Músicas que embalam o capítulo:

Seeed vs. Cro vs. Fugees vs. Bob Marley – EasyBling

Lulu Santos, Toda forma de amor

Sunny – Jennyfer Hunter.

Seis da manhã. A quinta chegou cedo demais para mim e de uma maneira um tanto quanto torturante. Assim que abri os olhos e vi que naquela minha cama de casal só tinha eu, instantaneamente meu pensamento buscou aquela mulher que ontem não me dera outra opção senão sair correndo de sua casa. Rolei para o meio da cama, ficando com a barriga para cima. Coloquei uma mão sobre a outra em cima do meu peito e fiquei batendo os dedos enquanto pensava.

Ter ido ontem até a casa da Camila tinha sido um erro? Tinha eu dado um passo maior do que a perna? Bom… se for analisar pelo fato de não termos terminado bem, foi sim um erro. Mas tenho que admitir que foi uma boa ideia eu ter ido até lá, pois ela teve a coragem de me levar até seu apê. Isso significava algum avanço. Como eu podia achar que ela ainda não estivesse ligada à mulher? Isso era de esperar. Mas o que eu não esperava era ver tantos objetos de tortura. Parecia que aqueles porta-retratos serviam como um alívio para a dor que ela sentia. Mas na verdade, eu via aquilo mais como uma forma de se martirizar. No entanto, não seria eu que diria isso a ela. Afinal, ela tinha lá suas amigas para ajudá-la.

Me peguei tentando responder a seguinte pergunta: Valia a pena continuar com esse joguinho? Até quando eu aguentaria ser só o objeto de satisfação sexual dela?

Pra quê? Eu tinha toda a minha liberdade pra ficar com quem eu quisesse… viajar quando me desse vontade… trepar sem ter dia marcado. Era isso mesmo. Não tinha que voltar a minha vida a alguém que nem sabia o que era viver. Estava ela lá, vivendo de passado. Eu queria era viver de presente.

Levantei. Tirei a camisola jogando-a em cima da cama e fui somente de calcinha para o banheiro. De frente para o espelho, fiquei me olhando.

Eu sabia que era bonita, tinha um corpo bonito e um astral pra cima. Iria ficar a disposição dela, esperando que ela resolvesse ter algo sério comigo? Por quê? Opções, oportunidades… não me faltariam, com certeza.

Prendi os cabelos em um rabo de cavalo, tomei banho e tentei não pensar nela.

Depois do banho resolvi pegar a midnight e dar uma volta sem ter hora para voltar.

A noite estava prestes a chegar e eu ainda estava na rua. Tinha passado o dia todo pilotando por ai. Antes de voltar para casa, resolvi dar uma passada na Praça da Bandeira para ir à padaria. Quando cheguei à esquina, vi Chocolate na fila do pão. Que ironia do destino! Tinha pensado nele hoje.

Parei atrás dele tapando seus olhos para que ele pudesse adivinhar. Ele tateou e brincou…

– Humm esse cabelo cheiroso… só pode ser uma pessoa! Sunny!

Tirei as mãos de seus olhos já reclamando… – Isso é sacanagem! Você sempre acerta!!!

Ele se virou e me deu um abraço apertado.

– Mulher, por onde você estava? Não te vejo desde aquele dia no pub.

– Tava por ai… E você, como está?

– Tá com pressa?

– Nunca ando com pressa.

– Então vamos conversar um pouco.

Ele fez o pedido dele e eu o meu. Pegamos os pães e sentamos na mesinha ao lado de fora.

Chocolate puxou a cadeira para eu me acomodar e logo em seguida sentou.

– Morena, tenho uma novidade pra te contar.

– Opa, adoro novidades! Conta vai!

Já estava suplicando.

Ele fez uma careta demonstrando cansaço… demorando para falar.

– Cacete! Fala logo!

Ele continuou sério… o tempo suficiente pra depois armar um sorrisão e dizer que havia passado em um teste para fazer parte de uma banda conhecida. Eu soltei aquele gritinho de alegria e dei um outro abraço nele.

– Que boa notícia, nêgo! Era tudo o que você queria!

– Pois é… eu sempre esperei por isso.

Quis saber quando ele iria começar, qual era a banda, como tinha sido o teste? Enfim… Até que enfim uma notícia boa para me deixar animada.

– Cara, temos que sair pra comemorar! Falei eu já querendo me divertir.

– Então… vamos. Vou marcar com uma galera para gente sair amanhã. Beleza?

– Por mim qualquer hora é hora!

Ficamos ali por mais um tempo conversando. Ele ficou falando das aventuras com seus rolos e eu fiz de tudo pra não tocar no assunto Camila. Mas foi praticamente impossível, pois ele tratou de falar sobre isso.

– E aquela guria de Blumenau… no que deu?

– Aquela guria é complicada demais, Chocolate. Ela era casada, ou melhor, ainda é… ah sei lá! Fiquei meio sem jeito de falar sobre o assunto.

De certa forma, me incomodava falar sobre Camila. Ela ainda era uma incógnita para mim. Ele ficou intrigado com a história do desaparecimento da mulher e impressionado com o fato da Camila só ter sentido algo por mim. Para ele, aquilo era um fator positivo, pois pra ela se interessar por mim tendo ficado dois anos em abstinência, era uma conquista.

– Tá podendo hein!?

Até me sacaneou.

Eu respondi com um simples:

– Que nada!

Chocolate tinha me dito que uma coisa não podia ser negada. Que qualquer mulher que gostasse da mesma fruta que Camila gosta poderia gostar de mim. Que eu era encantadora, viva, alegre e tinha um par de pernas invejáveis! Ele fazia de tudo para me ver pra cima e com um sorriso nos lábios.

Percebera que esses encontros com ela tinham me deixado um pouco vacilante, indecisa. E isso era apenas um reflexo do que eu poderia estar sentindo por Camila.

O frio foi se intensificando. Chocolate pagou a conta e se despediu de mim falando que não era para eu esquecer de que amanhã tínhamos um encontro marcado à noite. Peguei minha moto e voltei pra minha casa.

A sexta passou muito rápido. Estava de bem com a vida de novo, mas não podia negar que em alguns momentos me peguei pensando nela. Será que ela iria me ligar? Será que eu devia ligar? Não queria forçar nada. O mínimo que cabia a mim era ficar na minha. Se ela ligasse, seria bom. Se não ligasse, teria que ser bom do mesmo jeito.

A noite foi chegando e antes deu começar a me arrumar, liguei para Lú e Ive. Queria saber se elas iam também? Quem atendeu foi a Ive, que disse que o Chocolate tinha ligado e falado com elas. Iam começar a se arrumar. Marquei para elas irem me buscar. Eu sempre pegava carona com elas quando a gente saía e eu queria beber.

Estávamos no lugar preferido do nosso amigo. Ele amava aquele pub. Podia dizer que oitenta por cento dos amigos estavam lá. Rimos, bebemos, dançamos, paqueramos… Aquela noite estava maravilhosamente divertida. Por um momento tinha esquecido dela. Estávamos eu, Ive, Lú, Chocolate e outros na pista nos acabando… o Dj estava mandando muito bem nas pickups e depois de um musicão atrás de outro, ele entrou com um mashup para levantar geral. Uma mistura de Seed, Fugees e Bob Marley que tinha uma batida sensacional. Era libertadora… sensual… empolgante. Não tinha como ficar parada com aquele ritmo. De repente no meio da música, senti um corpo grudar em minhas costas e segurar minha cintura com as duas mãos. Senti que era de uma mulher e nem me preocupei em virar de frente para ela… Só queria curtir o momento. O nosso swing era sincronizado… eu conduzia o corpo para a direita e depois para a esquerda e ela se levava junto. Ela aproximou aquela boca com um hálito saboroso e sussurrou algo em meu ouvido capaz de me arrepiar toda. Ela me conduziu a me virar para frente. Dei de cara com… Gabi! Aquela loira abriu um sorriso lindo pra mim. Não paramos de dançar, permanecendo ali por mais um tempo sem falarmos nada. Apenas nos olhando e dançando. Depois de muito tempo nos seduzindo, ela me tirou da pista me puxando pelo braço, e me levou até o bar.

– Não tinha te visto aqui, Gabi.

– Cheguei naquela hora e já fui logo pra pista assim que te vi.

– Caramba! Chocolate conhece essa cidade toda.

– Ele é popular…

Falou logo depois de pedir duas long necks.

– Sabia que ia te encontrar aqui. Eu queria mesmo te ver.

O cara do bar entregou as duas garrafas, e após ele retirar as tampas, brindamos sem desviar o olhar uma da outra. Assim que dei a primeira golada, precisei falar logo para ela o que tinha me perturbado naquele dia.

– Gabi, naquele dia a gente… você sabe…

Como eu poderia perguntar aquilo sem ter a certeza de que não iria magoá-la? Ainda bem que a loira era esperta demais para se colocar numa situação dessas.

– Por que não deixa isso pra lá e curte esse momento comigo?

A cerveja desceu arranhando a garganta… Gabi veio até pertinho de mim e perguntou:

– O que vai fazer quando sair daqui?

Mordeu o lábio inferior totalmente devagar… o suficiente para fazer eu me excitar com a possibilidade. Entrando na brincadeira, respondi:

– Por enquanto nada. Qual a sugestão?

– Vamos lá pra casa?

– Pode ser agora?

Por que iria esperar a festa acabar se eu podia ir para outra festa? Concordei e foi o sinal que dei para que saíssemos de lá. Teria uma transa com uma segunda mulher e mais do que isso, ficando com ela hoje poderia lembrar do que aconteceu na semana passada. Até porque, quem não lembraria que ficou com aquela mulher?

Quando entramos na casa dela o clima já estava mais do que quente… os amassos começaram dentro do seu carro e foram prolongados para dentro do seu quarto. Gabi desabotoou meu jeans, retirou minha blusa e com uma agilidade incrível eu já estava sem o sutiã. Ela parou e ficou admirando meus seios… e antes de tomá-los em sua boca disse: – você é linda!

Puxou-me pela cintura e passeou a língua quente pelos biquinhos dos meus seios, com calma, leveza, sutileza… até começar a sugá-los com mais força… Deixei o meu corpo cair sobre o dela, que logo se colocou por cima do meu… Gabi tinha um jeito dominador na cama… me deixava sem fôlego… seu ritmo era enlouquecedor… as mãos ágeis passeavam pelo meu corpo como se o conhecesse perfeitamente. Lambeu o lóbulo da minha orelha ao mesmo tempo que a mão esquerda desceu até o meu sexo e me dominou. O ritmo ora devagar na cabeça do clitóris, ora rápido me fez estremecer e gozar em sua mão… Como se não fosse o bastante, desceu e enfiou sua língua dentro de mim com tanta destreza que não consegui segurar por muito tempo. Gozei pra ela intensamente. Passamos toda a noite transando e só paramos quando a exaustão nos tomou, fazendo-nos cair no sono.

Quando acordei já era dez horas da manhã de sábado. Gabi não estava mais ao meu lado na cama. Assim que me enrolei no lençol para sair do quarto, ela entrou e me beijou. Disse que tinha feito café da manhã pra mim em retribuição ao que eu tinha feito. Achei aquilo muito fofo. Me aprontei e fui até a copa acabar com o jejum.

Conversamos sobre coisas aleatórias. Ela me perguntou da minha ultima viagem. Quis saber se eu planejava fazer outra em breve, como estava o artesanato dentre outras coisas. Eu respondia a tudo, mas na minha cabeça eu tinha uma pergunta pra fazer pra ela que poderia estragar todos os momentos que passamos naquela noite. Mesmo depois de transar com ela eu não conseguia lembrar-me de nada. Eu tinha bebido tanto assim? Será? Tomei coragem e comecei:

– Gabi… eu acho que… não fui sincera contigo naquele dia.

Ela franziu a testa e ficou aguardando para ver até onde eu iria.

Continuei.

– Eu não me Lembro … do que acont…

– Shiiii

Foi o som que ela permitiu sair de sua boca ao mesmo tempo que pedia silencio com o seu dedo indicativo. Ela mexeu na garrafa de café, colocou um pouco em sua xícaras e só depois falou.

– Sunny… é tão difícil viver do presente?

– Quando não entendemos o que aconteceu no passado, sim.

Ela assentiu charmosamente com a cabeça… passou a língua sobre o lábio inferior…sorriu e continuou:

– Não há como saber de algo que simplesmente não aconteceu.

Levou a xícara até a boca sem tirar os olhos de mim.

Um turbilhão de pensamentos passou em minha cabeça. Como assim? Não tinha acontecido nada? Nadinha?

Estava estampada a minha surpresa como o que acabara de ouvir. E antes que eu pudesse abrir a boca para falar qualquer coisa, Gabi continuou em um tom um pouco sério.

– Quando saímos da boate você estava bêbada. Eu ia te trazer pra cá, mas você só falava pra gente ir pra sua casa. Na verdade você não estava falando mais nada com nada. Mas seu fogo ainda estava acesso… Quando chegamos lá, o clima continuou quente e acabamos parando na sua cama.

Ela fez uma pausa para dar um sorrisinho safado… – Tirei sua roupa e a minha. Voltamos a nos beijar e em algum momento eu sussurrei no seu ouvido:

– É assim que me quer?

E você respondeu:

“ – Sim…te quero Camila.”

Ela continuou.

– Você simplesmente me chamou de Camila e quando te joguei na cama, você dormiu…em questão de minutos. Então coube a mim, deitar ao seu lado e dormir também.

Acabou de falar e sorriu debochadamente.

Eu não sabia se ficava aliviada ou envergonhada. Como podia não ter aproveitado aquele mulherão na minha cama? Chamar por Camila tinha sido o fim. Nem namorávamos, nem tínhamos ligação alguma além de sexo. Como pôde?

Naquele momento eu queria enfiar minha cara no primeiro buraco que visse independente do diâmetro. Vergonha máxima e indescritível. Deveria estar mais vermelha que Marte!

Era nítido que ela curtia com a minha cara diante da situação. Apontou para a mesa quebrando a minha fala inerte.

– Não vai comer nada, mudinha?

Totalmente sem jeito, cabia a mim, fazer alguma coisa para sair daquela cena constrangedora. Não podia deixar ela zombar de mim daquele jeito. Num ato de coragem, levantei da cadeira… ela fez o mesmo… andamos até nos encontramos… Chegou perto, jogou os braços por cima dos meus ombros enquanto eu a segurava pela cintura, e falou:

– É nosso segredinho, tá?

Dei um cheiro em seu pescoço… ela gemeu.. olhei pra ela e rebati:

– Posso compensar agora… se quiser…Tomei seus lábios num beijo cheio de tesão. Saímos da cozinha em direção ao quarto.

Quando voltei para casa, no sábado à tarde, foi impossível não pensar nas duas.

Camila e Gabi eram totalmente diferentes. O jeito de levar a vida e o sexo… ah o sexo! Como elas eram gostosas, fogosas…. Por que eu não tinha conhecido isso antes?

Não podia negar que ter ficado com Gabi tinha sido muito bom para mim. Eu estava vivendo, curtindo o meu momento, expandindo as possibilidades. Coisa que com Camila talvez não acontecesse.

Tirei a roupa e cai na cama. Estava exausta demais para fazer qualquer outra coisa que não dormir.

O despertar veio somente no dia seguinte com o sol batendo em meu rosto. Antes de sair da cama peguei o celular na cabeceira e não vi uma ligação sequer. Nem dela… E por que ela me ligaria? Balancei a cabeça negativamente como se quisesse esquecer o ultimo pensamento. Levantei, abri a janela e olhei pro céu. O domingo estava lindo e propício para pegar uma praia. Fiz o ritual: Ligar o som, tomar banho, comer e depois sair. Coloquei um vestido por cima do biquíni e quando desliguei o som que, por sinal estava alto, ouvi a campainha. Fui atender mesmo achando estranho alguém tocando em minha porta às onze.

Ao olhar pelo olho mágico me surpreendi. Abri a porta rapidamente e falei:

– Flávia?

Ela me deu um oi, um beijo no rosto e em seguida veio a pergunta:

– Está de saída?

– Ah… sim… estava… mas quer entrar?

Ela entrou olhando para a sala e para o resto da casa como se procurasse por alguém. Na verdade, estava.

– Eu vim pegar umas coisas aqui e liguei pra Camila pra ver se ela queria vir junto. Como não consegui falar com ela, achei que ela tivesse vindo pra cá… ficar com você.

Algo no tom de voz dela não era normal… Pedi pra ela sentar e perguntei se ela queria beber algo. Não aceitou nada. Achei muito estranho ela pensar que Camila viria pra cá e principalmente ela não ter conseguido falar com a amiga.

– Você resolveu vir hoje? Assim de repente?

– Digamos que sim.

– Hum… E não passou na casa dela?

– Sim… passei, mas o porteiro disse que ela tinha saído com uma mala pequena. Por isso achei que ela tivesse vindo passar uns dias contigo.

– Não seria nada mal.

Não falei. Só pensei, pois não tive coragem de mostrar nada pra ela. Me permiti apenas a falar:

– Não nos falamos desde quarta.

Flávia olhou pra mim como se eu tivesse falado algo novo pra ela. Deu um sorrisinho intrigante… – Desde quarta? Tem um tempo então… Bom… já que ela não está aqui, vou continuar tentando falar com ela. Uma hora ela atende esse celular, né?

– Sim. Ela deve retornar quando vir suas ligações.

– Com certeza.

Ela se encaminhou até a porta, perguntando se eu ia sair naquele momento. Não sei porque, mas dei uma desculpa dizendo que tinha esquecido de preparar uma coisa e que iria depois. Cumprimentamos-nos para depois eu fechar a porta atrás dela.

Se eu coçasse atrás da orelha iria achar uma pulga, com certeza.

Estranho ela vir aqui até aqui procurando pela amiga. Ela sabia que eu e Camila não tínhamos uma relação sólida a ponto de fazer uma mala e vir pra cá.

Peguei o celular e cheguei a procurar o nome da Camila na agenda telefônica. Pensei em ligar, mas desisti, pois diria o quê pra ela? Que a Flávia esteve lá atrás dela? Se Flávia tinha ligado, Camila viria as chamadas e se quisesse retornaria. Mais o que levaria Camila não atender a amiga? Mais uma pulga seria tirada detrás da minha orelha.

Dei de ombros e falei: – Quer saber? Que se dane!

Passei a tarde tomando um banho de sol, e rindo com os amigos que encontrei na praia. A noite de domingo estava dando sinal de que ia chegar já, e com isso percebi que tinha que voltar para minha casa.

Joguei as chaves sobre a mesinha, após trancar-me em casa. Liguei o som e fui para o banheiro. Quando saí, preparei algo para comer e quando estava acabando, meu celular tocou. Era apenas a Luciana ligando para saber do meu paradeiro.

– E aí, guria? Tudo bem? Tá em casa?

– Sim para as suas perguntas!

Respondi brincando com ela.

– Pensamos que você fosse aparecer hoje lá na barraca…

– Eu até ia, Lú, mas acabei encontrando um pessoal e sai com eles.

– Entendi. E…

Ela fez uma pausa como se estivesse pensando se deveria falar. – … e Camila? Ela ligou?

Onde minha amiga queria chegar? A conhecia bastante para saber que por meio dessa pergunta tinha algo escondido.

– Não… nem ligou, nem apareceu. Por quê?

– Por nada, Sunny. Mas a Flávia esteve aqui. Sabia?

– Esteve é?

– Sim. Disse que veio buscar umas coisas, passou lá na barraca pra nos dar um abraço e foi embora.

– Só isso? Não falou mais nada?

– Não. Só achei estranho ela ter vindo sozinha e nem tocou no nome da Camila. Ela só falou de Camila porque perguntei por ela. Foi aí que ela me disse que veio rápido e que não tinha conseguido falar com a amiga.

– Hum… Ela esteve aqui.

Um silêncio se fez do outro lado da linha. Lú estava pensando o mesmo que eu? Podia apostar que sim.

– Ela queria te ver é?

Brincou ao perguntar.

– Não que eu saiba. Queria saber se Camila estava aqui comigo.

Eu sabia que tinha algo estranho na vinda dela até aqui. Mas o quê?

Resolvi dar uma de investigadora.

– Lú, você sabe me dizer se as duas tem o costume de brigar?

– Olha Sunny, desde que as conheço posso dizer que elas são como unha e carne. Não me lembro de uma só vez que elas tenham brigado.

– Lú, você não acha isso um tanto quanto … esquisito?

Minha amiga concordou comigo e disse que se tinham discutido, com certeza Flávia não queria nos contar. Que era melhor deixar isso pra lá, pois as duas se entendiam super bem. Eu tive que concordar com ela nesse ponto de vista. Mas fiquei inquieta demais. Não conseguia aceitar que Flávia viesse aqui à procura da amiga.

Conversamos mais um pouco e desligamos.

Será que Camila a estava ignorando? E se tivesse, qual seria o motivo? Será que Flávia tinha falado algo que a deixara chateada? Será que Camila estava bem mesmo?

Mas algo não se encaixava na história. Era claro que Camila não estava bem. Tinha saído com uma mala. Pra onde e por quê?

Deitei no sofá e liguei a TV como um modo de esquecer isso. No entanto, toda hora eu pensava na vinda da Flávia… pensava em Camila… na última vez que a vi. Toda a minha vontade de me afastar dela se esvaiu e no lugar ficou a preocupação. A gente não tinha conversado depois do acontecido em seu apartamento. Agora sabia a razão por ela não ter entrado em contato.

Na TV estava passando um programa falando sobre as relações de amor entre pessoas completamente diferentes. Então parei para prestar atenção nos casais que testemunhavam e falavam sobre suas diferenças que acabaram juntando-os, com a música de fundo…

“Eu não pedi pra nascer

Eu não nasci pra perder

Nem vou sobrar de vítima

Das circunstâncias

Eu tô plugado na vida

Eu tô curando a ferida

Às vezes eu me sinto

Uma mola encolhida

Você é bem como eu

Conhece o que é ser assim

Só que dessa história

Ninguém sabe o fim

Você não leva pra casa

E só traz o que quer

Eu sou teu homem

Você é minha mulher

Eu não pedi pra nascer

Eu não nasci pra perder

Nem vou sobrar de vítima

Das circunstâncias

Você não leva pra casa

E só traz o que quer

Eu sou teu homem

Você é minha mulher

E a gente vive junto

E a gente se dá bem

Não desejamos mal a quase ninguém

E a gente vai à luta

E conhece a dor

Consideramos justa toda forma de amor.” (Lulu Santos – Toda Forma De Amor)

Eu acabei pensado em Camila. Éramos diferentes… estávamos em momentos diferentes… Queríamos, talvez, coisas diferentes. Mas eu não a conhecia em nada. Não tínhamos nos permitido sequer passar um tempo conversando. Toda vez que nos encontrávamos era para … aff… não gostava nem de pensar que era só isso.

Aqueles pensamentos me atormentaram tanto que acabei levantando do sofá.

Fiquei andando de um lado para o outro com o celular na mão. Olhava para o nome dela aparecendo na tela.

E foi nesse momento que tive uma ideia. Para fazer aquilo precisava deixar meu orgulho de lado e principalmente estar disposta ao desconhecido.

Olhei para o celular… respirei fundo e liguei.

Um toque… três … no quinto toque, meu coração disparou quando ouvi aquela voz.

– Sunny?

Fiquei muda… e ela aguardou eu falar.

– Oi…Camila…

– Oi.

Nesses momentos, a coragem parece querer desaparecer. Mas eu tinha que ser forte e continuar com meu propósito.

– Eu… queria saber como você está?

– Estou bem… e você?

Eu sabia que não estava, e que ela também não diria o contrário.

– É… Camila… eu passei esses dias pensando muito sobre o que aconteceu naquele dia. E queria te pedir desculpas por ter saído daquele jeito. Eu… eu precisava.

– Tudo bem, Sunny. Eu te entend…

– … Vem passar uns dias comigo?

Interrompi-a num rompante. Se não fizesse naquele instante, não faria mais. Do outro lado o silencio. E desse lado a minha expectativa por um sinal de vida. Um momento depois ela diz: – Como?

Desandei a falar.

– Camila … eu sei que … talvez você vá me achar maluca… mas é que… andei pensando muito em você. Eu não posso mentir dizendo que não sinto algo por você. Tudo bem que até o momento só aconteceu sexo. Mas… eu pensei se a gente não podia… se conhecer melhor? Você podia vir passar o tempo que quisesse comigo… pra gente se conhecer de fato. Sem ser só sexo, como amigas… entende? Eu ficaria muito feliz se você viesse.

Pronto. Depois que falei tudo isso, soltei o ar de uma só vez. Enchi o pulmão mais de coragem do que de ar novamente e perguntei:

– E aí, você aceita Camila?

E a resposta veio em seguida, deixando-me completamente perplexa.



Notas:



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