As Peças do Jogo

Capítulo 5 – Tudo se Torna Claro

As Peças do Jogo

Texto: Carolina Bivard

Revisão: Isie Lobo e Nefer

Ilustração: Táttah Nascimento

  • Modificações foram feitas na ilustração para se adequar ao padrão de tamanho do site, eximindo a ilustradora de qualquer distorção da imagem.

Capítulo 5 – Tudo se Torna Claro

Vária estranhou o jeito amistoso que as duas estavam, mediante os minutos que antecederam à saída delas da sala. Não gostou da forma como a bruxa se dirigiu a ela. Tinha vinte e cinco anos e, ser chamada de criança na frente de Amarylis, a irritou. Olhou para a sua Dáma que, num gesto com a cabeça, sinalizou que estava tudo bem. Acompanhou a mulher de andar sensual, saindo pela porta que antes vira Amarylis passar. Dalad levou-a até uma sala em que puderam se sentar.

– O que está acontecendo?

Perguntou Vária, de forma rude. Dalad bufou. Previu que a conversa seria longa e difícil. Depois que retornaram, Vária passou por Amarylis sem a olhar, dirigindo-se para fora da casa, deixando a mulher menor, inerte.

– O que aconteceu? – Perguntou para a sua irmã, furiosa.

– Eu tentei contar tudo de uma forma tranquila, minha irmã, mas creio que ela não gostou de ser enganada.

Amarylis saiu atrás de Vária, tentando alcança-la, antes que esta chegasse à rua. Segurou seu braço, mas foi repelida rudemente.

– Vária, eu não poderia te contar nada! Não compreendeu o que isso significava?

– O que compreendo é que eu fui uma idiota.

– Você não pode sair por esses portões dessa forma. Trevor está à nossa procura e ainda é mais forte do que eu.

– Ah, sim! Eu tenho que tomar você para mim para tudo voltar ao normal, não é? Sua irmã me contou. Me diga, que encantamentos você jogou em mim?

– Nenhum, Vária. Será que não vê que você só me tirou de lá por sermos ligadas?

– O que vejo é que eu sou mais uma peça desse jogo!

Vária voltou a caminhar em direção ao portão, sendo seguida por Amarylis. Quando atravessaram a rua, homens cercaram-nas. As duas ficaram, lado a lado, olhando ao redor os homens que se aproximavam para pegá-las.

– Eu avisei! – Gritou Amarylis, furiosa com a reação que Vária teve, levando àquela situação.

Vária sacou as adagas e puxou Amarylis para perto de si. Ainda trazia mágoa, mas não conseguiria deixar que Amarylis sofresse na mão de quem quer que fosse. Viu Madi e os outros guardas, vindo de encontro a elas, mas, de repente, Amarylis a empurrou para que ela se afastasse, impôs as mãos para o alto e começou a conjurar em uma língua que Vária desconhecia. Um homem pulou na direção de Amarylis e Vária atirou a sua adaga, matando-o, antes de conseguir alcançar o corpo, daquela que tirara sua razão. Um clarão se fez e todos os homens no entorno caíram atingidos pela mágica.

Madi chegou galopando, trazendo um outro cavalo pelas rédeas. Vária ajudou Amarylis a montar, subindo, logo em seguida, na garupa. Dispararam para fora da cidade, cientes de que a perseguição começara.

Galopavam há mais de meia hora, num ritmo acelerado. Madi se aproximou.

– Temos que diminuir, Dáma; os cavalos não suportarão mais tempo.

– Não podemos, Madi. Eu sinto que eles estão se aproximando.

– Então temos que nos esconder, pois não teremos muitas chances se perdermos os cavalos.

– As rochosas. – Falou Vária. – Eu vi um labirinto de arenito, quando viemos. Não deve estar longe. É nossa melhor chance.

Cavalgaram por mais alguns minutos e conseguiram divisar o labirinto de que Vária falara. Se aproximaram e apearam.

– E agora? Se entrarmos, poderemos nos perder.

– Não, se marcarmos as rochas que passamos quando fizermos as curvas das entradas, Madi. Mas não poderemos ficar juntos. Teremos que nos separar. Ficaremos no labirinto até amanhã à noite. Certamente, desistirão de nos procurar aqui. Amarylis, vem comigo.

Madi olhou para sua senhora. Nunca a perdera de vista e não pretendia fazê-lo nessa hora crítica.

– Vá, Madi! Eu irei com Vária. Se algo me acontecer, procure a insígnia onde quer que ela esteja e a devolva para minha irmã. Você sabe como pegá-la, sem ser atingido. Com a minha morte, o feitiço se quebrará e ela saberá como acabar com Trevor.

– Não fale isso, Dáma. Eu o matarei com minhas mãos, antes que isso possa acontecer.

Amarylis sorriu para seu guarda e amigo. Ele poderia ter esse sentimento de lealdade, no entanto, Amarylis sabia que não seria possível cumprir essa promessa. Trevor acabaria com ele, antes mesmo dele conseguir se aproximar.

— Vamos dividir a água, também. Quantos odres temos? – Perguntou Vária.

— Quatro.

– Então, nos dividiremos em quatro grupos.

Se espalharam em silêncio pelas veredas do labirinto. À medida que iam entrando, menos sons escutavam; as respirações ofegantes eram a única coisa que denunciava que estavam sozinhas.  Vária parou sob uma formação que serviria como cobertura sobre suas cabeças. Ela as protegeria do sol intenso até o anoitecer. Se esconderam na proteção de uma parede para que, se alguém passasse, não as visse. O cavalo, haviam deixado pelo caminho, numa das curvas do labirinto. Prenderam as rédeas em uma rocha, para que ele não se dispersasse.

Uma hora se passara e o desconforto do silêncio e dos corpos cansados, começava a incomodar. Apesar de todo o esbravejar, Vária não conseguia conter o crescente sentimento por aquela mulher. O terror de perde-la naquela rua de Telmov, fez com que pensasse em tudo que Dalad havia lhe contado.

Ela estava apoiada com as costas na parede de arenito, enquanto observava, à centímetros de distância, o corpo menor de costas para ela. Passou suas mãos pela cintura de Amarylis, trazendo-a para se recostar em seu corpo. A alcaidessa aceitou o conforto das mãos que a abraçava. Sentiu seu ventre contrair com o contato, além do que algum dia pudesse imaginar sentir, com um gesto tão simples. Vária escondeu o rosto nas curvas do pescoço e aspirou o perfume que, há tempos, fazia suas entranhas reagirem. Um gemido rouco não pôde ser contido, ressoando pelo ar.

— Shiii! Não podemos fazer barulho. – Sussurrou a mulher maior.

– Pelos deuses, Vária! Não sabe o quanto quis sentir você, assim…

– Teremos tempo para isso.

– Será?

Falou rouca, voltando seu corpo de frente para sua guarda-costas e arrebatando-lhe os lábios em desespero. Amarylis não era uma mulher pura, como sua irmã costumava insinuar, mas também não era dada à lascívia. Sentiu a boca ser invadida com fome. As mãos de Vária percorreram o corpo, tateando cada ponto, que fazia a alcaidessa tomar um alento. À medida que as mãos deslizavam pelas laterais, Amarylis estremecia. Os gemidos abafados pelas bocas unidas, elevavam, cada vez mais, a temperatura dos corpos que se moviam desesperados por maior contato. A coxa de Vária se insinuou entre as coxas da outra, que se abriram para receber o contato caloroso em seu íntimo. A guarda-costas desprendeu sua boca dos lábios da mulher menor, para explorar com sua língua a pele macia do pescoço moreno. Outro gemido mais alto ecoou através do ar.

— Shii. Não quer que eu pare, ou quer?!

As palavras eram sussurradas no ouvido e, mais uma vez, o tremor tomou o corpo menor, já em desvario. Amarylis não compreendia como estava tão inflamada por conta de toques sutis, porém a possibilidade da outra parar a condução do ato, fez com que sua excitação aumentasse, vertiginosamente. Ela moveu forte seus quadris, encaixada na coxa da guarda-costas, tentando aplacar seu desejo. Agora, era Vária que gemia alto diante da ação. Ver aquela mulher ali, ávida, jogou por terra a intenção da guarda-costas, que pensava em serenar os ânimos. Puxou a barra da túnica de Amarylis até conseguir entrar com sua mão por baixo, afastando de lado a calça íntima e deslizando sobre o sexo da alcaidessa. Sentiu o calor úmido entre os dedos e uniu novamente os seus lábios aos da outra. Precisava conter os sons que, nesse momento, saiam sem controle de ambas.

A razão não existia mais em nenhuma das mulheres. Vária pensou que chegara ao paraíso, no momento em que sentiu o calor das entranhas daquela morena de cabelos fartos, em seus dígitos. Os corpos começaram a emanar uma luz violeta-intenso. Era como se uma energia tivesse envolvido os dois seres, dando boas-vindas à plenitude que suas almas alcançavam. Vária, tomada pelo momento e desejo, movia-se mais forte e cada vez mais fundo, até que os dedos molhados e o corpo lasso da outra, fizeram contrair o próprio ventre e derramar o próprio líquido, tamanha a intensidade do que sentia. Assustou-se com a força que levou seu corpo a reagir no ato. Arfantes, se abraçaram, escorando-se uma na outra. A luz ainda irradiava, agora na cor azul e, à medida que iam serenando, o prateado passou a vigorar, até que o brilho foi esmaecendo e apagando.

Escorregaram pela parede de arenito até sentarem nas pedras. Vária amparava o corpo delicado. Estavam atônitas. Permaneceram mudas e aconchegadas durante um tempo, cada uma em seus pensamentos. Divagaram sobre a intensidade do ato e da energia que passou por seus corpos. Varia se perguntava o que viria em seguida. Sentia-se diferente… Um pouco perdida. Era como se seu corpo tivesse adquirido a força de dez guerreiros. Sentia que seu coração e as suas têmporas pulsavam.

– Vamos sair. Quero voltar para minha casa.

– Não podemos. Eles, certamente, ainda nos procuram e se voltarmos para a granja, colocaremos as pessoas que estão lá em risco.

Vária falou alarmada, fazendo Amarylis sorrir levemente. Era um sorriso entre a satisfação de perceber os sentimentos que a outra trazia em seu coração em relação à proteção das pessoas e a ironia de saber que a sua alma era de alguém simples e até ingênua.

– Eu disse que quero voltar para casa. A granja não é meu verdadeiro lar. A “Cidade do Princípio” é que é minha casa. Mas vou dar a você um tempo para perceber quem eu sou e quem você é, de verdade. – Sorriu. – Vamos voltar para a granja, pois vou precisar me preparar, e você também. Não se preocupe, eles nunca poderão encontrar a granja. Ela não existe neste mundo, Vária. Por isso Trevor não me encontrou, enquanto estávamos lá.

– Então, o que falou para me convencer a ser sua guarda-costas era mentira?

– Hoje, sabendo de toda a história, você me condenaria? Me dê sua mão e prepare-se.

Não houve tempo para contestações. A mão de Vária foi segura pela outra e tudo pareceu ficar difuso. Fechou os olhos fortemente e quando os abriu…

– O quê? Como…

– Você saberá fazer o mesmo que eu fiz. – Sorriu para a atordoada guarda-costas. –  Uma hora eu lhe ensino, quando já estivermos em nosso legítimo lar. – Olhou à sua volta. – Todos estão bem?

Amarylis perguntava ao grupo de guardas que estavam ao lado delas, juntamente com os cavalos.


Nota: Esta história é curtinha e não demorará muito. Perceberam porque eu falei que o sexo era parte intrínseca da história? Nos próximos capítulos se tornará mais claro. 

Beijos!

 



Notas:



O que achou deste história?

11 Respostas para Capítulo 5 – Tudo se Torna Claro

  1. Pel’amor!! Morena, olhos verdes e ainda com poderes mágicos? Gamei de vez! rs
    É verdade, Vária também é peça do jogo. Confesso que no capítulo anterior eu não pensei por este prisma. E pelo listo, logo também terá magia.
    Vária não conseguiu ficar magoada por muito tempo, tem algo forte as unindo. E aconteceu, com uma força mágica tão intensa que fiquei até com medo delas serem pegas por trevor. E que bom que não.
    Oi Carol, tô aqui, rsrs, Beijão

    • Oi, Fabi! rs
      Vai perceber que eu tenho uma queda grande por morenas de olhos verdes. rrs Tenha certeza que não será a última personagem com essas características. rsrs
      Sim. A Vária e a Amarylis já foram ligadas em outras vidas. Ops, tô dando spoiler?!!! Aff ultimamente tenho ficado linguaruda. rsrs
      Deixa eu parar por aqui, senão estrago a surpresa. rs
      Um beijão Fabi e obrigada!

    • ”…Vai perceber que eu tenho uma queda grande por morenas de olhos verdes..” Já percebi e acho uma maravilha!! ???? kkk Continue assim!
      E quando a ficar linguaruda, também não me importo, ?

    • Oi, Carla de “poucas palavras”. rs Não é uma critica, viu? Só uma brincadeira, pois sinto o carinho que tem, ao comentar.
      Muito obrigada!
      Um grande beijo para você!

  2. Tá mto conta-gotas…
    Eu necessito de mais, mto mais…
    Assim tu me mata de curiosidade pq ler eu já li a mto tempo
    então não me recordo do q acontece… dá uma ajudinha aí.

    k k k

    Bjs, Carol

    • Oi, Nádia!
      Tá à conta gotas, é? rsrs Calma que agora não demora muito. 😉

      É, já a postei em outro site e se não recorda, melhor ainda, pois cada capítulo vai parecer uma surpresa para você. rsrsrsr
      Brigadão pelo carinho, Nádia!
      Um beijo grande pra ti!

  3. Que massa! A alcaidessa voltou a ter magia quando se uniu a Vária? Foi o que entendi. Estou errada?
    Mais, autora, mais!
    Bjs

    • Carol, muito bom! Mas alguém tá te correndo, mulher?!!Escreva tranquila, porfi!
      Desculpe, ainda tô meio pra lá e pra cá pra comentar, mas amei!!
      Boa semana, beijos

    • Oxe! Dois coments em um. rsrs
      Lailicha, você escreveu no coment da Meg, então responderei em partes. rsrs
      Primeiro a Meg:
      Entendeu certo, Meg! Elas tinham que se ligar para que a magia de família acumulada na insígnia pudesse ser liberada e voltasse para ela em sua plenitude. Vária é o complemento da alma de Amarylis. Veremos mais disso no próximo cap. rs
      Brigadão, Meg.
      Um beijão

      Agora Lailicha rsr

      Estou correndo não, Lailicha. É que essa história foi feita para poucos capítulos mesmo. Um exercício para mim numa de conseguir condensar. rs

      Obrigadão, Lailicha e fique tranquila. Tome seu tempo.
      Um beijão pra você!

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