Argentum

Capítulo 55

– Você não precisa ter medo – falou Maia num tom mais seguro do que ela esperava ser capaz tamanha a emoção que estava sentindo naquele momento ao finalmente compreender que Alicia pretendia e queria um relacionamento sério – Eu não vou desistir de você por causa de nenhum tipo de preconceito idiota pelo qual tenhamos que passar – declarou ela de forma séria tocando o rosto da veterinária também – Eu nunca lidei com esse tipo de preconceito, mas eu sei o que é ser discriminada. Passei por isso desde o dia em que saí do hospital. Se aquilo não me impediu de continuar naquela época, agora não vai haver nada que me faça desistir de algo que eu quero verdadeiramente – ela afirmou permitindo que um sorriso se formasse em seus lábios.

– Você não tem noção do que é esse tipo de preconceito, Maia. Enquanto não passar por ele você nunca vai entender – respondeu Alicia desviando o olhar, seu peito se apertava só em cogitar que Maia pudesse passar pelo que ela já passou ou ouvir as coisas que ela ouvira anos atrás.

– Não importa o que seja. Eu terei você do meu lado, não terei? – disse ela fazendo Alicia encará-la rapidamente acenando em afirmativo, os castanhos puderam ver como os verdes estavam calmos e tranquilos – Não poderia mentir e dizer que sou forte o bastante para aguentar qualquer coisa sozinha – Maia continuou em tom baixo colocando sua outra mão no rosto da mais velha – Mas, se eu tiver você ao meu lado, sei que terei todas as forças do mundo. E posso dizer isso com a consciência tranquila por saber que não estou exagerando – continuou ela antes que Alicia conseguisse pensar em qualquer coisa a ser dita – Sei que estou certa porque desde que cheguei aqui eu já me senti assim com você. Em todas as vezes que precisei você esteve lá e, em todas elas, eu me sentia invencível só por tê-la me apoiando. Então não subestime a minha força agora que eu finalmente acredito nela.

– Eu não subestimo – respondeu a maior com um suspiro e segurando um sorriso, mas seus olhos ainda estavam incertos – Mais do que qualquer pessoa eu vi o bastante da sua força para ser incapaz de te subestimar. Mas é tão mais fácil falar essas coisas aqui dentro, quando estamos sozinhas nesse quarto e longe de tudo – disse ela ficando séria e acariciando o queixo da menor – Quando voltarmos amanhã não teremos a proteção dessas paredes. Estaremos numa cidade pequena onde boatos se espalham mais do que fogo em palha seca e onde todo mundo acha que pode dar opinião na vida alheia. Eu não posso nem chegar a imaginar como pode ser ruim a reação deles e não falo por me importar com a opinião dos outros. Maia, estarmos juntas pode atrapalhar todas as suas negociações, suas vendas, seus investimentos. Você agora É o Rancho Aureus e se algo atingir você vai atingir todo o resto.

– Você por acaso chegou a pensar no quanto assumir sentir algo por mim pode atrapalhar a você mesma? – questionou Maia, mas os olhos verdes não pareciam preocupados nem incomodados – Você tem uma clínica Alicia. O que poderia te acontecer?

– Essa não é a questão – respondeu a mais velha dando de ombros – Eu sei o que vai me atingir, você não. Posso perder os extras e uma boa parte de clientes regulares, mas vou sobreviver porque sou a única veterinária da região e para algumas coisas precisam de mim. Mas eu sei que estou disposta a enfrentar isso. Só não posso permitir que você aceite começar algo comigo sem entender o que… – dedos macios e finos colocados sobre seus lábios a calaram e os castanhos se fixaram nos verdes que tinham um brilho divertido.

– Apenas não saia do meu lado – sussurrou Maia com um pequeno sorriso se inclinando para deixar um selinho nos lábios que ela ainda não conseguia parar de encarar – Nunca – pediu antes de outro selinho – Jamais saia do meu lado – mais um selinho e os olhos da maior se fecharam – E eu posso jurar a você que nada vai me fazer mudar de ideia. Apenas confie em mim e me deixe mostrar – ela terminou de dizer em tom baixo e com os lábios roçando nos de Alicia – Ok?

– Ok – foi a resposta sussurrada que a veterinária devolveu ainda de olhos fechados e balançando levemente a cabeça em afirmação.

– Ok – repetiu Maia sem conter o sorriso antes de segurar o rosto de Alicia e a beijar outra vez.

Nenhuma das duas saberia dizer a quanto tempo estavam trocando beijos. Após a conversa que tiveram decidiram não falar sobre assuntos que só seriam importantes no dia seguinte e resolveram colocar um outro filme. Elas dividiam o colchão e o travesseiro, mas não as cobertas. O ar regulado na função aquecedor deixava o quarto numa temperatura agradável para que Alicia se deitasse sobre os cobertores, abaixo dos quais Maia estava, sem sentir desconforto. Nos primeiros minutos de filme as duas tentavam prestar atenção, deitadas uma do lado da outra, mas seus olhares se atraiam fazendo sorrisos surgirem em seus rostos.

Antes da metade do filme a veterinária desistiu de tentar entender o que e passava na trama e virou, deitando-se de lado e apoiando o braço e cotovelo esquerdo sobre o travesseiro de forma a ficar com o rosto próximo à Maia. Os olhos verdes viram os movimentos da maior e ela sorriu quando o rosto de Alicia estava parcialmente sobre o seu e a mão da mais velha pousava levemente sobre sua barriga logo abaixo de onde suas próprias mãos estavam e logo acima da linha das cobertas.

A mais nova apenas sorriu e, ignorando o filme que ela sequer se lembrava sobre o que era, ergueu a mão direita segurando a frente da regata da veterinária puxando-a para mais perto. A mão esquerda timidamente se colocou sobre o antebraço direito da maior quando os lábios voltaram a se encontrar delicadamente. Nessa troca de beijos lentos e selinhos longos elas perderam a noção do tempo, mas sabiam que diversos minutos já haviam se passado desde o começo daquela troca de carinhos. Tanto que, pelos sons que vinham da televisão, o filme parecia estar entrando nos créditos finais.

Foi Maia quem tomou a iniciativa de separar as bocas por alguns instantes. Alicia sabia o motivo, sentia seu braço esquerdo doer por ficar tanto tempo na mesma posição sustentando seu peso, mas para não parar de beijar Maia ela desviou dos lábios e desceu beijos para o maxilar da mais nova. Os olhos verdes tentaram se abrir, mas ela apenas riu com o jeito como Alicia tentava evitar interromper o contato entre elas.

– Nós precisamos dormir – sussurrou em voz baixa recebendo um resmungo da maior que se encolheu apertando o braço que tinha em volta da cintura fina – Vamos, Alicia. Você, principalmente, precisa descansar. Vai dirigir por horas amanhã – insistiu Maia, mas suas mãos continuavam a acariciar a base do pescoço e o braço direito da maior.

– Hrmm – reclamou Alicia outra vez parando os beijos e escondendo o rosto na curva do pescoço da mais nova – Você só me vence nesse argumento porque sua segurança estará envolvida nessas horas que passarei dirigindo – murmurou a voz mais grossa da veterinária causando diversos arrepios em Maia pois a respiração de Alicia batia contra seu pescoço.

Maia não saberia dizer o tamanho do sorriso que estava em seu rosto naquele momento. Sua mão direita continuava no pescoço da veterinária, mesmo que a posição não fosse muito confortável por ter o braço preso entre os corpos dela. Sua mão esquerda subiu pelo ombro direito de Alicia até os cabelos que estavam soltos e ela virou um pouco o rosto deixando um beijo casto na testa da maior que era a única parte acessível a seus lábios naquele momento. Em resposta sentiu o aperto em sua cintura aumentar e, pela primeira vez, ficou incomodada com as cobertas que tinha sobre suas pernas.

– Vamos, até o filme acabou – sussurrou Maia com um tom divertido na voz e sentiu a maior sorrir contra a pele de seu pescoço.

– Sim senhora – respondeu Alicia deixando um beijo próximo ao ponto de pulso no pescoço da mais nova antes de erguer seu rosto para encará-la – Hora de dormir. Entendido – falou ela erguendo a mão direita até poder acariciar o rosto da menor – Ainda não consigo acreditar que as últimas horas realmente aconteceram – sussurrou ela deixando as pontas de seus dedos delinearem as curvas do rosto de Maia.

As mãos menores envolveram seu pescoço com delicadeza devolvendo o carinho enquanto os olhos verdes encaravam os castanhos com calma. Maia tinha um sorriso admirado e tudo o que mais queria era apenas ficar ali encarando a mais velha até o amanhecer, mas sabia que não poderiam ficar entre aquelas quatro paredes eternamente. Mesmo que a ideia lhe parecesse tentadora no momento. Ela ainda sabia que não gostaria de estar ali para sempre. Queria e iriar enfrentar o lado de fora, mas sabia que teria aquela mulher ao seu lado, motivo pelo qual ela se encontrava animada e não temerosa.

– Ainda me choca, mas aconteceu e eu não podia pedir por nada melhor – ela finalmente falou e deixou seus dedos tocarem os lábios da veterinária que estavam um pouco avermelhados e úmidos, da mesma forma que ela acreditava que estavam os seus.

– Vamos dormir – murmurou Alicia com um meio sorriso ainda sentindo os dedos de Maia em seus lábios – Antes que eu comece a beijar você de novo – completou segurando uma das mãos da menor e deixando um beijo na palma fazendo Maia rir baixinho.

Ainda sorrindo a veterinária se moveu dando um beijo na testa da mais nova e se levantou para apagar as luzes antes de desligar a televisão. Maia se apoiou nos cotovelos logo que o quarto ficou na penumbra e viu Alicia seguir para a cama do outro lado do cômodo.

– Onde está indo? – Maia perguntou ao ver a mais velha se sentar na outra cama.

– Dormir – respondeu Alicia tentando não sorrir com a expressão confusa e, depois, indignada que surgiu no rosto da menor.

– E por que precisa mudar de cama? – Maia perguntou se sentando com uma expressão séria.

– Porque não vou conseguir dormir se continuar deitada do seu lado – falou se levantando e indo até a cama da mais nova – Se eu puder te tocar vou passar a noite inteira acordada fazendo isso – sussurrou ela aproximando os lábios do ouvido de Maia que não conseguiu controlar um sorriso e segurou a frente da regata da maior.

– Ainda acho desnecessário você trocar de cama – disse ela erguendo o rosto para poder aproximar seus lábios dos de Alicia – Aposto que dormiria sim aqui comigo.

– Não me provoque, já está difícil resistir a você – murmurou Alicia selando os lábios das duas rapidamente – Acredito no meu auto controle, mas mesmo ele não pode operar milagres – disse entre um beijo e outro – E como concordo com você que preciso dormir – mais um beijo trocado e Maia segurou o rosto da mais alta por um tempo maior – Vou me precaver e dormir onde não posso passar a noite toda admirando você.

– Você é uma ótima argumentadora, Doutora Veterinária – murmurou Maia segurando as laterais do rosto de Alicia para outro beijo um pouco mais longo.

– E você é uma ótima provocadora, Senhorita Almeida – respondeu a maior quando o beijo terminou, mas manteve seu rosto próximo do rosto da menor – Boa noite, Maia – ela sussurrou se inclinando mais e segurando o rosto da mais nova com as duas mãos também.

– Boa noite, Alicia – a outra respondeu no mesmo tom e, só depois de mais um beijo, permitiu que a mais velha se afastasse até a outra cama.

Se deitaram e ficaram de lado olhando uma para a outra. Alicia alcançou o controle e desligou a televisão. Alguns segundos se passaram até a visão de ambas se acostumar a falta de claridade e elas continuaram a se encarar. Demorou alguns instantes, mas a hora avançada e estarem longe uma da outra acabou por favorecer ao sono se aproximar. Haviam tido muitas emoções naquela noite e logo ambas tinham adormecido ainda de frente uma para a outra.

 

 

N/A: 

Eu demorei, mas voltei!!!
Pessoinhas, meu anjo não conseguiu postar no fds, por isso vou atualizar duas vezes, hoje (quinta) e amanhã (sexta).
E mesmo estando um pouquinho atrasada:
FELIZ 2018!!! Desejo muitas felicidades e coisas boas nesse novo ano que se inicia.

Bjs e até o próximo
;]



Notas:



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2 Respostas para Capítulo 55

  1. Aeee! demorou mas valeu a Pena esperar o Beijo! gosto muito desse jeito decidido da Maia, acho que pelo que ela passou com o acidente! tem mais força para enfrentar os problemas! e ela vai passar essa segurança para Alicia!
    beijos
    mascoty

    • E olha como demorou hehe. Na verdade essa decisão toda da Maia veio depois que ela começou a entender que poderia superar alguns obstáculos. Mas tem coisas q ela não superou ainda.

      Bjs
      ;]

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