BRINCAR DE COLORIR

10. O reencontro

Laís e Luísa acabam se encontrando algumas vezes por semana. Geralmente saem e voltam para a casa de Laís. O tempo vai passando, já tem cinco meses que estão se vendo com regularidade e Laís se sente feliz, porém ainda pensa em Serena e sente saudades de falar com ela. Apesar do sentimento que tem pela menina cor de leite, se dedica à Luísa, investe na relação que está desabrochando de forma tranquila.

Num domingo à tarde, Luísa propõe andarem pelo centro. Deixam o carro perto do parque e seguem a pé pelas ruas. Luísa mostra os prédios que a encantam, Laís confessa que quase nunca passa por ali e quando passa, nunca presta atenção.

– Gosto de contemplar, um verbo esquecido. – Luísa diz.

Estão caminhando de mãos dadas, entram em uma lojinha de artesanato e compram algumas coisas.

– Vamos ao parque?

– Vamos sim. Se te falar que nunca entrei aqui ficará assustada?

Luísa ri e diz de forma casual.

– Pelo visto estou te apresentando algumas coisas simples que você nunca reparou né?

– Sim e tenho gostado.

Entram no parque e Luísa vai mostrando os lugares que gosta de ficar para ler e relaxar. Passam perto de um pequeno lago e se sentam no gramado.

– Aqui é meu lugar preferido. – diz Marcela encostando em uma árvore.

– Bem tranquilo. – Laís encosta sua cabeça no ombro de Luísa.

De longe vê uma menina de cabelos cor de fogo, pele branca e leva um susto. Força o olhar para ver se de fato é Serena. Ela caminha ao lado de uma mulher que parece oriental. Sente o coração acelerar, já tem uns meses que não a vê e nem tem contato.

Serena e Marcela andam pelo parque e levam uma cesta com alguns petiscos.

– Vamos sentar perto do lago? – sugere Serena.

Sentam do outro lado da margem. Serena não repara nas duas mulheres do outro lado. Arrumam a toalha com as coisas que trouxeram.

Luísa percebe que Laís parece incomodada com algo.

– Tá tudo bem?

Inquieta mas tentando disfarçar, Laís propõe:

– Que tal irmos à cafeteria, me deu fome.

– Mas almoçamos não tem nem duas horas!

Laís se levanta e pega a mão de Luísa:

– Vem, vamos tomar um café.

A médica olha para o outro lado e vê Serena, reconhece a menina com quem conversou há meses nesse mesmo parque e que ainda se falam por mensagens.

– Ah espera Laís, acabei de rever uma conhecida, vamos até lá? Quero cumprimentá-la.

O coração de Laís dispara.

– Que conhecida? A moça japonesa?

– Não, a menina ruiva que está com ela. A encontrei aqui tem um tempinho e adorei conversar com ela. – Luísa vai em direção à Serena.

Laís sem escolha, a segue.

– Oi menina! – Luísa diz com um grande sorriso.

– Luísa quanto tempo!! – Serena diz já se levantando.

Ambas se abraçam e se beijam.

– Marcela essa é Luísa. Luísa essa é Marcela.

Se cumprimentam e Luísa olha para trás e chama por Laís.

– Vem cá Laís, deixa te apresentar a Serena.

Tanto Laís quanto Serena ficam mudas e sérias.

– Boa tarde. – diz Laís num tom sério e sem se aproximar muito.

– Boa tarde. – responde secamente Serena.

Luísa e Marcela estranham, mas não comentam nada. Conversam um pouco e Marcela as convida para se sentarem e compartilharem os petiscos. Laís prontamente recusa.

– Não obrigada, estamos indo embora.

Luísa a olha e estranha sua reação tão seca.

– Bom Serena adorei te rever!

– Também Luísa.

Se despedem e Serena volta a sentar. Quando Luísa e Laís estão a certa distância, Marcela questiona:

– O que houve??

– Por quê??

– Sei lá, você pareceu feliz em ver a Luísa e de repente mudou quando a outra moça apareceu.

Serena fica em silêncio, solta um suspiro e explica:

– Sabe a mulher que te falei?

– Sei sim.

– Então, é essa moça.

– Nossa oooo mundinho pequeno…..

– E por incrível que pareça, a Luísa é a moça do parque que me deu bons conselhos e que nos falamos até hoje. Pelo visto estão namorando. – a sua expressão fica triste.

– Serena pelo que me contou essa Laís mexeu muito com você. Entendo se quiser conversar com ela para definirem de fato a situação entre vocês.

– Já tá tudo definido Marcela, não há nada! – Serena diz de forma ríspida.

– Não parece.

– Desculpa. Fiquei meio puta de revê-la de surpresa. Não quero mesmo saber nada dela. – e dá um beijo na boca de Marcela.

– Tudo bem minha menina. – Marcela a abraça e não sente que Serena fala com a firmeza que gostaria.

Laís e Luísa seguem até o carro sem conversarem.

– Agora pode me explicar sua atitude totalmente estranha? – Luísa diz encostando na porta do carro.

Laís pensa em dar uma desculpa, mas sabe que Luísa é muito observadora e só iria piorar a situação. Resolve falar a verdade.

– Lembra da mulher que te falei quando nos conhecemos?

– Sim, a que te fez se sentir bem e você apenas a excluiu da sua vida.

– Então….

Luísa leva pouco tempo para associar as coisas, olha com cara de assustada e diz num tom baixo:

– Por acaso ela é a Serena??

– Sim é ela.

Luísa lembra da conversa com Serena e depois da confissão de Laís. Está apaixonada, quer fazer dar certo e tem percebido o esforço de Laís, mas ao ver o estado que sua namorada ficou só ao ver Serena, entende que o que ela sentia ainda está ali dentro. Talvez pelo tempo que não se falavam tenha adormecido, mas só ao vê-la e com outra mulher, Laís se sentiu mexida.

– Fala alguma coisa Luísa! – Laís diz impaciente.

Luísa agora fica andando de um lado para outro, tentando ordenar os pensamentos. Estanca de repente e diz para Laís:

– Me leva para casa, agora.

– Vem vamos, lá a gente conversa melhor.

– Não Laís! Quero ir para a MINHA casa!!

Laís se assusta e abre o carro, Luísa senta e fica imóvel o caminho todo.

– A gente precisa conversar Lu.

– Preciso de um tempo para digerir isso.

– Não exagera, só encontramos uma menina que há séculos atrás mexeu comigo. – ela bem que tenta ser convincente.

– Você não viu sua cara quando olhou para ela. – as palavras saem de forma automática e Luísa nem se mexe.

– Apenas me assustei Lu. Não esperava.

Estaciona o carro na frente da casa de Luísa, que tira o cinto e sem olhar para Laís, diz tchau e sai do carro. Laís se sente confusa, pois sabe como seu coração acelerou e o ciúmes que sentiu ao ver Serena com sua namorada. Por um momento esqueceu que estava com Luísa, por isso decide não insistir com sua namorada. Dará o tempo necessário para que ela entenda a situação e tudo volte ao normal.

Luísa senta no sofá da sua sala e fica pensando no que sente por Laís, no que ela lhe confessou sobre o que sentia por Serena e no que conversou com a própria Serena. Entende que entrou nessa relação sabendo o que estava acontecendo, mas com o tempo acreditou que Laís tinha superado seus sentimentos pela menina. Hoje no parque viu que não, no máximo estava adormecido. Por outro lado, sabe que o sentimento de Laís é correspondido pela menina de cabelos cor de fogo, só não vingou, pois o medo de Laís foi maior que a coragem de Serena.

Agora Serena parecia feliz com a moça oriental, mas percebeu como ela ficou estranha quando viu Laís. Será que ela ainda tinha sentimentos vivos por Laís? Ou será que no caso dela, era raiva?

Tomou um banho e ligou o rádio. Estava tocando uma música que ela não conhecia, mas pareceu perfeita para aquele momento. Só não sabia ainda para quais das quatro mulheres envolvidas naquele enrosco:

 

 

 

Amor Não Correspondido

Ronaldo Vila Nova

A solidão sempre machuca um coração sofredor

Só quem não tem sentimento nunca sofreu por amor

Te amo intensamente

Mas você não sente,

Te quero completamente

Alma, corpo e mente

Dia após dia faço de tudo pra chamar sua atenção

Dou um sorriso, olho nos olhos, pego em suas mãos

Mas você não entende

Não percebe o amor que eu ofereço

Você não recebe

Qual é o caminho para eu poder te conquistar?

Todos meus carinhos por você se perdem pelo ar

Será que existe um outro alguém pra você amar?

Me diga se meu esforço é em vão

Ou acabe com essa dor no meu coração

Dói demais ter um amor não correspondido

Eu não quero que sejamos só dois bons amigos

Eu quero te amar pra valer

Tão perto e tão distante de você

Amar assim é como ter sede dentro de um rio

É como estar dentro do fogo e morrer de frio

Me perco no labirinto de seus mistérios

Eu quero com você um caso sério

Qual é o caminho para eu poder te conquistar?

 

Luísa esperava que Laís subisse, tentasse convencê-la que gostava dela e que não sentia mais nada por Serena, porém ela apenas foi embora sem tentar, sem brigar, sem se preocupar com o que Luísa estava sentindo.

Serena e Marcela vão caminhando em silêncio até a casa de Serena.

– Marcela senta aqui. – Serena pede apontando o sofá.

– Fala menina.

– Sabe, eu gostei e acreditei que daria certo com a Laís. Fiquei um tempinho esperando ela demonstrar, isso nunca aconteceu.

– O que você sentiu hoje ao revê-la?

Serena pensa e diz com toda sinceridade:

– Uma dor aqui no peito. Queria perguntar pra ela: por que agiu feito uma cretina?

Marcela abraça sua namorada e diz com tom calmo:

– Minha pequena sereia, ainda acho que é algo sem um ponto final.

– Ela colocou o ponto final Má!!

– Não, ela sumiu. Deixou no ar.

Limpando as lágrimas, olha para Marcela e pergunta:

– E o que sugere?

– Ir até a casa dela e colocar tudo em pratos limpos.

– Sério??

– Sim, ao menos acaba com essa história ou começa de verdade. – Marcela diz com uma pontada de dor, pois apesar do pouco tempo, está apaixonada por Serena.

– Começar algo acredito que não, não quero. Sabe tô feliz com você. Mas finalizar tudo seria bom. Você é linda sabia?

– Vem cá menina. – e a puxa para um longo beijo.



Notas:



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2 Respostas para 10. O reencontro

  1. Será que esse suposto fechamento de ciclo vai rolar?
    Olha, não sei se acredito nessas intenções… Rrrsss…
    Vamos torcer pra que seja o melhor pras duas!
    Mas, bem que eu queria que a cabeça dura da Laís caçasse coragem pra estar com a Serena…

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