Argentum

Acabaram por ficar para o almoço como Dona Marta havia dito para fazerem. Talitha e Enzo se prontificaram a auxiliar a mais velha na cozinha e mandaram que Alicia e Maia fossem para a sala fazer qualquer coisa alegando que nenhuma das duas ajudaria na cozinha. Não que eles tivessem realmente conseguido ajudar, ao menos não Talitha, mas os três queriam apenas que elas pudessem aproveitar melhor seu tempo juntas. Era por isso que as duas estavam sentadas no sofá da sala, de frente para a televisão ligada em um programa que nenhuma delas tinha prestado atenção.

Alicia tinha colocado uma almofada sobre a mesa de centro e ajudado Maia a tirar os sapatos e erguer os pés sobre a almofada, com um pouco de relutância da menor. A justificativa da veterinária era que a mais nova tinha que ficar confortável e Maia, mesmo rolando os olhos por saber que era uma desculpa sem sentido, deixou que ela fizesse o que queria. Depois Alicia se sentou ao lado dela no sofá, passou um braço por cima dos ombros de Maia e elas se recostaram juntas com a menor descansando a cabeça no ombro direito da mais velha.

Um tempo depois o almoço ficou pronto e todos comeram juntos. Talitha e Enzo ficaram ótimos amigos em poucos instantes e ambos pareciam se unir para fazer Maia e Alicia corarem. Dona Marta apenas ria da interação deles com um olhar feliz ao notar o brilho nos olhos da filha. Talitha teve que voltar para casa após o almoço porque precisava estudar para um trabalho. Dona Marta teve a ajuda da filha para limpar tudo enquanto os dois amigos ficaram na sala conversando amenidades. Ficaram mais algum tempo naquela interação até que Maia suspirou dizendo que precisavam ir para que o amigo se preparasse.

Marta se despediu dos dois no andar de cima convidando Enzo a voltar mais vezes e dando um abraço e um beijo no rosto de Maia ao dizer que ela já era de casa. No andar de baixo Alicia ajudou Maia até estarem do lado de fora da clínica. Enzo abriu a porta para a amiga e se afastou um pouco do carro enquanto as duas se despediam com sorrisos e selinhos. Combinaram que Maia passaria para ver Alicia quando voltasse do aeroporto onde deixaria Enzo. Quando se afastaram a veterinária fechou a porta do carro e, ao se virar, encontrou Enzo se aproximando.

O rapaz tinha pensado em diversas frases ameaçadoras para dizer a Alicia na noite anterior, mas após ver a interação das duas ele pode enxergar com clareza que Alicia estava completamente apaixonada por sua melhor amiga. Por fim ele decidiu apenas ser sincero consigo e com ela e se aproximou abraçando a veterinária que não hesitou em retribuir.

– Eu diria para não machucar minha amiga, mas já pude ver que você nunca conseguiria fazer nada de mal para Maia – ele disse ainda abraçando-a – Só queria que soubesse que apoio as duas totalmente e que podem contar comigo para qualquer coisa – falou se afastando e segurando a veterinária pelos ombros – São lindas juntas e torço para que sejam muito felizes porque as duas merecem muito isso – falou ele com um sorriso e, depois ficou sério – Tenha paciência com ela quando for preciso, ok? Sei que Maia está parecendo mais forte e decidida do que nunca, mas ela tem aspectos que são complexos e que serão difíceis de lidar.

– Não se preocupe, Enzo – respondeu Alicia, sua mente já imaginando o motivo daquelas palavras, mas completamente tranquila sobre o assunto – Sempre fui uma pessoa paciente, mas Maia me colocou num outro nível. Eu faço e farei de tudo por ela.

– Sei que fará – sorriu Enzo se afastando para dar a volta e entrar no carro.

Logo depois o carro do Rancho se afastava pela rua com Alicia acenando para ele da calçada e Maia devolvendo o gesto pela janela aberta. No resto da tarde a veterinária esteve com a mãe na cozinha enquanto a mais velha preparava algumas receitas doces para fazer e a mais nova contava o que havia acontecido entre ela e a Dona do Rancho, na viagem e depois dela. Incluindo no relato o pedido de namoro que fez Dona Marta elogiar a filha por não ter sido tão lerda quanto ela esperava.

No dia seguinte Alicia estava na recepção com Talitha. Era quase hora do almoço, a veterinária e sua melhor amiga estavam conversando enquanto esperavam Dona Marta terminar o almoço. Pela manhã Alicia havia conversado com Maia antes dela sair do Rancho com Carlos para levar Enzo ao aeroporto. Ela esperava que a dona dos olhos verdes chegasse para almoçar com elas a qualquer momento. Faltavam alguns minutos para o meio dia quando o celular dela tocou mostrando a imagem de Maia o que fez um sorriso imenso surgir no rosto da mais velha.

– Oi – falou Alicia ao atender a chamada.

– Oi – ela ouviu a resposta de Maia e poderia jurar que a mais nova estava sorrindo também – Eu disse que ligava assim que chegasse na cidade, mas aconteceu algo.

– O que houve? Você está bem? – Alicia interrompeu com um tom preocupado e a expressão séria que fez Talitha parar de rir silenciosamente e prestar atenção na conversa.

– Acalme-se, não houve nada comigo, estou perfeitamente bem – respondeu Maia ainda com o tom de riso – Foi algo com no Rancho. Estou quase na frente da clínica. Você pode sair para conversarmos um pouco?

Alicia se levantou ao mesmo tempo em que confirmava que poderia e avisava que já estava saindo para espera-la do lado de fora. Maia avisou que já estava chegando e elas encerraram a chamada. Poucos instantes depois o carro do Rancho virou a esquina algumas quadras antes da clínica e, logo estava estacionando junto ao meio fio em frente a Alicia que se aproximou da janela do passageiro onde estava Maia. Sem saber bem como cumprimentar a mais nova, por ter Carlos observando a interação das duas, Alicia apenas se inclinou um pouco deixando um beijo no rosto de Maia antes de acenar para o rapaz no banco do motorista.

– O que foi que aconteceu no Rancho? – questionou encarando os olhos verdes com certa preocupação.

– Uma das máquinas teve problemas. O mecânico do Rancho achou uma peça com defeito – falou Maia soltando um suspiro cansado – Carlos e eu paramos para comprar a peça assim que Giulio ligou, mas é uma máquina nova que ainda está dentro do período de garantia. Só um técnico da empresa pode mexer no equipamento ou então podemos perder o seguro e a garantia. Giulio me disse que ligou para a empresa, mas o técnico só seria deslocado daqui a três ou quatro dias. Estamos usando a antiga, mas ela é muito mais lenta, não podemos esperar três dias pelo técnico. Por isso preciso ir ao Rancho, tenho que encontrar os papeis da garantia, ligar para a empresa e tentar conseguir um adiantamento dessa visita ou uma autorização para o nosso mecânico fazer a troca.

– Entendi. É um grande problema esse – respondeu Alicia suspirando ao ver a expressão cansada que Maia já tinha e podendo imaginar a burocracia que ela precisaria enfrentar para resolver aquela situação.

– Sei que prometi que iriamos fazer algo hoje – começou a menor com um olhar culpado, mas Alicia a interrompeu.

– E não tem que ficar nem um pouco preocupada com não poder cumprir essa promessa – a veterinária disse com um sorriso gentil – Somos adultas, temos problemas como qualquer outra pessoa. Infelizmente esses problemas, às vezes, nos exigem urgência.

Maia concordou sabendo que a mais velha tinha razão, não poderiam estar juntas naquele dia, mas logo teriam uma folga e conseguiriam um tempo só para elas. Antes que a conversa entre ela continuasse a voz de Carlos, que havia estado em silencio apenas observando a interação das duas, soou fazendo com que elas se virassem para o rapaz.

– Me perdoem a intromissão – disse ele com um sorriso divertido – Mas é que tenho que dizer que é impressionante como a amizade de vocês se desenvolveu tão bem e tanto em tão pouco tempo – ele comentou com um sorriso gentil parecendo realmente surpreso – Eu nunca havia visto duas pessoas se tornarem amigas tão rápido.

As duas se encararam após ouvir isso. Realmente haviam se tornado boas amigas muito rápido. Haviam sentido uma identificação e uma confiança imediata uma na outra desde o primeiro momento, mas ambas tinham consciência de que a relação delas tinha se desenvolvido tão rápido porque não era apenas uma amizade. Entretanto ainda não haviam sido questionadas sobre sua amizade por outra pessoa que não fosse mais próxima delas. Por esse motivo elas estavam se olhando tentando ver no olhar uma da outra como deveriam responder.

– Acho que podemos dizer que tivemos uma ligação instantânea – falou Alicia com um sorriso um tanto sem graça por não saber o que falar.

– Eu realmente concordo com Alicia – começou Maia olhando para a veterinária antes de voltar seus olhos verdes para o rapaz – Nossa relação progrediu de uma maneira muito inesperada, principalmente para mim. Mas acho que foi algo inevitável.

Alicia tinha um pequeno sorriso enquanto olhava a mais nova, mas Maia continuou a encarar o rapaz que se mostrou um pouco confuso com a intensidade da declaração que ela havia feito. Ao notar que Carlos realmente não estava entendendo o rumo que ela queria tomar a dona do Rancho fechou os olhos, soltou um suspiro e, ao abrir os olhos verdes novamente, ela buscou uma das mãos de Alicia entrelaçando os dedos de ambas. Então encarou novamente o rapaz no banco do motorista.

– Carlos, nos últimos tempos você é Giulio tem se tornados bons amigos para mim – começou ela a dizer de forma calma, mas num tom completamente sério – Entretanto não podemos nos esquecer de que há entre nós uma relação de patrão e empregado a ser respeitada, mas, além disso, a questão da vida de cada um na qual não acredito que ninguém possa dar palpite. Eu não devo satisfação a você nem a ninguém sobre a minha vida e acredito que você entenda isso perfeitamente. Por outro lado, eu não pretendo me esconder e manter segredo das coisas que faço – ela desviou o olhar rapidamente para a veterinária, encontrou surpresa e apreensão nos olhos cor de mel, mas também viu orgulho e apoio, por isso continuou – Encare o que vou falar como uma revelação que um amigo mereça ouvir. Mas ao ter sua opinião sobre o assunto recorde-se de que você não deixa ser meu empregado. Portanto, se tiver alguma opinião ofensiva ou de desacordo, prefiro que a guarde para você mesmo. Assim evitamos desentendimentos que possam prejudicar nosso trabalho.

– Eu acho que não estou entendendo bem o que a senhorita quer dizer – falou Carlos interrompendo Maia antes que ela continuasse.

– O que Maia está tentando explicar é que, por mais próximo que alguém seja de nós, ninguém tem direito de dar opinião alguma sobre as nossas vidas – falou a veterinária fazendo o foco dos dois dentro do carro se virar para ela.

– Mas, mesmo que nossa vida particular não diga respeito a mais ninguém – continuou a mais nova olhando para os olhos da veterinária – Alicia e eu não iremos ignorar ou esconder o que está acontecendo entre nós duas.

O rapaz ficou ainda mais confuso. Em algum ponto de sua mente ele provavelmente poderia compreender a situação se não estivesse tão surpreso com a conversa, mas, naquele momento, ele parecia estar perdendo completamente os reais significados.

– Maia e eu estamos namorando – falou Alicia finalmente esclarecendo de forma direta a situação.

N/A: 

Demorei, eu sei, mas voltei!
Antes de tudo pessoinhas, eu tenho que deixar claro que estou numa rotina muito corrida e apertada com trabalho e faculdade. Tá mesmo difícil ter tempo de escrever, então peço que entendam essa demora toda. Eu não vou simplesmente escrever qualquer coisa apenas para ter capítulo novo. Esse cap em particular foi complexo porque eu precisava dele como introdução para os próximos acontecimentos e eu queria organizar bem as coisas.
Mas, mudando de assunto, algumas leitoras me pediram para criar um grupo no Whatsapp para os (as) leitores(as) de Argentum. Na época de Nightingale eu enrolei e enrolei e não fiz um grupo kkkkk, agora decidi fazer. Pois então, quem tem interesse em participar do grupo avise nos comentários que quer e deixe seu numero que eu adiciono e vamos ver no que isso vai dar =P (Eu já aviso que vou apagar os comentários com os números do site logo que adicionar vocês ao grupo ok. Então deixem só o número ou mandem ele num comentário separado) 

Bjs e até o próximo
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