Argentum

Capítulo 14

N/A: Capítulo 3/7 da Maratona ;]


Quando Alicia chegou na clínica havia um pequeno paciente lhe esperando. Um filhote de cachorro com febre estava encolhido no colo da garotinha que estava sentada ao lado da mãe. Mal entrou pela porta da frente já foram para o consultório com a veterinária colocando um jaleco que estava pendurado atrás da porta. Por esse motivo Talitha não teve como fazer nenhuma pergunta sobre a visita ao Racho. Mas assim que a mãe da menina pagou a consulta ela correu para a sala onde a veterinária ainda estava.

– Como foi? – perguntou a mais nova de forma exasperada antes mesmo de entrar na sala.

– Era uma leve intoxicação, parece que o cachorrinho comeu um pedaço de… – começou a veterinária ainda anotando algumas coisas na ficha que havia feito do animal, mas foi rudemente interrompida pela amiga se sentando na cadeira a frente da mesa.

– Não estou falando da consulta! – disse Talitha rolando os olhos – Quero saber como foi a visita ao Rancho. Você encontrou a moça dos olhos verdes? – questionou ela apoiando os cotovelos na mesa e o rosto sobre as mãos com um enorme sorriso que fez Alicia rir.

A veterinária se recostou contra sua confortável cadeira encarando a amiga e pensou na manhã que teve no Rancho. Pensou principalmente nos momentos que passou ao lado da Srta. Almeida e isso lhe rendeu um sorriso contente só pelas lembranças que tinha.

– Pelo sorriso a resposta é sim – falou Talitha antes que Alicia pudesse dizer qualquer coisa – Vamos, me conte tudo.

– Calma – falou a mais velha rindo e olhando para o teto – Bom, houveram alguns acontecimentos curiosos – ela começou com um riso baixo e um tanto desconcertado – Ela tropeçou e eu a segurei – contou num sussurro ainda olhando para o teto e sob o olhar brilhante de Talitha – Conversamos bastante. Ela tinha acabado de se levantar e me convidou para o desjejum. Conversamos enquanto comíamos.

– Pela sua carinha posso acreditar que ela, além de linda fisicamente, também é uma pessoa com uma ótima personalidade – falou Talitha rindo do sorriso bobo da amiga.

– Ela é incrível, Litha – afirmou a veterinária com um sorriso ainda maior – Pude conversar muito com ela. A Srta. Almeida parece ser uma mulher muito forte – comentou com um suspiro e se inclinou colocando os braços sobre a mesa – Ela pretende administrar o Rancho. Acredita nisso? Ela me disse com todas as letras que vai ficar e assumir a administração.

– Está dizendo que ela vai morar no Rancho? – perguntou Talitha arregalando os olhos e ficando curiosa – Mas você tinha dito que ela tinha algumas limitações de locomoção. Disse que ela não escolheria morar lá.

– Eu disse que era improvável que ela escolhesse morar lá – falou a mais velha dando de ombros e voltando a sorrir – Mas eu estava errada e muito. Ela me falou que pretende administrar tudo ela mesma. Dá para notar que ela é o tipo de mulher que não aceita ser desafiada – comentou a veterinária se lembrando da firmeza que Maia tinha em conversar e expor suas opiniões e o que pretendia.

– Mas ela tem um irmão também, não é? Ele deve ficar para ajudá-la – comentou a mais nova dando de ombros.

– Não sei não – falou Alicia se levantando e tirando o jaleco – Ela não parecia estar falando como se fosse dividir o comando. Não consigo enxergar a mulher que pude conhecer hoje como alguém dividindo a autoridade na administração de algo.

– Você está apenas deslumbrada demais para pensar que ela poderia se submeter ao irmão – acusou Talitha rindo.

Alicia riu junto e foi se encaminhando para a saída. Passou pela porta e deixou seu sorriso ir diminuindo.

– Pode até ser – sussurrou ela para si mesma pensando que não deveria estar tão deslumbrada assim com a mais nova moradora do Rancho.

——

Algumas horas após o almoço solitário de Maia uma batida na porta de seu quarto antecedeu ao anúncio de seu irmão que pedia para entrar e conversar com ela. A jovem que estava deitada em sua cama lendo um livro se levantou dizendo que a porta estava aberta, deixou o livro no criado-mudo ao lado da cama e se levantou. A agradável manhã não havia exaurido suas pernas como imaginara a princípio e ela decidiu que deveria ter uma conversa mais formal com o irmão. O médico entrou e cumprimentou a irmã com um sorriso seguindo-a para a mesa onde ela acostumou-se a fazer algumas refeições.

– Não precisava se levantar – disse ele puxando uma cadeira para ela se sentar.

– Não estou com dores hoje, irmão – ela respondeu agradecendo com um aceno de cabeça ao se sentar – Não há problema nenhum e é mais confortável para ambos assim. O que lhe trouxe ao meu quarto? Presumo que seja algo urgente ou teria esperado o jantar.

– Recebi uma ligação essa manhã – ele começou ajeitando-se e colocando os antebraços sobre a mesa – Um amigo pediu-me ajuda num caso. Ele me enviou alguns arquivos que analisei antes de descer para almoçar. Terei que voltar para avaliar o paciente, provavelmente ele precisará de uma cirurgia, mas só poderei dizer com certeza após exames mais complexos.

– Entendo – ela respondeu se recostando e imaginando onde o irmão pretendia chegar – Acredito que precisará voltar o quanto antes, estou certa?

– Sim. O quanto antes eu voltar melhor será ao paciente – ele respondeu com um calmo sorriso – Vim avisá-la. Reservei as passagens para amanhã, nosso voo sai às 105 – ele disse entrelaçando os dedos sobre a mesa.

–  O seu voo – disse Maia sem mudar sua expressão calma – Espero que faça boa viagem.

– Como assim? Você vem comigo, Maia – disse Giovani fazendo uma expressão séria e até um tanto revoltada – Está fora de cogitação você ficar aqui sozinha.

– Eu não vou voltar, Giovani – ela continuou calma enquanto olhava o irmão se irritar cada vez mais – Já lhe disse, vou assumir o Rancho e não sei sequer se pretendo voltar para Minas.

– Você não vai ficar aqui, Maia! Já disse que isso está fora de questão. Não vai acontecer! Eu não permito isso – falou ele se levantando provocando um som alto quando a cadeira de madeira se arrastou pelo chão.

Maia se calou. Conhecia o gênio do irmão, sabia que ele era o tipo de homem que explodia rápido, mas que também se acalmava rapidamente. Encarou-o com a mesma paciência de sempre, os dois tons de verde focados um no outro. Ela podia ver como ele havia ficado ofegante com a explosão de a pouco, mas via também que, após extravasar ao erguer a voz, a respiração do irmão começava a se normalizar enquanto ambos se encaravam seriamente. Nenhum deles desviava o olhar, mas Maia era a que mais se encontrava tranquila. Giovani sabia que levar a irmã não seria tarefa fácil.

– Eu agradeço todo o apoio e cuidado que me dispensou, antes e após a morte de nossa mãe – disse ela quando percebeu que o irmão havia normalizado sua respiração – Mas eu receio que você esteja confundindo as coisas.

– Não estou confundindo absolutamente nada, Maia – ele falou sério, com certo ar de raiva, mas novamente controlado – Assumir essa propriedade está fora das nossas possibilidades. Nossa vida toda está em Minas Gerais. Você não está pensando direito nesse momento, mas lhe garanto que no momento em que voltarmos vai perceber isso e me dar razão.

– Então o que planeja fazer? – ela perguntou se levantando da cadeira – Pretende me prender e me forçar a embarcar? Vai me tratar como uma criança de 5 anos? – ela questionou num tom de voz sério que surpreendeu Giovani que nunca havia visto Maia com aquele tipo de olhar, fez uma pausa enquanto andava até estar a um palmo do irmão – É bom se recordar de dois fatos, Giovani. Eu tenho 27 anos e não cinco. E sou sua irmã, não sua filha. Não tem absolutamente nenhum direito de impor suas vontades na minha vida. Nem nossos pais o teriam e eu não os permitiria também, mas a questão aqui é que eles ainda teriam alguma razão para tentar enquanto você não tem nenhuma.

– Eu tenho cuidado de você e lhe assistido em todas as suas necessidades nos últimos anos! – falou ele indignado – Como não tenho direito de opinar em suas decisões.

– Primeiro, lhe agradeço imensamente toda a ajuda e o cuidado que me dispensou nos últimos anos. Mas devo lhe lembrar que você até poderia opinar, entretanto o que está fazendo agora é tentar impor – disse ela ainda mantendo o olhar sério que não se abalou nem um pouco com a possibilidade do irmão explodir outra vez estando tão perto dela – Eu tomei uma decisão quando decidi concluir meus estudos e terminar a faculdade e nem mesmo mamãe foi capaz de me dissuadir. Ao contrário de tudo o que todos pensaram eu fui capaz de fazer o que havia me proposto, tanto que tenho hoje o meu diploma e teria conseguido um emprego se o tivesse decidido fazer. Agora estou decidida novamente a assumir a administração dessa herança de nosso tio-avô. Então vou lhe dizer isso uma, e apenas uma, única vez. Eu vou assumir a administração do Rancho. Eu vou me mudar para essa casa. Eu vou comprar a sua parte da herança e não existe nenhuma possibilidade de me fazer mudar de ideia sobre isso. Está decidido, Giovani. Ou você aceita ou terei que tomar uma providência a respeito da sua falsa impressão de que pode decidir os rumos da minha vida.

Giovani a olhou com uma raiva que nunca havia sentido na vida. Era um homem autoritário, sabia disso, mas nunca antes em sua vida alguém havia lhe desafiado daquela forma. Sabia que a irmã não era alguém que aceitava qualquer coisa facilmente, principalmente quando era algo contrário aos seus princípios. Mas era a primeira vez que Maia lhe contrariava de uma forma tão dura e tão firme. Mas ele não daria o braço a torcer, tinha certeza absoluta que a irmã não seria capaz de fazer o que se propôs. Duvidava até que Maia fosse capaz passar muitos dias numa fazenda, sozinha e sem ter o que fazer.

– Eu não vou tentar lhe convencer ou ‘decidir os rumos da sua vida’, como você mesma disse – ele falou erguendo o queixo com um ar de superioridade característico dele quando estava convencido de que estava certo – Quer ficar? Então fique. Sei que está errada, mas se quer sofrer a decepção de comprovar por si própria não vou tentar impedir sua desilusão. Voltarei para casa atender ao chamado de meu amigo. Daqui uma semana, após os papéis do inventário serem finalizados, eu volto para lhe buscar. Isso se até lá você não perceber seu erro absurdo e voltar por si mesma.

Ele não esperou nenhuma resposta, ao olhar os olhos verdes sérios e decididos da irmã sabia que não haveria uma. Mas, convencido como estava de que ela era incapaz do que se propunha, ele apenas deu um sorriso convencido e virou-lhe as costas. Iria embarcar no voo do dia seguinte com a plena certeza de que Maia iria se decepcionar e voltar para Minas Gerais com o orgulho ferido. A jovem não se abalou nem por um segundo, mas o irmão sequer pareceu perceber, tão compenetrado estava em suas próprias certezas. Ele saiu do quarto e deixou a irmã sem saber que sua atitude não havia causado nenhum efeito nela.

Maia sabia do que era capaz e não abriria mão de provar aquilo ao irmão. Aliás, já era da opinião de que havia passado da hora de alguém derrubar Giovani do pedestal no qual ele se havia colocado. Seria preciso que ela provasse sua capacidade, mas iria desmanchar a ideia ridícula que seu irmão tinha de que ela não seria capaz de cuidar da própria vida por conta de sua condição. Ela não tinha o orgulho egoísta dele, já sabia a quem recorrer em busca de ajuda. Não teria vergonha de fazê-lo se notasse que precisava, mas quando a porta de seu quarto se fechou atrás do irmão disse a si mesma que nunca mais aceitaria nada que viesse de Giovani.

Ela se tornaria a mulher que estava decidida a ser antes do acidente. Mesmo que para isso precisasse abrir mão de certas independências ao pedir ajuda a outras pessoas. Mas não permitiria nunca mais que o irmão assumisse o comando de suas decisões. Giovani se arrependeria de tê-la subestimado.

 

N/A: Perdão pra quem tentou ler antes, por algum motivo a configuração que usei na quebra de página fez o resto do capítulo sumir (o que não entendi, já que usei a mesma configuração no capítulo anterior e isso não aconteceu). Mas já está tudo arrumado. Se algo do tipo acontecer de novo Por favor me avisem.

 

PS: Muitíssimo obrigada à Poli que me avisou pelos comentários!!! Muito obrigada mesmo. ;]



Notas:



O que achou deste história?

8 Respostas para Capítulo 14

  1. cara, esse irmao dela vai da trabalho! Que cara mala! Deixa ela! controlador e egoísta!
    Mas Maia tira ele de letra!
    Bjs
    Mascoty

    • Realmente, acontece. Mas como sou distraída muitas vezes só percebo quando alguém me avisa kkkkk.

      Bjs e fique de olho que estamos só na metade da maratona ainda kkkk
      ;]

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