Argentum

Capítulo 85

Naquela segunda, quando Alicia chegou a clínica quase em cima da hora para a única consulta do dia, qualquer um poderia notar a felicidade estampada no rosto da veterinária por meio de um sorriso que não se desfazia por nada no mundo. Talitha, impacientemente, esperou a consulta acabar para entrar no consultório da amiga e a questionar sobre tudo. Quando a mais velha contou que Maia e ela tiveram a primeira noite juntas a garota riu pedindo para que a amiga lhe poupasse os detalhes sórdidos. Alicia rolou os olhos na hora, mas acabou rindo também. Depois desse momento ela acabou por contar como havia sido difícil para ela se segurar, explicou também que Maia tinha inseguranças com as cicatrizes, mas não quis entrar em detalhes sobre o tema e pediu que a amiga não o trouxesse outra vez.

Praticamente o resto todo da semana Alicia passou aguentando as brincadeiras de Talitha toda vez que encarava o celular ou falava com Maia por telefone. A mais nova dizia que a melhor amiga estava com uma cara de trouxa 24 horas por dia desde que havia se acertado com a dona do Rancho e a veterinária não negava, mesmo que ficasse vermelha toda vez que Talitha fizesse piada com o fato delas já terem feito sexo uma vez. Com o passar da semana os motivos de piadas eram os suspiros de saudade que Alicia passou a soltar a cada intervalo livre que tinha. Ela e Maia estavam tendo uma semana cheia de trabalho e isso as impedia de se verem. A esperança da veterinária foi saber que a mais nova viria para a cidade na sexta pela manhã. Alicia esperava continuar com a agenda livre para poder passar a tarde com a namorada já que não poderia ir ao Rancho por ter uma consulta no sábado.

Um pouco antes das 10 horas da manhã Maia chegou a clínica. Os olhos verdes rapidamente notaram Talitha sentada atrás da mesa da recepção. A jovem parecia concentrada em algo, mas ergueu o olhar dos livros assim que ouviu a porta da frente se abrir. Um sorriso surgiu no rosto da mais nova ao notar quem estava passando pela porta. Ela se levantou rapidamente enquanto Maia se aproximava.

– Bom dia Talitha – a dona do Rancho se pronunciou com um sorriso fraco fazendo a mais nova notar que algo não estava certo – Alicia está atendendo?

– Bom dia Maia. Não, ela acabou de subir por uns minutos, já deve estar descendo – respondeu Talitha controlando as piadas e avaliando a clara tensão na mulher a sua frente – Porque não vai entrando? Capaz de a encontrar no caminho.

Maia lançou a jovem um olhar agradecido após se cumprimentarem com um beijo no rosto e logo seguiu para os fundos da clínica pelo corredor que levava as escadas para o segundo andar e a varanda dos fundos. Não teve que andar muito, quando chegou aos pés da escada ouviu a voz e os passos da veterinária descendo os degraus.

– Maia – disse Alicia se apressando nos degraus restantes com um sorriso largo que morreu rapidamente quando a menor ergueu o rosto e ela notou a expressão tensa no sorriso pequeno.

Sem dizer nada a veterinária apenas terminou de descer as escadas e se aproximou da dona do Rancho que tinha os olhos verdes cansados. Maia soltou a muleta que bateu na parede e acabou por cair, mas ela sequer olhou, apenas estendeu os braços e Alicia se aproximou abraçando-a.

– O que aconteceu meu amor? – a mais velha perguntou em um sussurro enquanto sentia os braços finos apertarem sua cintura e o rosto da namorada se esconder contra seu peito.

– Só me abraça primeiro – Maia pediu apertando mais o abraço em volta da cintura da mais velha e sentindo os braços quentes e aconchegantes lhe envolverem e as mãos da veterinária fazerem um carinho lento em suas costas e seu cabelo.

– Foi Carlos quem lhe trouxe? – Alicia perguntou sem parar os carinhos e sentiu a menor assentir contra seu peito – Ele está lá fora? – tornou a perguntar e sentiu Maia negar.

– Mandei-o de volta ao Rancho – a menor sussurrou ainda sem se mover muito.

Alicia concordou entendendo que Maia pretendia ficar ali e ficando ainda mais preocupada com o que poderia ter acontecido a menor. Rapidamente decidiu o que fazer. Deu alguns beijos no topo da cabeça da namorada e respirou fundo antes de chamar a melhor amiga que veio rápido da recepção.

– O que houve? – a jovem perguntou ao ver as duas abraçadas aos pés da escada, mas a mais velha lhe deu um olhar sério pedindo para que ela não questionarem muito.

– Vamos subir – disse Alicia para a amiga – Se houver algum caso urgente você me chama, do contrário apenas remarque para amanhã ou segunda, sim? – pediu vendo Talitha concordar com um olhar preocupado – Você sabe os critérios Litha. Ah, e avise minha mãe sim?

– Pode deixar, aviso Tia Marta sim – a menor confirmou e logo se afastou deixando as duas sozinhas no corredor.

Alicia esperou alguns segundos até ouvir a cadeira da recepção ser arrastada para se voltar para a mais nova em seus braços. Deu um beijo no topo da cabeça de Maia sem interromper o carinho que fazia nas costas da menor.

– Vou te levar para cima ok? – ela perguntou num sussurro colocando o rosto próximo do ouvido da namorada que concordou com um movimento de cabeça – Certo, segure-se em meu pescoço – pediu segurando os braços da mais nova e colocando-os em volta de seu pescoço.

Maia colocou o rosto no pescoço da namorada e se segurou aos ombros da mais velha. Alicia passou um braço por trás dos joelhos da menor e a ergueu nos braços sentindo-a se encolher contra si. Seu coração se apertou ao ver a mais nova tão frágil e ela se apressou para subir, cuidadosamente, as escadas para o segundo andar levando-as diretamente a seu quarto. Todo o caminho foi feito em silêncio de ambas as partes. A veterinária entrou em seu quarto e encostou a porta com o pé e foi para a cama, se sentou na cama, tirou os sapatos com os pés e depois se ajeitou sobre os cobertores e travesseiros até estar com as costas apoiadas contra a cabeceira. Só ai ela decidiu quebrar o silêncio.

– O que aconteceu? – perguntou com voz baixa e calma, suas mãos voltando a fazer carinho nas costas de Maia que agora estava sentada sobre suas coxas.

– Um péssimo encontro – sussurrou Maia de volta, seu rosto ainda colado ao pescoço da mais velha, mas ela já se sentia mais calma, o bastante para começar a explicação sem que Alicia insistisse nisso – Fui ao banco. Descobri que o gerente da agencia é o irmão da Talitha.

– Oh, sim – a veterinária a interrompeu – Eu acho que nunca cheguei a comentar com você isso. Perdão por não dizer, mas o que aconteceu para que ficasse nervosa assim?

– Bom – Maia começou afastando o rosto para encarar Alicia, suas mãos seguraram o pescoço da mais velha enquanto ela encarava os olhos castanhos – Aparentemente ele tomou conhecimento sobre nosso relacionamento e isso o desagradou profundamente.

Alicia tomou alguns segundos para absorver aquelas palavras e compreender o que poderia ter se passado com Maia e Renato. Conhecia bem a personalidade do irmão da melhor amiga, sabia que ele era um homem difícil e, até certo ponto, grosso e intransigente além de muito machista. Não precisou de muito para tirar conclusões sobre como deveria ter sido a conversa de Maia com ele.

– Renato lhe fez algo? – ela perguntou segurando o rosto da menor que ainda estava sentada sobre seu colo – Porque se ele te fez alguma coisa eu juro que dou a ele a surra que ele nunca recebeu na vida – ela completou com um olhar sério que fez Maia soltar um pequeno riso.

– Palavras apenas – a dona do Rancho respondeu suspirando e fechando os olhos – Palavras horríveis, mas ele não foi burro o bastante para erguer a mão contra mim. Estaria preso agora se o tivesse feito.

– Estaria morto nos próximos minutos se tivesse feito – Alicia a cortou, os olhos verdes se abriram encontrando uma expressão transtornada no rosto da veterinária, algo em Maia soube que aquela frase não era da boca para fora – Eu posso imaginar os absurdos que ele deve ter dito. É a mesma coisa sempre quando se trata desse tipo de homem. Sempre soube que Renato era machista ao extremo, deveria ter imaginado que isso o faria um preconceituoso também. Não podia ter deixado você ir falar com ele sozinha, não podia – ela completou negando com a cabeça e baixando o rosto.

– Não se culpe por um defeito de caráter dele – Maia disse segurando as laterais do rosto de Alicia e erguendo-o para que seus olhos se encontrassem – Ele me disse que deveria ir embora. Que ele iria defender e proteger sua honra, sua carreira. Foram coisas assim, com palavras bem mais ofensivas.

– Quero muito ir acertar um soco nele agora – Alicia falou com raiva na voz, mas apenas envolveu a cintura da mais nova puxando-a para perto e fechou os olhos com força.

– Prefiro que continue aqui comigo – Maia respondeu envolvendo o pescoço da maior e colocando os dedos entre os cabelos de Alicia desfazendo a trança que prendia os fios.

Elas ficaram abraçadas ali naquela posição por mais alguns minutos, com Alicia recebendo o carinho em seus cabelos, Maia as carícias em sua cintura e as duas de olhos fechados aproveitando o calor e o cheiro uma da outra que lhes transmitia calma e paz. Depois a mais nova começou a contar o que havia feito e ainda faria a respeito do que Renato havia feito. Explicou que colocou o banco a par da situação por meio de seu gerente em Minas e que deu a instituição a responsabilidade de escolher entre manter Renato no cargo ou perde-la como cliente. Mesmo tendo uma ideia bem básica do tamanho das contas que a namorada possuía em seu nome Alicia já esperava qual seria o resultado daquilo e temeu pela reação do rapaz quando fosse transferido ou demitido. Torcia para que ele fosse transferido para bem longe delas, mas decidiu que tomaria providências se ele continuasse na cidade.

Após isso Maia mudou o assunto falando sobre a consulta que havia marcado com um fisioterapeuta de uma cidade vizinha, consulta que seria na sexta seguinte e pedindo a Alicia se não poderia acompanha-la. A veterinária garantiu que iria remarcar os pacientes para deixar aquele dia livre para elas. Depois de um tempo nesse assunto mais leve da fisioterapia elas se acalmaram e as carícias se tornaram beijos, mas o som da mãe de Alicia chegando em casa as interrompeu fazendo ambas corarem e rirem sem jeito com a situação já que, aparentemente, Dona Marta fez um barulho alto de forma proposital para que fosse notada.

– Posso dormir aqui? – Maia perguntou enquanto elas ainda se encontravam abraçadas sobre a cama.

– É claro que pode – Alicia respondeu sorrindo largo e sentindo os dedos da menor fecharem os botões de sua camisa que ela havia aberto alguns instantes atrás – Vamos nos colocar em ordem e então eu vou avisar Dona Marta que vai ficar aqui. Amanhã te levo ao Rancho ou Carlos vem te buscar, vemos isso na minha agenda com Talitha mais tarde.

Maia concordou com a cabeça dando um sorriso e soltando um suspiro enquanto se afastava do colo da veterinária e ajeitava seu suéter para baixo. Deixaria Alicia ver o que quisesse ver, mas pediria a Carlos para lhe trazer algumas roupas e outros pertences seus. Iria passar aquele fim de semana com a veterinária na cidade, mas Alicia não precisava saber disso tão cedo.

 

N/A: Talvez eu tenha me distraído revisando o próximo capítulo de Who You Are e por isso só lembrei de atualizar Argentum agora?
É, Talvez =P
Não me julguem, foi um motivo de força maior kkkkk.
Maaas cheguei. E prometo responder todos os comentários que não respondia ainda (farei um esforço para colocar essas respostas em dia até amanhã). E amanhã também atualizo os capítulos que faltam de Who You Are aqui, então quem está esperando aproveite para reler os que já estão postados e relembrar hehe

Bjs pessoas.
;]



Notas:



O que achou deste história?

2 Respostas para Capítulo 85

    • Eu vou voltar a frequência de Who You Are, precisava de um tempo livre para revisar tudo e voltar ao ponto que eu queria encontrar, mas já consegui (espero hehe)

      ;]

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