Alpha Dìon — Agência de Proteção

Capítulo 2 — Planejando a Segurança

Uma hora mais tarde, Helena escutava a porta de ligação abrir. Olhou para Isadora entrando com uma taça de vinho na mão.

— Poderia ter batido.

— E perder a oportunidade de lhe importunar? 

— Senta aí. Estou com a lista das agentes que poderão vir para a equipe. 

— Tomei um banho longo, mas não almocei ainda. Vou pedir algo. Quer alguma coisa?

— Pede um sanduíche para mim. Estou sem muita fome.

— Não mesmo. Conheço você, Helena. Se está preocupada, perde logo o apetite. Preciso de você inteira. Vou pedir um filé com salada para nós duas.

— Cuidando de mim, Isa?

A ironia não condizia com o tom de voz. Helena era muito focada e continuava a analisar a lista. Embora as palavras saíssem de sua boca para provocar a outra, sua mente estava voltada para a missão. Isadora suspirou.

— Está bem. Seremos civilizadas por agora. É muito sem graça provocar sem receber nada de volta. 

A poltrona de almofada macia bufou, quando Isadora largou seu peso sobre ela. O cansaço da viagem e da última missão começava a castigar o corpo.

— Me passe metade dessa lista. 

Isadora não esperou que Helena lhe desse, pegou sobre a mesa o restante das folhas para analisar e uma caneta. Foi colocando códigos ao lado dos nomes que lhe interessava.  Gradualmente, a lista de ambas ganhava forma. 

A campainha tocou.

— Deve ser a comida que chegou. Vou verificar.

Isadora levantou, retirando a sua pistola do coldre que levava preso à cintura. Caminhou até a porta com a pistola em punho. Seus passos eram leves naturalmente, sem precisar se esforçar para andar silenciosamente. Quando se postou ao lado da porta, olhou rapidamente para Helena, que já havia se levantado do sofá e se postado fora do campo de visão da porta. Também levava sua pistola em punho. 

A agente chefe da equipe “Onça Pintada” abriu a porta devagar, olhando pela fresta. O garçom havia se afastado do carrinho de comida como era de se esperar naquele hotel. Eles eram treinados para atendimento aos agentes que se hospedavam lá. Ela olhou para os dois lados do corredor e puxou o carrinho para dentro.

Helena se aproximou com um embrulho de pano fechado por velcro. 

— Deixa que eu testo a comida.

Ela desenrolou o pacote e retirou duas pinças e dois pequeninos tubos de ensaio que continham um líquido dentro. Abriu-os e deu para que Isadora segurasse. Ela pinçou a primeira carne e colocou o resíduo em um dos tubos, levando Isadora a fechá-lo e agitá-lo. Fez o mesmo com o segundo pedaço de carne. 

— É um saco ter que testar a nossa comida sempre que estamos aqui. 

— Ainda reclama disso, Isa? — Helena sorriu de lado, entretanto, não esperou que a outra chefe de equipe retrucasse. — Aqui somos um alvo maior do que quando estamos em campo. 

— Eu sei. Não deixa de ser um saco. Isso me irrita. Eu já vi algumas casas por aqui. Uma para mim e as outras para minha equipe. Não vou ficar nesse hotel da Agência uma semana inteira. Enlouqueceria.

— É?

— É. — Isadora respondeu enfática. — Sempre faço isso e não será agora que mudarei. 

— E como espera que nos encontremos para articular a nossa ação nessa missão? — Helena falava calma, sem ironia.

— Eu sei onde estará. Me viro para te encontrar. — Elas terminaram de testar a salada. A comida estava “limpa”. — Vamos comer e, depois, discutir as escolhas. Quer um vinho?

— Quero. Coloca uma taça para mim. — A chefe da equipe Onça Pintada a fitou intrigada. — O que foi? Não posso relaxar?

— Claro que pode! Só estou estranhando você aceitar tudo que falo.

Isadora foi rapidamente ao seu quarto e retornou vertendo o líquido rubro da garrafa que havia aberto em uma taça. Helena estava sentada à mesa da sala íntima da suíte, com seu prato à frente, lendo as folhas que anteriormente estavam de posse de Isadora. 

— Hummm. Agora entendi.

Isadora balançou a cabeça, colocando a taça à frente da outra chefe de equipe. Sentou-se e reparou que a comida e os talheres estavam primorosamente dispostos à mesa pela colega de Agência. 

— Diga, o que achou das minhas escolhas? — Ela levantou a sua taça em cumprimento a outra agente. — Está de seu gosto?

— Sabe que não entenderei seus códigos de imediato. Só quero me familiarizar novamente com a sua letra.

— Olha… — A chefe da Onça Pintada suspirou — … Vou te passar tudo, Helena. Só vamos comer por agora, ok?

— Ok. 

Helena não dava muita atenção ao que Isadora dizia e isto a deixava muito irritada, entretanto, ela não permitiria que a chefe sênior a afetasse.

— Não vai comer?

— Hã? Ah, sim. Vou. 

Finalmente, Helena largou os papéis e pegou os talheres, cortando o filé e colocando um pedaço na boca. Enquanto mastigava, pegou a taça de vinho e deu um gole, como se quisesse engolir logo a comida.

— O que te preocupa, Helena?

— Tudo nessa missão. Enxergo armadilhas por toda parte. — Ela tomou outro gole de vinho. — A propósito, eu também não estarei aqui amanhã e nem a minha equipe. 

— Já imaginava, embora esse artifício você nunca tenha nos ensinado. 

— Ah, mas eu ensinei sim. E vejo que aprendeu muito bem.

Elas se encaravam com sorrisos irônicos. Helena colocou mais um pouco de comida na boca e Isadora a acompanhou. Comeram um pouco mais em silêncio. A mente de ambas estava começando a relaxar da viagem e os pensamentos sobre a missão tomavam mais forma. 

— Por que nunca aceitou a coordenação de equipes, Helena? Já te ofereceram mais de uma vez.

— Porque é chato. Talvez quando eu for bem mais velha. Pessoas como nós, vivem pela adrenalina, ou não?

Helena terminou de comer e jogou o corpo para trás, relaxando as costas no espaldar da cadeira. Permaneceu em silêncio, assistindo Isadora terminar de comer.

— Você foi imprudente. Eu poderia ter colocado veneno em sua comida e a eliminaria de uma vez por todas da minha vida.

— Está se referindo ao fato de ter ido no meu quarto pegar o vinho? — Isadora estalou a língua, desdenhando. — E eu poderia ter colocado veneno no seu vinho. Assim nós duas empacotaríamos e deixaríamos as nossas equipes sem chefe. 

Era divertido, para as duas, as provocações. Longe dos olhos de todos, elas conseguiam desfrutar dessa implicância e até rir sem se preocuparem se estariam sendo avaliadas.

— É. Nem eu e nem você gostaria de encarar sozinha a equipe da outra em uma missão. — Helena empurrou o prato e espalmou as mãos na mesa. — Vamos nos resolver sem enfiar nossas equipes nisso. Estarei em uma casa sozinha e espalhei minha equipe por outros lugares também. Dou o meu endereço para você e você me dá o seu endereço. Dessa forma, somente nós estaremos em contato, preservando o nosso pessoal.

— Eu concordo. Eu tenho celulares novos e “limpos” no meu quarto. Podemos nos comunicar através deles. São pré-pagos não rastreáveis.

— Sem sinal de GPS?

— Lógico que sim. O que acha?

— Ok. Pegue lá e vamos ativá-los e escolher as novas agentes para a equipe.

— Está certo.

— E, Isadora… depois disso vou dormir um pouco. Estou sem dormir há cerca de vinte e seis horas. Preciso descansar antes da reunião.

— Eu também. Ainda está cedo. Praticamente fizemos um “brunch” e não um almoço. Não demoraremos muito para escolher as agentes.

***

O hotel era silencioso. A maioria dos hóspedes ali eram agentes de passagem retornando de missões para descansar com relativa tranquilidade no hotel da Agência. 

Isadora retornou com as caixas lacradas dos celulares e os deixou sobre a mesinha de centro para que Helena escolhesse. A agente sênior se acomodou na poltrona de posse das páginas da lista. Largou os papéis e pegou as duas caixas na mão, reparando em todos os lacres. Em seguida, deixou um deles sobre a mesa e começou a desembalar o outro. 

— Tu é muito chata, “meu irmão”!

A chefe da equipe Onça Pintada resmungou e se jogou na outra poltrona, pegando logo em seguida o outro pacote. Desembrulhou-o. Helena não deu qualquer importância para o resmungo. Ativaram os celulares e gravaram os números uma da outra.

— Quais foram as suas escolhas?

— Vê os símbolos com a letra Lambda? São as minhas escolhidas. A letra Phi são as que ficaram no segundo escalão. 

— E com a letra zeta?

— São as que eu não quero de jeito nenhum.

— Que coisa feia, Isa! 

Helena brincou com a parceira de missão, reparando bem nos nomes.  Isadora estava cansada demais para retrucar a implicância. Tinha que concordar com Helena, precisavam dormir um pouco antes da reunião. 

— Ok. Concordamos nisso. Olhe as que escolhi na minha parte e veja se está de acordo. Se estiver, só teremos que discutir quem retiraremos das nossas listas.

Isadora anuiu com a cabeça e pegou os papéis. Reparou bem na lista de Helena.

— Concordo. 

— Você não precisou me perguntar os meus códigos. Imagino que seriam suas escolhas também.

— Exato. Colocar nomes de países foi uma boa jogada, principalmente por se tratar de lugares bem ruins. Qual a lógica, os melhores dos piores são os que você escolhe?

— Isso eu não revelo. — A chefe sênior sorriu para a ex-pupila. — Agora temos que descartar três das nossas listas. Qual será o critério?

— Em nossas equipes, temos as melhores atiradoras, as melhores estrategistas e que confiam em nós. Eu descartaria quem não é muito boa em segurança pessoal, quem faz parte de equipes muito agressivas contra nós e agentes com dificuldade de seguir comando. Não teremos tempo para doutrinar ninguém.

— Certo. Então eu tiraria das listas Zerad, Smith e Karen.

— Sabe o que gosto e o que eu não gosto quando trabalhamos juntas, Helena?

— Não.

— Somos parecidas na forma de pensar estratégicamente, mas diferentes na execução. O bom disso é que, por enquanto, não estamos brigando. 

— Perfeito! Porque não estou interessada em brigar agora. Só quero dormir. 

— Ótimo! Vamos dormir.

Sem mais nada falarem, levantaram-se e Isadora foi para seu quarto.

As poucas horas de sono revigorou ambas as agentes. Às 17 horas estavam com suas equipes na Agência central. As discussões estavam acaloradas, pois parte dos rapazes se recusaram a integrar outras equipes. Eles podiam dispensar o trabalho, visto que os contratos dos agentes permitiam a recusa. 

 — Muito bem, rapazes. Não serão obrigados a participar de outras equipes, se não quiserem. O comando os dispensará e poderão ter férias nesse período. Mas saibam que o pagamento é muitas vezes mais do que recebem normalmente. 

Alguns agentes concordaram e outros foram dispensados e finalmente a reunião pôde ser iniciada com a equipe principal. Receberam toda a pauta da missão e foram dispensados. Permaneceriam três dias na cidade sede da Agência para descansarem, antes de seguir para a ilha, onde teriam uma semana para os preparativos da segurança.

Ao saírem da sede, Helena dispensou a sua equipe para ir para suas “casas seguras” e Isadora fez o mesmo. Esperaram que suas agentes dispersassem. Se encararam, para ver o que decidiriam. 

Estavam no meio de uma calçada em frente a uma praça. 

— Não gosto de pegar o metrô. Vou de ônibus para a minha “casa segura”.

— Eu também, mas posso ir de metrô. Não tem problema para mim, Helena.

— Chegamos em nossas casas e nos comunicamos?

— Por mim, está ótimo!

Separaram-se sem despedidas. Elas não pegaram seus transportes diretamente. Circularam por um tempo entre ônibus e metrôs até chegarem em seus locais. Para uma pessoa comum, parecia exagero, porém elas não eram pessoas comuns. Fizeram inimigos ao longo de suas carreiras e a segurança era o que mais importava. 

Finalmente chegaram aos destinos e poderiam dormir uma noite inteira, após prepararem as armadilhas para selarem as casas em que descansariam. Cada uma em seus espaços seguros. 

Isadora saiu do metrô na sua última etapa e subiu a rua transversal. Observou as casas de bairro de classe média, ao longo do trajeto. Reteve o seu passo, quando um ônibus se aproximou. Não entraria em sua casa se tivesse alguém observando, mesmo que fosse aleatório. Deixaria o ônibus passar, todavia, ele parou no ponto para deixar um passageiro. Ela não acreditou no que viu.

O rosto espantado não foi somente o dela. O ônibus seguiu o caminho e as duas mulheres se encaravam descrentes. Se aproximaram.

— O que faremos? Uma de nós procura outro lugar?

— Essa não serei eu, Isa. — Helena bufou, espremendo os olhos entre seus dedos. — Olha, vamos assumir que estamos na mesma equipe, ok? Até nos facilita nesses três dias.

— Por mim, tudo bem. Qual é a sua casa?

Helena apontou para o outro lado da rua. Era uma casa com uma pequena cerca, antecedendo a porta principal. Não era grande. A fachada em tijolinhos e a porta com um arco no topo. Igual a muitas da rua. 

— E a sua? 

Isadora apontou com o polegar por cima do ombro. Estavam de frente a ela. Tinha um design parecido.

— Se serve de consolo, só não peguei a sua porque já estava alugada.

— Essa situação toda está ficando irritante, Isa. Deixa ir para minha casa e não me contate até amanhã de manhã, tudo bem?

— Fechado!

Se separaram, entrando em suas casas alugadas e Helena foi vasculhar a casa a procura de escutas e outros indícios que pudessem evidenciar que estivesse sendo vigiada. 

A agente sênior entrou para o grupo Dìon muito cedo. Era praticamente uma adolescente e sua história não diferia de muitos agentes espalhados pelo mundo, que faziam parte de outros grupos particulares. A diferença que achava crucial, era que não era obrigada a ficar ligada à sua empresa. Seu contrato era renovado a cada dois anos. Se era seguro esse arranjo? Ela não sabia. 

A vida de um agente por si só já era um risco, fosse ele de escritórios particulares ou de governos. Aposentadoria comumente não fazia parte da vida dessas pessoas. Já presenciara a eliminação de muitos homens e mulheres por quererem mudar a sua história. O que a consolava era que nunca vira acontecer na sua agência. 

Esse fato não era exatamente reconfortante, uma vez que nunca soubera de agentes que se afastavam voluntariamente. Talvez fosse porque qualquer um que saísse teria um novo começo, trocando de identidade e se escondendo em um local difícil de ser rastreado. Ela faria isso. No entanto, não era possível ter certeza do destino de um agente.

Terminou de vasculhar a casa e montou sua própria segurança com pequenas armadilhas espalhadas pelos cômodos e microcâmeras conectadas ao seu laptop. Em sua bagagem levara o suficiente para se virar. Na mochila de camping, havia três pistolas, uma granada de efeito moral, canivete, uma faca de campanha e uma escopeta de coronha retrátil, além de três mudas de roupa primorosamente enroladas. Uma para sair, uma para ficar em casa e dormir e uma terceira para um jantar ou encontro mais elaborado. 

Tomou um longo banho, comeu uma barra de cereal e foi dormir. Na casa da frente, Isadora não fez coisas muito diferentes, com exceção de ter preparado uma leve refeição com alguns legumes e um bife que havia comprado na feira que antecedia a entrada do metrô.

No dia seguinte, após tomar banho, Helena escutou o toque do celular que deixara na cabeceira. Atendeu.

— Abre a porta para mim? Fui à quitanda da esquina e comprei algumas coisas para o café da manhã. Está com fome?

— Quer me fazer apaixonar por você?

Helena havia acordado com o humor muito melhor. Estava revigorada e com a mente clara.

— Isso é o que você quer que eu deseje, mas a verdade é que já é apaixonada por mim.

Helena foi até a janela e afastou ligeiramente a cortina para certificar que a agente estivesse sozinha. Vasculhou com o olhar a calçada e o outro lado da rua.

— Eu não sei, não, Isa. Ao que me parece é exatamente o oposto. 

Ela abriu a porta. As duas continuavam com os celulares ligados, mas assim que a porta se abriu, Isadora entrou rapidamente e desligou por completo o seu, colocando no bolso. Helena também desligou e o pousou sobre o balcão que separava a sala da cozinha. 

— O que trouxe? — Helena pegou a sacola da mão da ex-pupila, vasculhando dentro. — Não acredito que não comprou bacon!

— Você come muito mal, sabia? Trouxe frutas para uma salada, ovos para um mexido, queijo, iogurte e pão. Estará muito bem alimentada.

— E essas outras coisas?

— É para o almoço. Ou quer viver de fast food?

— É mais prático e rápido. 

— E mais perigoso. 

Helena suspirou. Embora estivesse mais disposta para implicar com a outra, não queria perder tempo e a verdade é que adoraria uma comida caseira. Estava cansada de rações de campanha ou comida de restaurantes sujos.

— Vou pegar os mapas da ilha e os documentos para montar a base e a segurança.

Isadora não reclamou. Após tanto tempo sem ver a antiga orientadora, as rusgas do passado pareceram ficar menores do que realmente havia acontecido. Foi descascar e lavar as frutas para a salada e arrumar as coisas que trouxe para fazer um café reforçado.

A agente sênior retornou do quarto e pousou os mapas e documentos no balcão pelo lado da sala, dividindo o espaço com a ex-pupila, enquanto ela preparava o café da manhã.

— Vira para cá para eu ver também.

Helena estava concentrada e virou automaticamente o mapa e um dos croquis da primeira construção.  

— Uau! Isso não é uma ilha simples; é uma ilha-resort.

— Isso que me preocupa. Esse pessoal não está de brincadeira. Querem dar tudo do bom e do melhor para essas atrizes, Isa.

— E isso chama a atenção demais. A gente pode supor que as atrizes contratadas para esse projeto não são desconhecidas. 

Helena suspirou. Era um trejeito seu, quando algo a incomodava. Não o fazia na frente de sua equipe, quando estava em uma missão. Trabalhando em campo, assumia o rosto da agente fria e pragmática. Todavia, Isadora conhecia esse gestual de outras épocas e outras situações.

— Acha que entramos na maior furada, não é, Helena?

— Furada? Isso é um buraco sem fundo, Isa! Como acham que faremos a segurança com apenas trinta e duas agentes num complexo como esse?

— Isso porque você está contando que entraremos na escala, senão seriam só trinta agentes. 

Helena encarou Isadora com um olhar raivoso. A ex-pupila sabia que a raiva não era direcionada a ela, e sim a cúpula da Dìon. 

— Não acredito que nossos coordenadores concordaram com isso! Olha o tamanho dessa ilha! Vão ter que nos dar os recursos materiais que pedirmos, fora que vou exigir que permaneçam com nossas equipes.

Helena deu um sorriso de lado, imaginando que se aproveitaria da situação para receber mais equipamentos de ponta para sua equipe. Isadora abanou a cabeça em reprovação, contudo, pensou que poderia se aproveitar da situação também. Não era má ideia.

— Sabe que, se entrarmos com essa equipe pequena, futuramente podem nos empurrar coisas maiores, não sabe, Helena?

— Sim, eu sei e podemos negar. Eles já tiraram bastante suco das minhas entranhas, desde que entrei na agência. Suponho que agora eu possa ter algumas exigências. 

A agente sênior vasculhou as gavetas da cozinha. Achou uma toalha e se dispôs a arrumar a mesa. Por fim, as duas se sentaram e tomaram café caladas. Estavam incomodadas pela situação inusitada. Quase no final da refeição, Isadora percebeu que Helena a abordaria com um assunto antigo e indesejado por ela. Levantou-se, antes que a antiga mentora pronunciasse qualquer palavra.

— Vou abrir todos os documentos na mesa da sala. Assim fica mais fácil olhar a situação inteira. 

Saiu, deixando Helena com as palavras travando a garganta. Alguns minutos mais tarde a agente sênior se juntou a ela na elaboração do esquema de segurança. Ambas fingiram que nada havia acontecido e levaram quase o dia inteiro entre discussões e projetos para a segurança da ilha e das pessoas que protegeriam. Ao meio-dia, pararam para fazerem um almoço simples, comeram e retornaram para o projeto. 

Eram perfeccionistas. A consciência lógica e focada, juntamente com o senso de segurança era algo que partilhavam. Pareciam agentes perfeitas para trabalharem juntas, exceto, em situações que necessitavam de decisões rápidas e arriscadas. Nesse quesito, Helena era o pólo sul e Isadora o pólo norte.

A noite já havia caído e Isadora jogou seu corpo no sofá, cansada. 

— Tem alguma bebida nessa casa? Estou morta! Parece que meu corpo não gosta que meu cérebro pense. — Riu. — Estou moída.

— Tenho um Witblits* da última missão. Não é nativo, nem nada assim. Comprei no dutyfree. 

— Mmm… Tentador. 

— Vou pegar.

— Merecemos.



Notas:
  • Witblits é uma marca nativa da África do Sul, fabricada a partir de uvas, mais precisamente, sobras das vinícolas. Por não ser envelhecido, também não sofre nenhuma maturação, resultando em um líquido transparente. Muitos agricultores produzem witblits a partir de fórmulas artesanais, resultando em um conhaque de qualidade superior.

Oi, pessoal!

Mais um capítulo das nossa agentes. Parece que Helena e Isadora são profissionais que sabem separar a vida pessoal.

Apreciem sem moderação.

Um abração a t@das! 




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3 Respostas para Capítulo 2 — Planejando a Segurança

  1. olá, Bi!!!!
    E aí??
    Essas duas tem estória, mas noto Isa mas frustrada e implicante, o que me leva a pensar que Helena atuou de forma nao esperada por Isa…talvez um caso casual e dps como se n tivesse passado nada. Parece que Helena ia abordar certo tema que nos revelaria algo para nos tirar da cegueira, mas Isa, imatura. Assim a vejo, por suas reacoes, prefere uma atitude negadora, porém, sempre reativa em relacao a Helena….n batem bem por terem abordagens diferentes, porèm, seriam uma boa dupla se pudessem conciliar esse tema..
    Bem, é isso!
    Demorarei um pouco a ler e comentar, tenho estado ocupada .
    Beijos pra vc e sua esposa!
    Beijao

  2. Parece que além das rugas tem muito amor envolvido e mal resolvido por aí😂

    Boa semana Carol!
    bjs

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