Fui pra casa, jantei e então quando estava tranquila no meu quarto, liguei pra Maria. Tocou umas quatro vezes, já estava achando que ela não atenderia mais uma vez, mas ouvi a voz dela.

– Alô.

– Oi.

– Oi…- a voz dela estava baixa e parecia triste.

Ficou um silêncio e eu que falei primeiro.

– Que bom que me atendeu….

– Eu te liguei, você que não atendeu.

– Só vi depois….estava dormindo.

– Hum.

Mais um silêncio. Mais uma vez eu que o quebrei.

– A gente precisa conversar né? – ela não falou nada, só respirou fundo- Posso ir aí amanhã?

– Pode…- ela sussurrou.

– Ok, então até manhã.

– Até…

– Boa noite Mah, se cuida, beijos.

– Tchau.

Desliguei e ainda fiquei olhando um pouco pro celular, suspirei e então o deixei ao lado. Amanhã seria um dia daqueles….

No dia seguinte me arrumei pra sair de casa por volta de meio-dia.

– Filha, sua irmã vem almoçar aqui e….- ela parou e me olhou- Ué vai sair?

– Vou. Tô indo lá na Maria…

– Ah, tá? – fiz que sim com a cabeça- Tá certo então, vai lá. – ela fez carinho no meu rosto- Se cuida tá minha filha e se não for voltar me avisa ok?

– Eu vou voltar mãe, com certeza. – eu sorri ao falar a olhando.

– Tá ok então. Boa sorte meu amor.

– Tchau mãe. – dei um beijo no rosto dela e fui.

Mandei mensagem quando estava saindo de casa e ela respondeu só um “ok”. Ao chegar lá subi direto mas não quis abrir a porta apesar de ter a chave, resolvi tocar a campainha.

– Oi. – falei assim que ela abriu a porta. Ela estava com uma aparência abatida, roupas de ficar em casa, largadas.

Ela saiu da frente e me deu passagem pra entrar, o fiz mas parei no meio da sala e coloquei as mãos no bolso da calça, me sentia estranha ali agora.

Ela se virou pra mim.

– Quer alguma coisa? Beber ou comer?

– Não. To bem.

Ela acentiu com a cabeça mas não me olhava, eu não sabia o que fazer.

– Senta…- ela apontou pro sofá e eu fui até lá, ela continuou em pé sem me olhar- Eu vou pegar algo pra beber pra mim, tem certeza que não quer?

– Tenho. – ela assentiu e então saiu na direção da cozinha.

Ela voltou uns minutos depois com um copo de água na mão. Sentou numa cadeira de frente pra mim mas longe, uma mesa no centro nos separava.

– Você está bem? – resolvi perguntar. Ela levantou os olhos e eu vi como estavam vermelhos, não me respondeu, abaixou a cabeça a apoiando nas mãos com os cotovelos apoiados no joelho.

– Desde quando Anahi? – ela estava de cabeça baixa ainda. Me levantei e fui até lá me ajoelhando na frente dela.

– Olha pra mim….- tirei as mãos dela do rosto e vi os olhos dela úmidos de novo- Me desculpa?

– Por que você fez isso?? – vi as lágrimas dela rolando.

Eu estava com os dois braços sobre as pernas dela e abaixei a cabeça, eu não sabia o que dizer.

– Eu te perguntei tantas vezes. Por que não me falou??

– Desculpa….- deitei a cabeça no colo dela, podia ouvir seu choro.

Não falávamos nada, um pouco depois senti a mão dela nos meus cabelos fazendo carinho, não entendi bem e levantei a cabeça e a olhei, ela deixou a mão “cair” pro meu rosto.

– Vem cá…- sussurrou e me puxando pelo braço eu sentei no colo dela, nos abraçamos.

Eu estava realmente arrependida de tudo que eu fiz com ela, fiquei fazendo carinho na nuca dela enquanto ela me abraçava. Senti ela se afastando do abraço e me olhando, fez carinho em mim e ela tentou me beijar mas já não era mais aquilo, eu estava arrependida mas não senti vontade de beijar ela.

– Pelo menos agora você foi sincera….- a olhei sem entender- Quantas vezes você me beijou ou mesmo pior, pensando nela?!

– Não foi assim Maria. – tentei tocar no rosto dela mas ela se afastou com raiva e se levantou quase me jogando no chão.

– Eu fiz tudo por você Anahi!! – gritou e me olhou- Tudo!! E ainda assim você preferiu essa idiota que só te fez mal??

– Maria, para. Eu não preferi ninguém! Eu não tô com ela. – ela riu, um sorriso irônico.

– Para de mentir! Eu sei que você me traiu!! Por isso você estava diferente….- abaixei a cabeça e achei que ela merecia algo de verdade.

– Ok, eu fiquei com ela mas não é do jeito que você está pensando….- eu vi algumas lágrimas descendo.

– E tem um jeito legal de trair, Anahi?!

– Não. Não tem. Eu fui uma babaca, não devia ter feito isso com você, justo com você que sempre me ajudou em tudo!

– Pois é, mas fez! E eu só queria entender o porquê….- ela me olhava- Você acha realmente que ela vai te assumir Anahi?

Respirei fundo pra não perder a calma.

– Maria o assunto aqui não é esse. Deixa ela pra lá.

– E qual é então? O que você veio fazer aqui??

– Vim conversar sobre a gente. – ela riu mais uma vez de ironia.

– Não tem mais a gente Anahi. – ela falou e se sentou no sofá- Existe um trio agora. Por que vc não chama ela aqui pra conversamos?! – ela cruzou os braços me olhando.

Balancei a cabeça e suspirei.

– Para com isso Maria!

– Você realmente deve gostar de ser mal tratada né? Por que depois de tudo que ela te fez você ainda considerar ter algo com ela…..realmente!

– Tá difícil….- sentei no outro sofá.

Aquela atitude dela estava me irritando, só estava me segurando porque eu sabia que estava muito errada.

– Ah desculpa, se eu tô atrapalhando a sua vida….

– Você está atrapalhando essa conversa! Não vim aqui falar da Dulce! – ela balançou a cabeça e cruzou os braços.

– Então fala o que você quer.

– Eu quero te pedir desculpas por tudo isso que eu fiz, você está certa, você me perguntou várias vezes mas eu não tive coragem de fazer o certo, eu achava que poderia dar um jeito mas eu não consegui….- a olhei- Eu tentei também fazer com que isso não me afetasse ou não afetasse nosso namoro, mas também não deu certo.

– Desde quando Anahi?

Respirei fundo e olhei pro lado.

– Isso faz mesmo diferença?

– Desde quando?! Eu quero saber.

– Não sei a data Maria.

– Não mente pra mim Anahi, não mais! – ela se inclinou pra frente e eu não sabia nem o que falar.

– Algum tempo, não sei ao certo Maria.

– Semanas?? Meses? – a olhei mas desviei o olhar e ela se levantou e bateu com raiva na mesa. Abaixei a cabeça e ela apoiou as mãos na mesa e começou a chorar.

Eu não sabia mais o que fazer.

Então, ela se virou.

– Posso só fazer uma pergunta?

– Fala. – a olhei.

– Você me amou? Algum dia? Ou foi tudo mentira?

– Óbvio que te amei! – fui até ela- Não faz isso, não joga tudo fora assim!

– Eu que joguei, Anahi? – ela chorava. Eu suspirei e abaixei a cabeça.

– Eu sei, a culpa é minha. Mas não duvida do que a gente viveu por favor?

– Já não consigo mais….- ela fungou e respirou fundo- Não consigo entender o porquê. – ela voltou a chorar e por as mãos no rosto.

– Desculpa! Me perdoa! – a abracei e ela chorou mais ainda.

Eu estava arrasada, sério. Ela não merecia nada disso.

– Acho melhor você ir pra casa….- se soltou de mim.

– Maria…

– Vai embora Anahi. Por favor. – ela chorava.

– Ok, vou deixar você em paz, só queria que soubesse que tô arrependida. – ela riu ironicamente e eu achei melhor ir, não tinha clima pra aquilo agora- Tchau. – eu já estava abrindo a porta quando ela falou.

– Você está com ela?

– Não. Já te falei isso. – ela desviou o olhar e não falou nada.

Fui embora.

Cheguei em casa e minha irmã ainda estava lá, Jorge, as crianças, todo mundo lá…

– Oi filha. – minha mãe me sorriu e eu tentei forçar um sorriso- Tudo bem? – fiz que sim com a cabeça.

– Oi Titi. – a Ana Paula veio me abraçar, Santi também, peguei ele no colo e então fui até onde os outros estavam.

– Já almoçou filha? Quer comer algo?

– Daqui a pouco, mãe. – ela só me olhou mas nada falou, ficamos ali pela sala conversando.

Meu pai e o Jorge começaram a ver algo de esporte na TV e as crianças queriam ver um desenho lá, então minha mãe pôs pra eles no seu quarto. Foi nessa hora que a Mari me puxou pra varanda.

– Quer conversar? – nos sentamos e a olhei.

– Mamãe te contou? – ela fez que sim.

– Como foi?

– Péssimo! Eu tô arrasada.

– Tô vendo…

– Ela me perguntou se algum dia a amei…

– E o que você disse?

– Que sim. Óbvio! Eu amei ela. – nessa hora minha mãe entrou na varanda.

– Como você está, bebê? – ela sentou ao meu lado e me abraçou, deitei a cabeça no ombro dela e percebi a Mari nos olhando.

– Ela está com raiva de mim, mãe.

– Calma filha, isso passa….

– Eu falei pra ela.

– Da Dulce? – minha mãe.

– Assumi a traição mas não entrei em detalhes também mas ela tem certeza que eu tô com ela mesmo eu dizendo que não.

– E você está? – Mari.

– Óbvio que não Mari!

– Ué, sei lá.

– Não tô. Eu preciso ficar só. – Mari me olhou- Você estava certa mãe. – minha mãe sorriu.

– Pra te ser sincera, eu achei que vocês estavam juntas depois do aniversário da Sophie….- só balancei a cabeça.

– O que houve no aniversário da Sophie?

– Elas….você sabe mãe, do jeito que elas são quando estão juntas….

– Mas a Maria não estava lá?

– Sim, mas foi embora mais cedo. – expliquei.

– E você ficou? – mãe.

– Uhum. – respondi e me levantei ficando de costas pra elas, passei a mão pelos cabelos e suspirei- Eu sei. Eu fiz tudo errado! E agora a Maria me odeia!

– Ela não te odeia filha, calma….- abaixei a cabeça.

– Você falou com a Dulce? – Mari perguntou e eu concordei com a cabeça- E falou o que pra ela?

– Pedi pra ela me dar um tempo pra eu pensar e entender o que eu tô sentindo.

– E o que você está sentindo? – a olhei sem falar nada por um tempo- Você ainda ama ela, não é? – suspirei, olhei pra minha mãe e depois a olhei. Fiz que sim com a cabeça e depois a abaixei.

– Filha, não resolve nada agora tá? – minha mãe veio até mim me abraçando- Não tô duvidando do que você sente pela Dulce, mas calma, não se precipite, você e a Maria acabaram de terminar.

– Você terminou com ela? Mesmo? – Mari. A olhei ao responder.

– Acho que ficou subentendido até porque ela sabe da traição e me mandou embora da casa dela, mas não, não falei com essas palavras.

– Então você fala. – ela se levantou vindo até nós- Pra depois ela não dizer que não entendeu ou sei lá o que…..vai por mim, não deixa subentendido Annie.

– Sua irmã está certa, meu amor.

– Ok, vou falar. – a Mari concordou com a cabeça e eu precisava ficar um pouco só- Vou subir tá? Quero deitar um pouco.

– Não quer comer, filha?

– Depois mãe. – dei um beijo na bochecha dela- Tchau Mari.

– Tchau Annie.

Subi pro meu quarto, fechei tudo, desliguei o celular e deitei. Ao contrário do que eu imaginei, não estava me sentindo mais tranquila por ter contado pra ela, estava péssima, foi eu fechar os olhos que me lembrava dela chorando, acabei derramando algumas lágrimas também, acho que por tudo junto….. Demorei um pouco pra conseguir relaxar e cochilar.

Uns dois dias depois disso eu estava na sala com meus pais vendo um filme, já que estava ficando mais em casa agora que não estava mais com a Maria nem ninguém, quando ouvi meu celular tocando, fui ver e me surpreendi, era a Maria. Resolvi atender.

– Já venho. – avisei à eles e me levantei, fui pra varanda atender, percebi minha mãe me olhando- Alô.

– Oi.

– Oi Mah. – ficou um silêncio porque eu achei melhor não fazer a pergunta clássica “como você está”.

– Desculpa estar te atrapalhando….- cortei ela.

– Você não está atrapalhando. Eu estava vendo um filme com meus pais…

– Ah. – ela pareceu meio surpresa.

– Mas pode falar….

– Eu queria….- ela parou e respirou fundo, parecia estar escolhendo as palavras- não sei…. será que a gente podia se ver? Aquele dia eu não estava muito bem, ainda estava processando tudo e, sei lá Anahi, acho que eu só queria conversar com você….

– Tá bom.

– Tá bom é um sim? – eu sorri.

– Sim, é. Podemos nos encontrar….

– Tá. Quando você pode? Amanhã?

– Posso, mas tem que ser à tarde porque de manhã combinei de sair com a Ana Paula.

– Tudo bem, pode ser à tarde.

– Quer que eu passe na sua casa então?

– Não. Preferia um lugar na rua, pode ser?

– Na rua? – ela deve ter percebido minha voz e logo emendou.

– Relaxa que não vou fazer escândalo nenhum só que é difícil te ver aqui em casa e….- percebi a voz dela embargada e ela parou de falar, respirou fundo- Enfim. Se puder….

– Meu único problema é ter gente em cima e isso virar um programa na televisão depois.

– Mas tem lugares que da pra irmos, nós sempre fomos….

– Ok então. Me manda mensagem com o lugar depois que eu estarei lá. 

– Ok. Obrigada. Boa noite então….

– Boa noite Mah, beijos.

– Beijo. – ela desligou e eu voltei lá pra sala, minha mãe me olhou e perguntou.

– Tudo bem filha?

– Aham. – dei um sorriso e voltei a deitar no sofá pra ver o filme.

Não queria dar muito assunto pra isso se eu nem sabia o que aconteceria né….

No dia seguinte eu saí com a Ana Paula porqur ela queria comprar roupa hahaha e depois fui encontrar a Maria no tal lugar, tínhamos marcado depois do almoço. Quando eu cheguei ela já estava lá.

– Oi. – falei ao me aproximar da mesa porque ela não tinha visto, estava mexendo no celular. Ela levantou o olhar e ficou me olhando um pouco.

– Oi. – ela se levantou mas acho que no meio desistiu de se aproximar porque ficou parada, eu também não sabia se devia me aproximar ou não. Ela logo falou- Tá escondido o suficiente aqui pra você?

– Tá. – sorri ao responder. Era num lugar reservado do restaurante que inclusive tinha umas cortinas de separação, já tínhamos ído lá algumas vezes.

– Boa tarde. – o garçom se aproximou e puxou a cadeira pra mim o que fez acabar o nosso momento de não saber o que fazer. Eu me sentei e ela também, uma de frente pra outra.

– Boa tarde. – respondemos juntas.

– Desejam alguma coisa? – eu olhei pra ela que respondeu.

– Ela acabou de chegar, daqui a pouco te chamamos.

– Tá ok. Fiquem à vontade….- ele disse e em seguida se retirou.

O silêncio reinou e ela de cabeça baixa olhando o cardápio.

– Você vai comer?

– Não. – ela me olhou- Estava só olhando mesmo…- ela deu um sorriso meio forçado e percebi como ela estava nervosa e com o rosto abatido. Eu retirei os óculos do rosto e acenti, ela logo desviou o olhar- Você vai?

– Não, já almocei, com a Ana Paula.

– Ah tá.

– Ela mandou um beijo pra você…- nessa hora ela me olhou com um sorriso verdadeiro.

– Manda outro. – sorri de volta e concordei com a cabeça.

Estava bem esquisito….

Em seguida o garçom veio e pedimos uma bebida, bom, eu pedi porque ela já bebia, pedi um suco mesmo, ela estava bebendo cerveja. Ficou mais um silêncio e então tomei coragem, me inclinei apoiando os cotovelos sobre a mesa.

– E então….? O que você quer conversar?

– Claro. Direto ao ponto!

– Maria….- tentei falar algo, mas ela não deixou…

– Não, você está certa Anahi. Vamos ao que interessa…. Eu quero te perguntar umas coisas que aquele dia nem lembrei de falar.

– Pode perguntar.

– Aquele dia da festa da Sophie, que você trocou meu nome pelo dela, foi por que você estava com ela em algum momento daquela festa? Você ficou com ela lá enquanto eu estava lá?

– Maria….- desviei o olhar- sério? – a olhei- Pra que você quer saber isso?

– Só me responde Anahi. Ficou ou não?

– Não. – respirei fundo ao falar e a olhei.

– Para de mentir pra mim. – ela estava com os olhos lacrimejando.

– Não estou mentindo mas eu achei que tinha vindo aqui pra conversar sobre a gente, não sobre a Dulce.

– Existe um a gente ainda pra conversamos, Anahi? – eu respirei fundo e abaixei a cabeça, não sabia o que responder- Hein? – ela insistiu e quando a olhei ela me olhava nos olhos.

– Não sei. – ela ficou me olhando, ficamos nos olhando, na verdade. Respirei fundo- Eu preciso de um tempo Mah….sozinha….- ela riu de ironia e desviou o olhar.

– Isso tudo é uma desculpa pra ficar com ela Anahi?! Não precisa, só falar!

– Não. – a olhava bem nos olhos ao falar- Como ela te falou aquele dia no show, que aliás foi a maior palhaçada que eu já vi! Você não devia ter feito aquilo! Mas como ela falou, se eu quisesse eu estava com ela. – mais uma vez ela deu um sorriso irônico.

– Obrigada por esfregar na minha cara!

– Não tô esfregando, tô te mostrando que não é desculpa pra ficar com ela. Eu realmente preciso de um tempo pra entender tudo isso, pra saber o que aconteceu….ou o que eu quero.

– Sabe, eu tenho a impressão que eu só tô te conhecendo agora. Isso tudo que você falou aí, quanto tempo você precisou pra criar coragem e falar?

– Maria….- balancei a cabeça- Ok. Você está certa, eu fui uma idiota com você, eu não soube o que fazer, meti os pés pelas mãos…. Mas não posso fazer nada além de te pedir desculpas….

– Só me diz uma coisa. Você gosta dela né?

– Não sei. – bufei me jogando na cadeira e cruzando os braços, vi ela desviar o olhar e secar uma lágrima.

– Ok. – ela balançou a cabeça mas não me olhou.

Respirei fundo e me inclinei na mesa de novo, estiquei a mão pra tentar tocar nela.

– Me desculpa vai? – ela não me olhou mas não tirou a mão- Eu vacilei com você mas não foi por mal, eu não queria te magoar e muito menos te ver chorando ou sofrendo….. Eu tô muito arrependida!

– Ok. – agora quem se encostou na cadeira se afastando do meu contato, foi ela- Enfim, não tem mais o que fazer agora, já foi. Apesar de tudo….- ela me olhou- eu te amo e não desejo nada de mal à você Anahi, de verdade, eu nem consigo….- sorri com o que ela falou e vi mais lágrimas rolando do seu rosto.

– Eu também amo você. – ela abaixou a cabeça e negou- Não sei te dizer se da mesma forma ainda mas eu te amo.

– Não fala isso, por favor! – ela secou o rosto- Isso é pior do que se você me falasse que não me ama, sério!

– Desculpa. – abaixei a cabeça.

Ela respirou fundo.

– Ok, enfim. Foi bom enquanto durou mas ninguém tem que ficar preso à ninguém né….- ela tirou a aliança do dedo e colocou em cima da mesa, eu estava com a minha também.

– Você não quer mais? – nessa hora eu senti meus olhos úmidos também, acho que foi como um baque, tipo: agora é real mesmo.

– Pra que? – ela chorava- Não significa mais nada.

– Claro que significa Maria. – eu tinha esticado a mão até a aliança dela que agora estava na mesa.

– O que? Um namoro que nem existe mais?! Não quero! Fica pra você se quiser….- ela mais uma vez se recostou na cadeira chorando.

– Significa muita coisa, foram quase dois anos, pra você não foi nada, por acaso?!

– Pra mim foi tudo Anahi! – ela me olhou e falou meio irritada- Você que jogou tudo fora por causa de alguém que….- ela parou de falar e virou o rosto, acho que se controlando.

– Maria, não é por causa dela, é por nossa causa, por minha causa.

– Claro que é por causa dela! Foi só você a ver de novo que tudo mudou! Nós estávamos bem até você a reencontrar e você sabe! – suspirei e abaixei a cabeça.

Talvez….

– Não sei. Mas não acho que temos que jogar tudo fora por causa disso….

– Fica pra você então! – ela olhava pros lados e falou com raiva. Peguei e guardei, não disse nada….suspirei- Enfim, eu te prometi que não ía fazer uma cena nem nada disso e não vou, mas é melhor irmos….

– Ok.

– Vou pedir a conta.

Nós pagamos e então na saída me ofereci pra levá-la, ela acabou aceitando. Fomos o caminho todo em silêncio, só quando chegamos em frente à casa dela que ela falou algo.

– Então é isso? – ela se virou pra mim ao falar- É assim que vai acabar? – olhei pra ela e eu via como ela estava sofrendo e eu não sabia o que dizer ou fazer, sério.

– Eu não queria que fosse assim Mah mas eu não sei o que fazer, não queria te magoar nem ter feito nada disso….- ela abaixou a cabeça. Tirei o cinto e cheguei mais perto dela- Posso te pedir uma coisa? – ela estava de cabeça baixa ainda então só acenou com a cabeça que sim- Não duvida de nada que a gente viveu nem do que eu senti por você, porque eu senti Maria, eu amei você e você me fez muito feliz, tá? – dei um beijo na cabeça dela ao fim da frase e a vi cair no choro, ela me abraçou. Abracei ela de volta e fiquei fazendo carinho nos cabelos dela- Me desculpa! Me perdoa! Não queria isso…- eu só a ouvia fungando.

– Eu….só….queria poder…..esquecer…..isso tudo….- ela falava entre choros. Só fiquei fazendo carinho e abraçada à ela- Voltar a época em que éramos felizes….- ela levantou a cabeça me olhando- nós éramos felizes, não éramos?

– Sim. – dei um leve sorriso levando minha mão ao rosto dela, secando o rosto, percebi ela fechando os olhos ao meu toque. Ela abriu os olhos e eu sorri, eu estava tentando deixar ela bem….mas ela se aproximou de mim- Maria….- falei quando o rosto dela estava a milímetros.

– Um último beijo, por favor….

Eu não falei nada nem me mexi e ela me beijou. Ela segurou meu rosto com as duas mãos e o beijo era meio desesperado, parecia mesmo que era o último, ela me puxava como se eu fosse fugir, mas eu estava ali e a beijava calmamente, fazendo carinho no rosto dela, aos poucos ela foi diminuindo a intensidade do beijo e senti um gosto salgado das lágrimas entre o beijo. Ela foi diminuindo cada vez mais o beijo e eu percebi que tanto hoje quanto no dia que ela tentou me beijar na casa dela, eu já não sentia a mesma coisa no beijo, não era ruim, pelo contrário, mas não tinha mais o desejo, era só carinho….. Isso foi um baque pra mim, me deu um aperto no peito.

Ela se separou dando fim ao beijo, me olhou e então saiu do carro sem falar nada. Entrou no prédio sem nem olhar pra trás e eu entendi que aquele era o fim, uma merda! Não era assim que eu esperava ou queria terminar com ela mas foi assim….. Tomei coragem e saí dali, indo pra casa.

Troquei de roupa e antes de deitar eu peguei as duas alianças e guardei numa gaveta, dei uma última olhada antes de fechá-la e a sensação que eu tive era que não foi apenas o fechamento de uma gaveta mas sim o fim de um ciclo…..sei lá, mas eu estava com essa sensação….. Depois disso me deitei pra dormir…



Notas:



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