Argentum

Capítulo 123

A situação de Giovani não foi nada boa. Maia ficou em Minas por mais três dias organizando o que podia a respeito da casa, funcionários e dos advogados, depois deixou Márcio encarregado de comandar a defesa do irmão e voltou para casa. Era clara a mudança no mais velho, ele estava calado e cabisbaixo, não se impunha e chegou a confidenciar a irmã que estava incrivelmente decepcionado e magoado consigo mesmo por conta da perda de confiança que tinha nas pessoas que viviam perto dele. Maia foi categórica em explicar ao irmão que ele, provavelmente, só teria amigos interessados naquilo que ele poderia oferecer e Giovani não pode negar já que, desde que seu nome apareceu em várias matérias de jornal no escândalo do desvio de verbas do SUS, nenhum de seus “amigos” sequer atendia suas ligações e muito menos procuravam por ele.

O processo seria longo e complicado, os advogados acreditavam que nada seria resolvido com menos de seis meses. A primeira coisa feita foi trocar a representação de Giovani, logo em seguida os advogados pediram uma revisão das provas e apresentaram um acordo. Ele falaria tudo e entregaria todas as provas que ainda pudesse ter, iria cooperar com a investigação e, com isso, teria uma garantia de que não seria preso no final. Márcio explicou que essa garantia não era tão segura, porque também dependeria do que os investigadores concluíssem, mas confiava que a disponibilidade de Giovani em ajudar seria importantíssima no momento de pedir que ele respondesse em liberdade ou negociar alguma liberdade maior para ele no futuro.

Sabendo que havia deixado as coisas bem encaminhadas Maia retornou ao Rancho porque também tinha questões a serem resolvidas. Nos últimos meses Aldo Cárceres havia se tornado um parceiro contínuo em negociações e Maia estava planejando mais alguns negócios com o homem que havia, por conta de algumas conversas com ela, finalmente parado de implicar com a escolha de curso da filha. Juliana acabou se tornando o braço direito do pai, muito por conta das coisas que ele ouvia de Maia. A jovem herdeira de Aldo agora estava matriculada num curso de administração de uma faculdade particular na capital onde ficava a semana toda e voltava nos fins de semana para ajudar o pai com as coisas na propriedade da família.

Enquanto isso a clientela de Alicia começava, aos poucos, a retornar. Aparentemente, parte dos que voltavam apenas não tinham outra opção além de contratá-la, mas haviam alguns que decidiam voltar a usar os serviços da veterinária depois de uma conversa com ela ou com alguma outra pessoa que os ajudava a entender que Alicia só estava tentando ser feliz ao lado de alguém que ela ama. Tudo estava muito mais calmo quando os irmãos de Maia vieram passar três semanas de férias no Rancho com a autorização da mãe deles. Os gêmeos viajaram sozinhos e Maia e Alicia os receberam no aeroporto.

Eles estavam animados e ansiosos, Maia prometeu que não teria muito trabalho no período em que eles estivessem lá e Alicia também garantiu que tentaria passar o máximo de tempo no Rancho com eles, mesmo que já tivesse algumas consultas agendadas. Como ambos chegaram no final da manhã as duas mais velhas decidiram almoçar com eles em Porto Alegre e fazer algum programa por lá antes de voltarem. Acabaram passeando em um shopping da cidade onde fizeram compras, várias delas sendo presentes de Maia para os irmãos. Chegaram ao Rancho já era noite e os dois, exaustos, foram dormir no quarto que Maia havia mandado arrumar para que ambos dividissem. Ela sabia que em algum momento da vida eles não iriam mais querer dividir os quartos, mas naquele momento viu como ficaram felizes de poderem estar próximos.

A rotina das férias dos gêmeos foi lotada de atividades. Antonieta fez todas as vontades dos meninos, chegando a aprender receitas novas para isso. Giulio e Carlos foram os grandes guias dos dois junto com Maia e em menos de uma semana eles já conheciam toda a propriedade. Era sexta, os dois haviam chegado na terça e era o primeiro dia em que Maia havia precisado ficar um tempo maior ocupada. Os gêmeos haviam descansado pela manhã e acabaram passando o final dela com Eduardo vendo e interagindo com os cavalos nas baias. Um pouco depois do almoço os dois estavam no quarto. Maia havia ido descansar por conta de uma pequena dor de cabeça e eles resolveram fazer o mesmo enquanto esperavam que Alicia chegasse.

De fato, pouco antes das 14h o carro da veterinária foi visto por Juliet que estava sentada no banco junto a imensa janela, ela se virou para avisar ao irmão, mas reparou que ele estava cochilando sobre a cama. Desistiu de chama-lo e voltou a olhar para o lado de fora no momento em que o carro parava e Alicia descia. Sua atenção estava para se desviar quando ela notou que outra pessoa desceu do carro, a única coisa que ela percebeu foi que era uma garota, menor que a cunhada, de cabelos cacheados e pretos. A jovem que Juliet achava que não deveria ser tão mais velha que ela, puxou uma mochila verde clara do carro e um casaco que parecia grosso, jogou a mochila sobre um ombro e fez o mesmo com o casaco.

Alicia deu a volta no carro para encontrar com a jovem e Juliet viu a veterinária colocar a mão no topo da cabeça da garota que tentou se esquivar enquanto as duas pareciam rir. Alicia caminhou com a garota por alguns metros até que ela correu para as escadas e Juliet perdeu a visão do que acontecia. Ela decidiu descer e deixou o irmão dormindo, passou vendo a porta do quarto da irmã fechada e desceu sem chamar por ela também. No topo das escadas ela viu Alicia passando pela sala, a veterinária sorriu para ela e a esperou ao fim dos degraus puxando a loira para um abraço quando ela terminou de descer. Não estava tão acostumada com abraços distribuídos sem qualquer razão, mas já havia entendido que sua irmã e a namorada dela pretendiam fazer com que ela e o irmão se acostumassem.

– Achei que fosse chegar mais cedo – Juliet falou ainda abraçada a veterinária que riu e puxou a mais nova para o corredor que levava a sala de jantar e a cozinha.

– Desculpe – a veterinária pediu calma – De toda forma, minha consulta era para ser até as 11h e acabou durando muito mais, por isso atrasei para vir – explicou dando de ombros.

– Quem chegou com você? – ela não controlou sua curiosidade e acabou por perguntar enquanto caminhava com o braço esquerdo da veterinária sobre seus ombros.

– Fabiana – foi a resposta, mas logo Alicia a complementou – É a neta de Antonieta, filha da Amanda. Se não me engano ela tem quase a mesma idade que vocês, está no último ano da escola, logo já vai estar indo para a faculdade.

Juliet acenou com a cabeça, mas não respondeu nada. Sequer sabia o que responder, só acompanhou Alicia até a cozinha onde Maria e Antonieta estavam preparando alguma coisa que estava com um cheiro ótimo. A mochila estava esquecida no canto ao lado da porta dos fundos e não havia nenhum sinal da tal Fabiana que Alicia tinha trazido. Juliet pediu um copo para tomar um suco enquanto ouvia Antonieta agradecer a veterinária pela carona para a neta que, aparentemente, passaria o fim de semana ali no Rancho com a avó. Logo depois Alicia perguntou da namorada e Juliet explicou que a irmã havia deitado após o almoço para descansar um pouco depois de uma leve dor de cabeça. A veterinária então subiu para ver como ela estava e deixou a loira na cozinha com seu copo de suco.

Alicia entrou no quarto sem fazer barulhos, as cortinas estavam fechadas e, apesar do dia fresco o quarto estava um pouco mais frio do que o lado de fora porque não tinha sol algum ali para aquecer o ambiente. Encontrou Maia deitada entre as cobertas, depois de algum tempo de namoro a mais nova havia ganhado o hábito de dormir com as camisas ou blusas da veterinária que ficavam mais largas nela, mas deixavam a mostra muito de seus braços e pescoço. Alicia se sentou na cama admirando a namorada que estava deitada de lado com as costas para ela, abraçando um travesseiro, com a coberta até a altura de seus seios, os cabelos espalhados em outro travesseiro e as pernas que pareciam estar esparramadas na cama por baixo do grosso cobertor.

Ela retirou as botas tentando não fazer muito barulho, depois retirou a jaqueta e os jeans, ficando apenas com a blusa de mangas compridas que usava por baixo. Afastou os cobertores apenas o suficiente para entrar embaixo deles e colou seu corpo as costas de Maia abraçando a cintura da menor que se moveu suspirando e se aconchegando contra seu corpo. Houve um pequeno momento em que Maia ficou entre a consciência e o sono em que ela largou o travesseiro e se agarrou ao braço de Alicia sobre si, mas logo o sono leve dela a fez acordar notando quem estava com ela na cama.

– Oi – Maia sussurrou ainda sonolenta virando o rosto para o lado tentando enxergar a namorada que sorriu e inclinou a cabeça para beijar a bochecha de Maia.

– Oi dorminhoca – a veterinária sussurrou sorrindo e apoiando a cabeça na outra mão enquanto deixava que a namorada virasse o corpo para estar de frente para ela – Está se sentindo bem? Juliet e Antonieta me disseram que você teve uma dor de cabeça.

– Eu só li muita coisa hoje cedo – Maia respondeu sorrindo e fechando os olhos, mas logo os forçou a abrir de novo e levou a mão até o rosto da namorada e começou a dar pequenos e rápidos beijos pelo pescoço e maxilar dela – Fiquei com saudades – ela sussurrou com o rosto próximo da orelha de Alicia.

– Não foi a única – a veterinária respondeu sorrindo e girando o corpo ao mesmo tempo em que puxava a namorada para cima do seu a abraçando mais apertado com suas mãos na cintura de Maia.

Elas trocaram beijos por alguns segundos antes de Maia apoiar os cotovelos dos lados da cabeça de Alicia e se erguer um pouco para encarar a namorada que tinha um sorriso discreto e continuou com as mãos em sua cintura, por baixo da blusa, num carinho inocente.

– Você viu meus irmãos lá embaixo? – ela perguntou deixando seu corpo ficar mais apoiado sobre a namorada e deixou se queixo se apoiar sobre o peito de Alicia.

– Juliet, parece que Jordan seguiu seu exemplo e dormiu após o almoço – a veterinária respondeu rindo e se esticando para beijar a namorada mais uma vez – Ela ficou na cozinha com Antonieta, aliás, Fabiana veio comigo e comentou que estava com saudade de trabalhar com você – ela comentou rolando os olhos.

– Ciúmes? – Maia perguntou confusa com a reação da veterinária.

– Claro! Corro o risco de perder minha namorada para o trabalho! – Alicia falou rindo.

Maia quase riu, mas ela rolou os olhos e mordeu o queixo da namorada com um pouco mais de força e, mesmo soltando uma pequena exclamação de surpresa e dor, a veterinária continuou rindo. Quando Maia acertou um pequeno tapa no ombro dela foi que Alicia parou de rir e girou na cama ficando por cima do corpo da menor que envolveu o pescoço da namorada. Alicia começou a morder de leve o pescoço de Maia que gargalhou, em parte pela brincadeira e em parte por cócegas que começou a sentir com as mordidinhas leves. Quando parou Alicia deixou um selinho nos lábios da namorada que a puxou para um beijo mais lento e longo.



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