Argentum

Capítulo 111

Aquele dia seria a primeira sessão com uma psicóloga que as duas teriam. Alicia e Maia haviam marcados horários em sequência com a mesma psicóloga na cidade delas. Era uma mulher um pouco mais velha do que elas, talvez quase na casa dos 40 anos. Tinha os cabelos louros com alguns fios brancos, poucas marcas de expressão, olhos castanhos e pele mais clara. Doutora Monique Duarte era do Paraná e era concursada pelo município trabalhando quatro horas diárias para a prefeitura e atendendo por 3 horas no período da tarde em seu consultório particular. Sendo uma cidade pequena ela não tinha tantos pacientes no consultório, mas Maia achou mais lógico que ela não ocupasse as vagas oferecidas pelo município para os atendimentos com a psicóloga e marcou as consultas para ela e Alicia para os dois últimos horários daquela quarta a tarde.

Naquele mesmo dia estava acontecendo a audiência com a presença de Renato, Doutor Márcio estava presente e, como já havia explicado as duas, nenhuma delas teria que ir e a decisão do juiz seria dada posteriormente. Esse era um dos assuntos que a psicóloga abordou naquela primeira consulta. Apesar de já ter conhecimento do ocorrido, o que era esperado, afinal, era uma cidade pequena, Monique queria ouvir além da versão das duas. A veterinária foi ouvida primeiro e os assuntos que a Dra. Duarte começou questionando foram relativos à aceitação dela de sua sexualidade só depois falaram rapidamente sobre o incidente com o ex-gerente de banco.

A consulta de Maia foi um pouco mais longa, Monica havia recebido um telefonema de Bernardo no dia seguinte as consultas das duas serem marcadas, assim que o fisioterapeuta ficou sabendo quem seria a psicóloga de ambas. O rapaz contou um pouco sobre as percepções que teve de Maia a respeito de seu acidente e sequelas e Monique compreendeu, depois de Alicia sair, que a conversa com Maia teria de ser um tanto mais profunda e delicada, motivo pelo qual a dona do Rancho passou mais de uma hora no consultório conversando com a psicóloga. Não foi uma conversa que alterou muita coisa na vida das duas, mas Monique sabia que seria um processo demorado, principalmente com Maia.

As duas voltaram para a casa da veterinária depois no dia seguinte Maia teria mais uma sessão com Bernardo e, como sempre, elas iriam juntas. Márcio ligou um pouco depois delas estarem na casa de Alicia para contar por alto como havia sido a audiência de Renato. Segundo o advogado o rapaz não havia conseguido rebater muita coisa, seu comportamento intolerante e agressivo irritou o juiz e, mesmo com defensor tentando amenizar a situação, ainda ficou um tanto óbvio que o juiz estava desgostoso com as atitudes de Renato. Para o advogado das duas era mais do que claro que o ex-gerente seria condenado. Não que elas ficassem felizes com o resultado, mas o alívio era incontrolável pois sabiam o quão importante era essa condenação.

Entretanto nenhuma delas queria se preocupar muito com isso no momento, afinal, o resultado disso demoraria muito ainda para sair contando com todos os recursos que a defesa poderia interpor na causa. E ambas tinham algo mais interessante em que pensar do que num homem machista que dificilmente sairia impune dos atos que teve. As duas vinham planejando um dia só delas para comemorar o segundo mês de namoro. A intenção delas era viajar na manhã de segunda, o dia em que comemoravam o segundo mês, e passar aquele dia em alguns programas que ambas estavam organizando. Passariam a noite em um hotel e aproveitariam a manhã antes da sessão de Maia com Bernardo; depois da qual voltariam para casa.

Dessa forma a segunda começou muito cedo para as duas que estavam na casa da veterinária de onde elas saíram para a viagem. A primeira coisa que fizeram foi o check-in em um hotel onde Maia havia feito as reservas, dali seguiram para o almoço em um restaurante que por sua vez havia sido escolha da veterinária. Nenhum dos lutares era considerado muito caro, apesar do hotel ser um dos melhores da cidade. O restaurante em si não era dos mais caros, mas Alicia já o conhecia e sabia que a comida e o atendimento eram ótimos. Elas chagaram e foram levadas até uma mesa mais reservada do lugar onde se sentaram uma de frente para a outra.

– Ainda acho que poderíamos ter trocado os presentes no hotel – Maia comentou sorrindo e se lembrando da pequena argumentação de ambas antes de decidirem sair para o almoço e deixar os presentes para quando voltassem.

– Pra começar nem era para haverem presentes – Alicia devolveu apontando para a namorada o pedaço de torrada que tinha acabado de pegar do recipiente no meio da mesa – Havíamos combinado que não iriamos comprar coisas.

– Você também descumpriu isso – foi a resposta de Maia antes dela pegar o pedaço de torrada de entre o polegar e indicador da veterinária e colocá-lo na boca.

Alicia rolou os olhos, mas continuava sorrindo, alcançou outro pedaço de torrada e começou a mastiga-lo enquanto elas esperavam alguém que viesse as atender. Elas haviam conversado na semana anterior sobre não comprarem nenhum presente, mas Alicia queria retribuir o anel e a corrente que estavam em seu dedo e seu pescoço naquele momento e acabou comprando algo. Maia, por sua vez, havia comprado um presente sem avisar e só depois ficou sabendo que não era a única a fazer surpresa com isso.

As duas continuaram a comer pedacinhos de torrada enquanto esperavam e um pouco depois um garçom apareceu ao lado da mesa delas deixando dois cardápios para as duas. Elas começaram a ler e tentar decidir o que queriam, alguns minutos depois o rapaz se aproximou novamente perguntando se elas queriam algo para beber antes de fazerem os pedidos. Elas se entreolharam e Maia abriu as páginas de bebidas, decidiram por dois sucos de uva. O rapaz ia se retirando depois de Maia confirmar os pedidos, a veterinária havia voltado a procurar algo no cardápio e achou um prato interessante. Ela esticou a mão esquerda segurando a direita da namorada para chamar a atenção dela e virou o cardápio para que ela visse o prato.

Maia entrelaçou os dedos de ambas antes de poder realmente ver o prato que ela estava tentando mostrar. Nessa mudança de foco a veterinária não percebeu o olhar surpreso e confuso do garçom para as mãos delas, mas os olhos verdes notaram o momento em que a confusão se tornou algo ruim. Maia tentou não demonstrar que havia notado, mas assim que o homem, talvez da altura de Alicia, com cabelos negros, pele branca e olhos castanhos, saiu de perto da mesa a veterinária puxou o cardápio de volta perguntando o que havia acontecido. Maia relutou, mas acabou por falar do que havia percebido no garçom e Alicia confirmou que não eram suspeitas infundadas quando o mesmo veio trazer as bebidas das duas e encarou as mãos delas ainda juntas sobre a mesa quase sem conseguir controlar sua expressão de irritação.

– Isso é ridículo – Maia comentou depois dele se afastar – Estou quase pedindo a conta e chamando o gerente para fazer uma reclamação sobre esse garçom – ela disse irritada e bebendo um pouco do suco – O pior de tudo é que talvez nem adiante de nada e o gerente seja pior.

– Vamos pagar para ver? – Alicia questionou com um meio sorriso, ela nunca fora o tipo de pessoa que se levanta e reclama por estar sofrendo algum tipo de discriminação ou preconceito, mas já havia notado que Maia não era do tipo que aceitava qualquer coisa e ela sempre estaria junto da namorada quando ela fosse enfrentar algo.

Os olhos verdes observaram o rosto da mulher a sua frente e ela sorriu com a expressão quase ansiosa da veterinária por comprar aquela briga com ela. Elas chamaram o garçom novamente e pediram uma entrada, ele não parecia muito contente ao ver que elas não iriam fazer todo o pedido de uma vez e Maia o questionou sobre isso.

– Algum problema se esperarmos mais um pouco para decidir o que vamos realmente querer? – ela questionou encarando os olhos castanhos do rapaz; Alicia estava recostada em sua cadeira com seu braço direito sobre a mesa segurando a mão esquerda da namorada e o outro apoiado sobre o braço da cadeira – Ou estamos fazendo algo que lhe incomoda?

– Não, senhorita, pode levar o tempo que quiser – respondeu o garçom se controlando muito.

Maia iria pedir para que ele chamasse o gerente nesse exato momento quando uma moça com um uniforme muito parecido com o do rapaz se aproximou da mesa tocando o ombro dele e lhe dizendo para buscar o pedido de uma outra mesa. Ele encarou a garota que parecia alguns anos mais nova, rolou os olhos e se afastou pedindo licença de maneira automática. Só depois que ele se afastou foi que a jovem se virou para a mesa das duas.

– Perdão por esse inconveniente – disse a garota que tinha um crachá com o nome Amélia escrito – Ele é novo, ainda está aprendendo.

– Ele estava a ponto de perder o controle apenas por nos ver de mãos dadas – Maia respondeu de forma séria e quase irritada e a jovem suspirou – Estávamos a ponto de chamar o gerente.

– Eu percebi – a garota afirmou de maneira séria notando que o fiasco causado pelo seu colega de trabalho estava quase se tornando irreversível – Já irei repassar o ocorrido ao gerente, mas se fazem questão posso chamá-lo agora mesmo. Mas garanto que não vai se repetir, Gabriel não vai atender mais a mesa das senhoras, estou assumindo o lugar dele, se for da preferência das senhoras podem encerrar a conta agora e nenhum custo lhes será cobrado como compensação pelo transtorno.

– Você é só uma garçonete mesmo? – Alicia perguntou confusa enquanto que Maia observava melhor a garota que não deveria ter mais de 21 anos vendo-a sorrir um pouco sem jeito.

– Minha família é a dona do Restaurante – ela afirmou – A gerente é minha mãe, ainda sou só uma garçonete, mas caso queiram se retirar o valor da conta de vocês sairá do meu salário, sem passar pela gerência.

– Porque está protegendo o rapaz? – Maia perguntou curiosa percebendo que a garota só estava tentando ser correta com elas.

– Ele é meu primo – ela afirmou suspirando e olhando de relance para o rapaz que atendia outra mesa – Está começando agora, teve alguns problemas com meu tio e estamos tentando ajuda-lo. Por isso não quero envolver minha mãe, mas garanto que ele será repreendido.

Maia e alicia se entreolharam e a veterinária deu de ombros, a garota era respeitosa e prestativa, claramente estava tentando ajudar o primo. As duas concordaram em não envolverem a gerência e serem atendidas pela jovem garçonete que confirmou o pedido delas das entradas e se afastou. Alicia que estava de frente para o lugar onde os garçons ficavam esperando percebeu que a garota chegou perto do rapaz que as atendia e pareceu lhe dizer algo que o fez baixar a cabeça envergonhado, logo depois ambos saíram para atender outras mesas.

O resto do almoço transcorreu tranquilamente e Amélia as atendeu de forma exemplar, elas haviam acabado de terminar o prato principal e a jovem se aproximou com as sobremesas pedidas por elas, que eram dois brownie’s com sorvete, mas haviam dois corações desenhados um por sobre o outro em cada um dos pratos com caramelo vermelho. A jovem garçonete sorriu para as duas após deixar os pratos e se afastou deixando o casal com sorrisos bobos para terminar a refeição. Ao final elas elogiaram muito o atendimento da jovem e pagaram um pouco mais que a taxa de serviço como gorjeta para ela. Maia ainda descobriu que o restaurante fornecia um serviço de buffet e garantiu para a namorada que seria a primeira escolha dela quando precisasse desse tipo de serviço.

 

N/A:

Gente!!
Eu quero deixar um aviso aqui que talvez o capítulo de Domingo saia na Segunda por motivos de: não sei como eu deixo ele terminar! kkkkkkkkk
Mas paciência, esperamos que não atrase. Com sorte eu me decido amanhã =D

Bjs pessoinhas
;]



Notas:



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2 Respostas para Capítulo 111

  1. Infelizmente há muitas pessoas c esse preconceito horrível, mas existem pessoas boas, de coração limpo p aceitar as diferenças.
    Amei esse capítulo!

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