Argentum

Capitulo 78

Na metade da tarde, logo que a temperatura começou a diminuir, Alicia selou Angel outra vez e elas voltaram para o pavilhão de baias onde Maia esperou que a veterinária soltasse Angel em uma das baias com comida e água. Eduardo não estava por perto, provavelmente cuidando de alguma coisa nos piquetes ou algum outro lugar, passaram pela cozinha para deixar a cesta, mas também não encontraram nem Maria nem Antonieta que, provavelmente, deveriam estar cuidando de suas casas antes de voltarem para fazer o jantar para elas. Subiram as escadas e foram até o quarto da dona do Rancho.

– Vá buscar suas coisas do outro quarto – pediu Maia assim que se sentou em uma das cadeiras da pequena mesa próxima as janelas.

– Porque? – Alicia questionou confusa e a mais nova riu.

– Ora, porque você vai dormir aqui mesmo, será muito mais prático se suas coisas já estiverem aqui – Maia respondeu como se fosse óbvio e a veterinária rolou os olhos.

– Caso tenha se esquecido eu vou voltar ao outro quarto para tomar banho e outras coisas – falou Alicia, também com um tom de obviedade e foi a vez de Maia rolar os olhos.

– Não tem porque isso. Pode usar o meu banheiro – ela disse dando de ombros e Alicia sorriu encarando a expressão despreocupada que Maia colocou no rosto ao desviar o olhar dela e olhar pela janela.

A maior se aproximou da mesa, apoiando sua mão direta sobre o tampo para se inclinar e dar um beijo na testa de Maia que virou o olhar para ela encontrando o sorriso gentil no rosto da veterinária. Alicia se inclinou mais beijando os lábios da menor e Maia ergueu as mãos para segurar o rosto da outra durante o beijo que não durou muito. A veterinária o encerrou com um selinho, mas manteve seus rostos colados.

– Vou buscar minhas coisas – Alicia sussurra com os lábios juntos dos de Maia antes de sorrir e se afastar para sair do quarto deixando para trás a menor com um sorriso no rosto.

Segundos depois de Alicia sair Maia ouve uma batida na porta. Ela diz para que a pessoa entre e Antonieta surge no quarto com seu sorriso de sempre. Maia sorri de volta, mas fica sem saber como falar com a senhora que se aproxima dela.

– Vi vocês entrando na casa e vim ver se precisam de alguma coisa – Antonieta fala apoiando as mãos sobre o encosto de uma das cadeiras vazias em volta da mesa.

– Estamos bem, vamos descansar um pouco agora – Maia responde um tanto sem jeito – Na verdade eu vou descansar um pouco as pernas. Não estou acostumada a cavalgar – ela completou sorrindo sem jeito.

Antonieta a encarou com um sorriso. Quando se encararam a senhora apontou para a cadeira a sua frente como se pedisse para poder se sentar e Maia indicou com a mão para que ela o fizesse. Ela se sentou e esticou as mãos na direção da mais nova. Os olhos verdes encararam as mãos estendidas da mais velha por segundos antes de ela erguer a mão direita colocando-a com a palma sobre as palmas abertas de Dona Antonieta.

– Acredito que Alicia lhe falou sobre nossa conversa na cozinha, não foi? – Antonieta perguntou com um sorriso terno acariciando a mão da mais nova que acenou positivamente, ela encarou a mão entre as suas dando um sorriso sem jeito – Eu não vou dizer que compreendo exatamente. Depois que Alicia saiu, Carlos e eu conversamos um pouco. Eu confesso que não era um assunto desconhecido para mim, eu vejo televisão, assisto novelas, minha neta sempre está vendo aqueles programas, as séries dela, e eu acabo vendo algumas coisas também. Por causa disso eu sei que o que vocês duas começaram a ter é algo que muitas pessoas abominam e odeiam. Eu nunca havia pensado a respeito, mas acredito que achava não ser correto, talvez eu ainda ache isso. Mas quando comecei a notar certas coisas entre vocês duas e pensei a respeito – Antonieta fez uma pausa encarando o chão e soltando um longo suspiro – Quando o patrão faleceu nós todos ficamos muito incertos. Era uma certeza entre nós, quando descobrimos sobre os herdeiros, que perderíamos tudo. Que vocês venderiam o Rancho e todos perderíamos nossos empregos e nossas casas. Mas quando a senhorita chegou e assumiu o Rancho…Bem, no começo ficamos receosos por conta da sua inexperiência. Mas teu esforço manteve todos nos seus lugares. Cuidou de nós, dos nossos empregos, das nossas famílias. Desde sua chegada aqui tu fizeste bem a todos, sempre se preocupando com cada um. Como ter pedido a ajuda da minha neta na organização do escritório para ter uma desculpa de pagar a ela por isso depois de ouvir que não teríamos dinheiro para viagem que ela queria fazer com as amigas para aquele show. Ou como fez Giulio deixar as atividades mais pesadas para Carlos – Antonieta encarou os olhos verdes de Maia com uma expressão séria e apertou de leve a mão da mais nova entre as suas – A melhor coisa que aconteceu a esse Rancho foi a senhorita chegar. E a forma como trata cada de nós é tão gentil e atenciosa que conquistou cada pessoa desse lugar. A senhorita tem uma alma tão pura, tão boa – um sorriso surgiu nos lábios de Antonieta e Maia acabou por sorrir também – Eu não consigo vê-la como uma pessoa incorreta ou ter sentimentos ruins para com a sua pessoa. Pelo contrário, quando tive certeza de que algo estava acontecendo entre vocês duas apenas consegui me preocupar com teu bem estar. Já pude ver quão solitária se acostumou a estar e me preocupei que pudesse se magoar por causa do que sente por Alicia.

– Não precisa se preocupar com Alicia me magoar – Maia não conseguiu não defender a veterinária e um sorriso maior se abriu no rosto de Antonieta – Estar com outra mulher pode e, provavelmente, vai causar repulsa em muitas pessoas. Várias vão querer nos magoar, mas eu não estou disposta a deixar que qualquer um faça mal a nós duas. Já me acostumei a pessoas com olhares ou palavras ofensivas por conta da minha situação física, comentários sobre minha condição amorosa não vão conseguir me afetar.

– Eu só precisava ter certeza de que estavam realmente decididas – falou a senhora encolhendo os ombros.

Maia se aproximou da borda da cadeira para conseguir levar sua mão esquerda até o ombro de Antonieta. Quando se encararam de novo a mais nova deixou um sorriso calmo e confiante preencher seu rosto.

– Eu já havia desistido de me apaixonar – ela disse apertando as mãos da mais velha – Mas me apaixonei por Alicia. E vejo a reciprocidade do sentimento em cada olhar que ela me dá. Mas isso não diminui o tamanho do alivio que sinto no momento por ter a aceitação de você e a de Carlos também. Espero encontrar mais aceitação entre os outros funcionários porque me deixaria muito mais tranquila, mas também não vou abrir mão da minha felicidade para agradar a opinião de terceiros.

– Faz apenas o correto minha querida – Antonieta respondeu com um sorriso gentil – Agora vou descer para cuidar da minha cozinha. Já que irão descansar deixo para trazer um lanche as duas mais tarde – ela disse se levantando e deixando um beijo no topo da cabeça de Maia – Cuidem-se, e a senhorita trate de descansar as pernas.

– Garanto que ela vai sim, Dona Antonieta – soou a voz da veterinária vindo da porta e fazendo as duas mulheres dentro do quarto darem um pulinho de susto.

– Pelo amor de Nossa Senhora, menina! – gritou Antonieta se virando e vendo Alicia caminhar na direção delas – Quer me matar do coração?

– Me desculpe – Alicia falou rindo e abraçando Antonieta pelos ombros – Não era minha intenção assustá-las.

– Pois assustou – disse a senhora em tom repreensivo acertando tapas nos braços e ombros da veterinária enquanto Maia tentava segurar o sorriso – Agora me solte que tenho mais o que fazer.

Alicia fez o que Antonieta lhe mandava fazer e a soltou se aproximando de Maia. Logo depois a mais velha delas se retirou do quarto dizendo que mais tarde traria um lanche para as duas. Alicia se aproximou da cadeira onde Maia estava sentada e se ajoelhou logo ao lado da menor apoiando a mão direita na perna de Maia e a mão esquerda na base do encosto da cadeira.

– Estava ouvindo a muito tempo? – perguntou a menor olhando um pouco para baixo, nos olhos castanhos cor de mel que a encaravam com um brilho contente e divertido.

– Não muito – a veterinária respondeu sorrindo – Apenas o bastante para pegar as partes mais importantes – ela completou piscando o olho esquerdo para Maia que riu e colocou as mãos nas laterais do rosto da mais velha inclinando-se para deixar um selinho nos lábios dela.

– Você é incrível – sussurrou a dona do Rancho contra os lábios da veterinária entre um selinho e outro.

– Não mais do que você – respondeu Alicia sorrindo em meio aos beijos – Agora vamos colocar te para descansar.

– Tomarei um banho antes – Maia falou finalmente interrompendo os selinhos leves que estava deixando nos lábios da veterinária.

– Oh..Anh. Acho que posso ir lá fora ou na cozinha fazer algo para te dar privacidade enquanto toma seu banho – disse Alicia encarando os olhos verdes – Ou talvez eu deva ir para o outro quarto e…

– Não tem que ir a lugar algum – Maia a interrompeu com mais um beijo que fez a mais velha fechar os olhos por alguns segundos – Não me importo que fique aqui.

– Mas, Maia – Alicia começou mordendo o lábio inferior com uma expressão incerta – Não quero forçar as coisas, forçar uma intimidade entre nós. Seja me colocando no seu espaço pessoal, seja falando sobre suas marcas. Podemos fazer tudo devagar.

– Não vai estar forçando nada, Alicia – os olhos verdes se focaram nos castanhos e a voz dela soou calma quando continuou – Como poderia forçar algo se sou eu quem está sugerindo isso por meus próprios motivos? Eu quero essa proximidade entre a gente. Essa intimidade. Quero que possamos sempre estar o mais perto possível.

– Você é a pessoa mais maravilhosa que eu já pude conhecer em toda a minha vida – Alicia sussurrou se esticando para beijar os lábios de Maia outra vez, um beijo que durou mais do que todos os outros e que ela encerrou com um selinho antes de se levantar – Vá para o teu banho, vou ficar aqui checando e-mails e outras coisas.

Maia sorriu e se levantou, iria passar pela veterinária, mas teve sua cintura envolvida pelos braços fortes de Alicia que a puxou contra si. As duas se encararam sorrindo e a maior pediu por só mais um beijo, pedido que fez que a dona do Rancho rir alto antes de colocar as mãos nas golas da camisa da veterinária puxando-a para outro beijo. Alicia definitivamente não queria mais se afastar dela nem um único instante, mas a veterinária achou por bem ir devagar. Assim, Maia apenas pegou uma muda de roupas e entrou no banheiro deixando uma Alicia com um sorriso bobo no rosto e um olhar sonhador.

 

 

N/A: Aqui está, como prometido.
Antes de tudo eu queria dizer que esse capítulo não havia sido planejado assim. Eu pretendia fazer outras cenas, mas achei que essa conversa com Antonieta era importante e precisava acontecer nesse momento, então adiei para o próximo capítulo as cenas que queria fazer nesse.
Prometo responder todos os comentários desses dois capítulos durante a semana. E no próximo fds tem capítulo de novo (acredito que tem gente que sequer acredita mais que esse próximo capítulo vá acontecer kkkkkk, mas vai, apenas não sei se da forma como vocês estão imaginando =P ).

Espero muito que estejam gostando.

Cuidem-se pessoinhas e até semana que vem.
Bjinhos
;]



Notas:



O que achou deste história?

2 Respostas para Capitulo 78

  1. Ja disse que adoro a Antonieta né? essa senhora é só admiração! acho que é bem por ai, quando você gosta de uma pessoa e vendo o quanto ela esta feliz;E quem causou essa felicidade mesmo sendo outra mulher. O sentimento nao pode ser errado!
    E como Maia falou essa aceitação da Antonieta que ela respeita é importante pra ela!
    Maia , também esta perdendo o medo e esta confiante mais em Alicia no sentido de ficar mais a vontade perto dela. Tudo aos poucos no fim vai da tudo certo.
    Beijos
    fica na Paz
    Mascoty

    • Acredito que já tenha dito sim kkkk, mas ela é incrível, tbm a adoro *-*
      Sim! Quando se gosta de alguém o correto é vc querer o melhor pra essa pessoa, não importando com quem seja que ela vá estar.
      Maia está cada vez confiando mais no relacionamento delas, com paciência tudo dá certo.

      Bjinhos
      ;]

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