Dois meses tinham se passado, eu continuava trabalhando no meu cd mas sem pressa, não ía todos os dias, não queria ficar trabalhando igual louca e perder as novidades da Giovanna que ocorriam todos os dias, era impressionante.

Recebi mais uma mensagem, do Diego, bufei e nem li, já sabia o que era mesmo.

– Que foi? – Dul perguntou.

– O Diego, toda hora mandando mensagem.

– É sobre o programa beneficente?

– Sim.

– Mas não é uma boa ideia?

– É, mas eu já disse que vou pensar. Não sei pra que essa insistência.

– Porque é por uma boa causa ué…. Não tem porque pensar. Ou tem algum motivo pra você não querer fazer?

– Não podem esperar? Eu hein. Já disse que ía pensar mas eles ficam mandando tudo como se já tivesse certo.

– Mas não vejo porque você não fazer.

– Porque não sou obrigada a fazer tudo que aquela lá quer! – ela revirou os olhos.

– Deixa de implicância Anahi.

– Não é implicância. – bufei irritada- Sabia que outro dia ela veio me falar que viu uma foto nossa com a Giovanna na internet e me perguntou como você estava?

– Ah é? – ela falou animada.

– Abusada! – revirei os olhos me lembrando e levantei, ouvi a Dulce rindo- Que foi?

– Nada. – ela ainda ria- Ainda bem que você não tem ciúmes, sou só eu né?

– Você é louca, você briga comigo.

– E você está fazendo o que? – ela ainda ria me olhando.

– Não to brigando, estou apenas falando.

– Hum, sei… E por que não falou que ela perguntou de mim então?

– Você queria saber pra que?! – me virei cruzando os braços.

– Nada. – ela se levantou rindo e eu a segui com o olhar- Aceita logo a proposta. – ela falou entrando na cozinha. Nada disse, voltei a me sentar no sofá.

Olhei a mensagem do Diego de novo e suspirei. Abusada.

Empurrei o celular pra longe e fiquei ali com a cabeça apoiada no sofá, eu ía aceitar, tinha que aceitar porque era uma boa causa mas precisava ter sido dela? Aff.

O programa era pra levantar fundos pra ajudar uma instituição que ajudava crianças com câncer, na verdade, já existia há dois anos mas desde o ano passado ficou mais famosa pois houve uma injeção de dinheiro por parte de um político aí, e com isso chamou mais atenção do público e com isso esse ano estavam chamando mais artistas, pois assim chamaria mais atenção da mídia e arrecadaria mais fundos né…. Enfim, uma coisa chamava à outra e essa proposta chegou a gravadora através da Isabella, não tinha como eu negar, ela era competente e conhecida no meio, as coisas ficavam muito mais fáceis e ágeis com ela, mas óbvio que isso nunca assumiria, mas a tratava super bem, porque eu que não daria essa moral pra ela né? Agia como se nem soubesse de beijo nenhum. Bom, mas o show seria na próxima semana, eu iria cantar duas músicas, uma antiga e uma que estaria no próximo cd. Como seria show gravado, era à tarde e a Giovanna me veria cantar pela primeira vez ao vivo, a Dul iria com ela assistir, confesso que estava feliz da vida e um pouco nervosa.

Elas estavam bem ali na frente e eu consegui ver assim que entrei, percebi a Giovanna olhando tudo, as luzes, as pessoas gritando, a gente estava com medo dela se assustar, mas como ela estava no colo da Dul acho que ficou de boa, mas tava meio sem entender bem. Dei um sorriso pra elas antes de começar, a Dul sorriu de volta e vi ela cochichando no ouvido da minha filha e apontando pra mim, ela me olhava meio séria hahah. Tadinha, não devia estar entendendo nada. Comecei a cantar e vi ela apontando pra mim o tempo todo, olhava pra Dul e teve uma hora até que queria ir pro palco, ela não entendia né? Quando ela via a gente na televisão ela ficava chamando, deve ter achado que era igual hahaha. Foi uma sensação maravilhosa cantar pras mulheres da minha vida ali! Além de ser uma causa nobre, eu me sentia feliz e importante, sabe quando você sente que seu papel no mundo está sendo cumprido? Então, era eu…. Depois de mim, mais dos cantores se apresentaram e nós ficamos ali no palco pra esperar a parte final pro encerramento, mas antes, algumas crianças do centro entraram no palco, eram umas cinco, todas elas recuperadas, algumas falaram o que emocionou todo mundo, no final o tal político entrou e falou algumas coisas e por fim, cantamos todos juntos pra encerrar o show.

Após o show, estava lá dentro do camarim que era enorme e todos os artistas se encontravam ali, vi a minha mulher entrando com a Gih no colo, sorri pra elas indo ao encontro. Ela já se jogou logo pro meu colo falando “mamãe””mamãe”

– Oi meu amor. Você viu a mamãe cantar? – ela fez que sim com a cabecinha e eu dei um beijo apertado nela.

– Ela não parava de chamar você e queria subir no palco.

– Eu vi hahah. Linda da mamãe. – esmaguei aquelas bochechas de novo. Muito gostosa!

Ela sempre reclamava mas eu fazia mesmo assim, olhei pra Dul que nos sorria.

– Foi muito lindo. Parabéns!

– Gostou?

– Amei. – ela me deu um selinho segurando no meu rosto.

Ficamos mais um tempo ali, conversando com algumas pessoas, eu já conhecia algumas, ela também….óbvio, era o nosso meio desde criança né? Um tempo depois eu falei que ía ao banheiro e ela ficou ali com algumas pessoas conversando e babando na minha filha hahah. Ao sair do banheiro, estava indo na direção delas quando me deparo com alguém na minha frente, ele falou comigo.

– Olá, Anahi né? – tinha um sorriso no rosto.

– Sim….- falei meio incerta.

– Desculpa, não me apresentei direito né? Não tivemos chance de conversarmos antes mas eu sou o Manuel Velasco, prazer. – ele estendeu a mão.

– Ah sim, prazer. – fiz o mesmo e ele me olhava nos olhos- Então você é o grande responsável por isso tudo? – fui simpática.

– Faço o que posso….

– É um lindo trabalho, parabéns. – retirei a minha mão ao falar.

– Obrigado. Mas nada seria possível sem o engajamento de vocês, obrigada por ter aceitado participar.

– Imagina. Foi o maior prazer! – ele sorriu mais uma vez me olhando. Eu estava ficando um pouco sem graça, até porque ficou um silêncio e eu procurei a Dul com o olhar, ela me viu mas desviei quando ele tornou a falar:

– Se algum dia você quiser conhecer nosso hospital, será um prazer te apresentar. As crianças íam adorar, tenho certeza!

– Claro, será uma honra! – sorri em resposta e a Dul apareceu ao nosso lado com a minha filha- Oi amor. – dei um beijo no rosto dela- Esse é o Manuel Velasco, ele que é um dos responsáveis. Essa é a minha mulher, Dulce e minha filha Giovanna. – a abracei pelo ombro.

– Prazer Velasco. – ela estendeu a mão pra ele que pegou e deu um sorriso pra ela.

– Parabéns Anahi, você tem uma família linda! A filha de vocês é linda. – nós duas sorrimos bobas.

– Obrigada. – falamos ao mesmo tempo a olhando, bobas.

– Estava aqui agradecendo a Anahi e a convidando pra conhecer nosso hospital, algum dia…. Se você quiser ir também, Dulce, será um prazer.

– Claro. Iremos né amor? – ela se virou pra mim me olhando.

– Sim. – sorri em resposta mas a olhando.

– Obrigada pelo convite Velasco e parabéns pelo evento. Estava tudo lindo! – ela falou o olhando.

– Obrigado.

– Amor, mas agora podemos ir? – me olhou- Ela está com sono…

– Claro, vamos sim. – a olhei ao falar e depois pra ele- Obrigada por tudo Velasco, até mais.

– Até mais. E pode me chamar de Manuel. – ele sorriu ao falar e eu apenas meneei a cabeça, sei lá, nem conhecia ele, mas político é tudo estranho né?

Saímos de lá e no táxi a Giovanna já tinha apagado.

Algumas semanas depois estava na gravadora mexendo em algumas músicas quando a Isabella entra na sala, após bater.

– Desculpa atrapalhar gente, mas Anahi, querem falar com você.

– Comigo?? – ela estava com telefone na mão- Aconteceu alguma coisa com a minha filha ou com a Dulce?

– Não, não são elas.

– Quem é então? – perguntei olhando pra ela que desviou o olhar pro Junior (que estava ali comigo ouvindo as músicas) depois me olhou e sussurrou quase inaudível.

– É do escritório do governador. – olhei com os arregalados pra ela- O tal do evento. Eles estão convidando você e outros artistas pra visitarem lá, mas ele insistiu pra que você vá.

– Ah….é, ele tinha convidado.

– Eu acho importante você ir. – ela falou.

– Importante por que?

– Da visibilidade à gravadora….

– Isabella, deixa eu deixar uma coisa bem clara aqui. – me levantei ao falar- Se eu for, é por causa das crianças, tem nada de visibilidade e menos ainda vamos fazer disso uma campanha, entendeu?

– Então você vai? – me ignorou completamente. Peguei o tel da mão dela a ignorando também.

– Alô. É a Anahi. – comecei a falar com a pessoa e ela logo saiu da sala. Aff!

Combinei tudo e marquei de ir, eu queria conhecer aquelas crianças e ajudar de alguma forma que eu pudesse…. Nem sei se a Dul poderia ir, mas eu iria sim.

Uns dias antes recebi um WhatsApp do escritório dele confirmando a hora e que ele estaria lá pra me apresentar, achei legal, afinal ele deveria conhecer melhor que ninguém né? Mas eu não iria só, eu e mais três artistas da gravadora faríamos a visita.

No dia de ir a Dulce falou que não iria conseguir ir, a Giovanna estava uns três dias enjoada por causa do dente que estava nascendo, tinha tido até febre ontem, eu ía desmarcar mas ela me convenceu que eu não podia fazer isso com as crianças, tínhamos recebido fotos no dia anterior dos desenhos que elas estavam fazendo e tal… Realmente, eu não podia. Minha filha estaria sendo bem cuidada pela mãe e eu logo voltaria, então eu fui.

Ao chegarmos lá, fomos recebidos por algumas pessoas que logo nos levaram pra entrada do hospital e lá o Velasco e algumas outras pessoas nos receberam, então começamos a visita. O hospital era enorme! Tinham varias alas, muito bem cuidado, tudo impecavelmente limpo, percebi que tinham algumas placas com o nome dele e alguns prêmios também…. Na primeira sala que eu entrei, tinham quatro crianças nas macas, todas elas sem cabelo, algumas com sonda, outras só com acessos, milhões de monitores acopladas à elas, eu tomei um choque! Mas elas sorriam pra mim e me chamavam, tia Anahi…. Sério, tive que respirar fundo e atuar, aquela cena tinha acabado comigo. Quando saímos da terceira sala, eu não aguentei, desabei no choro lá fora.

– Você está bem? – senti uma mão no meu ombro. Levantei o olhar e era ele.

– Sim, desculpa. – tentei secar mas óbvio que ele sacou. Deu um sorriso de conforto pra mim.

– É a sua primeira vez? – fiz que sim com a cabeça- Com o tempo você se acostuma, calma….

– Sim. – respirei fundo- É que….são só crianças e já sofrendo tanto….

– Às vezes elas passam por isso melhor que nós, na verdade, quase sempre. – sorri concordando com ele que parecia saber do que falava.

– Isso que você faz por eles é muito bonito! Parabéns Velasco.

– Pode me chamar de Manuel….- ele sorriu ao falar, deu um passo na minha direção- Se me permite, queria te mostrar uma coisa….uma pessoa na verdade. Posso?

– Claro.

– Venha. – ele apontou pra eu seguir pelo corredor, quando chegamos próximo a um corredor onde tinham varias portas, ele passou na minha frente e eu pude ver uma placa escrita: quimioterapia- Entra. – ele abriu uma das portas e pude ver uma menininha deitada e uma senhora ao seu lado, numa cadeira. Ele se aproximou delas e falou: Gabi.

Meu coração acelerou e não entendi bem o que tinha acontecido. Ele parou ao lado da maca dela e me olhou, porque eu tinha ficado estática na porta.

– Entra Anahi. – dei alguns passos na direção da cama e sentia minhas pernas fracas- Olha quem está aqui, Gabi. – ele falou com a menina, vi ela abrindo os olhinhos e fazendo uma força relativa pra sentar, assim que me viu abriu um sorriso lindo, sorri de volta e olhei pra senhora sentada à frente, ela tinha um olhar terno pra menina, devia ser parente dela, avó talvez….

– Anahi….- a menina falou fraquinho.

– Oi lindinha….- me aproximei dela tocando em sua mão.

– Ela veio mesmo papai. – ela falou olhando pro Velasco e eu tomei um choque.

– Sim filha, eu falei pra você que ela vinha. – ele falou com carinho tocando no lenço preso na cabeça dela que sorriu pra ele.

– Ela é sua filha? – eu estava CHOCADA.

– Sim, minha filha, Gabriela. – olhou pra ela ao falar.

– Prazer Anahi. Você é muito bonita. – a menina me falou.

– Você que é, minha linda. – eu segurava as lágrimas, minha mão sobre a dela ainda- Muito bonita. Seu pai deve estar muito orgulhoso de você. – olhei pra ele de relance que fez que sim com a cabeça.

– Eu queria muito te conhecer, mas o papai e a tia Yolanda falaram que eu não podia ir porque eu to muito dodói ainda, mas meu papai disse que você vinha aqui. – olhei pra ele, eu estava emocionada.

– Claro, vim te ver. – a olhei ao falar.

– Ela só falava disso dona Anahi. – a tia falou.

– Só Anahi, por favor. Dona Yolanda né? – a olhei.

– Só Yolanda. – ela sorriu ao falar e fiz o mesmo.

– Mas to curiosa, você já me conhecia, Gabi?

– A novela. – Yolanda falou. Estavam reprisando Rebelde depois de não sei quantos anos hahah, eu vi alguns episódios mas me dava agonia, confesso hahah. Eram umas bobeiras que não dava mais rsrs- Ela não perde um capítulo!

– É mesmo? Você gosta? – a olhei ao falar e ela sorriu empolgada.

– Cadê o desenho que eu fiz tia? – a senhora se levantou pegando algo em cima da prateleira e a entregou, ela me deu- Eu fiz pra vocês.

Era um desenho do RBD, era uma criança desenhando mas dava pra ver cada um, mais pelos cabelos e o Poncho com um olho verdão hahaha.

– Nossa, muito lindo o seu desenho Gabi. Você fez sozinha?

– Fiz. – ela sorriu orgulhosa.

– Tá de parabéns! Eu não ía conseguir desenhar tão bem assim. – brinquei com ela mas era verdade, sou uma negação hahah.

– Mas eu já sou grande, tenho 9 anos. – ela falou orgulhosa e eu ri, olhei pro pai e pra tia que também riam.

– Muito grande mesmo, uma moça. Sabia que eu tenho uma filha também, mas ela é pequeninha ainda. Quer ver uma foto dela?

– Quero. – peguei o celular pra mostrar pra ela, me acomodei ao lado dela meio deitada pra que ela visse melhor.

Mostrei umas três/ quatro fotos pra ela e na última, era uma foto de nós três.

– É a Dulce né?

– É sim.

– Vcês são casadas mesmo?

– Somos. A Giovanna é nossa filha. – ela sorriu me olhando e depois olhou pra foto. Criança era tão simples né? Se fosse um adulto ía fazer milhões de perguntas, com certeza.

– A Gabi adora ela né? – Yolanda falou.

– Sim, é a minha preferida da novela. Quando meu cabelo voltar a crescer eu vou pintar de vermelho, igual o dela né papai? – olhou pro pai.

– É sim, meu amor. – ele a olhou sorrindo e depois pra mim.

Ficamos mais um tempo ali conversando, nem vi o tempo passar…. Confesso que aquela menina me deu um banho, só conseguia pensar que se fosse eu estaria ali arrasada e só chorando. Aliás não só ela me deu um banho, todos eles, eu não conseguia nem pensar na hipótese de passar por algo sequer similar com a Giovanna, quando ela fica doente eu já quase morro…. Imagina isso? Consigo nem falar!

Nos despedimos quando a enfermeira chegou pra trazer o lanche dela, disse que precisava ir ao ver a hora, quase seis da noite, prometi retornar um outro dia, ela me abraçou e agradeceu. Dei um beijo no rosto dela, aquela menina parecia ser iluminada, ela sorria, era só uma criança já sofrendo tanto e ao invés de ser triste ou revoltada, ela sorria pra mim. Sério, meu coração estava apertado, eu só conseguia pensar que precisava ir pra casa agarrar a minha filha!

– Muito obrigada pelo que você fez, Anahi. – Velasco falou assim que saímos do quarto e deixamos Yolanda com ela. O olhei.

– Por que você não me disse? – meu rosto estava molhado das lágrimas novamente. Ele deu de ombros.

– Não gosto que as pessoas me olhem com pena.

– O que ela tem?

– Leucemia. – ele disse e abaixou a cabeça- Ela estava melhor sabe….mas tem uma semana que deu uma baixada nos anticorpos e está meio debilitada.

– Já tem muito tempo que ela está doente?

– Um ano e meio. – vi ele abaixar a cabeça e não soube o que falar- Eu tento mas às vezes é difícil sabe? Não posso largar meu trabalho de governador.

– Imagino…. Mas a dona Yolanda te ajuda?

– Sim, ela fica todos os dias com a Gabi.

– Ela não tem mãe? Desculpa perguntar…

– Faleceu há uns cinco anos. Dona Yolanda era tia dela e desde então me ajuda a criá-la, sou sozinho e é difícil pra mim sendo homem….

– Imagino. – dei um sorriso me compadecendo do sofrimento dele.

– Tento fazer o que posso. E quando soube que você aceitou, prometi à ela que pediria pra você vir aqui, ela realmente te adora! Você e a Dulce. – sorri feliz.

– Fico feliz em ajudar e se eu puder fazer algo mais, me fala. Ela é um encanto.

– Obrigado. – ele sorriu e eu também- Vai significar muito pra ela se você puder vir novamente.

– Virei sim, pode deixar.

– Obrigado então.

Nesse momento as outras pessoa da gravadora chegaram ali e disseram que já estavam indo, me despedi dele e os segui.

Uau! Que tarde! Precisava ver a Giovanna urgentemente!

Cheguei em casa com esse foco, nem sabia se ela estava acordada ou não, entrei e ouvi vozes na cozinha, fui na direção porque eu precisava passar por ali pra subir, a Dulce deve ter ouvido barulho e saiu da cozinha.

– Oi amor. – veio até mim me beijando- Tudo bem?

– Aham. – correspondi o selinho mas eu queria ir no quarto da minha filha.

– Que foi? – ela estranhou porque eu mal a olhei, porque se olhasse a probabilidade de eu cair no choro seria enorme.

– Nada. Cadê a Gih? – perguntei meio saindo já.

– Dormindo. – ela respondeu e eu já estava no primeiro degrau da escada- Onde você vai? Anahi! – me chamou porque eu não respondi, continuei subindo.

– Ver ela.

– Anahi, você vai acordar ela. O que houve?? – ouvi ela subindo atrás de mim mas não dei bola.

Entrei no quarto e ela dormia, realmente. Me debrucei no berço e fiquei a olhando, fiz carinho na barriguinha e nas pernas, vi que ela estava dormindo mesmo. Peguei ela no colo, eu precisava sentir ela no meu colo.

– Não faz isso. – a Dulce falou entrando no quarto, foi quase ao mesmo tempo.

Abracei ela que estava com a cabecinha apoiada no meu ombro, eu só precisava disso, alguns minutos, só isso, não ía acordar ela.

– Você vai acordar ela. Por favor. – a Dulce veio até mim sussurrando. Olhei pra ela mas nada disse, abaixei a cabeça abraçada à ela- Anahi, o que está acontecendo?

– Nada. – me virei de costas pra ela de frente pro berço, beijei o rostinho dela.

– Amor….- ela me virou pra ela- o que aconteceu? – balancei a cabeça e senti meus olhos marejarem- Põe ela no berço por favor, ela demorou a dormir por causa do dente. – fiz que sim com a cabeça e coloquei de volta.

Ainda estava de costas a olhando quando a Dulce me abraçou por trás passando os braços e apoiando as mãos sobre os meus ombros e repousando a cabeça no meu ombro.

– Tá tudo bem? – balancei a cabeça negando e me virei pra ela- O que foi? – abracei ela sentindo as lágrimas caírem no meu rosto- Vem comigo. Vamos conversar. – ela me puxou pela mão até o nosso quarto e deitamos na cama, a abracei como se ela fosse meu bote salva-vidas- O que aconteceu? – ela virou o rosto pra mim mas eu estava com o rosto enfiado no pescoço dela- Você se machucou? – balancei a cabeça negando.

– Você pode só me abraçar? Por favor?

– Posso. – me virei apoiando a cabeça no ombro dela que me abraçou com os dois braços.

Eu só chorei, precisava por pra fora. E só ali, com ela, eu me sentia segura o suficiente pra fazer isso sem ter que me importar com o que estavam achando ou se eu estava exagerando. Só ali eu podia ser eu mesma, com ela.

Por isso eu me segurei até agora pra desabar. E ela ficou ali, abraçada a mim o tempo todo e fazendo carinho, sem dizer nada, quando eu consegui me acalmar um pouco respirei fundo e me virei ficando meio de bruços mas ainda abraçada à ela. Respirei fundo mais uma vez.

– Foi lá no hospital. – sussurrei e funguei antes de começar.

– Você se machucou? – ela me olhou, neguei com a cabeça ainda de bruços, passei as mãos no rosto.

– Eu…- parei pra tentar organizar os pensamentos- essas crianças Dul…- a olhei, eu devia estar com o rosto vermelho de tanto chorar- são tão pequenas e sofrendo tanto e eu….- parei de novo pra respirar e senti ela passando a mão no meu rosto pra secá-lo com tanto carinho- eu me senti tão fraca perto deles. Eles enfrentam isso tudo e nos receberam com um sorriso no rosto.

– Você não é fraca.

– Sou sim! Você não tem noção da força deles….- me apoiei no cotovelo pra falar com ela, a olhando- A maioria ali talvez nunca saia dali ou não sabem nem o que esperar do dia de amanhã, mas ainda assim eles estavam sorrindo e felizes, sabe? E eu já reclamei tanto da vida, não agora mas antes…. E tipo, eu não tinha razão alguma, apesar de tudo eu sempre tive saúde, tirando aquela época da anorexia mas mesmo assim. Eu conheci uma menina tão linda, tão encantadora e….- ela me interrompeu fazendo carinho no meu rosto. Realmente, eu desembestei a falar.

– Amor, calma. Você só ficou impressionada e…- agora quem a interrompeu fui eu.

– Você sabia que o Velasco tem um filha com leucemia lá no hospital?

– Quem é Velasco?? Ah, aquele cara?

– Sim.

– Jura??

– Sim, eu também não sabia mas conheci ela hoje, ela é tão linda Dul, tão esperta e um doce de menina. Ela vê a novela. – ela sorriu- Ela disse que quando tiver cabelo novamente vai pintar de vermelho. Ela adora a “Roberta”. – nós rimos.

– Ela não tem cabelo? – balancei a cabeça.

– Ela faz quimioterapia, estava bem fraquinha. Ele disse que ela teve uma baixa de anticorpos, não entendo direito, só sei que ela estava bem fraquinha….

– Tadinha….

– É. Tirei foto com ela, quer ver?

– Quero. – ela passou as fotos e sorria- Ela é linda mesmo. Não parece com ele né? – ela me olhou.

– É, não. Nem tinha reparado nisso.

– Quantos anos ela tem?

– Nove. Ah, olha só o que ela fez pra mim. – peguei o desenho do bolso e a mostrei, ela olhava sorrindo pro desenho- Desenha melhor que eu hahah. – ela me olhou rindo- Mostrei uma foto da Giovanna pra ela e ela disse que ela parece uma boneca que ela tinha hahah. – ela riu e me olhou, dei um sorriso meio triste e abaixei a cabeça.

– Isso que você fez é incrível, amor. – balancei a cabeça.

– Não fiz nada, ela que tem uma cabeça sensacional pra uma criança. – a olhei e voltei a deitar no seu peito- Eu só queria poder fazer alguma coisa, não só por ela mas por todos.

– O que?

– Eu não sei, mas eu queria ajudar. Eu prometi à ela que voltaria lá pra visitá-la, se você quiser ir aposto que ela vai amar também!

– Vou sim. – minha mulher sorriu pra mim e a abracei mais forte, suspirando- Foi por isso que você voltou querendo ver a Giovanna?

– Foi. Me deu um desespero tão grande, não sei o que faria se algo com ela acontecesse, não sei, não consigo nem pensar! – a abracei novamente- Eu só queria voltar pra casa e te abraçar. – a ouvi sorrindo e fazendo carinho nas minhas costas, senti um beijo na bochecha- Precisava sentir que ía ficar tudo bem….- a olhei e ela fez carinho no meu rosto.

– Você pode sempre voltar pra mim que eu vou estar aqui de braços abertos te esperando.

– Eu sei. – sorri ao falar e grudei nossos lábios- Eu sei….- suspirei ainda de olhos fechados e testas coladas- Eu te amo.

– Também te amo, meu amor. – dei mais alguns selinhos nela e deitei a cabeça no ombro dela novamente.

Ficamos assim um tempo, eu só queria isso, ficar assim com ela.

No dia seguinte eu passei o dia todo em casa, queria ficar com a Giovanna, precisava!



Notas:



O que achou deste história?

3 Respostas para CAPÍTULO 4: Ela veio, papai.

  1. Obrigada pelo Feedback meninas! É uma doença terrível mesmo, mas vamos torcer pela Gabi!!
    Adoro os comentários de vcs! ??

  2. nossa esse capitulo realmente mecheu comigo,nem seicomo consiguiria passar por tudo issu realmente devemos dar valor na nossa saude pois sem ela nao somos nada,qmd temos algum pra dar suporte conseguimoos tirar pelo menos um pouco de forCA MAS QND C TRATA DE CRIANCAS ESSES SERCINHOS SAO DE UM A FORCA IMPRESSIONANTE.adorei o capitulo mas to sofrendo aqui com ele kkkk

  3. Nossa…que capítulo…já perdi várias pessoas da minha família p está doença,e complicado demais…me cuido pq pela proximidade do parentesco,tenho grande chance de vim a ter…suas palavras me emocionaram…vc esta de parabéns

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