Argentum

Capítulo 120

No dia seguinte elas já voltavam para casa e a semana também se seguiu tranquila. Bernardo havia alterado as consultas com Maia, agora ela teria consultas e sessões de fisioterapia toda segunda-feira e quinta-feira. Os exercícios com Alicia poderiam continuar nos intervalos, mas sem a necessidade rígida de serem feitos e podendo se resumir a massagens, nos dias em que os músculos reclamassem demais, e exercícios de alongamento após dias mais exaustivos. Enquanto isso as consultas com Monique se mantiveram, todas as quartas as duas estavam lá.

Na segunda, mais de uma semana depois do leilão, elas foram a outra consulta com Bernardo que elogiou muito o progresso de Maia, mas ainda a lembrando que manter aquilo era um trabalho árduo e contínuo e que ela ainda tinha muito o que avançar na sua recuperação. Ao mesmo tempo as duas sentiam suas rotinas consumirem ainda mais seu tempo com os afazeres dos quais ambas precisavam dar conta. Combinaram que, ao menos nas consultas com Bernardo estariam juntas e, todas as quartas dormiriam juntas na casa de uma delas para irem para a segunda consulta da semana com o fisioterapeuta. Não era a melhor solução, nem era a que mais amenizava a saudade, mas era o que elas poderiam ter naquele momento.

A surpresa na rotina foi o telefonema na segunda, quando elas saíam da consulta com Bernardo. Era o advogado de Maia pedindo para se encontrarem em uma reunião no dia seguinte porque ele tinha novidades sobre o julgamento de Renato. Ficou combinado que essa reunião seria na casa da veterinária e, o único ponto positivo disso, foi que elas dormiram aquela noite juntas na cidade para se encontrarem com Márcio na manhã seguinte. Maia já vinha esperando por esse momento, antes mesmo que ele se aproximasse ela havia feito algumas pesquisas e estudado um pouco sobre as possíveis penas que Renato poderia receber.

Na terça Márcio se reuniu com as duas em seu escritório na cidade. Ele queria contar a elas que havia conseguido uma informação com juiz sobre a condenação de Renato. Segundo o advogado o homem seria condenado e o juiz estava para definir apenas a pena que deveria ser aplicada a ele antes de comunicar a sua decisão. Quem fez a pergunta crucial foi Alicia, ela queria saber quanto tempo Renato poderia ficar preso. Márcio teve que ser bem sincero com as duas. Devido a toda a situação e as acusações, ele acreditava que Renato seria condenado a algo por volta de um ano de reclusão. Pena essa que ele acreditava que o advogado de defesa nem fosse recorrer.

– O que você acha a defesa dele fará, Márcio? – Maia questionou seu advogado que a encarou de maneira muito séria.

– Vão pedir que a pena seja revista, provavelmente vão pedir a conversão da pena para serviços comunitários ou pagamento de cestas básicas ou algo do tipo – o advogado respondeu cruzando seus dedos sobre a mesa que estava entre ele e o casal – É difícil que ele fique preso por mais de um mês ou dois enquanto aguarda essa conversão de pena, isso se o próprio juiz já não a fizer. Mas, conforme o que eu já havia solicitado, ele com certeza irá também ser condenado a pagar uma compensação a vocês duas, já que eu entrei também com um pedido de danos materiais, físicos e morais. Com certeza será feito um cálculo dos bens que Renato possui para atribuir um montante de indenização.

Alicia não ficou nada contente com isso, mas Maia já esperava que algo parecido acontecesse. Assim que o advogado terminou de falar ela pediu que ele as deixasse a sós por alguns minutos e Márcio, educadamente, se retirou dizendo que voltaria quando elas o chamassem e esperaria na recepção com sua secretária enquanto ela preparava um café para os três. A dona do Rancho tinha uma proposta na qual vinha pensando já a algum tempo, mas queria que a namorada concordasse e a apoiasse para que ela conversasse com o advogado sobre esse pedido. A veterinária não gostou muito da sugestão de princípio, mas acabou tendo que concordar com Maia de que essa era uma solução mais proveitosa.

Márcio foi chamado de volta para a sala e trouxe os cafés. Enquanto bebiam o líquido quente Maia explicava o que queria que ele fizesse. Assim como a veterinária ele não gostou muito da sugestão de início, mas acabou concordando posteriormente de que seria algo melhor do que só esperar que eles recorressem da pena. Com a ajuda das duas eles conversaram e acertaram os detalhes de como fariam o que Maia queria e Márcio teria a responsabilidade de levar a proposta para o juiz no dia seguinte. No fim daquela semana, logo depois delas saírem da segunda sessão de fisioterapia da semana, Márcio avisou-as sobre a audiência onde o juiz responsável daria a sentença e faria a proposta deles.

Na sexta a tarde elas estavam lá junto de Márcio, frente a frente com o advogado de defesa e, pela primeira vez, com Renato também. O juiz leu as acusações e depois declarou Renato culpado por todas elas. O rapaz permaneceu em silencio, mas era notável que ele estava desesperado com o fato de que seria preso, ao menos até que seu advogado conseguisse uma revisão de pena ou uma contestação da sentença. Para a surpresa da defesa, logo após anunciar sua decisão o juiz falou do acordo proposto por Maia e seu advogado. Só após ouvir a proposta foi que Renato encarou as duas mulheres a frente dele pela primeira vez desde que entrara na sala, sem acreditar naquilo, mas ao mesmo tempo sem saber o que pensar da proposta.

O advogado de defesa pediu um momento com Renato para conversarem sobre a proposta e a audiência foi interrompida por meia hora. Enquanto eles conversavam dentro da sala Alicia e Maia saíram com Márcio e esperaram do lado de fora calmamente. Quase uma hora depois o juiz retornou para a sala e as chamou de volta. Era um tanto óbvio que a melhor escolha para Renato era aceitar o acordo, mesmo assim o advogado não teve facilidade em convencê-lo disso. Por fim, com uma ajuda do próprio juiz, Renato aceitou o acordo e a sentença foi alterada.

O acordo de Maia consistia em Renato não ser preso, nem ter que pagar uma indenização a elas, mas a indenização a Carlos deveria ser paga. Em contrapartida Renato era obrigado a prestar trabalho voluntário uma vez por semana em qualquer local que atendesse ou desse algum tipo de auxílio a pessoas LGBTQI+ por pelo menos dois anos; cada semana que ele faltasse seriam acrescentadas duas semanas no total. O rapaz, obviamente, já demonstrava interesse em sair da cidade, por isso Maia e Alicia fizeram uma pequena pesquisa com a ajuda de Márcio e encontraram diversas iniciativas interessantes que aceitavam voluntários em muitas cidades do estado e até de alguns outros.

A instituição onde Renato prestaria serviço deveria ser aprovada pelo juiz e por elas duas. Em troca disso ele não precisaria pagar os danos materiais causados ao carro do Rancho, nem as indenizações devidas a Maia e Alicia; tudo isso junto acabaria somando 70% do valor total da indenização. Quando ele questionou o motivo daquele acordo sendo que elas poderiam tirar até o último centavo que ele possuía Maia respondeu de maneira muito calma.

– Eu não quero e nem preciso do seu dinheiro, Renato. Tenho o bastante para mim e as coisas que você fez são irreparáveis monetariamente – ela falou encarando pela primeira vez o homem nos olhos – E tirar tudo o que você tem não faria a situação ser melhor, ao contrário, lhe traria mais raiva e isso deixaria outra pessoa suscetível a sofrer o que nós sofremos por conta do seu preconceito. Por isso esse acordo. Você será obrigado a ajudar pessoas que passam por situações de dificuldade muito maiores do que as que você poderia ter tido na cadeia. Vai conhecer histórias que nunca sequer conseguiria imaginar que um ser humano poderia passar. Eu propus esse acordo porque não quero acreditar que você seja uma pessoa perdida, alguém que não pode melhorar, alguém que não pode entender e aprender. Essa é a oportunidade que eu encontrei de dar a você uma chance de ser uma pessoa com mais empatia e mais respeito – os olhos verdes tinham um peso tão forte ao dizerem essas palavras que Renato não conseguiu sustentar o olhar dela por muito tempo – E Alicia e eu esperamos do fundo dos nossos corações que você aceite de verdade essa chance e cresça como pessoa e ser humano.

Sem surpresa, assim que se viu livre Renato saiu da cidade, juntou tudo o que tinha e se mudou. Maia não poderia fazer muito mais para ajuda-lo, restava a ele ter consciência das consequências de seus atos. O serviço voluntário seria algo cobrado e a apresentação da instituição que ele escolhesse deveria acontecer em no máximo um mês ou ele seria considerado foragido e seria preso sem outra chance de um acordo desse tipo. No fim, as duas estavam satisfeitas com o resultado do julgamento e honestamente esperavam que Renato se tornasse uma pessoa melhor.

 

 

N/A:

Boa noite pessoinhas, estou um pouco atrasada no horário comum das atualizações, mas saiu no dia previsto.

Eu sei que está curto, mas meu tempo anda corrido esses dias ><

Por isso tbm que ainda não respondi todos os comentários, mas vou responder ok?

Bjinhos pessoinhas, espero que Maia tenha surpreendido vcs
;]



Notas:



O que achou deste história?

6 Respostas para Capítulo 120

  1. Olá, autora! Estamos aguardando ansiosas por mais um capítulo dessa deliciosa história. Cadê vc, mulher?! rsrsrsrsrsrs

    • Olá Luciene
      Eu tive alguns problemas pessoais q refletiram na minha escrita >-< 2019 não foi muito tranquilo pra mim, mas vou começar 2020 com um ritmo diferente.
      Feliz Ano Novo! E até breve com novos capítulos
      ;]

  2. No momento de raiva, a gente acha q o ideal é o Renato ser preso, mas Maia foi muito humana ao propor esse acordo.

    Amar ao próximo, não é msm?!

    Querida autora, vc é realmente mto criativa! rsrsrsrsrsrs

    Parabéns!

    • Com o tempo que a justiça brasileira demora, a raiva tem tempo de ser digerida. E, realmente, amor ao próximo, empatia e a vontade de ensinar o jeito mais humano faz Maia surpreender mt a gente.

      E muito obrigada (apesar q as vezes essa criatividade me destrói kkkk)
      ;]

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