Argentum

Capitulo 109

Naquela sexta feira Márcio levou os documentos necessários para que Maia e Alicia, que estavam na clínica, assinarem para que o nome da veterinária fosse incluído no Registro Definitivo de Argentum. Oficialmente a ‘propriedade’ do potro ainda era de Maia, de forma que qualquer lucro que pudesse advir do animal não seria dividido entre as duas; algo que foi uma exigência de Alicia. Segundo Marcio tudo seria acertado ainda na semana seguinte e, no início do próximo mês, o registro de Argentum já deveria estar pronto. As duas permaneceram na clínica pois Maia dormiria ali para irem na oitava consulta dela com Bernardo no dia seguinte.

O progresso de Maia começava a ser sentido por ela própria àquela altura das sessões, ela ainda não sentia real confiança em suas pernas sem algum apoio, mas com i incentivo da namorada havia, definitivamente, deixado a muleta e passado a usar a bengala. Seu fisioterapeuta ainda não havia conversado com ela, algo que ele estava esperando para as sessões 9 ou 10, dependendo de como as coisas acontecessem, mas Bernardo já estava considerando reduzir as sessões com ele e iniciar com Maia um treinamento de força para que ela conseguisse mais confiança em seus membros, tanto as pernas quanto o braço esquerdo. Alicia já sabia disso por alto, mas a pedido do rapaz não havia dito nada ainda. Em compensação, ele não pretendia reduzir as sessões de Maia com a veterinária, Bernardo acreditava fielmente que essas sessões eram as principais responsáveis pela melhora de Maia pela frequência e também psicologicamente.

De fato, aquele fim de sessão foi o escolhido para uma conversa para falarem sobre o acompanhamento psicológico, não só de Maia, como da própria Alicia também. A sessão em si havia sido mais leve do que Maia estava acostumada, mas foi complexa para ela, pois Bernardo estava começando a pedir que ela voltasse a ter confiança em sua perna, principalmente, e era algo que ela ainda estava muito receosa em realizar, mesmo que já estivesse usando só a bengala a alguns dias. Ao final Alicia e ela estavam sentadas em frente à mesa do fisioterapeuta, ele foi o último a se sentar e, antes de conversarem, ele fez questão de guardar os papéis ali existentes e encarar ambas.

– Bem, vamos começar ressaltando que você está fazendo grandes progressos, Maia – ele começou com um largo sorriso e fazendo as duas se olharem com sorrisos também, o fisioterapeuta pensou que era lindo a relação delas ao notar a admiração no olhar de Alicia e a felicidade no de Maia – E, exatamente para garantir que vamos continuar num progresso tão ascendente quanto o que estamos tendo, eu achei necessário demais essa conversa porque quero, além de sugerir, recomendar uma coisa às duas – ele voltou a ganhar a atenção das duas após essa frase – Eu gostaria que ambas iniciassem um acompanhamento com um psicólogo. Eu sei todos os problemas que vocês vêm enfrentando nos últimos tempos e, mais do que isso, eu vejo que existem questões mais profundas e anteriores que podem vir a atrapalhar o andamento da sua recuperação – ele falou fixando seu olhar nos olhos verdes que o encaravam cheios de confusão – Estamos entrando numa etapa da sua recuperação que muitas vezes teremos de nos manter insistentes após falhas que podem ou não vir a ser grandes ou incômodas. Por mais que eu já tenha trabalhado com pacientes com certo tipo de traumas, eu não sou o profissional indicado para lidar com essas questões que, invariavelmente vão acabar surgindo. Poderemos enfrentar diversas situações de frustração e isso pode afetar muito a forma como seu corpo reage ao tratamento.

– Não podemos dizer que nunca nos passou pela mente ou que não conversamos a respeito disso – Alicia comentou um tanto distraída, Maia concordou, mas tinha uma questão que a fez se posicionar após a namorada.

– Eu compreendo muito bem a necessidade que vai surgir a respeito desse tipo de acompanhamento – Maia se falou encarando Bernardo com os verdes sérios e concentrados – Frustrações serão partes cada vez mais presentes na minha recuperação e eu preciso saber lidar com elas, com certeza eu compreendo a necessidade e não medirei esforços para buscar esse acompanhamento. Eu só tenho uma dúvida – seus olhos se fixaram em seu fisioterapeuta de uma maneira séria, mas ainda confusa – Entendo que eu preciso desse acompanhamento. Mas a forma que você recomendou isso não foi direcionada apenas a mim, ao menos tive a impressão de que está sugerindo que eu e Alicia busquemos um psicólogo. Não que eu discorde, até porque devido a nosso namoro eu acredito que qualquer psicólogo que eu procure vá querer a presença dela, mas parece que não foi bem isso o que você cogitou ao iniciar essa conversa.

Bernardo encarou as duas calmamente e sorriu. Ele imaginou que Maia não teria se atentado ao fato de que seria saudável, tanto para elas individualmente quanto para o relacionamento delas que ambas tivessem com quem conversar e alguém que as ajudasse. De certa forma ele via que era apenas por um puro desconhecimento de ambas ou apenas que não haviam refletido sobre tudo ainda.

– Bom, é exatamente por conta do relacionamento de vocês que eu sugiro que cada uma busque um psicólogo, não que não possa ser a mesma pessoa, mas me refiro a ambas terem suas consultas individuais e seu acompanhamento próprio – ele falou colocando os cotovelos sobre a mesa e entrelaçando seus dedos na altura de seu rosto – Veja, Maia, você passou por diversos tipos de traumas, dos quais eu só posso cuidar daqueles que são físicos. E se tem algo que eu sei que vai acontecer são frustrações. Só que, por mais que tenham uma origem comum, as frustrações de vocês duas serão diferentes, terão resoluções diferentes. As coisas com as quais você tem que lidar não são as mesmas que Alicia terá de lidar. Nunca sabemos o que pode vir a acontecer, e eu vejo como existe amor entre vocês duas e cumplicidade. Mas é preciso entender que são duas pessoas que sentem coisas de maneiras diferentes. Teus traumas são teus, os de Alicia são dela, e cada uma tem que entendê-los e lidar com eles – ele viu as duas se encararem como se seus olhares estivessem conversando, o que Bernardo acreditava firmemente que poderiam estar, por isso esperou que elas voltassem o foco para ele – Eu posso recomendar alguns conhecidos na cidade, mas acho que seria mais cômodo se procurassem alguém mais próximo. Entretanto, isso depende de vocês duas e do que escolherem fazer, porque a forma como vou prosseguir com o seu tratamento, Maia, vai depender disso. Vocês se amam, isso sem dúvidas é algo que vai ajudar muito no teu tratamento – Bernardo afirmou encarando Maia – Como seu fisioterapeuta eu digo e repito que Alicia é essencial para que nosso progresso continue firme. Mas como amigo de vocês duas, e como alguém que vê o relacionamento de vocês como algo lindo e incrível, eu digo que vocês precisam se preparar para tudo para não correrem riscos de traumas pesados demais minarem o imenso sentimento que existe entre vocês.

Houve outra troca de olhares entre as duas mulheres que foi calmamente observada pelo fisioterapeuta. Depois de alguns instantes todos sorriram e Bernardo soube que elas haviam compreendido a necessidade de seguirem seu conselho e o quanto isso poderia ser bom para o próprio relacionamento delas também. Assim que elas confirmaram que iriam buscar um psicólogo para ambas individualmente Bernardo explicou como queria prosseguir com as sessões.

Eles manteriam o mesmo esquema que já vinham seguindo, ao menos por enquanto até que Alicia e Maia começassem com o acompanhamento. Posteriormente Bernardo alteraria os dias das sessões, a forma como as conduziria e a frequência que teriam. Ele seria mais rigoroso e Maia faria um trabalho de fortalecimento, como ela tinha condições para isso ele recomendou que ela já começasse a pensar em adquirir alguns equipamentos de musculação caso não houvesse nenhuma academia com um bom profissional perto ou que ela pudesse frequentar. Ele mesmo buscaria alguém para ajudá-lo a organizar um treino para ela se não houvesse outra forma. A intenção do rapaz era que Maia começasse a ter condições de confiar novamente em sua perna e mão.

Assim que as sessões com um psicólogo estivessem estabelecidas ele alteraria a frequência das sessões dele com Maia para apenas duas vezes na semana e recomendaria que Alicia acompanhasse Maia na academia ou nos treinos que ele recomendasse. Reforçando que as sessões entre as duas com os exercícios que elas já haviam aprendido poderiam ser feitas sempre que elas pudessem ou sentissem que havia necessidade. A intenção dele, que foi deixada bem clara a ambas, era fazer com que Maia voltasse a tentar andar sem realmente depender da bengala como apoio e passasse a ter ela apenas como um objeto de segurança para se ter próximo. Foi com essa nova perspectiva que elas voltaram para casa naquela tarde.

 

N/A:

E a maratona continua hehe.

Digam o que estão achando e o que esperam que vai acontecer. Espero os comentários de vocês amanhã.

Um pequeno aviso, o capítulo da quarta sairá bem mais tarde (ou talvez eu solte dois na quinta, ainda não sei como farei).

Bjinhos e até o próximo
;]



Notas:



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