Argentum

Capítulo 36

A barraca, assim como todas as outras, tinha uma base de metal que foi incrivelmente decorada fazendo-a parecer ser feita de madeira por fora. O teto dela era coberto com folhas secas e haviam algumas luminárias enfeitadas com balões de papel. O lado de dentro tinha uma pequena mesa na parte da frente encostada em um dos cantos. No fundo havia uma rede fina cobrindo as laterais da barraca e indo até o chão para dentro de uma caixa de madeira com aproximadamente um metro e meio de largura por dois de comprimento e 40 centímetros de altura. Dentro da caixa haviam várias garrafas e frascos de vidro com uma infinidade de tamanhos cada um com alguns papeis dobrados dentro deles.

A caixa ocupava quase todo o interior da barraca deixando apenas um pequeno corredor na lateral direita e um outro, mais estreito ainda, na frente. Do lado de dentro estavam duas senhoras. A mais baixa com pele morena e cabelos grisalhos com alguns fios ainda pretos Maia sabia ser Dona Marta, mãe de Alicia. A outra parecia um pouco mais nova, tinha cabelos castanhos claros e olhos azuis. Era tão magra quanto Talitha e tinha traços muito parecidos com a secretária da Clínica Veterinária. A dona do Rancho logo deduziu que aquela era a mãe da garota, Catarina. E teve suas suspeitas confirmadas quando Alicia a apresentou.

– É um grande prazer conhece-la – falou Catarina com um sorriso largo enquanto apertava a mão de Maia – Posso ver que não me disseram inverdades quando a descreveram para mim. Você é muito bonita, como Alicia contou.

Maia arregalou os olhos e desviou os seus verdes de Catarina para a veterinária que estava parada ao seu lado esquerdo ainda tendo seu braço servindo de apoio para a menor. A iluminação da festa permitiu que a mais nova pudesse ver a expressão constrangida e o rubor na face da mais alta. Mas Alicia apenas riu evitando olhar para a menor.

– Eu nunca minto, tia Catarina – falou a veterinária ainda sem conseguir esconder seu constrangimento – Falei que Maia era bonita. Quase tão bonita quando a senhora – disse a mais velha piscando para a senhora dentro da barraca e fazendo todas rirem.

A conversa delas foi interrompida quando um grupo animadíssimo de 5 crianças chegou fazendo barulho e estendendo suas fichas para poderem participar do jogo. Marta e Catarina fizeram com que se acalmassem com sorrisos e vozes calmas. Maia e Alicia acompanharam a cena paradas na lateral da barraca com sorrisos nos rostos. A veterinária ainda evitando os olhos verdes e ainda tendo a expressão levemente constrangida. Quando notou isso o sorriso da menor passou de divertido para gentil, seu olhar não conseguindo se desgrudar da face levemente corada da mais alta.

Sua admiração para com a maior foi interrompida quando Maia ouviu o coro de exclamações tristes fazendo seus olhos se desviarem para o grupo de crianças que ela notou terem entre 10 e 12 anos. O maior deles estava na frente da barraca, o primeiro da fila, tinha os braços cruzados e uma expressão emburrada. Aparentemente havia acabado de perder suas chances sem nenhum prêmio. Seus amigos pareciam chateados também, mas queriam ter suas chances e o fizeram ir para o final da fila. Notando o interesse de Maia ao ver o próximo garoto começar o jogo Alicia riu.

– Minha mãe e tia Catarina fazem essa barraca todo ano a quase duas décadas – começou ela a contar – O lucro das fichas vai para a igreja. Quem inventou o jogo foi meu pai. São várias garrafas e frascos de vidro com diâmetros de gargalo diferentes – a veterinária puxou Maia lentamente para ficarem mais para o lado da barraca e os olhos verdes poderem enxergar melhor o brinquedo, mas o olhar da mais nova não conseguia desviar por muito tempo do rosto da mais alta enquanto a voz dela explicava como o jogo funcionava – Dentro de cada garrava tem um prêmio, quanto menor o tamanho do gargalo melhor é o prêmio que tem dentro dele. Cada um ganha cinco bolinhas de borracha por chance. Se acertar três dentro da mesma garrafa ganha o prêmio dela, exceto às garrafas coloridas. As coloridas são as que tem os menores gargalos e por isso as mais difíceis de acertar. Se acertar uma bolinha dentro delas você já ganha o prêmio – Alicia contava e ao mesmo tempo apontava para as garrafas de forma que Maia pode ver a diferença entre cada uma.

– Os papéis dobrados dentro da garrafa são os prêmios? – perguntou a mais nova notando que, dentro das garrafas transparentes haviam vários papéis dobrados.

– Sim – sorriu a veterinária fazendo a mais nova sorrir de volta – Você pode ganhar balas e doces, balões de vários tamanhos, outra ficha e os melhores prêmios das garrafas transparentes são os chocolates. Quanto menor o gargalo da garrafa melhor tende a ser o prêmio dela, mas as outras tem prêmios bons misturados e ai depende da sorte na hora de tirar um dos papéis.

– Você tem cara de quem jogava muito isso quando era criança – falou Maia notando o olhar divertido de Alicia e como ela prestava atenção a cada lançamento dos pequenos jogadores.

– Mas nunca ficava com nenhum dos prêmios – admitiu a veterinária rindo logo depois – Dona Marta me deixava jogar apenas algumas vezes. Se eu ganhasse algo mais do que doces não ficava com o prêmio. Mas eu sempre tentava os mais difíceis. Havia uma pequena competição entre eu e os garotos da escola. Eles implicavam dizendo que eu podia treinar o ano todo até as festas e que, por isso, acertava as mais difíceis. Mas meu pai nunca deixava as garrafas onde eu pudesse jogar.

– Por algum motivo não me surpreendo com essa informação – falou Maia rindo e olhando para as crianças pois sabia que os olhos cor de mel estavam focados nela – Você tem mesmo cara de que é competitiva ao extremo.

Alicia deu de ombros, não conseguiria negar e apenas riu acompanhando Maia. As duas ficaram olhando os pequenos jogarem por alguns minutos até que o grupo correu novamente se dispersando. Provavelmente cada um em busca de seu pai ou mãe para pedir mais uma ficha. Distraídas com isso não perceberam a chegada de Talitha que apareceu pulando sobre as costas de Alicia e enroscando seus braços no pescoço da veterinária. Fazendo com que a mais alta soltasse um palavrão ao tentar se impedir de cair levando a amiga e, talvez, Maia junto.

– Você já foi mais estável – riu Talitha ainda agarrada ao pescoço da veterinária.

– E você já foi mais leve – retrucou a mais alta com um sorriso cínico, mas ainda divertido enquanto abraçava a cintura da mais nova que estava literalmente pendurada em seu pescoço.

Para evitar o risco de cair e acabar puxando Maia junto a veterinária havia se afastado da dona do Rancho e soltado seus braços de forma que, quando conseguiu voltar a se equilibrar, tinha ambos os braços livres. Por conta disso ela envolveu a cintura da amiga para impedir que a mesma se soltasse sem querer e acabasse caindo. Mas a cena fez o riso de Maia ir morrendo aos poucos deixando em seu rosto apenas um sorriso sem graça enquanto ela tentava entender o motivo de estar incomodada com o contato entre a veterinária e a garota mais nova.

– Está me chamando de gorda assim, na cara mesmo? – perguntou Talitha se fingindo de ofendida e se afastando da amiga colocando uma mão sobre o peito e a outra na cintura – Tia Marta não te deu educação não? Onde já se viu insinuar que uma bela jovem como eu possa estar gorda – falou ela rolando os olhos e fazendo Alicia gargalhar.

– Eu me referia ao fato de que você cresceu, mas já que estamos falando de peso. Não nego que acho que deveria cuidar mais do seu – falou a veterinária pressionando os indicadores contra a barriga e costelas da amiga que riu e tentou se defender como pode.

– Está vendo, Srta. Almeida? – falou a mais nova apontando para a veterinária – Tome cuidado com essa daí. É isso que acontece quando se dá confiança para ela: começa a te chamar de gorda – disse Talitha rindo e provocando o riso nas outras duas.

– Vou manter isso em mente – falou Maia disfarçando seu desconforto com a cena anterior e deixando um sorriso se manter em seu rosto.

Deveria ser um sorriso sem graça, mas não conseguiu se impedir de sorrir verdadeiramente ao ver a veterinária rolar os olhos com um sorriso divertido e cruzar os braços ao dizer que apenas falava verdades e que a mais nova precisava mesmo deixar de ser sedentária.

 

 

N/A: Eu gosto de surpreender não é? hehe

Bjs pessoinhas.

;]



Notas:



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6 Respostas para Capítulo 36

  1. ciúmes! rsss!sera que o beijo acontece nessa festa? poderíamos fazer uma aposta aonde e em que capitulo acontece o beijo! rss

    bjs.
    fica na paz
    mascoty

  2. Essa festa parece q é uma delícia! Com tantos detalhes, consegui imaginar cada cena das duas personagens. Alini, esse fds vc nos surpreendeu com tantos capítulos! Obrigada!

    Estou cada dia com mais expectativas para os próximos acontecimentos…bem, na verdade, estou mesmo é louca para ver essas duas se beijarem e se entregarem ao amor que está tão claro entre elas.

    Parabéns, Alini!

    • Essa festa será ótima, mas o que vem depois vai ser melhora ainda hehe. E sim, me animei por conta do quanto escrevi e tomei a decisão de melhorar o último fds do mês =]
      Espero conseguir atender suas expectativas kkkk, imagino que a de todos esteja bem alta.

      E muito obrigada

      ;]

  3. Oi
    Deveria surpreender mais vezes rsrs.
    Os capítulos deixam mais vontade. Quando a história começa a fluir o capítulo acaba rsrs.
    Desejo que vc fique muito inspirada e coloque vários capítulos seguidos rsrs.
    Sua história é linda,me faz continuar a crer no amor.
    Difícil é esperar os capítulos.

    Muita inspiração para vc moça.
    Muito obrigada por compartilhar suas histórias conosco.
    Bjs

    • Olá =]
      Eu ando fazendo muitas surpresas mesmo kkkk
      A intenção é deixar essa vontade mesmo =P Mas a maratona não acabou e ando me inspirando bastante esses últimos dias.
      Oh moça, se prestar atenção a sua volta sempre vai surgir um motivo para não desacreditar no amor, apenas precisamos procurar com atenção.
      Não terá que esperar muito, garanto. E sou eu quem agradece pela oportunidade de compartilhar meus personagens

      Bjs
      ;]

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