero, era dia. Ninguém respondeu ao meu chamado pelo rádio. Circulei pelo pátio da entrada do prédio principal e não vi nada. Entrei nas instalações e só via corpos que estavam em putrefação.

— E quando caiu a noite, eles saíram de seus esconderijos e a atacaram…

A coronel deduziu.

— Não consegui fazer nada, Charlie, só me defender. – A cientista falou com tristeza na voz. –  No susto, saquei a pistola e comecei a atirar. O pior foi vê-los se atacando mutuamente, quando se aproximaram e tomaram ciência da proximidade dos outros.

— Agora já passou. Estamos bem, Milla. Isso é o que importa.

Charlie sentiu seu estômago reclamar, comera somente vegetais crus na viagem e Milla a olhou de lado, rindo do estômago que roncava.

— Você nunca conseguiu disfarçar sua fome. – Gargalhou. – Seu estômago ronca igual a motor de pick-up.

— Ei! Tô há três dias comendo cenoura crua e aipo! Queria ver se você aguentaria.

A coronel fechou a fisionomia, emburrada, fazendo a cientista rir.

— Vamos! Vou te alimentar, decentemente.

— Bom, uma sopa de legumes não cairia mal…

— Sopa de legumes? Me lembro que você era mais exigente com a alimentação, Charlie.

— Dá para ser exigente só com uma horta que custei a fazer e peixe que demorei a aprender a pescar?

— Então, vem. Hoje vou te alimentar como uma rainha.

— Você tem ovo?

— Ovo?! Por que quer ovo?

— Deixa pra lá…

Milla parou. Estavam na porta do refeitório e ela fitou a militar, segurando seus ombros e só então percebeu o abatimento da namorada. Lembrou-se de como era o forte. Certamente, ela teve muito mais limitações do que a cientista que morava numa ilha cheia de recursos.

— Olha, sei o que deve ter passado lá no forte. Fica tranquila, pois terá uma boa refeição e um banho de água morna. Aqui na Ilha tem água potável. Uma cachoeira a um quilômetro aqui da base e abastece diretamente o complexo.

Ela não esperou que a coronel falasse algo. Continuou puxando a namorada pela mão, até que entrassem na cozinha da base. Fez com que Charlie se sentasse em uma mesa alta e dirigiu-se para o frigorífico. Abriu a porta pesada e entrou no compartimento, saindo logo depois com dois potes congelados. Colocou-os no microondas.

— Tenho um galinheiro, área para porcos e outra para cabras. Tudo aqui na ilha Azul foi idealizado para suprir os cientistas. Passei a cuidar de tudo para que não me faltasse comida e tivesse que caçar os animais silvestres.

— Está me dizendo que tem ovo e leite? E carne, tem?

Milla gargalhou. Há tempos não ria com gosto. Ainda temia que estivesse delirando pela solidão. Escutou o apito do micro-ondas e foi buscar os potes de comida. O cheiro do alimento atingiu o olfato da coronel. Ela mal acreditava que comeria algo temperado. A cientista depositou os potes sobre a mesa e foi pegar os talheres. Viu quando Charlie abriu o pote com a comida já preparada e se hipnotizou.

Assim que pousou os utensílios sobre a bancada, Charlie os pegou e começou a devorar a comida, como se a companheira não estivesse ali. A tristeza ao ver aquele simples ato, levou-a a imaginar o que havia acontecido no continente e na vida da namorada.

E eu reclamava da minha solidão…

As costelas de porco foram devoradas pela coronel com as mãos. A militar ignorou completamente a presença da cientista, enquanto comia, limitando-se a sons com “uhum”, ou palavras como “certo” e Milla entendeu que deveria deixar a mulher que amava degustar aquela simples comida descongelada, antes de conversarem qualquer outra coisa.

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No restante do dia, a cientista mostrou as instalações, as plantações, as criações de animais e Charlie viu o quanto a ilha era grande. As instalações da base eram em uma parte mais acessível, mas ínfima diante do tamanho da ilha.

— Poderíamos ficar aqui até morrermos de velhice…

As palavras soltas por Charlie, fizeram Milla voar.

— É isso que quer? Agora a decisão é nossa. Você viu como está lá fora. Acha há esperança?

Charlie virou seu rosto para apreciar a linda face da namorada. Adoraria deixar aquele mundo fétido e destruído para trás e viver seu amor e dissipar a dor de sua alma.

— Posso responder a essas perguntas amanhã? Quero tomar um bom banho, colocar roupas limpas e descansar com você ao meu lado. Não acredito que as coisas piorarão, mais do que já estão, de hoje para amanhã.

— Pode.

Milla lhe respondeu, espremendo-se ao corpo da namorada, dando-lhe um beijo profundo.

— Vamos. Amanhã conversaremos. Hoje será o nosso dia.

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O dia anterior fora memorável. Fizeram coisas simples como dormir, tomar banho juntas, cozinhar e, também, fizeram amor. Se apartaram do horror do mundo.

Ao acordar, Charlie se espreguiçou, lembrando-se do gosto de Milla em seus lábios. Virou de lado para apreciar o rosto da namorada. Não tinha palavras para descrever a felicidade que sentia. Aquele ano longe da cientista a deixou desesperançada e agora a tinha em seus braços, outra vez.  Se questionava se valeria a pena largar aquela felicidade para entrar no mundo desgraçado de novo. Estavam seguras. A ilha garantia isso.

Levantou-se cuidadosamente para não acordá-la e foi para o banheiro. No dia anterior, tomou o melhor banho desde um ano atrás, quando teve que racionar a água que dessalinizava no forte. Um dos filtros havia rompido e só conseguiu manter funcionando o reserva. Trabalhava no conserto e passou a racionar a água potável que extraia do que sobrou, além de filtrar a água da chuva.

Tomou outro banho com gosto, vestiu-se com roupas limpas que Milla lhe dera, apreciando o cheiro de sol da manhã. Era isso que o aroma das roupas lhe lembrava. Saiu pé-ante-pé caminhando com calma, escutando sons de maquinários funcionando e, ao longe, pássaros matinais piando. Mesmo diante da calmaria, seu corpo parecia ainda estar em alerta. Não conseguia relaxar, completamente.

Entrou na cozinha e foi verificar o que tinha disponível para um café da manhã. Abriu a geladeira e encontrou algumas frutas, leite, ovos, cebola..

— Ah! Cebola e ovos! Deve ter uma carne de porco por aqui! Tenho que fazer um omelete. Que saudade disso!

Parecia uma criança e se distraiu pegando temperos, frigideira e utensílios para começar a sua diversão. Mal percebeu a presença de Milla, que chegou de mansinho e a observava da porta. A cientista sorriu. Milla só acreditou que não delirava com a presença da coronel, quando sentiu na noite anterior o tato em sua pele. Nunca havia esquecido do amor que tinham. A lembrança foi o que a sustentou durante o tempo de solidão na ilha.

— Dávamos pouco valor às coisas simples…

Milla comentou, chamando a atenção da coronel, fazendo-a olhar e abrir um largo sorriso, para logo depois fechar o cenho.

— O que foi?

Milla perguntou se aproximando e abraçando a namorada por trás, enquanto ela preparava o desjejum.

— Estava perdendo as esperanças. Cheguei a pensar em… em…

— Em tirar a própria vida?

A cientista respondeu pela coronel, segurando seus ombros e virando-a para si.

— Não foi só você, Charlie. Mesmo com mais recursos do que você, nos últimos meses, pensei nisso várias vezes. Achava que você estivesse morta e que eu era a única a sobrar dentro desse mundo louco.

Charlie a beijou, para sentir outra vez que estava inteira e que aquilo que vivia não era ilusão. Suspirou, revigorada com o calor dos lábios da cientista.

— O que faremos agora, Milla? O que eu digo é que temos um mundo só nosso aqui. Não sabemos mais o que tem no mundo lá fora.

— Bom, por mim, a gente come esse café da manhã que está preparando e depois te levo para conhecer algumas coisas que fiz. Depois a gente decide.

Milla a beijou, carinhosamente.

— Então, você conseguiu! – Charlie falou, empolgada.

— Não é bem assim, Charlie. Quando cheguei e avaliei o que meus companheiros tinham feito, vi que estavam muito adiantados. Eles foram criteriosos com relação aos dados pesquisados e deixaram tudo catalogado. Terminei o trabalho deles em relação ao soro de tratamento, mas não tenho como validar. Já a vacina para imunização, eles trabalhavam com o laboratório VURTCARE da aeronáutica, que fica ao sul do estado, na Base aérea “Mata Verde”.

— O que está querendo dizer? Não temos como saber se poderemos nos imunizar?

Estavam no laboratório da ilha e a cientista mostrava tudo que havia conquistado para a namorada, durante aquele tempo que ficou ali.

— É exatamente isso. No entanto, conseguia me comunicar com o laboratório VURTCARE até seis meses atrás, quando a comunicação entre nós caiu. Eles já estavam adiantados numa vacina.

— Você conseguiu comunicação com eles durante este tempo todo?

— A antena da ilha funciona, o problema de nossas comunicações são as antenas de transmissão do continente. A que supria o Laboratório da aeronáutica estava funcionando, até seis meses atrás. A cidade deve ter entrado em colapso, como a maioria. Quando perdi contato, eles estavam muito próximos da descoberta da vacina.

— E conseguiu se comunicar com outros lugares… países em que ainda existem transmissões?

— Sim, consegui, mas não se alegre muito. Todo o planeta está um caos. Tudo o que temos é uma colcha de retalhos de locais que vão tentando, minimamente, sobreviver. Ainda existem alguns locais que consigo comunicação.

Milla inspirou fundo, antes de continuar.

— O que quero dizer é que se vamos fazer algo com esse soro é um trabalho de aranha. Tecer uma teia, entende? Aqui não tenho insumos suficientes para produzir grandes quantidades de soro, mas se transmitir os resultados para as cidades que ainda tenho contato, eles podem tentar fazer o soro para tratamento de seus infectados.

— Então é o que faremos, Milla. Sei que não é o ideal, mas já é uma esperança. Quanto à vacina, acha que o laboratório VURTCARE foi contaminado?

— Sinceramente, não sei, mas não acredito. Eles estavam bem protegidos e, pelo tempo que falei com eles, eram bem cuidadosos, principalmente depois do que aconteceu aqui na ilha.

Charlie foi até a janela do laboratório e olhou para o pátio. Permaneceu em um silêncio maior do que Milla gostaria.

— O que está pensando?

— Estou pensando que poderíamos viver aqui até morrermos de velhice, mas também sei que, tanto você como eu, não suportaríamos a carga emocional advinda dessa decisão. – Charlie estreitou os olhos, mirando em um objeto do lado de fora. – Esse tal laboratório fica em uma cidade muito distante?

— Na verdade, não muito. Também não é logo ali, Charlie.

— Conseguiríamos chegar lá de helicóptero?

Charlie se voltou para a companheira, fitando-a séria e Milla inspirou fundo, prendendo o ar nos pulmões.

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Terminaram de carregar o helicóptero com armas e suplementos necessários para a viagem, e Milla, de repente, largou uma sacola de comida no chão. Passou a mão pelos cabelos, indecisa. Sua expressão era pesada e Charlie se voltou para ela, interrogativa.

— Estou com medo, Charlie. E se eles estiverem tomados com a doença? E se não acharmos um local seguro para reabastecermos?

A coronel se aproximou da namorada e a abraçou forte.

— Acha que não tenho medo? Tudo que mais queria era esquecer o mundo, mas sei que nenhuma de nós se perdoaria por não ter tentado. – Charlie se apartou, fitando a namorada. – Conheço você para saber que não deixaria a vida seguir sem culpas. Enquanto estava sozinha e eu também, tínhamos de sobreviver somente, mas agora que estamos juntas e podemos fazer algo…

— Certo. – Milla se recuperou do pavor que a acometeu. – Vamos fazer isso.

— Temos que ter em mente cada passo que vamos dar, Milla. Não se esqueça do que faremos, assim que a gente sair com esse helicóptero.

— Eu sei, eu sei. Chegaremos e sobrevoaremos. Contatarei a base aérea pelo rádio. Se não nos responderem, saberemos que há algo errado. Se não houver ninguém circulando no pátio, também saberemos que, se alguém estiver lá, estará infectado.

— Isso! Se tivermos oportunidade, entraremos e pegaremos os dados da vacina, se não, voltaremos para a ilha. Um soro para compartilhar com sobreviventes é melhor do que nada. Quanto ao combustível, estudei o layout da base e você pousará perto das bombas de abastecimento. Enquanto, abastece o helicóptero, eu faço a vigilância.

— Certo, certo. Depois de abastecer, nós levantamos voo outra vez para pousar próximo a entrada do laboratório. Então, vamos. Não quero me arrepender de sair do meu paraíso particular.

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Sobrevoavam a cidade da base da aeronáutica e o laboratório VURTCARE. Charlie olhava para baixo e via que a destruição da cidade era a mesma de tantas outras pelas quais sobrevoaram. Estava anoitecendo e não era um bom presságio. Tinham se atrasado, pois o helicóptero apresentou problemas e tiveram que pousar num descampado. Haviam passado por muita tensão.

Charlie tinha adquirido, ao longo de sua vida militar, conhecimentos de manutenção de veículos militares terrestres, possibilitando que ela entendesse minimamente o que ocorria com o helicóptero. Fez os reparos de emergência, contando com a cientista para vigiar o perímetro. Felizmente, o dia estava ensolarado e quente, e não tiveram problemas com infectados.

— Milla comando da Ilha Azul em contato. Tem alguém na escuta?

A cientista chamou pelo rádio, já nas proximidades da base, e o alcance da transmissão via rádio já deveria se estabelecer. Escutaram o chiado característico da espera da transmissão, sem resposta.

— Milla, comando da ilha Azul em contato. Copia, base aérea “Mata Verde”?

A cientista afirmou o nome da base aérea para que não houvesse dúvida de que a transmissão fosse verídica. Nenhuma resposta. Escutaram um estampido e Milla começou a perder o controle da aeronave. O helicóptero girou no ar e ela tentava estabilizar para que não se arrebentassem no solo.

Estabilizou a aeronave o suficiente para o pouso. Estavam a menos de duzentos metros do muro da base aérea e pousaram, todavia arrastaram a haste de tensão de pouso, danificando a da direita levemente. Milla conseguiu desligar o motor rapidamente para que as hélices parassem para não arrastar o helicóptero ainda mais. Estavam fora dos muros da base e o sol já caía, a ponto da penumbra se sobrepor à luz do dia.

— Merda! Merda! – Charlie xingou. – Pegue o que é importante sobre o soro, Milla e eu pego as armas. Temos que chegar ao portão da base rápido, senão seremos pegas pelos infectados!

As duas se apressaram a pegar o máximo de armas e munições que conseguiram, e Milla pegou a mochila em que havia guardado amostras do soro, prendendo-a ao corpo. Correram para longe do helicóptero, em direção à entrada da base.

Escutaram tiros, que passaram perto delas, correram tentando desviar. Não entendiam, pois os tiros não vinham da base e os infectados não se comportavam daquela forma.

A base aérea, diferentemente do forte de Charlie, não tinha muros altos e sim, barreiras construídas com sacos de areia e pedras empilhados, que foram colocados após as cercas de proteção.

— Não encoste na cerca, Milla. – Charlie advertiu, antes de a alcançarem. Ainda corriam na direção. – Provavelmente, é eletrificada.

— E o que faremos?

Milla perguntou atordoada, no entanto corria na direção da porteira.

— Se esconda atrás daquele carro!

Charlie gritou para a namorada, vendo uma carcaça de carro próximo à porteira da base. Voltou-se para onde os tiros vinham e desferiu uma rajada da metralhadora que carregava em uma das mãos, na outra levava uma pistola. Corria como louca. Escorregou para trás da carcaça de carro, juntando-se à namorada.

— Que porra é essa? Os tiros não estão vido da base aérea. Não são os militares protegendo o território.

A coronel reclamou, atenta de onde estavam sendo alvejadas.

— Não sei, Charlie. É tão estranho para mim como é para você. Nunca vi infectados, agindo dessa forma.

— Será que esses “zumbis” estão evoluindo? Me diga que não é possível, Milla, senão, estamos ferradas!

Mais um tiro passou por cima delas. O carro as protegia e Charlie lançou outra rajada de metralhadora por cima do capô, para assustá-los, podendo assim olhar quem eram aquelas pessoas. Assim o fez. Deu uma rápida olhada, antes de retornar à segurança do abrigo.

— São três. Parecem pessoas normais. Não entendo por que estão nos atacando.

— Me dê cobertura, Charlie. Tentarei falar com eles e explicar que estamos aqui em paz.

— Não acho uma boa ideia, Milla. Eles atiraram em nosso helicóptero enquanto estávamos no ar. Não acho que nos queiram por aqui.

Mesmo com a advertência da namorada, a cientista berrou para que fosse escutada por aquelas pessoas.

— Estamos aqui em paz! Viemos para ajudar a todos!

Mais tiros foram desferidos na direção delas e o carro recebia a maior parte das balas. Elas se encolheram. As armas que usavam eram de grosso calibre e Charlie previa que, a qualquer momento, alguma bala vazaria a lataria atingindo-as.

— A porteira da base está próxima de nós. Temos somente trinta metros para correr até ela. Tenho algumas granadas comigo. Preste bastante atenção, Milla, porque só teremos uma chance. Vou jogar uma granada neles e será nossa oportunidade de correr. Você vai atrás de mim e me cobre, pois vou rastreando o caminho.

Charlie retirou outra metralhadora que estava cruzada em seu tronco, passando para a cientista.

— E quando chegarmos na porteira, Charlie? Lá não temos nenhum lugar para nos proteger.

— Com sorte, eu os derrubo com a granada. Você observará a entrada. Terá pouco tempo para verificar se há armadilhas que os militares normalmente montam. Eles são como eu. Táticos. Devem ter montado uma armadilha à base de água que, para nós, não é problema. Outra à base de luz, com aqueles holofotes. – Charlie apontou para os postes que se estendiam por toda a cerca e barricada. – O pior será se montaram armadilhas elétricas e minas. Essas são comigo.

— Ah, que ótimo! Se não morremos pelos tiros, morremos por minas. Começo a me arrepender de termos saído da Ilha…

— Quando correr, olhe para o chão e acompanhe exatamente por onde piso.

— Isso é loucura, Charlie! Nem sabemos como a base está… se tem infectados.

— Prefere ficar aqui? Está quase noite e sinceramente, prefiro lidar com infectados dentro da base do que esperar os infectados da cidade inteira.

A cientista respirou fundo.

— Se vamos fazer isso, vamos agora, antes que a minha coragem se esvaia por completo.

— Certo. Prepare-se.

A coronel Charlize Theonfort espiou com cuidado, além da carcaça e quando sua cabeça apareceu, recebeu tiros e voltou a se esconder. Havia conseguido seu intento que era mapear a posição dos agressores. Retirou uma granada de seu colete militar, retirou a trava e jogou. Antes que escutasse a explosão, ela puxou a cientista e começaram a correr.

Ziguezagueava, vendo os sinais de terra remexida no solo, evitando os de maior elevação. Numa guerra normal, provavelmente esses sinais não estariam tão aparentes e talvez não conseguisse identificá-los, contudo, aquela não era uma guerra e os soldados que colocaram as minas, fizeram rapidamente, na tentativa de evitarem ataques dos infectados. Chegaram à entrada e pararam, para observarem melhor que armadilhas mais poderiam existir.

A cientista parou junto com a namorada e se colocou com a metralhadora em punho, de costas para a entrada, tentando divisar se mais alguém se aproximaria para tentar alvejá-las. Charlie havia sido certeira na granada. Milla pôde ver os corpos destroçados dos homens que estavam tentando matá-las.

— Charlie, seja rápida.

As luzes dos holofotes se acenderam, diante da escuridão da noite que se firmava e Milla conseguiu ver mais infectados se aproximarem, mesmo que ficassem distantes e à sombra da luz.

Alguns levavam armas na mão, todavia ela conseguia ver a diferença para os que as atacaram, pois quando um ou outro se esbarrava, começavam a brigar como feras e os que carregavam armas, mostravam-se mais distantes e calmos, sem interferir. Algo no comportamento de alguns infectados tinha mudado.

— Milla, largue a arma e coloque suas mãos sobre a cabeça.

— O quê?!

A cientista se virou para a namorada, não compreendendo o pedido e se deparou com a coronel completamente desarmada, ajoelhada e com as mãos na cabeça em rendição. Elevou seu olhar para a trincheira da entrada da base. Havia pelo menos quinze pessoas com uniformes militares apontando fuzis para elas.

— Ok.

Falou simplesmente, colocando a sua metralhadora no chão, colocando-se de joelhos. Ouviu uma voz comandar que alguns dos soldados a revistassem.

Eles chegaram por trás, retirando tudo que tinham. Coletes, mochilas, armas… e um dos soldados permanecia somente pressionando uma pistola nas cabeças delas.

Nada falaram e as levaram para dentro, após algemá-las, contudo Milla via a face serena da namorada, fazendo tudo que eles determinavam e isso a tranquilizou. Viu também que muitos soldados se mantinham em linha, protegendo o perímetro de entrada.

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— Peço que nos desculpem pela abordagem. Entendam que estamos num estado de sítio. Quando nos contataram pelo rádio, não poderia me arriscar em uma cilada. Sou o Major-Brigadeiro Westvar, o cientista-pesquisador da Base.

— Por que cilada? – Charlie perguntou – Os infectados agem pelas suas instintivas reações, que são degradadas. O vírus destrói a nível neural a racionalidade.

— Quem é a Doutora Milla Jovach? – O Major-Brigadeiro perguntou.

— Sou eu.

Milla se levantou da cama da cela em que estava sentada e se aproximou, estendendo a mão em cumprimento.

— É um prazer conhecê-lo pessoalmente, Doutor Westvar. Conversamos muito, mas perdi seu contato há meses.

— As redes de comunicação da cidade colapsaram e nossa antena de transmissão também. Tivemos que fazer uma escolha e desviamos a energia produzida por nós, das redes solares, para a proteção que criamos ao longo das cercas. Manter a comunicação de longo alcance não era uma prioridade no momento.  – O militar-cientista voltou-se para Charlie. – Não sei a experiência que tiveram com os infectados, mas nós, lutamos com os que ainda não alcançaram um estágio de deterioração neurológica, onde ficam totalmente tomados pela doença. – Respondeu para a coronel.

— Como assim? Não entendo o que quer dizer, doutor Westvar.

Antes de responder a pergunta da cientista, o Major-Brigadeiro fez nova pergunta.

— Como chegaram aqui?

— Explicaremos tudo, mas antes, quero lhe apresentar a Coronel Charlize Theonfort, do forte da enseada de Belonorte.

Charlie se levantou e cumprimentou o Major-Brigadeiro e Milla não se furtou em falar de imediato os planos que tinham.

— Ela era a única sobrevivente no forte e não tínhamos mais comunicação. – Milla explicou. – Conseguiu chegar à Ilha, pois entendeu que não adiantaria mais ficar na defesa do forte da enseada, se não soubesse o que estava acontecendo no resto do mundo. Montamos um pequeno plano de contenção da pandemia. Sabemos que não é muito dentro do quadro em que o mundo está, mas talvez seja um começo.

— Bom, então temos muito trabalho a fazer. Venham comigo e lhes mostrarei tudo que temos.

Ele saiu da cela, esperando que elas o acompanhassem e assim que se juntaram a ele, começou a explicar.

— Talvez pela posição do forte Belonorte não tivesse tanta oportunidade de observar a evolução da doença, coronel, e pelo visto, nem a doutora Jovach lá na ilha Azul. Mas aqui, conseguimos mapear os estágios da doença. Nossa base nunca teve muros. Tivemos que fazer as barricadas e as armadilhas, contudo, essa suposta fragilidade de nossas defesas, também nos deu a oportunidade de analisar o comportamento dos infectados.

Alguns dias se passaram e, enquanto Charlie se atinha durante o dia no conserto do helicóptero, juntamente com alguns colegas militares que faziam a proteção e a auxiliavam, Milla interagia com o Major-Brigadeiro e seus amigos cientistas da VURTCARE.

De fato, embora ainda tomassem essas referências de hierarquia, sabiam que era por mera convenção. Os governos estavam destroçados e não existia mais uma estrutura governamental a ser seguida. Todos lutavam somente, para que a humanidade não se extinguisse.

Alguns dias eram melhores que outros. Elas souberam que, antes da infecção tomar completamente os infectados, eles conseguiam discernir que tinham a doença e lutavam por uma remissão, um tanto racionalmente. Grupos se juntavam para procurar uma salvação de um destino horrendo. Foram aqueles que as atacaram na chegada à base.

Aqueles infectados que ainda tinham alguma racionalidade, se associavam para invadir instalações de pesquisa, na busca por uma cura. Infelizmente, esse período racional durava menos de duas semanas. Logo os infectados tinham seus sistemas neurológicos destruídos pelo vírus e passavam para o estágio de insensatez, fúria desmedida e raiva irracional.

Milla traçava os passos da “Operação Teia de Aranha” com o Major-Brigadeiro na liderança e os cientistas sobreviventes da VURTCARE.

A verdade é que não existiam mais laboratórios farmacêuticos e, muito menos, comandos militares. Não existiam mais governos e empresas. Não existia mais indústria ou economia mundial. Tudo que subsistia eram pessoas empenhadas em não deixar que a espécie humana se extinguisse.

Um dia, quando terminaram os consertos do helicóptero e um piloto se posicionava para levar a aeronave para dentro da base, um grupo de recém infectados os atacaram durante o dia. Tinham restrições por conta da luz do sol, mas estavam determinados e não estavam num estágio em que ficavam completamente fóbicos. Charlie não poderia deixar que nada ocorresse com o helicóptero. Defendeu a decolagem como se sua vida dependesse daquilo.

Atirava contra aquelas almas doentes e, cada vez que uma delas era morta pela sua arma, um pedaço dela se desfazia por dentro. Os recém infectados avançavam atirando, se aproximando cada vez mais. Eram inúmeros. Agiam diferente do que sempre fizeram. O piloto decolou e conseguiu levar a aeronave para dentro da base. Um dos que atingiu estava próximo e caminhou, recebendo tiros de todos os militares que resguardavam o perímetro. Caiu aos pés dela.

— Não quero morrer… Não deixe que minha família morra disso.

Aquelas palavras a abalaram. Foi preciso que um amigo-soldado a puxasse para que corressem de volta à base.

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— Pegue esse drink que fiz para você.

Charlie pegou a bebida e tomou um gole.

— Obrigada.

— Como está hoje a operação “Teia de Aranha”?

— Está indo muito bem. Estamos em contato com diversas cidades pelo mundo. Cada comunidade que contatamos está recebendo, tanto as informações do soro para tratamento, como da vacina de imunização. Eles estão transmitindo os dados para outras cidades com as quais conseguem contato direto. Não sei se o mundo se recuperará na nossa era, mas sei que não será a extinção da espécie humana.

— Minha fantasia de estar em uma ilha deserta com quem amo, não era exatamente isso que estou vivendo.

Milla se estirou na toalha, ao lado da militar. Tiraram aquele dia para apreciar, sem que as agruras do mundo as atormentassem. Após voltarem para a ilha, comprometeram-se a esquadrinhar e serem um dos polos de interface com os locais que resistiam à peste.

Muitas cidades começavam a reagir, fazendo contato através da rede que criaram. Era como se a forma antiga de se comunicar tivesse ressurgido. Um se comunicava com outro, que estendia a comunicação além. A vacina para imunização e o soro para tratamento eram passados. Conseguiam saber pela rede que, cada vez mais locais se beneficiavam com as descobertas.

— Se conforme, Charlie, você viverá e morrerá comigo aqui. Se está reclamando, o helicóptero está disponível e o veleiro atracado, se quiser me deixar.

— Quem falou que estou reclamando?

Charlie retirou os óculos de sol e se ajeitou na toalha, se apoiando no cotovelo. A areia da praia da ilha era fofa e afundou ligeiramente, antes de conseguir apoiar a mão no queixo para encarar a namorada.

— Se me quiser fora da ilha Azul, terá que me expulsar. Ou não sabe disso?

Milla sorriu diante do gracejo e aproximou seu rosto no da coronel. Beijou-a profundamente.

— Acho que é melhor nos tolerarmos pelo resto da vida. O que acha?

Fim!




Notas:



O que achou deste história?

15 Respostas para 1. Conto: A Raiva da Humanidade

  1. Bivard, adorei revisar esse texto, mas confesso que perdi o sono pensando nessa possibilidade apocalíptica… Você arrasou!
    Comentei com alguns amigos sobre a possibilidade e eles ficaram chocados porque não é tão difícil assim de acontecer… Cruzes! ????
    (Batendo na madeira n vezes ????)

    Parabéns!!

  2. Você é muito maravilhosa!! Amei profundamente. Já quero um romance com essa temática… As personagens são fodasticas e o enredo super atual. Vc é genial! Saudades! ❤️?

    • Oi, Bibi!
      Saudade de você, menina!
      Cara, tu me deixou sem graça agora. Olha, vou te confessar, não sei se farei uma história com essa temática não. Meio que angustiei quando escrevi, imaginando que isso seria possível ocorrer. kkkkkkkk
      Pô Bibi, você tem que aportar por aqui com a sua imaginação também.
      Valeu, mesmo pelas palavras e pelo carinho, Bibiana!
      Beijão e um abraço pra tu!

  3. Muito bom, ese a humanidade não acordar podemos vir a ter este tipo de coisa. Quem sabe se teremos pessoas parecidas com estas heroínas para nos salvae né!

    • Oi, Ione!
      Então, foi exatamente o que pensei, com tudo que está acontecendo. Uma epidemia de raiva com vírus mutante seria um cenário apocalítico.
      Espero que isso nunca aconteça, sinceramente! rsrs
      Valeu, Ione e um beijão!

  4. Bi, tudo bem?
    Que tema super e a estória ficou muito boa! Nossa, vc teve alta inspirationn, escreveu pra carambola!!Adorei o texto, bem fácil de ler!! Foi ótimo! Repetindo a Marcela,mas do meu jeito, você broca fodásticamente!!
    Parabéns por mais uma trama!
    Beijaooo

  5. Carol já falei que sou sua fã número dois? Kkkkk
    Cara que história maravilhosa, eu fiquei aqui até imaginando os rostos das personagens e cara que personalidade maravilhosas, ficou incrível as descrições do cenário cenário de devastação, ameiiiiii a idéia de um novo vírus da raiva, cara você é muito f○&@! Isso no bom sentido.
    Ps: estou aqui esperando que você escreva mais sobre esse tema. Rssss

    • É a fã numero dois? kkk Está certo!
      Bom, a ideia do vírus da raiva sofrer mutação é tão assustadora e os efeitos dela são tão terríveis que imagino como Zumbis. Sinceramente, espero que nunca aconteça uma evolução assim nesse vírus, principalmente nos dias de hoje.
      Tentei fazer algo diferente do que normalmente se segue na linha Zumbi. rsrs
      Que bom que gostou, Marcela!
      Um beijo e um abraço carinhoso para você!

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