Argentum

Capítulo 81

Antes mesmo de abrir os olhos a dona do Rancho sentiu que algo estava diferente. Acordou um tanto confusa olhando em volta, mas logo compreendeu o que acontecia e o porquê de ter sentido algo diferente naquela manhã. Havia três pesos sobre seu corpo, um sobre suas pernas, outro sobre sua barriga e mais um sobre seu ombro direito. Sobre suas pernas estava a perna direita de Alicia, o peso em sua barriga era o braço direito da veterinária e sobre seu ombro o rosto da mesma que ainda ressonava baixinho. A coberta estava por cima dos ombros da mais velha e dobrada para cobrir também o ombro esquerdo de Maia, como se Alicia tivesse a colocado ali antes de adormecer.

Sua mão direita estava na cintura da veterinária e Maia ficou alguns minutos prestando atenção na forma com que os corpos delas ganhavam sob a coberta. Sua mente divagando enquanto ela observava o que seu olhar alcançava da veterinária já que o rosto de Alicia estava colado ao seu pescoço. Tão distraída ela ficou que só notou o carinho que seus dedos começaram na cintura nua da mais velha quando sentiu a respiração dela mudar contra a pele de seu pescoço. Moveu seu rosto sentindo a maior soltar um suspiro e esperou que ela se movesse, o que não aconteceu.

– Sei que está acordada – Maia falou baixinho, ainda sem parar com o carinho na cintura da veterinária.

A mais nova sentiu um sorriso se formar contra a pele de seu pescoço e outro surgiu em seus lábios, enquanto ela sentia a veterinária se aconchegar mais ao seu corpo. Mesmo assim Alicia não disse nada e, aparentemente, manteve os olhos fechados.

– Bom dia, minha veterinária – a dona do Rancho disse no mesmo tom de voz deixando um beijo na testa da mais velha que apertou um pouco mais o braço em volta de sua cintura.

– Bom dia – Alicia sussurrou deixando pequenos beijos no pescoço da mais nova antes de se mover afastando a cabeça do ombro de Maia e se apoiando sobre um braço para erguer o olhar e encontrar os olhos verdes.

A dona do Rancho encarou os olhos da veterinária por alguns segundos antes de ganhar uma expressão curiosa e confusa. Ergueu a mão esquerda até tocar a bochecha direita de Alicia, seu indicador próximo aos olhos da maior que piscou sem entender a expressão que Maia tinha.

– Seus olhos – disse a menor com um meio sorriso divertido – Seus olhos mudam de cor – ela completou e viu a expressão de Alicia ficar surpresa, mas continuou antes que a veterinária dissesse alguma coisa – Não é a iluminação, já vi mudarem de tom por causa da luz. Por um instante quando você os abriu eles estavam dourados – os dedos da menor continuaram a acariciar a sobrancelha e os cantos dos olhos de Alicia que fechou-os para apreciar o contato – Foi só um instante, já voltaram ao normal.

– Provavelmente foi só uma impressão sua – Alicia falou com um sorriso divertido.

– Duvido – Maia respondeu sorrindo também – Mas como não vi seus olhos ontem, acho que terei que acordar do seu lado outra vez para descobrir – ela sussurrou um pouco mais baixo logo depois mordendo o lábio inferior.

Os castanhos cor de mel se abriram rapidamente encarando os verdes, o sorriso sumindo do rosto da veterinária que ficou um pouco mais séria e aproximou mais os rostos de ambas. Alicia encarou profundamente os olhos de Maia, como se estivesse buscando alguma coisa naqueles olhos verdes.

– Quer acordar do meu lado mais vezes? – Alicia perguntou num tom baixo e sério erguendo a mão direita para tocar o queixo de Maia que franziu o cenho ao ouvir a pergunta.

– Ainda existem dúvidas de que quero? – ela perguntou erguendo as sobrancelhas um tanto surpresa.

– É que, bem – Alicia falou corando um pouco e encarando os lábios de Maia – O que fizemos ontem..Bem…não sei como você vai ver isso hoje. Está realmente confortável com o que aconteceu? – ela perguntou com certa insegurança.

– Pareço não estar confortável? – Maia perguntou notando a insegurança da mais velha e achando aquilo um tanto desnecessário, mas muito fofo porque, aparentemente, Alicia estava preocupada com a opinião dela sobre os acontecimentos da noite passada.

– Não, mas – Alicia cortou sua frase soltando um riso sem jeito, os olhos verdes notaram o leve rubor na face da veterinária – Você parece confortável, mas eu não quero me equivocar. Não quero cometer um erro sequer com você – Alicia sussurrou acariciando com a ponta dos dedos a linha do maxilar da menor – Principalmente nesse contexto. Por isso que preciso perguntar, pois preciso ouvir você dizer. Na primeira noite não quis que eu te visse.

– Tecnicamente não está me vendo – Maia comentou disfarçando um sorriso – Tem um cobertor que está até meus ombros, na verdade é você quem está com parte do tronco para fora – ela brincou deixando o sorriso aparecer – E, depois, é diferente hoje. Viu tudo o que havia para ver ontem – ela murmurou mordendo o lábio outra vez, mas sem desviar o olhar da mais velha vendo o rosto dela corar outra vez.

– É realmente diferente hoje – Alicia falou sustentando o olhar, mesmo sentindo seu rosto corar – Hoje eu posso ver você com a luz do sol – falou ela descendo para o ombro de Maia sua mão direita que estava no rosto da menor – É diferente de ver você na penumbra que a Luz da lua deixava no quarto ontem.

– É por isso que está evitando desviar os olhos do meu rosto? – a mais nova perguntou curiosa e viu os olhos de Alicia se fecharem antes dela esconder o rosto em seu pescoço outra vez – Alicia! – Maia chamou rindo – Está evitando me olhar por medo de eu me sentir desconfortável? É isso.

A veterinária fez um som abafado contra o pescoço de Maia, mas só moveu a mão direita de volta para a cintura da menor abraçando-a. A dona do Rancho começou a rir da atitude da mais velha que apenas bufou contrariada e sem jeito.

– Não é bem isso – resmungou Alicia mordendo com um pouco mais de força a clavícula da menor para fazê-la parar de rir.

– Ai – Maia reclamou ainda rindo e acertou um tapa no ombro direito da mais velha – Qual a razão então?

– Bom, tem o fato de não querer te deixar desconfortável sim – murmurou Alicia com o rosto colado ao pescoço da menor – Mas…também não sei o que achou da noite passada – a veterinária sussurrou tão baixo que Maia quase não a ouviu e logo falou mais alto como se quisesse que a outra não houvesse notado a frase anterior – Não é como se eu estivesse acostumada a estar nua em frente a alguém e isso, provavelmente se aplica a você também. E, de toda forma, ontem foi uma situação, você pode ficar desconfortável agora de novo e não quero isso. E há também o fato de que acredito que está um tanto mais difícil do que antes me controlar nesse momento.

Maia segurou o riso e abraçou a mais velha que se aconchegava a lateral direita de seu corpo.

– Não quer me deixar com vergonha – disse ela com um sorriso divertido, mas controlando a voz para não demostrar – E está com vergonha? É isso mesmo? – ela questionou e não conseguiu disfarçar a diversão na voz com a última pergunta.

Sentiu Alicia se encolher ao seu lado e não pode controlar uma gargalhada que escapou por seus lábios. Não demorou muito para a veterinária estar rindo também. A maior se afastou erguendo seu tronco para se colocar parcialmente sobre a dona do Rancho outra vez. Aos poucos o riso delas acabou e as duas passaram a se encarar.

– É maldade rir de mim. É só que eu sinto a necessidade de saber, e não só saber por achar, mas por ter ouvido de você – Alicia disse com um sorriso bobo encarando os olhos verdes.

– Pois é uma bobagem você estar insegura com seu desempenho na noite passada – respondeu Maia com outro sorriso parecido e a mais velha sentiu seu rosto esquentar tanto que já tinha certeza de que estava completamente vermelha, mas tudo o que a menor fez foi erguer a mão esquerda para segurar o rosto de Alicia – Não digo que criei expectativas, mas acho que não chegaria nem perto de imaginar o quão bom seria estar assim com você.

– Maia eu – Alicia tentou dizer, seu rosto ainda corado, mas a mais nova colocou o polegar direito sobre seus lábios.

– Tenho absoluta certeza de que a vontade de saber disso não vem de seu ego – Maia falou sorrindo levemente – Foi perfeito. Não posso mentir sobre. Não é como se eu tivesse tido muitas experiências do tipo, mas… – ela fez uma pausa, os olhos verdes se perdendo em algum ponto do teto tendo uma expressão satisfeita e tranquila, como se recordasse a noite passada – Se existisse uma palavra que significasse algo além de perfeito seria ela que eu usaria para descrever a noite passada. Pela primeira vez eu me senti eu mesma, sem marcas, sem nada além do que eu sou, e senti que era isso o que você via em mim – os dedos acariciavam de leve o rosto da veterinária enquanto ela falava – Não que as cicatrizes tenham sumido…Eu não me esqueci delas. Mas o jeito que você me olhou a noite toda…Eu senti que estava me vendo como quem eu realmente sou, como quem me sinto ser. Essa sensação de ser vista como quem eu sou e não por como me pareço ainda continua. Seu olhar ainda me passa isso. Acho que é o motivo pelo qual não estou surtando por estarmos nuas embaixo dessa coberta com o dia claro e com você podendo me ver.

– Enquanto me permitir, Maia, enquanto me deixar estar aqui para isso eu sempre vou olhar para você tentando enxergar seu interior – Alicia falou com um sorriso bobo erguendo a mão direita até o rosto da mais nova – Eu sempre quero ver a ‘real’ você. Mesmo que continue acreditando que seu exterior é tão lindo quanto o interior.

As duas sorriram uma para a outra e Alicia deixou um selinho rápido na menor antes de começar a distribuir beijos pelo rosto de Maia que sorriu bobamente sentindo seu corpo relaxar ainda mais com aqueles toques. Ainda rindo elas acabaram girando na cama e a veterinária ajeitou o corpo da mais nova sobre o seu com Maia se posicionando para encara-la de cima. As duas sorriam até que a dona do Rancho mordeu o lábio inferior e começou a dar pequenos beijos no queixo e maxilar da mais velha.

– Mas sabe – disse ela com os olhos verdes fechados descendo beijos pelo pescoço de Alicia – Acho que também é preciso ressaltar que você é muito boa com esses dedos e essa língua também – murmurou Maia com a boca sobre a clavícula da veterinária que sentiu seu rosto, e outras partes de si também, esquentarem outra vez.

– Você definitivamente está se mostrando uma pequena provocadorazinha – riu Alicia segurando firmemente a cintura da mais nova.

Talvez elas começassem com algo, mas Antonieta bateu a porta perguntando se deveria trazer o café das duas até o quarto. Elas riram e gritaram a mais velha que não era necessário e elas logo desceriam para comer na cozinha. Ainda tinham uma manhã para aproveitarem a presença uma da outra e, apesar de soar-lhes tentador, não pretendiam passa-la o dia todo no quarto. Teriam ainda muito tempo juntas posteriormente para repetir a noite que tiveram.

 

N/A: Voltei antes do Fds acabar hehe. Me deem um desconto, tive menos tempo pra preparar esse capítulo.
O importante é que ele está aqui. Agora vamos a umas notícias não muito boas ><
Gente, estou em fim de semestre agora, então minha próxima semana vai ser um tanto conturbada com um trabalho pra entregar e duas provas p estudar. Se tudo der certo eu consigo escrever o próximo no sábado a tarde para atualizar de novo no próximo domingo, então vamos torcer pra dar certo.
Bem, era isso, espero que tenham curtido esse capítulo, infelizmente ele ficou bem menor que o anterior (mas tbm vai ser difícil eu conseguir outro daquele tamanho kkkk, só deixei ele assim pra não deixar ninguém brava cmg por cortar a cena =P )

Bjinhos e até o próximo
;]



Notas:



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