Argentum

Capítulo 5

N/A: Para alegrar a segunda, uma surpresinha 

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Os medicamentos fizeram algum efeito e Lua voltou a ter forças para ajudar seu potro a nascer. Alicia também ajudava o pequeno filhote a se encaixar no canal do parto enquanto que Eduardo ajudava a veterinária a puxar a corda presa às patas do potro a cada contração. Alicia se preocupava com o fato do líquido amniótico estar secando, por conta do tempo desde o rompimento das bolsas placentárias. O que a tranquilizava era que o potro continuava se movendo e com a pulsação firme.

Ela continuava incentivando a égua enquanto instruía o jovem garoto nas horas de puxar. Carlos estava inquieto e ansioso pela demora, mas Alicia não queria exceder na força para a retirada do potro. Ele era grande demais e ela queria dar tempo à Lua para que ela conseguisse trazê-lo ao mundo de forma mais natural e progressiva para não causar nenhuma lesão desnecessária. A veterinária conseguiu ver o começo da cabeça do potro que já tinha quase um de seus membros dianteiros completamente para fora e finalmente suspirou aliviada.

– Carlos! Traga feno seco – ela instruiu e, logo que o rapaz correu para fora da baia o potro começou a escorregar completamente para fora.

Alicia rapidamente desamarrou as patas do pequeno potro e o ergueu nos braços, levantou-se com ele e o levou para perto da cabeça da égua. Lua começava a se erguer, mesmo ainda fraca, quando Alicia colocou seu filhote a sua frente. Enquanto Lua cheirava, lambia e esfregava as costelas do potro Alicia limpava o nariz e a boca dele retirando os resíduos da placenta que poderiam atrapalhar a respiração do mesmo. O potro começou a emitir os primeiros sons e Carlos chegou com um grande punhado de feno que Alicia começou a esfregar sobre o corpo pequeno para secar o pelo do filhote.

Um pouco antes da saída de Carlos da baia, o pai do rapaz estava parado em frente a porta frontal do pavilhão quando viu a aproximação da Senhorita Almeida. Ele logo se adiantou para ampará-la pois viu a dificuldade da moça em caminhar pelo terreno levemente irregular coberto por cascalho. Ela se apoiou no antebraço do homem agradecendo-o com um sorriso, e foi ajudada por ele a chegar próxima a porta de entrada do pavilhão.

– Obrigada, Senhor Giulio – agradeceu ela quando conseguiu se apoiar na parede junto a porta – Como estão as coisas lá dentro? – ela perguntou preocupada.

– Infelizmente eu não sei senhorita Almeida – ele murmurou olhando para dentro do pavilhão e vendo seu filho sair correndo de dentro da baia – Mas acho que vamos descobrir. A senhorita prefere esperar aqui? Eu vou entrar.

– Vou com você – disse ela se desencostando da parede de pedra e aceitando o braço esticado de Giulio para se apoiar.

Eles se aproximavam e viram Carlos voltar para dentro da baia carregando feno nos braços. Maia sentiu Giulio ficar ansioso e demonstrar esperança por conta do sorriso que quis surgir no rosto do homem. Ela caminhou no seu passo lento e, quando eles estavam em frente a baia vizinha a qual Carlos entrou ambos puderam ouvir uma voz animada.

– Isso garota! – falou a voz feminina dentro da baia e, logo depois o corredor foi preenchido por uma gargalhada que fez um sorriso surgir no rosto de Maia.

A moça não conseguiu impedir um sorriso discreto de surgir em seus lábios ao ouvir aquele som agradável, suave e levemente rouco. Maia achou aquele um dos sons mais gostosos que ela já havia escutado em sua vida. Antes que eles chegassem a porta da baia viram Carlos sair acompanhado de uma mulher. A jovem reparou na mulher que deveria ser a veterinária da qual Giulio tanto falava. Era uma mulher na casa dos 30 anos trajando uma calça jeans azul e uma camisa de botões com as mangas dobradas até muito acima dos cotovelos.

A veterinária tinha todas suas roupas sujas de um líquido que parecia viscoso misturado com um pouco de sangue e que começava a secar. Toda a frente dos jeans e a parte inferior da frente da camisa estavam molhados e sujos de sangue também, as calças também tinham partículas de feno coladas nas coxas e joelhos. A cor de seus olhos era um castanho claro, cor de mel, e sua pele tinha um tom levemente bronzeado. Os cabelos negros e levemente ondulados estavam amarrados num “rabo de cavalo”. Havia suor e marcas de sangue e do líquido viscoso no rosto da mulher, indicando que ela tinha passado as mãos ou parte dos braços sobre o rosto. Seus braços também estavam sujos, mas não tanto quanto suas mãos.

Alicia havia gargalhado quando viu Lua se levantar com a ajuda dela e de Carlos, logo depois ela conduziu o potro até o úbere da égua para que ele pudesse mamar. Ela deixou Eduardo amparando o potro e tirou o acesso venoso pressionando o pedaço de esparadrapo no lugar onde retirara o cateter para impedir algum sangramento. Deu ordens para Eduardo esperar o potro terminar a primeira mamada e depois ir buscar comida e água para a égua, sabia que Lua precisaria de tempo para se recuperar, mas ficou feliz com a égua ter se levantado sem muita insistência deles. Logo antes de tentarem erguê-la ela havia aplicado antibióticos por via intramuscular e um antibiótico especifico para administração intrauterina, por isso ela pode relaxar e resolveu sair da baia para ir se limpar um pouco.

Assim que saiu acompanhada de Carlos ela encontrou Giulio e uma mulher do lado de fora. Os cabelos da mulher eram claros e curtos, não chegavam aos ombros, e ela tinha olhos incrivelmente verdes. Alicia percebeu que ela tinha a pele muito branca e, notou também, que se apoiava no braço de Giulio como se tivesse dificuldade em se manter em pé. A veterinária logo percebeu a dificuldade de equilíbrio da moça e o fato de seu lado esquerdo parecer diferente em termos de angulação. Viu também que ela era bem magra e parecia um tanto frágil fisicamente, mas essa impressão de fragilidade que ela teve desapareceu no instante em que seus olhos se fixaram na expressão firme e no olhar expressivo da mulher que não deveria ter mais de 25 anos.

Seus olhares ficaram por segundos perdidos um no outro. O sorriso que Alicia trazia no rosto reduziu enquanto ela se distraia encarando a mulher mais nova. Por um instante o mundo ao redor delas desapareceu enquanto se avaliavam e encaravam uma a outra. Mas não demorou muito para Alicia se recordar de seu estado e, por conta disso, a mulher desviou seus olhos sentindo um tanto constrangida por aparecer em frente a uma moça tão bem vestida e arrumada. Colocou suas mãos para trás tentando limpar um pouco as palmas na parte de trás de seus jeans que ainda estavam limpos. Seus olhos também desviaram levemente dos olhos verdes.

– Senhorita Almeida, essa é a veterinária da qual lhe falei. A Doutora Ferraz sempre presta serviços a nós – falou Giulio gesticulando na direção a mais velha – Doutora, essa é a Senhorita Almeida, sobrinha neta do Senhor Augustus. Ela e o irmão herdaram o Rancho.

– Perdão por não poder me apresentar apropriadamente – disse Alicia encolhendo os ombros e olhando para suas vestes – São ossos do ofício – ela continuou dando um sorriso sem graça e mantendo as mãos atrás das costas – Mas é um prazer conhece-la, Senhorita Almeida.

– O Senhor Giulio me falava sobre sua tentativa de salvar uma égua e seu potro – falou Maia e Alicia concordou com a cabeça, mas ainda mantendo suas mãos atrás das costas – Presumo que tenha conseguido pela alegria com que vocês dois saíram da baia.

– Felizmente sim senhorita – falou Carlos animado e colocando a mão esquerda sobre o ombro direito da veterinária – A Doutora é incrível, nunca a vi perder nenhum bicho – falou o rapaz animado e com um largo sorriso.

– Infelizmente você apenas nunca viu, Carlos – falou Alicia um tanto constrangida com o olhar atento da Senhorita Almeida – Posso dizer que sou boa na minha profissão, mas infortúnios sempre ocorrem, mesmo que eu tente evita-los.

Maia sorriu do jeito simples e humilde da veterinária de falar, mas estava incomodada com o fato da mulher mais velha aparentar estar muito desconfortável.

– Eu poderia vê-los? – ela pediu encarando diretamente a veterinária que, por um segundo, se perdeu nos olhos verdes – Nem sequer me recordo da última vez que vi um cavalo de perto e acho que são animais muito bonitos.

– Eu… – murmurou Alicia respirando fundo – Claro que pode, Senhorita Almeida – acabou por dizer e se encaminhar para a porta da baia que estava fechada – Apenas acho que melhor a senhorita não entre na baia. Já orientei Eduardo a limpar o lugar e não acredito que seja prudente a senhorita entrar enquanto ele não fizer a limpeza.

Maia se aproximou da veterinária que abria a parte superior da porta da baia. Todas as baias tinham as portas repartidas em duas de forma que era possível abrir apenas a superior e fazê-la funcionar como uma janela. Alicia se sentiu inquieta quando a moça se aproximou dela. Ela viu a senhorita se apoiar na beirada da madeira para se firmar e depois viu o imenso sorriso desenhar-se nos lábios delicados da moça.

– Eles são lindos – ela disse encarando Lua que ainda ajudava seu potro a mamar – Entendo porque meu tio-avô era apaixonado por esses animais. Eles são incrivelmente magníficos, imponentes e bonitos.

– Concordo completamente com a senhorita – disse Alicia se afastando um pouco – Se me derem licença. Eu preciso voltar a cidade. Na pressa de atender Lua eu acabei vindo com a roupa do corpo e não trouxe nada apropriado. Devo retornar para casa – disse ela se afastando o máximo possível sem ser desrespeitosa – Giulio, eu posso acertar o pagamento com você outro dia? Ou por telefone? – ela perguntou com uma expressão culpada e constrangida – Eu realmente preciso de um banho e colocar essas roupas para lavar antes que eu as perca de vez.

– Que isso menina. Eu sinto ter lhe trazido tão de repente, mas não sabíamos mais o que fazer mesmo – falou Giulio realmente sentido – Carlos pegue as coisas da Doutora e ajude-a a guarda-las. Eu vou a clínica para conversarmos depois. Tem alguma indicação sobre Lua para deixar?

– Já disse todo o necessário ao Eduardo e ao Carlos. Não há realmente muito a fazer agora além de acompanha-la – disse ela se distraindo com o assunto e, por um segundo, deixando de estar envergonhada com sua situação – Carlos sabe averiguar a condição dela, mas se preferir eu volto amanhã cedo para conferir. Já dei todos os medicamentos que ela precisa por hoje. Peço apenas que alguém fique atento às próximas 24 horas para saber quando ela vai expulsar o resto da placenta. A possibilidade de retenção é alta quando se tem intervenção durante o parto.

– Vou garantir que sempre tenha um par de olhos atentos sobre ela e o potro. De resto posso seguir os procedimentos normais então? – perguntou ele para ter certeza enquanto Carlos saia da baia com as caixas de material de Alicia.

– Absolutamente, Giulio – respondeu a veterinária concordando também com um movimento de cabeça – Qualquer coisa você pode me ligar e eu venho pra cá na hora.

Maia ainda estava próxima a porta olhando para a égua e seu filhote, mas mantinha sua visão discretamente direcionada à veterinária. Estava curiosa sobre aquela mulher que parecia tão confortável falando dos cuidados com os animais, mas ficava tão desconcertada quando se olhavam. Ela a achou incrivelmente interessante porque parecia que todos ali dentro a conheciam e a respeitavam. Pensou que era aquele o tipo de mulher que ela sempre quis ser, mas que, infelizmente, seu acidente tinha a impedido de se tornar.

Alicia se despediu de todos evitando apertos de mão e, sendo seguida pelo rapaz que se despediria dela quando alcançassem seu carro, ela se afastou. Parte dela estava ainda muito constrangida por ter sido apresentada a nova dona do Rancho estando num estado tão lastimável. Por essa razão, após se distanciar, ela não se permitiu olhar para trás. Se o tivesse feito notaria que os olhos verdes de Maia haviam se fixado em sua figura. A jovem reparou em como a veterinária tinha um corpo bem torneado e um porte imponente. Os cabelos ondulados provavelmente seriam muito bonitos quando estivessem soltos e limpos.

Havia sido um primeiro encontro nada convencional entre elas, mas mesmo assim interessante.



Notas:



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4 Respostas para Capítulo 5

  1. uhuhu! mamae égua e potinho salvos! Esse encontro delas teve feeling e dos bons!
    essa historia promete!
    Beijos
    Mascoty

  2. Que bom que deu tudo certo.

    As duas se conheceram, não dá melhor maneira, mas a troca de olhares foi intensa. Alicia deixou boas impressões e imagens para Maia.

    • Definitivamente não da melhor maneira para Alicia, mas elas deixaram ótimas impressões uma na outra

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