Argentum

Capítulo 74

O primeiro impulso de Maia foi negar, mas se recordou do pedido de Alicia para confiar nela por um minuto e decidiu confiar mesmo, sem receios, deixou para se preocupar com o resto depois. A veterinária soltou sua mão, vestiu a regata outra vez e disse que fecharia os olhos. Alicia lhe disse que ela poderia trocar a camisa larga de mangas longas de seu pijama pela regata e que depois Maia poderia decidir o que permitiria que ela sentisse ou por quanto tempo. Ela também disse que se a dona do Rancho não ficasse confortável em continuar só com a regata depois ela poderia só vestir novamente a camisa de seu pijama.

Quando Alicia fechou os olhos Maia ainda se sentiu um pouco receosa, mesmo confiando na veterinária e mesmo que a luz no quarto fosse quase inexistente. Mas ela respirou fundo e retirou a camisa do pijama vestindo a regata logo em seguida e o mais rápido que conseguia, mas por conta do clima frio. Depois ela pegou a mão direita de Alicia com ambas suas mãos e a segurou próximo a seu peito. Ela não sabia por onde começar. Seu braço direito tinha apenas uma pequena marca próxima ao ombro, mas era imperceptível ao toque por ser só uma pequena diferença na cor da pele. Já o braço esquerdo tinha cicatrizes mais grossas e saltadas, principalmente próximo ao seu cotovelo e antebraço. Respirando fundo ela guiou a mão de Alicia até seu antebraço e sentiu os dedos quentes um pouco trêmulos ao tocar sua pele que já começava a ficar gelada por causa do frio no quarto.

– Estou começando a me arrepender dessa ideia – sussurrou Alicia num tom preocupado – Você já está começando a ficar gelada por causa do frio.

– Vamos fugir do frio então – Maia propôs num pequeno surto de coragem e começou a se deitar de lado para ficar de frente com Alicia – Deita e vamos nos cobrir – ela disse e sentiu a cama se mover com a movimentação da veterinária se ajeitando.

Depois disso ela voltou a pegar a mão de Alicia e a coloca-la sobre seu antebraço. Sentiu os dedos acariciarem sua pele tateando até reconhecer que já estavam sobre uma cicatriz grande próxima ao cotovelo. Maia não conseguiu dizer nada, mas Alicia poderia imaginar que aquilo havia sido causado por uma fratura exposta. Moveu lentamente os dedos sempre devagar para dar tempo de Maia recuar se não quisesse o toque, e encontrou as marcas que caracterizavam uma imobilização externa confirmando sua suposição de fratura. Ela não se moveria demais, deixaria que Maia decidisse quanto tempo sua mão deveria ficar ali e ou se ela poderia conhecer alguma outra parte de seu corpo.

Quando achou que Maia iria afastar sua mão por a ter retirado de seu antebraço a veterinária se surpreendeu ao sentir que estava sendo guiada mais para cima. Sua palma encontrou o ombro e ela sentiu a linha grossa e irregular sobre a palma aberta de sua mão direita. Ela não saberia dizer o que havia causado aquilo, mas sabia que era algo extenso. Maia moveu sua mão na direção de sua clavícula mostrando que a cicatriz continuava por ali também. Depois disso Maia soltou a mão da mais vela sobre seu braço soltando um suspiro. Aquele toque delicado era bom, causava boas sensações, mas ao mesmo tempo a consciência de que ele reconhecia suas marcas lhe trazia uma ansiedade nervosa que ela quase não conseguia controlar.

– Posso mover minha mão pelo seu braço? – Alicia perguntou não querendo ultrapassar nenhum limite e fazer algo que assustasse a menor.

Maia assentiu com a cabeça, mas só depois da veterinária não reagir que ela recordou que Alicia não a estava vendo.

– Pode – ela disse com sua voz tão baixa que quase não saiu por sua garganta.

Maia sentiu a mão deslizar por sua pele de forma gentil e delicada, os dedos de Alicia subiam e desciam por seu braço e antebraço em uma carícia leve que fez os olhos verdes se fecharem para aproveitarem a sensação. A mão de Alicia era mais quente do que o cobertor que estava sobre elas.

– É bom sentir você – Alicia sussurrou depois de alguns instantes fazendo os olhos verdes se abrirem.

– Todo o lado esquerdo do meu corpo só tem marcas, Alicia – ela disse e sua voz soou embargada e ressentida – Não é bom sentir isso.

– Eu não estou sentindo as marcas, Maia – sussurrou Alicia ainda se para de mover a ponta dos dedos pela pele que já não estava mais tão fria – Eu estou sentindo você. Hoje cada cicatriz faz parte de você e eu compreendo que não as aceite. Mas quando eu toco cada uma delas a única imagem que vem a minha cabeça é de como você é uma mulher forte – a voz de Alicia saia baixa e calma, sua mão continuava na carícia sobre o braço da menor, um sorriso de canto se formou no rosto da mais velha e Maia conseguiu nota-lo, mesmo na penumbra – É bom sentir sua pele. É macio, mesmo as cicatrizes são macias – disse ela escorregando a palma do cotovelo até o ombro da menor – É como sentir um mapa que me conta coisas sobre você. E ao mesmo tempo é como tentar desvendar um enigma que só me deixa mais curiosa e interessada – a palma da mão escorregou novamente por todo o braço de Maia até segurar sua mão e entrelaçar os dedos de ambas – Obrigada por me deixar sentir você. Obrigada por não se esconder de mim – Alicia sussurrou mantendo os olhos bem fechados – Eu vou ficar com os olhos fechados enquanto você troca as camisas de novo – ela completou soltando a mão de Maia e recolhendo-a para perto de si mesma.

Maia encarou a expressão contente no rosto da veterinária. Como se ela realmente estivesse contente por poder sentir aquelas marcas. E ela realmente estava. A percepção daquele fato fez o peito da mais nova se apertar e ao mesmo tempo querer explodir. Alicia não parecia de forma alguma pensar sobre suas cicatrizes da mesma forma que ela pensava isso foi confortante por um lado. Mesmo que ela não se sentisse pronta para que a veterinária a visse com seus próprios olhos todas as suas marcas, ainda assim ela sentia que estava pronta para aquele toque gentil que lhe passava carinho e proteção.

– Promete não olhar para elas amanhã cedo quando acordarmos? – Maia não se impediu de perguntar, mas não conseguiu se arrepender de tomar a decisão que gerou aquela pergunta.

Notou que Alicia ficou confusa porque a maior moveu a cabeça sem responder. Ela sorriu sabendo que ela não veria seu sorriso e se aproximou do corpo da veterinária por baixo das cobertas.

– Eu não entendi, mas prometo – Alicia disse ao sentir o corpo da menor se aproximar mais do seu – Você não vestiu a sua blusa ainda – ela apontou o óbvio confusa com a situação.

– Só me abraça e me deixa dormir aqui – pediu Maia segurando a mão da maior e fazendo com que os braços da veterinária a envolvessem.

Alicia pareceu compreender tudo naquele instante e se arrumou para abraçar o corpo pequeno que se aconchegava contra o seu. Sentiu Maia virar de costas e a segurou pela cintura colocando seu rosto, com os olhos ainda fechados, próximo ao pescoço da menor deixando ali um beijo longo e delicado.

– Não vou te soltar por nada – ela sussurrou envolvendo melhor seus braços em volta de Maia e sentindo as mãos mais frias que as suas se segurarem em seus braços e a mais nova soltar um longo suspiro – Meus abraços são todos seus – ela sussurrou sorrindo antes de sentir o corpo da menor relaxar em seus braços e se permitir relaxar também.

Maia não demorou a dormir sentindo o calor e a proteção daqueles braços em volta de si. E Alicia cumpriu a palavra de não solta-la por nada naquela noite. Quem acordou primeiro na manhã seguinte, impressionantemente, foi a mais nova. Os olhos verdes se abriram confusos, aquele despertar estava completamente diferente do usual. O que era explicado pelo fato de Maia estar deitada sobre o tórax de Alicia, o rosto da menor sobre o ombro esquerdo da veterinária e o braço de Maia por baixo das cobertas envolvendo o troco da maior. Maia também sentia que uma de suas pernas estava sobre as pernas de Alicia além de sentir um dos braços da veterinária em volta de sua cintura. O outro braço de Alicia estava para fora das cobertas, também abraçando o corpo de Maia.

Ela analisou o rosto da mais velha por alguns instantes. Alicia parecia tranquila e relaxada, aparentemente não sentia frio por ter o braço para fora das cobertas. Se moveu lentamente para erguer seu rosto um pouco mais apenas para observar melhor a expressão da veterinária. Assim que seu corpo se afastou um pouco ela sentiu os braços estreitarem em volta de seu corpo sendo forçada a voltar a posição inicial. Ao notar que Alicia não havia acordado Maia não conseguiu não sorrir com aquela reação da mais velha.

Ela tocou o queixo de Alicia com a ponta dos dedos, sua mente lhe dizendo que ela deveria aproveitar que a veterinária ainda estava dormindo para se levantar e vestir uma blusa de mangas compridas. Mas ela não conseguia ter vontade de se mover. Passou tanto tempo apenas admirando a mais velha que acabou por não ter saído do lugar até o momento em que Alicia começou a acordar. A primeira mudança foi a respiração e depois os olhos verdes viram a expressão da maior mudar até que os castanhos piscaram se abrindo parcialmente. Maia ficou sem reação, enquanto isso Alicia apenas bocejou olhando em volta e depois se virou escondendo o rosto no travesseiro e apertando os braços em volta da menor.

– Bom dia – murmurou a Dona do Rancho depois de esperar a mais velha dizer algo por alguns instantes.

– Hmm, dia – foi a resposta mal articulada da veterinária que não parecia realmente acordada ainda.

Maia não conseguiu não sorrir com o jeito manhoso que Alicia tinha naquele momento. A veterinária simplesmente continuou escondendo seu rosto no pescoço da menor sem se mover, mesmo quando deu a curta resposta. Os olhos verdes encararam o teto do quarto e Maia se ajeitou ficando deitada de costas com Alicia ainda escondendo o rosto em seu pescoço. Uma das mãos da mais nova começou a se mover pelas costas da maior por sobre o tecido da regata.

– O que é que está fazendo? – questionou Maia ainda com um largo sorriso – Pretende voltar a dormir?

– Gostaria – respondeu Alicia com a voz abafada – Mas tenho planos para nós hoje – falou a veterinária, mas mesmo assim ela não se moveu.

– Não deveria estar levantando então? – perguntou Maia num tom divertido.

– Estou cumprindo a minha promessa – sussurrou Alicia deslizando a ponta de seu nariz pela pele do pescoço de Maia que arregalou os olhos ao se recordar do que havia pedido na noite passada – Não vou olhar – murmurou a veterinária beijando o pescoço de Maia e subindo pequenos e curtos selinhos até a linha do maxilar da menor – Então acho que você deveria levantar primeiro. Depois que eu ouvir a porta do banheiro se fechar eu vou para o outro quarto.

Maia riu baixo mordendo o lábio inferior sem acreditar que mesmo tendo acabado de acordar Alicia já conseguia estar raciocinando sobre ela. Notando o riso da menor a veterinária apenas sorriu deixando uma mordida leve na base do pescoço da dona do Rancho e afastou seu corpo do dela deixando-a livre para se levantar. Maia se inclinou deixando um beijo na ponta do nariz da maior e saiu da cama lentamente virando-se para notar a mais velha agarrando seu travesseiro e o abraçando ainda sem abrir os olhos. Assim que a porta se fechou a veterinária soltou um suspiro e abriu os olhos, ainda respirou fundo com o rosto perto do travesseiro de Maia antes de levantar e ir para o outro quarto. Queria ser rápida o bastante para ajeitar algumas coisas para a manhã delas antes da Dona do Rancho estar pronta para sair do quarto.

N/A:  Boa noite pessoas
A pedidos o capítulo saiu hoje hehe (pessoas do grupo sabem kkkk).

Esse capítulo tem o encerramento da cena do anterior. Tenho que dizer que foram as cenas mais importantes pra mim até o momento (e provavelmente serão algumas das mais importantes de toda a fic). Espero mesmo que tenham entendido alguns pontos da forma de pensar da Alicia.

Bom, até o fim de semana que vem (se tudo der certo pq tenho mt coisa nessa semana agora >< )

Bjs pessoinhas
;]



Notas:



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