Músicas que embalam o capítulo:

OOPS!: http://www.youtube.com/watch?v=l-DE3clAjNc 

PARADISE CIRCUS: http://www.youtube.com/watch?v=jEgX64n3T7g 

HOLIDAY: http://www.youtube.com/watch?v=86OKd1pMU-w  

Sunny – Jennyfer Hunter

Fiquei olhando a sombra dela aumentar ao longo que caminhava, ou melhor, corria em direção ao mar. Queria, quase que num ato repentino, ir atrás dela, ir até ela. Seria imprudente, eu sei. Mas eu precisava muito olhá-la para ter a certeza de que o que acabara de acontecer não tinha sido um equívoco. Aquele beijo foi completamente inebriante, envolvente, acalentado de desejo e… Desespero. Sabia que para ela seria difícil aceitar o que tinha acabado de acontecer. Mas eu… Ah… Eu tinha adorado! Tinha sido simplesmente tudo. Levei a mão à boca como quem tenta com isso reproduzir o recente e suave contato dos lábios. Sorri ao lembrar do toque dela, do explorar tímido, curioso e depois urgente de sua língua dentro da minha boca. E queria muito mais, precisava de mais, assim como um sedento precisa de água para estender sua existência por mais algum tempo. Camila ainda estava lá… Era possível ver, interpretar seu pânico, seu anseio por meio de seus movimentos ao lado de Flávia. O que eu podia fazer naquele momento? Nada… A não ser responder à Ive, que me cutucava insistentemente na curiosidade de saber o que eu estava sentindo.

– Sunny?! Tá tudo bem?

Eu ainda sem desviar minha atenção de Camila ensaiei um tímido e fraco sim com a cabeça. Apenas isso. Porém, sem acreditar e mantendo a inconveniência para aquele momento, insistiu:

– Foi isso mesmo o que eu vi? Olha… Eu já te vi beijando umas gurias por ai, mas daquele jeito… Tô até arrepiada… Olha aqui ó!

Estendeu o braço para dar mais realidade ao exagero…

Eu sorri de forma condescendente… Pensei no que eu realmente estava sentindo e no que as próximas palavras poderiam significar para as meninas. Resolvi me calar. Mas Ive não se aquietou:

– Amiga! Você está gostando dela, não está?

Somente após atender a sua indiscrição, que finalmente virei para o lado a fim de encontrar o rosto de Ive.

– Não… Não sei do que você está falando.

Falei dando um jeito de andar para dentro da barraca. Precisava de mais uma bebida. Lú que estava vendo tudo de dentro da barraca, ficou na dela. Eu sabia que teria arguições homéricas a respeito daquele beijo. Preferiria que tivesse sido um contato velado, particular, oculto, pois assim não teria a obrigação de compartilhar o que senti com mais ninguém além dela… Daquela mulher que estava mexendo comigo como nenhuma outra pessoa tinha feito.

O fato de estar deliberadamente encantada por Camila não me fazia travar internas batalhas sobre minhas convicções e escolhas. Afinal, nunca tive problemas com a questão sexual. Muito pelo contrário… Eu estava à vontade com isso.

Desde a primeira vez que meus olhos tinham encontrado os dela, eu sabia que estava fadada a ter fortes alterações cardíacas e supressões pulmonares em decorrência de mera e pura proximidade. Pensei no quão difícil seria e se valeria o esforço. Mas quando me lembrava daquele beijo… Ah… Aquele beijo… Tinha a convicção de que o queria por muito vezes mais… Incansavelmente.

Chocolate tinha acabado de tocar a saideira e após se despedir de algumas pessoas, veio até mim, que estava com o meu pensamento a quilômetros de distancia. Ver Camila indo embora sem sequer olhar para trás tinha me deixado deprimida. Podia interpretar aquilo como uma prova de que Camila não tinha gostado? Fui rejeitada? Era isso mesmo?

Faltava-me perspectiva…

– Sunny? Hey!

O chamado me despertou do profundo devaneio com o sacolejo. Ao mesmo tempo que abaixava em minha frente, Chocolate perguntou:

– Tava onde hein? To aqui te chamando a um tempão.

– Desculpe.

Abaixei a cabeça… Ao tempo que imaginava eu me transformando em cerveja pra poder descer goela abaixo de alguém e sumir de vez. 

– O que está havendo com você?

– Nada Chocolate… Nada.

– Como nada? Ele parou por um instante como se tivesse tentando entender o que nem eu conseguia… E continuou: – Sunny! É impressão minha ou você e Camila est…

– Não. Não estamos.

Cortei grosseiramente antes mesmo que ele pudesse completar. Mas a capacidade de questionar do negão era inesgotável. Ainda mais quando se tratava dos meus sentimentos e relacionamentos. Ele sempre dizia que eu precisava achar o meu par de calçado. Olhou para as meninas, que sinalizaram pedindo para ele continuar insistindo nas perguntas. Assim, elas não precisariam ter o trabalho de me perguntar mais nada…

– Sunny, querida… Eu não estou acreditando! To pasmado. É isso mesmo?

– Isso o que, Chocolate?

A calma já estava me deixando verde.

– Você está atraída por aquela mulher! É isso? Eu percebi quando você me apresentou a ela…

– Bobagem!

Dei de ombros, tentando esconder o que era um fato.

– Sei…

Ele agachou em minha frente… Deu uma golada na minha cerveja e depois de um instante soltou:

– Achei ela linda, sabia? Acho que deveria investir!

Sorri pra ele, achando incrível a forma como ele me fazia me sentir melhor…

– Você me falando isso? Me dizendo que devo investir em uma mulher?

– Hum… E qual o problema nisso? Se ela tá fazendo isso com a sua cabeça… Não tenho mais nada a contestar. Ela já conseguiu o impossível, mesmo! 

Conseguiu uma gargalhada de todas nós!

Nesse momento, percebi que só estávamos eu, ele, Ive e Lú. As meninas já tinham ido embora. Aproveitei e levantei da cadeira avisando que estava indo para minha casa. Chocolate, nada bobo voltou a dizer que ela era uma mulher muito interessante e que eu não podia deixar ela sumir. O abracei fortemente enquanto eu falava:

– Nêgo… Eu nunca senti isso por ninguém.

– Morena… Calma! Tudo vai dar certo. Olha… Amanhã será um novo dia, você vai ver.

Disse enquanto se afastava do abraço e me fitava bem nos olhos…

– Tomara amigo, tomara.

– Vá pra casa… Descanse. Amanhã você vai estar bem melhor.

Nos abraçamos mais uma vez. Eu o agradeci por ter tornado aquela tarde de sexta maravilhosa e ter feito a praia um ponto divertidíssimo com suas músicas. Antes de ele ir embora, me fez um convite:

– Olha… Amanhã eu estarei naquele pub em Bombinhas. Tem um grupo de amigas que vai tocar lá. Seria muito legal se você fosse. Que tal?

Antes deu responder, pensei em como seria interessante que Camila pudesse ir comigo, mas depois de hoje não sabia mais de nada. E com um ouvido mais que tuberculoso, Lú se meteu na conversa e respondeu por mim:

– Que maravilha! É uma excelente idéia. Vamos todas! Eu, Ive, Sunny… – Secou as mãos no pano de prato e saiu de dentro da barraca para dar um abraço no Chocolate.  – Pode deixar que essa pessoinha aqui vai sim.

Falou enquanto tocava em meu ombro direito como se fosse uma ordem. Restou-me apenas sorrir brandamente e dizer que nos encontraríamos lá então. Ele fez uma festa antes de se despedir da gente, partindo com seu violão… Fez-se um silencio… Lú ficou me olhando… Como se estivesse pesquisando as palavras… Até que a escolha tinha sido feita:

– Sunny… Desembucha! Quero saber o que tá rolando…

– O que?

– Não se faça de desentendida, ok? Você andou de moto com ela ontem por mais de duas horas e não me contou nada. Ai vem hoje e rola aquele beijaço. E ainda me pergunta o quê? Fala, cara de pau!

Tive que rir dela. Por que será que nossas amigas acham que temos que contar tudo nos detalhes? Que coisa chata! Tá… Não tinha como fugir..

– Lú… O que tá rolando é uma atração forte por ela. É isso. Mas pelo resultado de hoje, ela não tá nem ai.

– Tá louca, Sunny? Aquela guria tá na sua…

– Ah não viaja, Lu! Ela me dá aquele beijo e depois vai embora sem nem ao mesmo me olhar?

Minha amiga, que me conhecia super bem, percebeu meu iminente descontrole. Eu já estava abrindo outra latinha. Ela pacientemente tirou a lata da minha mão e falou ao entregar a lata para sua mulher:

– Você tá gostando dela. Confessa, vai?!

O que eu podia fazer? Falar me parecia a única saída para exteriorizar o que nem mesmo eu queria acreditar.

– Tô de quatro por ela.

A voz quase não saiu. Olhei para baixo no intuito de não declarar mais nada.  

– Uau! Sunny isso é demais! Ela conseguiu em dois dias… Como pode?

Levantei num repente com uma mistura de raiva e sofreguidão.

– Bom sinal onde, Lú? O que adianta eu ter a certeza de que gosto dela, se é visível que ela não quer?

– Como não quer? Amiga… É nítida a atração dela também. Entenda… O único problema é que ela ainda está ligada ao passado e…

– E eu vou ter que esperar esse passado passar pra presente por quanto tempo? Não sei se quero isso, entende? Por quê eu tinha que me encantar por uma pessoa com crise de moralidade?

– Como?

Lú enrugou a testa, buscando com o olhar minha seguida explicação.

– Ah… A mulher dela sumiu… Morreu… Sei lá… Por quê é tão difícil pra ela dar um beijo em outra pessoa? É o amor? Pode até ser… Mas acho que ela não se permite inteiramente porque acha isso errado… Como se fosse uma traição, entende?

– Sim, Sunny. Mas você já tentou se colocar no lugar dela? Amiga… Presta atenção: é o tempo dela. É o tempo de que ela precisa. Ela já deu um grande passo ao aceitar o seu contato… Agora é esperar…

– Aff… Esperar por ela que espera por outra? Não… Não mesmo! Você sabe muito bem que não sou de esperar. Sou de agir. Sou de decisões. Sou de ir atrás do que quero…

– Então? Se não quer esperar… Mude a tática. Se insinue… Se mostre… Seja incansavelmente você… Busque-a… Mostre a ela que você a quer. E se não rolar, a culpa não terá sido sua. Entendeu?

Consenti junto a um sorriso e um abraço terno. Disse que precisava ir embora e que amanhã ligaria para ela. Me despedi das duas… Coloquei a cartucheira na cintura e caminhei até minha casa. No caminho fui desejando ser um bichinho de estimação da Camila só pra saber como ela devia estar.

Acordei com os raios do sol me convidando a curtir aquele dia. Pensei em me arrumar e ir lá na barraca das meninas só para encontrar com ela, para olhar para ela… Falar com ela… Mas minha coragem e determinação não estavam sincronizadas com minha vontade naquele momento. Decidi continuar na cama por mais tempo… Levar meu pensamento ao que aconteceu ontem foi automático, mecânico, involuntário. Aquele beijo… Aquele gosto puro… Abracei o travesseiro, como se quisesse abraçar a ela e adormeci novamente.

Não apareci na praia naquele sábado. Fiquei em casa, contrariando todo o meu desejo de estar com ela. Achei que seria interessante não aparecer, justamente para não sufocar Camila. Por mais que fosse latente o meu desejo de reencontrá-la, eu precisava dar um tempo… Um espaço… Para mim e muito mais para ela. Mas pensar que eu teria sossego, que ninguém me procuraria seria muita inocência da minha parte.

Era um pouco mais de três horas da tarde quando meu celular tocou… Número desconhecido piscando na tela. O meu peito parecia que ia explodir só de pensar que pudesse ser Camila do outro lado da linha. Atendi esperançosamente:

– Oi…

– Sunny?

Não… Não era a voz dela.

– Sunny, sou eu Flávia.

– Oi… Flávia…

– Bom… Tomei a liberdade e peguei o seu número com as meninas. Tem problema?

– Imagina…

– Tá tudo bem?

Fiz uma força para não demonstrar o descontentamento na voz…

– Uhum…

– Então… É… Eu… Bom… É que estamos aqui na praia e… Você não vem?

– Não, Flávia… Melhor não. 

– Como assim melhor não? Nem se eu te dissesse que Camila tá aqui? 

– Ela… Ela… Como ela está? 

– Não sei… Acho que está sentindo sua falta. 

Falou de forma quase sussurrada… Fazendo com que meu coração batesse em ritmo acelerado… Louco para estar com aquela mulher novamente. Mas eu não podia ceder aos encantos cardíacos. Precisava ficar sozinha. Estava com medo, apesar de não saber bem o significado dessa palavra. Afinal, não queria sentir a mesma rejeição de ontem.

O golpe baixo de Flávia para que eu saísse de casa não teve efeito. Fui firme em minha decisão.

– Não… Não vai dar mesmo.

– Puxa… Fica aqui com a gente. Vai ser legal!

“Legal como ontem?”

Pensei, mas não perguntei. Era melhor eu falar outra coisa…

– Flávia, hoje to ocupada com umas coisas aqui. Amanhã a gente se vê, tá bem?

Do outro lado da linha eu podia escutar as vozes de Lena e Monica… Queria muito ouvir a da Camila. Quem sabe ouvindo-a eu sairia num rompante de loucura e fosse encontrá-la, esquecendo qualquer propósito que tinha determinado?  Nada de ouvir sequer sua respiração, o que por um lado foi bom. Assim pude controlar meus impulsos e ficar em casa. Flávia, justo Flávia… Aquela mulher determinada, imponente, não tentou muito. Acho que percebeu que eu estava falando sério quanto a não ir à praia hoje.

– Ah que pena. Eu te entendo. Bem… Amanhã a gente vai embora.

– Amanhã?

Camila ia embora amanhã? Foi me dando um desespero quase que incontrolável. Respirei fundo e continuei tentando esconder inútil e ridiculamente a minha apreensão:

– Ok! Vocês vão que horas?

– Ahn… Acho que depois do almoço.

– Tá… Eu passo lá pra me despedir de vocês.

– Combinado então! Um beijo, tá? Fica bem…  Continuo achando que você poderia estar aqui.

Interpretei essa última frase como um pedido escondido para que eu deixasse o medo de lado e aparecesse hoje e não somente amanhã.

– Eu sei… Você não desiste… Beijos Flávia.

Despedi-me e desliguei a ligação.

Coloquei o aparelho em cima da mesa… Deslizei lentamente os dedos pela cômoda que ficava abaixo de um espelho de forma redonda… Parei de frente para ele… Fiquei me olhando… Analisando o meu reflexo… O tom dos meus olhos estava escuro… Refletindo a tristeza que sentia. Definitivamente, precisava ver Camila para que eles voltassem à cor clara de antes. E daí tive a idéia.

– Alô? Lú?

– Oi guria! – Exclamou cheia de felicidade surpresa.  – Soube que você não vem hoje. O que houve?

– Nada não… Estou apenas fazendo umas coisas em casa.

– Desculpa esfarrapada pra não dar de cara com ela. Confessa!

– Ah, você me conhece né? – Sorri pela primeira vez, aliviada por poder contar com a verdade. – Então… O Pub tá certo a noite?

– Claro amiga! Vamos sim!

– É… Você… Por acaso convidou as meninas?

Lú sentiu a reticência em minha pergunta. Entendeu que era isso que eu queria. Ver Camila mais uma vez. E na sua interação com os meus pensamentos, me respondeu:

– Não sabia se você iria querer depois do que aconteceu ontem. Mas agora sei. Pode deixar amiga. Vou chamar. Na verdade, vou intimar.  Hoje a noite vai ferver! 

– Ok! Obrigada tá? Mas ó… Se alguém perguntar, diga que não conseguiu falar comigo ou que não vou, tudo bem?

– Ah entendi! Ok! Mas posso te contar uma coisa?

– O que?

– Do jeito que ela tá aqui, acho que se souber que você vai, ela também irá. Ou seja…

– Melhor falar, né? – Interrompi já pensando na possibilidade de deixá-la ansiosa.

O problema seria comigo, pois criaria expectativas. Ainda assim, acho válido falar, sim. Se ela não fosse, seria um sinal pra eu desistir.

–  Nos vemos lá a partir das onze. Tá bom esse horário?

– Perfeito! Te ligo quando tiver saindo de casa.

Vesti uma saia longa marrom, uma blusa regata com alças finas, por cima uma blusa ombro caído na cor branca, que permitia mostrar minha tatoo, e um cintinho fino para dar um charme e um toque final ao look. Escolhi um par de sandálias rasteiras, colares e braceletes enfeitando meu colo. Prontinha! Me olhei no espelho e pensei: “Camila… Duvido você resistir a isso aqui!”

Estava determinada a mexer com aquela guria. Se não fosse hoje, não seria mais.

Liguei para Lú em seguida e pedi pra ela vir me buscar. Afinal, andar de moto não combinava com saia até os pés, não é mesmo? 

O Magic Bus Pub já estava super agitado quando eu, Lú e Ive chegamos. Meu sexy appeal estava tão aflorado que eu podia perceber o rastro de olhares que ficava enquanto eu entrava no bar… Tanto os homens, que me comiam com os olhos  quanto as mulheres, umas talvez querendo me matar, outras… Melhor não comentar. Meu desejo era que apenas uma pessoa pudesse me olhar… Me secar… Me desejar… Me possuir. Mas ela ainda não estava lá.

Achamos uma mesinha do lado esquerdo do palco montado para receber a atração daquela noite. Logo depois Chocolate apareceu com sua animação inconfundível.

– Meu Deus, como você está linda! – Exclamou enquanto erguia minha mão acima da minha cabeça para que eu pudesse dar uma voltinha. – Morena, é assim que eu gosto de te ver. Pronta pra matar. E hoje já tem vitima definida? Sorriu debochadamente.

– Você vai ver, nêgo! 

– Ah eu já sei! Tá mais do que aprovada! Ela é linda!

Abraçou-me e depois foi cumprimentar as meninas.

Ficamos ali conversando… Eu, ele, Ive e Lú… Demos boas risadas e enquanto isso nada da Flávia e sua companhia chegarem.

Na primeira hora eu ainda conseguia ficar sentada enquanto ouvia as músicas… Na verdade, estava tentando ficar sóbria para recepcionar Camila. Mas como ela estava demorando demais, adicionar ininterruptamente copos e mais copos de coquetéis se tornou uma necessidade para satisfazer minha distração.

A pista estava enchendo… O DJ mandando bem nas pickups… E eu sentada esperando ela chegar? Aquilo era inadmissível. Ela não vinha mais. Levantei e decidi lavar a alma e mexer o corpo até me cansar, ela chegando ou não. Lembro-me de ter visto Ive ligando para Flávia para ver se elas estavam vindo, mas ninguém atendia a porcaria do telefone. A ansiedade já estava me consumindo… E só tinha um jeito de fazer eu esquecer um pouco essa garota… Era canalizando minhas energias na pista de dança. Chamei Chocolate para ir comigo, que aceitou na mesma hora. Precisava dizer que meu amigo além de excelente músico era exímio dançarino.

Clássicos do rock, indie, pop, soul esquentavam a pista embalando dezenas de pessoas dentro daquela boate… Eu e Chocolate revezávamos entre o salão e a mesa, indo lá somente para beber um pouco. Fizemos isso umas quatro vezes até que avistei a mesa e vi mais quatro pessoas com Ive e Lú. Ia voltar a quinta vez quando o DJ emplacou Theophilus London, Oops! Não dava pra ficar parada… Um moreno alto e gato demais se aproximou. Aquele era o momento de provocar. O gato me acompanhou nos movimentos… Usá-lo era fato! Precisava despertar um pouco de ciúmes daquela mulher… Ele segurava minha cintura… Nos mexíamos no ritmo da musica… Como se já tivéssemos dançado aquela batida muitas vezes antes… Olhares curiosos pararam em nós dois… O flerte dele era evidente… Mas de mim era plenamente provocação… Somente. Camila estava olhando para a pista… O moreno soltando cantadas em meu ouvido seguidos pelos meus risos… Dançamos juntos… As bocas bem próximas… As mãos dele exploravam meu corpo… Pedindo uma chance… E eu só queria mais uma chance de ficar com ela… De ser dela… Camila não tirava os olhos de mim… O moreno buscava os meus… Mas os meus estavam nela… Convidando… Pedindo… Implorando por uma atitude, que não aconteceu. A música mudou… Eu dei um abraço no moreno sem sequer me preocupar em saber seu nome. Caminhei em direção das meninas, mas no meio do caminho me senti travada.

Não era medo e sim, prudência. Continuei parada e só me mexi quando a mãozona do Chocolate tomou meu braço em direção ao pessoal:

– Pode vir vindo, mocinha! Nada de vacilar agora!

– Tá… Tá bom… – Disse enquanto tentava escapar daquele homem enorme. – Não precisa me segurar assim. Eu vou… To bem? – Perguntei enquanto ajeitava a roupa ao meu corpo.

– Você tá de matar, mulher! Bora!

Passei a mão pelos cabelos, enchi o peito de coragem e fui… Cheia de atitude e confiança.

Quando cheguei à mesa cumprimentei todas dando beijinhos… Claro que deixei Camila por último. Lú achou muito estranho o fato deu dar um beijo em cada uma… Sabia que eu já estava alta na bebida. Não que eu não fosse educada, não era isso. Mas é que eu teria ido direto ao meu alvo. Mas não… Falei com todas primeiro e como que se quisesse torturá-la, só depois fui até ela…  Quando enfim me posicionei em frente à Camila, dei um beijo cálido próximo da boca e falei:

– Que bom que você veio.

Pude sentir toda a sua tensão. Reencontrar de perto o olhar dela foi um estímulo para não desistir do que eu tinha definido naquela noite.

Chocolate falou com as meninas e depois voltou pra pista.

Eu tinha algo mais importante pra fazer.

– Bebe alguma coisa?

Perguntei ainda com meus olhos fixos nos dela, que me respondeu sem hesitar.

– O que você sugerir.

– Hum… Vamos ao bar?

Ela levantou um pouco cambaleante e foi sem perder a pose.

– Curte tequila?

– Hoje eu curto tudo…

O tudo saiu sugestivamente sexual, provocando-me arrepios por toda a extensão da minha dorsal. 

No bar pedi dois Blue Margarita.

Peguei a taça com aquele liquido azul e entreguei a ela.

Nossa troca de olhar era intensa, fulminante, penetrante… Cheia de mensagens subliminares loucas para serem desvendadas, lidas, entendidas, descobertas.

O silêncio durou o tempo necessário para eu buscar as palavras certas…

– Você está linda.

E realmente estava.

– Você é que está.

Ela sorriu e retrucou voltando a dar uma golada no drink.

De novo o silêncio. Quantas vezes passaria por aquilo? Tinha de falar algo arrebatador, mas não podia ir com tanta sede ao pote para não espantar. Ainda mais depois de ontem. Não sabia o que poderia desencadear nela… Estava pisando em um campo minado que podia explodir a qualquer momento. Para meu espanto e surpresa foi ela que falou.

– Te esperei hoje…

O que era aquilo? Um sinal para eu avançar? Continuei na minha, olhando para ela… E depois de uns segundos quase que torturantes pra mim, completei:

– Eu… Eu não pude ir.

– Por quê?

– Estava ocupada…

– Mentira sua… Estava fugindo de mim. 

Deu mais um gole… O último da taça. Pedi mais uma rodada de drinks.

– Não sou eu que costumo fugir do que quero… Do que sinto… Do que gosto e principalmente do que me excita.

A última palavra foi de perto, quase que dentro de sua boca. Um contato que foi cortado com a chegada das duas bebidas.

Camila bebeu e fez uma careta de leve quando a tequila entrou… Contornou a boca com a língua… Impulsivamente meus olhos seguiram aquele movimento.

– O que te excita, Sunny?

Ahá! Ela estava de brincadeira? Queria me provocar também? Só queria saber até onde ela teria coragem de ir.

– Por quê não descobre, Camila?

– Prefiro que me mostrem os caminhos…

– Eu prefiro que descubra todos os que conheço e até o que não conheço.

– Ah é?!

– É!  Você não gosta de explorar… Não tem coragem.

– Você está falando besteira, garota.

– Tô é? Prova então?

Ficamos paradas nos analisando… Ela não tirava os olhos da minha boca. Eu estava louca para beijar a dela. Me aproximei dela para beijá-la ali mesmo, mas Flávia chegou bem na hora.

– Que bebida é essa?

Chimayó Cocktail.  – Respondi enquanto me afastava de Camila.

– Posso provar? – Deu uma bicada no drink fechando os olhos como se quisesse sentir por completo todos os atributos da bebida gelada.  – Huum Deliciosa! Você que pediu, Sunny?

– Sim.

– Que bom gosto!

A advogada soltou ao mesmo tempo que olhava para Camila… Que ficou só olhando. Parecia que iríamos ficar caladas ali todo o tempo, tentando achar algum assunto que emplacasse. Acho que depois do que tinha acontecido na praia, estávamos nos estudando. Será que ela queria de novo? Só tinha um jeito de saber…

– Escolho bem o que quero!

– Você é bem decidida, posso ver.

– Sou. E quando quero vou até o fim. Exceto quando me dão sinais de que não estão interessados…

– Ah entendi… Nesses casos você não corre atrás?

– Não… Deixo a mostra minha intenção desde o começo. Se não me mostrar o mesmo… A fila anda. – Camila estava escutando tudo… – E você, Camila? -Perguntei.

– Ahn? Eu o quê?

– Busca o que quer ou corre?

Ela ficou olhando pra gente, pensando no que poderia responder que não contradissesse qualquer ação dela até aquele momento. E salva pelo Chocolate, que foi me buscar para dançar, não respondeu.

Ele chegou elétrico…

– Vem Sunny! Essa música é show… Vem!

Ele não tinha atrapalhado nada. Muito pelo contrário, acho que foi crucial recuar indo para a pista. Lá eu podia falar dançando o que eu queria da Camila… 

Massive Atack – Paradise Circus era o som que eu e Chocolate curtíamos loucamente. Ele se arrumou com uma bela loira. Eu… Me posicionei na pista para que a dança fosse para ela. Camila ainda estava de pé no bar… Os olhos grudados em mim… Nem quando levava o copo à boca ela desviava o olhar negro de mim… A pista tinha se reduzido somente a meus movimentos… Meus olhos mesmo que fechados captavam as luzes azuis e violetas que desenhavam meu corpo, reproduzindo-o no solo do salão… Estava livre… Me libertando do sofrimento e tensão causados por ela… À medida que segurava a saia lentamente e acompanhava o ritmo da música, sentia que seu olhar visceral estava ligado, conectado ao meu… À mim… E de repente todo o meu corpo foi tomado por um tremor inexplicável… Quando vi Camila colocar a taça no balcão e caminhar em minha direção… Me olhando fixamente… Digitalizando os movimentos como se quisesse guardá-los para ela…

Insinuar se tornou necessário, fundamental… Ela caminhou lentamente até chegar a centímetros de mim… Nos encontramos… Podia sentir o hálito embriagado saindo de sua boca… A proximidade se tornou exigência… E o desejo mais que urgência… Virei de costas para ela… Deslizando meu corpo em seu dorso… Em meio a uma dança carregada de persuasão… Pedindo para que ela me sentisse… Camila encostou a mão em minha cintura… Respirou em meu pescoço… Mordeu a ponta da minha orelha esquecendo que estávamos em um local público… Cada suspiro significava um pedido velado para que eu não a deixasse… Enquanto encaixava meus quadris nos dela segurei suas mãos indicando o caminho que ela poderia explorar… Camila apertou-me na cintura… Me virou de frente… Era difícil respirar… Meu ar estava contido nela… E queria que ela me desse o ar de novo… Dançamos juntas quase até o final da música…  Sem simplesmente falar qualquer coisa, Camila me puxou pela mão me tirando da pista… Fomos para a varanda… Pufs… Almofadas… Vasos com plantas enormes… E um canto… Parecia premeditado, proposital.

Camila me segurou pela cintura com a mão esquerda…  E com a direita primeiro acariciou meu rosto como se quisesse ter certeza de que era mesmo eu… Depois pegou meus cabelos por trás da nuca… Com veemência e intensidade ao tempo que colava seus lábios nos meus… Quase que violento, mas ao mesmo tempo sutil… Frágil… Clemente… Todo o meu corpo correspondeu aos pedidos de sua língua por mais e mais… Esquecemos do mundo… As bocas se encaixavam e se exploravam sem limites… Sem pudores… Sem medo… Aquela mulher me conduzia em seu ritmo… Nada inseguro… Pedindo para que eu absorvesse… Molhasse e depois sugasse… E era tudo o que eu queria. Mas ali a gente não podia fazer muito… Era preciso um lugar só nosso, único, privado somente para nossos gemidos e sussurros… Estava difícil permanecer ali… Queria levá-la para onde pudesse amá-la… E em meios os beijos molhados e cheios de tesão, como se estivesse lendo meus pensamentos, agora foi a vez dela de externar o desejo… chegou perto do  meu ouvido e com a voz rouca… Ordenou:

– Me leva daqui…

Foi um pouco difícil para abrir a porta da minha casa… Camila estava com um apetite sem precedentes… Talvez causado por anos de negação, de abnegação, de indiferença… Antes mesmo que eu conseguisse trancar a porta, ela já estava com as mãos por dentro da minha blusa… Jogamos as bolsas… Algumas peças de roupa pelo caminho… E sem precisar acender qualquer luz chegamos ao meu quarto… A cama estava ali… O ninho, o esconderijo, o refúgio por onde iríamos velar e compartilhar o desejo latente e pulsante em nossas veias. Em meio aos beijos ela pediu:

– Liga o som…

Estava começando a tocar Scorpions – Holiday… Totalmente adequada, conveniente…

Estava tensa por ser minha primeira vez com uma mulher… Não sabia ao certo o que fazer… Mas pelo domínio imposto por Camila… Apenas deixei-me ser conduzida… Ela parou em minha frente… Acariciou mais uma vez meu rosto simultaneamente à retirada de um fio de cabelo dele… Buscou meus lábios… Mordeu devagar… Sugou… Sussurrou:

– Que boca gostosa, Sunny… Me dá mais…

Percebi que precisava dela para minha sobrevivência… Me perguntei porque não tinha encontrado essa mulher antes… Teria deixado tudo para trás… Poderia substituir qualquer aventura amorosa somente para estar com ela… Ser dela… Tomá-la pra mim…

Retirei seu sutiã… Contemplei os seios… Pequenos… Mas perfeitamente concebidos para caberem em minhas mãos… E logo depois na minha boca… Que os sugava como se não tivesse tempo a passar…

Os primeiros versos da música ecoavam no quarto enquanto conduzia Camila a deitar na cama…

“Let me take you far away / You’d like a holiday…”

“Me deixe te levar pra longe / gostaria de um feriado…”  (Scorpions)     

Camila despiu-se de qualquer pudor, de qualquer lembrança do passado… Sentia suas mãos arranhando minhas costas nuas… Tirou minha blusa… Contornou os seios rígidos na blusa que ficara por baixo. Sugou-os por cima do tecido… Buscou meu olhar enquanto tomava-os em sua boca. O prazer, a sensação de entregar parte de mim a uma boca molhada e macia era indescritível. Tirou a segunda blusa deixando me apenas de calcinha… Seu olhar foi penetrante, desnudou sem tocar. Ela me virou de bruços… Contornou os caules verdes da tatoo com seus dedos… Punha-se encima de mim… Rebolando… Se insinuando… Ditando as regras… O prazer que aquela mulher me proporcionava chegava a doer de tão intenso… Meus gemidos eram estimulantes para ela… Me virou de frente…  Olhou meus seios… Sorriu… E dessa vez me levou ao céu com seu toque úmido… Molhado… Forte… Pulsante… Que boca, que língua! Aquele órgão passeou por meu dorso… Mordiscou… Lambeu… Sugou… Camila não deixava eu me mexer… Beijou minha boca com voracidade… Implorou por minha língua na dela… E com a mão esquerda, afastou minhas pernas… Soltei mais um gemido… Alto… Clemente… Desesperado quando seus dedos tomaram-me com reconhecimento… Exploração… Suavidade… E depois… Cadência… Pensei que o céu fosse o limite. Mas havia outro lugar a visitar ainda, lugar esse que não sabia explicar… Não conseguia mais respirar… Me alimentava dela… Dos movimentos dela… A explosão de sentimentos tomando conta de mim. Ela descolou sua boca da minha… Lambeu meu queixo… Desceu pelo pescoço… Voltou a sugar as pontinhas dos seios… Abriu minhas pernas por inteiro… Lambeu a virilha… Gemi alto esperando mais… O momento… A confirmação do prazer que somente ela deixei me mostrar…

Camila parou… Olhou dentro dos meus olhos… Sorriu e perguntou:

– Pronta pra mim?

Antes de voltar a descer para enfiar sua boca entre minhas pernas…

http://www.youtube.com/watch?v=l-DE3clAjNc

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Notas:



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