Argentum

Capítulo 34

O silencio acompanhou as duas durante o restante do caminho, cada uma delas perdida em seus próprios pensamentos sobre o que haviam acabado de dizer e ouvir. Alicia tentando entender que repercussões aquela declaração de Maia teria em si mesma. Já a mais nova tinha uma bagunça mais confusa em sua mente ao finalmente admitir aquelas coisas a alguém já que não as havia admitido daquela forma nem a si mesma antes.

Maia tinha plena consciência da dificuldade que teve nos dias anteriores relacionadas ao fato dela aprender a cavalgar. Também tinha completa noção do quão difícil e diferente estava sendo da primeira vez que havia tentado. Quando, naquela tarde, a veterinária a havia puxado para fora em direção a um redondel ela sequer se lembrava de realmente sentir medo. Havia uma hesitação, mas não medo. E nos últimos dias havia perdido as contas de quantas vezes havia se vestido de forma adequada para montar e desistido no último momento de pedir que alguém selasse algum animal.

Ela não conseguia entender a si mesma quando o assunto envolvia Alicia Ferraz e isso a estava deixando preocupada e confusa de uma forma que nunca havia ficado antes na vida. Não sabia porque razão, quando teve a veterinária ao seu lado, não havia sentido nenhum medo de cair de cima de um cavalo. E entendia menos ainda porque a simples perspectiva de tentar de novo sem ela por perto a assustava tanto.

Quando as duas chegaram na varanda da casa Alicia foi ainda mais devagar para ajudar Maia a subir os degraus. Dona Antonieta que parecia estar arrumando algo na sala viu as duas e disse que não demorava a trazer um lanche e que elas deveriam se sentar e esperar. Depois da mais nova estar em sua cadeira a veterinária também se sentou, numa cadeira de frente para a dona do Rancho. As duas permaneciam em silencio e Maia evitava encarar os olhos castanhos claros.

Enquanto isso Alicia tentava organizar o que estava sentindo. Uma mistura de confusão com alegria e plenitude por descobrir que era capaz de transmitir tanta segurança para a mais nova. Ela não conseguia entender o porquê, mas sua consciência associou isso ao fato de Maia apenas ter total e completa confiança nela. Seu coração queria lhe fazer crer que poderia ser algo mais, mas sua mente reforçava que a Dona do Rancho apenas havia adquirido por ela uma imensa e sincera amizade. Antes que Antonieta surgisse Alicia decidiu que aquele silencio já estava incômodo demais e resolveu quebra-lo.

– Eu agradeço toda a sua confiança em mim – disse ela num tom baixo chamando a atenção de Maia que, até aquele momento, não a olhava – Me ofereceria para lhe dar aulas particulares, mas acho que seria complicado me comprometer a vir sempre da cidade até o Rancho. Além de que com a clínica eu talvez não conseguisse cumprir um combinado entre nós – disse ela de forma suave vendo a surpresa no rosto da mais nova por ela ter sugerido aquela possibilidade.

– Eu nunca pediria algo assim, Alicia – falou a mais nova entrelaçando seus dedos sobre sua perna e os apertando uns nos outros, um sinal que a veterinária já havia associado a nervosismo ou insegurança – Seria completamente fora de lógica. Você é uma veterinária com uma clínica, eu nunca cogitaria tirá-la do seu trabalho para trazê-la aqui apenas para me dar aulas.

– Não estou dizendo que você faria isso, Maia – sorriu a mais velha colocando as mãos sobre a mesa – Falei apenas algo que me passou pela cabeça e cujos pontos eu avaliei. Eu realmente queria ser capaz disso, mas não posso.

– Sei que não pode – falou a menor soltando um suspiro longo, mas de forma discreta, algo em si ficara triste em saber que aquela possibilidade não seria aplicável ou funcional.

– Maia – chamou a veterinária fazendo a mais nova desviar o olhar do horizonte e voltar a encará-la – Eu te garanto que nada de ruim vai acontecer. Giulio, Carlos ou até mesmo Eduardo são mais do que capazes. Eu posso garantir isso, mas se isso te tranquilizar eu também posso passar a eles instruções específicas do que fazer e de como fazer para te deixar mais confortável ao voltar a montar.

Maia sorriu. Não sabia como responder a toda aquela atenção que Alicia sempre direcionava a ela. Era inédito na vida da mais nova e ela não conseguia ainda reagir aquilo. O que pode fazer foi sorrir agradecida à veterinária, mas quando estava se preparando para negar a sugestão Antonieta apareceu com duas canecas de chocolate quente, porque o clima começava a esfriar, e dois grandes pedaços de bolo. As duas agradeceram e começaram a comer interrompendo por algum tempo a conversa.

Em algum ponto o silencio começou a ficar um tanto incômodo. Os olhares de Maia se voltavam para a veterinária discretamente enquanto ela degustava de seu pedaço de bolo ou de seu chocolate quente. Já Alicia tentava forçar seu olhar a não se prender na mulher de olhos verdes a sua frente enquanto sua mente viajava pelos últimos minutos. A necessidade de estar perto da mais nova por mais tempo parecia ter crescido exponencialmente nos últimos instantes e a mente da maior buscava, incansavelmente, formas de não ficar longe de Maia por mais tempo.

Enquanto a mente da mais velha vagava a dona do Rancho parecia ter sua atenção cada vez mais fixa na veterinária. Tanto que notou quando os pensamentos de Alicia a colocaram em frente a uma indecisão. Os olhos verdes viram o cenho franzido, os lábios se comprimindo e os olhos estreitando. Pensou que ela tinha a mesma expressão enquanto analisava os potros e tinha alguma dúvida sobre qual escolher. Ficou indecisa em interromper, seja lá qual fosse, o raciocínio da mais velha e acabou perdendo seu olhar que vagava pela figura da mulher sentada do outro lado da pequena mesa.

– Está tudo bem, Alicia? – questionou a mais nova finalmente depois de passarem vários minutos naquele silencio com ela notando a veterinária cada vez mais distante.

– Sim, sim – respondeu a maior com um sorriso sem graça erguendo a mão para coçar a nuca e olhando para o chão evitando o olhar da mais nova – É que…bom – ela tentou recomeçar e ficou ainda mais constrangida sentindo o rosto esquentar levemente em contraste com a temperatura fria da brisa – Bem, eu estava pensando – ela voltou a falar limpando a garganta e tomando um gole de sua bebida antes de continuar um pouco mais calma – É que eu estava me lembrando das festas da semana que vem – disse ela com um sorriso sem graça – E me perguntei se alguém já havia lhe contado que a cidade sempre organiza uma festa julina de São João.

– Ouvi algo sobre isso – disse Maia com uma expressão um tanto confusa com o assunto – Mas não estou realmente informada.

– Bom – continuou a veterinária e os olhos verdes se divertiam com o jeito retraído que a maior adotou enquanto rumava o assunto delas naquela direção – É como uma tradição da cidade. As escolas até organizam apresentações de dança e barracas. É tudo feito na praça central, em frente ao prédio da prefeitura.

– É realmente muito interessante. As festas em Uberlândia não costumam ser mais tão familiares. Principalmente as promovidas pelo poder público – falou Maia tentando incentivar Alicia a continuar e explicar onde pretendia chegar.

– Aqui é realmente uma tradição – falou a mais alta com um amplo sorriso – A festa é sempre linda. Começa ao entardecer, por volta das 170 e dura até às 23h. As apresentações terminam antes das 21h e depois ficam apenas algumas apresentações musicais isoladas e as barracas.

– Me parece muito interessante, realmente – disse Maia com um sorriso controlado enquanto encarava os olhos cor de mel animados que a encaravam e voltaram a prestar atenção nela.

– Desculpe – falou Alicia olhando para o chão com uma expressão constrangida e o rosto ficando levemente corado – Acabei me empolgando e agora você não deve estar entendendo nada a respeito do que eu estou querendo fazer ao contar isso par você.

– Realmente estou curiosa a respeito do motivo de você ter introduzido o assunto – admitiu a Dona do Rancho com um sorriso ainda largo encarando os detalhes do rosto envergonhado da veterinária – Mas não precisa se desculpar. Gostei de vê-la animada assim.

– Certo, vou me explicar – disse a veterinária e Maia pode vê-la tomar uma longa respiração antes de encararem-se com pequenos sorrisos em seus lábios – A festa vai ser realizada nesse sábado, dia 24. E eu gostaria de perguntar se você vai comparecer.

– Eu não sei – respondeu Maia rapidamente, por não ter considerado em nenhum momento sair do rancho para uma festa, mas logo viu a expressão conformada de Alicia notando um leve toque de tristeza nos olhos cor de mel que pareceram perder o brilho – Não havia pensado em ir ainda. Mas agora estou considerando conhecer essa festa tradicional, afinal pretendo me tornar uma moradora da cidade também – disse ela fazendo o olhar castanho claro voltar a se encher de brilho e a veterinária colocar outro sorriso no rosto.

– Eu realmente adoraria se você pudesse e quisesse ir – disse Alicia com o tom animado voltando a sua voz – Prometo estar sempre por perto para te ajudar e te apresentar as pessoas. Garanto que você vai adorar.

– Você não precisa deixar de aproveitar a festa para cuidar de mim – riu Maia dando de ombros – Sei que posso me virar por lá.

– Mas aproveitarei mais ainda tendo você comigo – disse a veterinária sem notar o que estava falando por conta de sua empolgação – Com toda certeza vou achar muito mais divertido tê-la por perto. Além de que me sinto responsável por te garantir a melhor experiência possível na nossa tradicional festa. Eu praticamente a convidei já que não sabia de nada sobre isso até eu comentar.

Alicia não teve tempo de notar o que havia dito nem Maia pode absorver as palavras da mais velha e suas reações a elas pois Antonieta chegou para buscar os copos e convidá-las com mais bolos. No mesmo instante o celular da veterinária tocou e ela atendeu ao ver que era da clínica. Logo depois a mais alta precisou se despedir por que um de seus pacientes havia chegado à clínica em alguma emergência. Enquanto corria para seu carro ela sorriu para Maia dizendo que elas precisavam marcar onde se encontrarem na festa e a dos olhos verdes apenas concordou sorridente vendo a veterinária sair do Rancho logo depois.

 

 

N/A: Boa noite pessoinhas =]

Maratona como prometido hehe.

Tenho informações de interesse coletivo que posso soltar no próximo capítulo. Vai deixar vocês ansiosos (Ainda mais? Sim, muito mais =P )

E pra quem me segue no Twitter: Vou começar a soltar pequenas frases dos capítulos seguintes hehe (isso se eu não me esquecer ou ficar com preguiça =P )

Pra quem não me segue ainda meu Tt é: @an_403998

Bjinhos e até amanhã

;]



Notas:



O que achou deste história?

2 Respostas para Capítulo 34

  1. Eu acho que que realmente o amor deixa as pessoas cegas! porque esta na cara o interesse de uma pela outra so elas que nao vêem!
    Só quero vê nessa festa como vai ser!

    bjs.
    Mascoty

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