Caçadora

3. Vanessa

Revisão: Néfer e Naty Souza

 


 

 

(Brasil, 2017)

Um pombo. Gillian odiava pombos. Na verdade, ele odiava animais. Contudo, aquele pombo estava começando a irritá-lo com o gorgolejar constante, enquanto saltitava no capô da Van.

“Animal idiota”, pensou ele, acionando o parabrisas na intenção de se livrar do pássaro.

Miles se voltou para ele, baixando os binóculos com os quais vigiava o outro lado da rua e liberou o ar dos seus pulmões, deixando à vista uma expressão cansada. Era óbvio que ele estava tão zangado quanto Gillian, afinal, aquele trabalho estava se arrastando por meses sem nenhuma novidade.

— Cara, por favor, diz que é ela! Não aguento mais esse trabalho. — Pediu Juan, no banco traseiro.

Gillian ajustou o retrovisor para observá-lo enfiar um punhado de batatas chips na boca. Aquele sujeito o irritava muito mais que os pombos. Porém, era deveras competente em seu trabalho, então relevava sua grosseria e falta de educação como, também, o péssimo hábito de transformar o carro em um lixão.

— Não tenho certeza — respondeu Miles. — A altura e tipo físico batem, mas não posso afirmar que seja ela dessa distância. No entanto, existe uma chance. É a segunda vez que ela aborda a professorinha.

Recolocou os binóculos e algum tempo se passou até que voltasse a se pronunciar. Somente o som das batatas, sendo esmagadas pela mandíbula de Juan, se fazia ouvir dentro do carro. Nervoso, Gillian ligou o rádio e recebeu um olhar agradecido de Miles. Assim como ele, o companheiro detestava a presença do rapaz no banco de trás, mas nada podiam fazer a esse respeito, já que tinham sido escolhidos, à dedo, para realizar aquela tarefa.

— Estamos vigiando essa mulher há dias e ela é tão chata quanto uma foca tomando banho de sol — Juan reclamou, revirando os olhos no retrovisor. — Por que não pegamos logo essa mulher? Damos uma prensa e ela vai cantar como um passarinho.

— Tenho mesmo que responder a essa pergunta estúpida? — Miles se voltou para fitá-lo.

Juan sorriu com os dentes cobertos por uma massa de batatas semi-mastigadas, divertindo-se em deixar o companheiro nervoso. Compreensivo, Gillian tocou o ombro de Miles, pressionando com um pouco de força. O homem exalou, impaciente, e retornou para a vigília.

— Você já trabalhou com “ela”? — Gillian questionou Juan.

O rapaz deu de ombros, despreocupado.

— Não.

— Então, não volte a fazer perguntas idiotas.

— O que eu disse de tão errado assim? — Juan quis saber.

Miles se voltou para ele, outra vez. Uma veia saltitava, perigosamente, em sua testa. Dias enfiados naquela van com aquele estúpido estavam fazendo ele perder o equilíbrio de suas emoções. Juan era um parvo e Miles pegou-se a imaginar a razão de ainda não ter sido assassinado pelos companheiros de serviço. Seria tão fácil! Só precisariam dizer que morreu durante um combate.

A ideia lhe agradou profundamente e fez uma anotação mental de retornar a ela no futuro.

— O que Gillian quer dizer é que “ela” é muito esperta, e não é à toa que é considerada a melhor que existe nesse ramo — respondeu com um suspiro agastado.

— Por que você acha que Aquiles a quer morta? — Rosnou Gillian, tamborilando os dedos no volante.

— Porque ela fugiu da cadeia, invadiu a mansão dele e roubou todos os dados de suas transações e clientes — Juan respondeu com uma simplicidade quase brutal, ainda exibindo um sorriso sujo de batatas. — Como é aquele ditado mesmo? “Ladrão que rouba ladrão…”

Ele coçou o queixo, esforçando-se para recordar o resto da frase. Por fim, desistiu. Jogou o saco de batatas vazio no piso da Van e se inclinou para a frente, esticando os braços sobre o banco que os outros dois ocupavam.

— Qual é, caras! Vocês têm que admitir que é irônico o “chefinho” ser roubado por alguém que ele treinou para roubar os outros — riu. — Mesmo assim, acho que foi apenas sorte. Ela pegou o chefe de surpresa, não é para tanto. Não entendo essa atmosfera de constrangimento que se forma sempre que tocamos no assunto.

Gillian trincou os dentes, contendo-se para não puxá-lo sobre o banco e apagar seu riso debochado com socos. Às vezes, sonhava com aquilo. Ao seu lado, Miles balançou a cabeça, respirando fundo.

— Já faz um ano, seu imbecil! Um ano! A nossa organização tem poderes quase ilimitados. Somos mais equipados que algumas agências de espionagem e, no entanto, não conseguimos encontrá-la! Isso parece sorte para você?

— Tudo o que temos, é uma vaga pista de que ela está aqui, no Brasil — Miles completou. — E quando digo “vaga”, é realmente vaga. Ela sabe, como ninguém, encobrir seus rastros.

— Tem buscado apoio entre os inimigos do chefe e ele tem um monte. — Gillian resmungou.

— Trabalhamos juntos algumas vezes e, em todas elas, a Caçadora era uma mulher diferente. Não vamos encontrá-la dando sopa na esquina. Isso vai nos tomar muito tempo de observação. Então, cale essa boca e faça seu trabalho ou, pelo menos, não nos atrapalhe.

O rapaz ergueu as mãos, dando-se por vencido.

— Tudo bem, tudo bem! Só me expliquem uma coisinha.

Gillian revirou os olhos, massageando a arma na cintura. Bufou:

— Fala!

— O que uma professora do jardim de infância tem a ver com uma ladra internacional?

Os dois homens se encararam, dando de ombros. Não tinham a menor ideia.

 

***

 

— Tia Vanessa!

A professora baixou o olhar para o rostinho molhado pelas lágrimas e se ajoelhou para ficar na mesma altura da menina. Ela percebeu a marca que os dedinhos sujos de achocolatado deixaram no tecido branco da sua blusa com um leve arquear de sobrancelhas.

Com um sorriso, acariciou a face infantil, enxugando as lágrimas com as costas das mãos, enquanto uma leve brisa às envolvia, trazendo o aroma do conteúdo das lancheiras e lavanda infantil. A menina fungou e um pouco de muco escorreu do seu nariz. Vanessa retirou um lenço de papel do bolso e a limpou carinhosamente. Recebeu um sorriso agradecido da pequena, que ameaçou chorar novamente, quando começou a falar.

Vanessa se esforçou para manter-se séria diante do problema dela, mas não resistiu ao ver sua amiga, Beatriz, se aproximar com um sorriso maroto e duas xícaras nas mãos. Ela tinha ouvido parte da conversa e agora lhe dirigia um olhar engraçado, como se estivesse terrivelmente atormentada pelo fato de que os meninos não queriam deixar uma menina jogar futebol com eles.

A professora se ergueu, passando a mão sobre a cabeça da criança. Alguns cachos se desfizeram ao seu toque. Então, a conduziu até o grupo de meninos, que jogava bola no meio do pátio. Riu dos rostinhos emburrados dos pequenos “homenzinhos” quando lhes falou que as meninas também poderiam jogar futebol tão bem ou melhor que os meninos. 

— Mas, tia, ela é um bebê chorão, as meninas só sabem chorar! — Um garotinho de rosto sardento reclamou, cruzando os braços sobre o peito e fazendo bico.

Vanessa reprimiu a vontade de gargalhar com a cena. Em vez disso, sorriu complacente.

— Não seja tão precipitado. Dê uma chance à sua coleguinha.

O bico dele aumentou, enquanto as bochechas ficaram vermelhas.

— O que é precip… preci…?!

Ela explicou com calma, fazendo um cafuné no garoto. O pequeno “homem” balançou a cabeça, indicando que havia compreendido e ela retornou ao motivo da conversa.

— Como pode ter tanta certeza de que a sua coleguinha não sabe jogar se não lhe dá uma chance?

O menino fez uma careta e deixou os ombros caírem, vencido.

— Ah, bom! — Chutou uma pedrinha imaginária e correu de volta para o pátio com a menina em seu encalço.

Pela primeira vez àquele dia, Vanessa deu um sorriso de verdade e retornou para junto de Beatriz. A amiga lhe entregou uma das xícaras que segurava, com um risinho divertido, então a convidou para sentar em um banco próximo.

— Não sei como você consegue. — Disse ela. — Resolve os problemas dessas crianças com duas palavras, enquanto eu mal consigo manter minha autoridade, sem fazer um deles chorar.

— Não é uma questão de autoridade — Vanessa afirmou.

— Nem vem! Já conheço todos os seus argumentos e concordo com a maioria. Mas ainda me eto com a facilidade que você tem para falar com eles. Toda essa paciência… — Beatriz balançou a cabeça. — Eles me assustam!

— São só crianças! — Vanessa a repreendeu.

— Monstrinhos, você quer dizer. Não me iludo com esses rostinhos de anjo.

— Céus! Você tem problemas!

Beatriz fez uma careta, então soprou dentro da xícara e tomou um gole. Ela fazia o mesmo discurso todas as manhãs. E, realmente, não tinha o menor jeito para o jardim de infância. Gostava mesmo era de trabalhar com adolescentes, mas naquela escola exercia apenas o cargo de secretária da diretoria.

Vanessa demorou-se um pouco a observar o sorrisinho maroto nos lábios dela. Por fim, deu de ombros, tomou um gole do chá e desviou o olhar para uma nuvem no céu, cujo formato lembrava uma girafa. A inocência infantil era o que a atraía naquela profissão. Amava os pequenos, a doçura com que enxergavam o mundo, ainda intocados pela maldade e ambição. Era fácil conversar com eles e paciência nunca lhe faltava.

Beatriz era sua amiga mais antiga e entendia bem o que ia em seu coração, mas divertia-se em amolá-la com aqueles comentários.

— Nem parece que algo aconteceu — Beatriz afastou o silêncio em que caíram, olhando para a garotinha com quem Vanessa conversava minutos antes. A menina corria atrás de uma bola com um sorriso de orelha a orelha. — Acho que vamos ter uma campeã daqui alguns anos e você poderá contar, cheia de orgulho, como a incentivou no esporte.

— Incentivei? Não seja exagerada, Bia.

— Quando ela estiver erguendo a taça dos campeões da Copa do Mundo, quero ver você me chamar de exagerada de novo — fez um bico, então caiu na risada.

Quedaram-se em silêncio, outra vez. No céu, o vento desfez a nuvem girafa e ela começou a ganhar uma nova forma. Sem perceber, Vanessa acompanhou a transformação, deixando a mente deslizar por lembranças de uma época mais feliz, quando passava horas deitada na grama olhando para o céu ao lado de alguém que partiu antes da hora. Naquela época, era mais fácil sorrir, assim como, também era mais fácil chorar.

Dez anos antes, disse a si mesma que a dor da perda de Diana ia passar, iria se erguer e continuar seu caminho. Chegaria o dia em que Diana se tornaria apenas a lembrança de um rosto dentre tantos outros em seu passado. Mas o tempo passou, e a lembrança da namorada falecida permanecia vívida, cada vez mais profunda em sua alma.

Desde que ela morreu, poucos foram os momentos em que se sentiu, realmente, viva. Poucas foram as pessoas que conseguiram ultrapassar a muralha que ergueu em volta de si mesma, por medo de sofrer outra perda como aquela.

No entanto, as coisas estavam mudando. Aos poucos, recuperava partes da Vanessa de dez anos atrás e o motivo tinha nome: Cristina. Era o rosto dela que via naquela nuvem, embora tivesse tomado a forma de um urso muito fofo.

— Está me ouvindo? — Beatriz a chamou, pousando a mão no seu braço.

Desconcertada, Vanessa trouxe o olhar de volta à amiga e mostrou um sorriso sem graça.

— Desculpe, estava distraída. O que dizia?

A xícara de Beatriz quase escapou da mão dela quando fez um gesto de descaso. Ela falou:

— Perguntei se gostaria de ir ao cinema mais tarde. Minha irmã e o namorado me convidaram, mas não estou a fim de servir de vela para os dois. Pensei que, talvez, você gostasse de ir e poderíamos tomar alguma coisa depois.

Não era uma má ideia, fazia um bom tempo que Vanessa não saía com a amiga, mas declinou do convite.

— Fica para outro dia, Bia. Vou sair com Cristina — sorriu, recordando a namorada, que planejava o jantar daquela noite há uma semana.

Vanessa suspeitava que a razão de tanto planejamento era a caixinha de joias que Cristina carregava na bolsa. Um acaso a fez encontrá-la no dia anterior. Não era uma aliança, Vanessa tinha prometido que nunca mais voltaria a usar um anel do tipo. Deixou Cristina ciente disso em uma conversa despreocupada no início do relacionamento, entretanto não revelou os motivos.

— Ela quer comemorar seis meses de namoro — explicou para Beatriz.

— Isso é fofo!

— Ela é um doce. Nem consigo acreditar que estamos juntas há tanto tempo.

— Nem eu! — A amiga declarou, fazendo uma ligeira careta. — Depois daquela peste da Mariana, você não engatou namoro com ninguém. Só relacionamentos passageiros. Até te estranhei, você não é disso.

As mãos de Vanessa se balançaram no ar como se ela estivesse a etar um pensamento ruim. Beatriz o repetiu, dizendo:

— Não está mais aqui quem falou. Só de pronunciar o nome daquele “ser”, já sinto as energias negativas se aproximando.

Vanessa concordou, enquanto a via movimentar os dedos, dando a entender que varria as tais energias para longe. 

Aquele não tinha sido um relacionamento saudável. Era verdade que, apesar dos problemas, Vanessa insistiu em continuar ao lado de Mariana. Iludia-se com a paixão que a moça lhe inspirava, pensando ter encontrado a pessoa que, finalmente, a faria voltar à vida. E foi assim por um tempo.

Mas tudo não passou de uma doce ilusão de um coração triste e solitário, que ansiava um pouco de calor e vida. Mariana era possessiva, tinha um ciúme doentio e, por vezes, foi protagonista de escândalos que culminaram no afastamento de alguns de seus amigos.

Três anos haviam se passado desde que o casamento de dois anos acabou e Vanessa ainda sentia arrepios ao ouvir o nome dela, que não aceitou bem o fim do relacionamento e passou a perseguí-la. Quando menos esperava, dava de cara com Mariana na rua ou vigiando sua casa à noite. A ex foi a causadora de muitos transtornos e da sua demissão de um dos melhores empregos que já teve.

Mariana lhe roubou o sossego e o sono. Andava uma pilha de nervos à espera de que ela saltasse à sua frente a qualquer instante. Foi um período perturbador e Vanessa chegou a considerar a possibilidade de se mudar para outra cidade, contudo, Beatriz a convenceu do contrário. Fugir não resolveria o problema, pelo contrário, só lhe daria uma falsa sensação de segurança e a tornaria prisioneira de seus próprios medos.

Vanessa sorveu um grande gole de chá, enquanto Beatriz se distraia ao digitar uma mensagem no celular. O nome de Mariana continuou ressoando em sua mente e, involuntariamente, recordou seu último encontro com ela.

 

Voltava da casa de Beatriz, tarde da noite. Estava um pouco alta depois de algumas taças de vinho, tomadas em excesso, e isso lhe devolveu um pouco da coragem da qual não era dona desde que a ex passou a infernizar sua vida. A amiga queria que passasse a noite na casa dela, todavia Vanessa se negou a ficar. Então, Beatriz decidiu chamar um táxi, mas novamente, ela recusou. Disse que queria dar uma caminhada à luz do luar.

Como fazia semanas que não via Mariana, imaginou que ela, finalmente, tinha se dado por vencida. Ledo engano.

Um quarteirão antes da sua casa, notou alguém a seguindo. Preocupada, acelerou o passo e respirou aliviada quando alcançou o portão da residência. Procurava a chave que o abriria quando a ex-namorada a jogou contra a parede. Mariana era mais alta e mais forte fisicamente, além disso, o fato de Vanessa não estar totalmente sóbria lhe forneceu vantagem.

Mariana não aparentava o descontrole costumeiro, pelo contrário, falava friamente e agia com premeditação. Tentando escapar de suas garras, Vanessa a estapeou. Em resposta, Mariana encostou um canivete na garganta dela. Naquele dia, Vanessa viu a morte prometida nos olhos da ex, que abafou seu pedido de socorro com a mão e a pressionou contra o muro, onde a luz do poste, do outro lado da rua, não tocava.

— Se não quer ser minha em vida, será na morte. — Afirmou a ex, e aquela foi sua última ameaça.

— Isso não é nada romântico. — Disse alguém.

Das sombras, a pessoa que falou se materializou. Pelo menos, era assim que Vanessa se recordava, mesmo sabendo que foi a impressão de uma bêbada. Não foi possível ver o rosto, mas as formas de uma mulher eram claras. Ela puxou Mariana para o meio da rua, atirou-a no chão com força e o canivete deslizou com ruído até a sarjeta.

Com a respiração entrecortada, pelo medo e algumas lágrimas que não ousaram ir além de seus olhos, Vanessa assistiu a ex-namorada se erguer e partir para cima da estranha. Mariana orgulhava-se de ser uma praticante de jiu-jitsu, ágil e habilidosa, mas naquela noite, ela foi golpeada repetidas vezes e, por fim, atirada ao chão como um saco de areia, onde se dobrou sobre o próprio corpo, cuspindo sangue e vomitando o conteúdo do estômago, dando-se por vencida.

— Você está bem? — A salvadora perguntou, ainda envolta pelas sombras, já que estava de costas para a luz.

Alguns segundos se passaram, até Vanessa compreender que era consigo que a estranha falava, fitando-a do meio da rua com Mariana, quase inconsciente, aos seus pés.

— Sim — respondeu, após a mulher repetir a pergunta.

Vanessa deslizou a mão pelo pescoço, onde um filete de sangue traçava caminho até seu colo e foi tomada por uma vertigem repentina. A mulher com quem dividiu um lar, com quem fez planos e sonhou, que dizia amá-la, tinha tentado matá-la. De repente, seu peso era demais para as pernas sustentarem e ela escorregou pelo muro até o chão, sentindo o sangue morno macular a blusa branca que vestia.

A estranha se aproximou devagar, retirou um lenço do bolso e lhe entregou.

— Obrigada — Vanessa balbuciou, os olhos fixos em Mariana, que havia ficado imóvel no chão. — Ela… ela está bem?

— Ficará e você também. — A mulher afirmou, então voltou para junto de Mariana e a ajudou a ficar de pé.

A moça deu alguns passos trôpegos e ameaçou voltar para o chão, mas a mulher enlaçou sua cintura e a guiou pela calçada, rumo ao fim da rua.

— Espere! — Vanessa pediu, ficando de pé e indo até elas. — Para onde a está levando?

Sua salvadora parou e se voltou para olhá-la. Estavam ainda mais longe do poste, completamente envoltas pela escuridão. Uma moto passou em alta velocidade e, por um breve momento, Vanessa vislumbrou um rosto alvo e bonito, carregado de mistério, que lhe enviou um meio sorriso antes de se voltar para a escuridão. 

— Cuide-se, Vanessa. Ela não vai mais incomodar.

Alguns metros adiante, um carro acendeu os faróis e Mariana entrou nele junto com sua heroína. Os pneus cantaram, quando o veículo partiu em alta velocidade, deixando uma Vanessa confusa, mas aliviada.

 

A estranha tinha falado a verdade. Prova disso, era o fato de que Mariana não voltou a incomodá-la. Desde aquela noite, quando o acaso as colocava na mesma calçada ou local, Mariana cortava caminho ou saía pela primeira porta que visse, sem lhe dirigir um único olhar.

Vanessa nunca contou para alguém o que aconteceu, contudo, volta e meia a lembrança daquele encontro retornava aos seus pensamentos. Era estranho, mas gostava de pensar que havia um anjo zelando por ela. Ao mesmo tempo que a ideia lhe agradava, também a deixava triste, pois imaginava que o “anjo” era Diana, o grande amor de sua vida, cuja morte levou cedo demais.

 

***

 

— Cara, por que as mulheres mais gatas são sempre lésbicas? — Juan perguntou.

Miles passou a mão no rosto, torcendo para que Gillian chegasse logo para rendê-lo. Se passasse mais uma hora com aquele imbecil, iria matá-lo.

Estavam parados diante da casa de Vanessa. Desta vez, dentro de um carro popular, que, de tão pequeno, mal lhes permitia esticar as pernas e isso aumentava a irritação do capanga.

— Está certo que a professorinha é uma chata, mas até que é gostosa. E aquela loira que ela namora? Que mulherão! Queria ser uma mosquinha para ver o que elas estão fazendo agora — Juan sorriu malicioso.

Era a gota d’água. Miles não suportava mais, encostou a cabeça no volante, imaginando qual teria sido sua falta para que Aquiles o punisse com uma companhia tão desagradável. Abriu a boca para insultar aquele traste, no entanto, a chegada de Gillian o impediu.

O terceiro integrante da equipe deu três batidinhas na janela do carona e curvou-se para fitar os outros dois, quando Juan a abriu.

— Que cara é essa? — O rapaz perguntou.

Gillian balançou o celular, diante de seus olhos. Nos lábios ressequidos e finos, ele tinha um sorriso quase satisfeito.

— O chefe mandou pegar a professora. — Respondeu.

 

***

 

Cristina sorriu, com um jeitinho cafajeste. Vanessa a puxou para si, devorando seus lábios com um beijo sugado. Estava encantada com ela, com seu carinho e dedicação. Começava a achar que, finalmente, seu coração ia sossegar depois de tanta solidão.

Quando Cristina disse que iriam jantar e comemorar os seis meses de namoro com uma noite especial, não imaginava encontrá-la em sua casa com velas espalhadas por todos os lados e pétalas de rosas no chão.

Não era a coisa mais romântica que já tinham lhe feito, contudo era refrescante e alegre receber o carinho da namorada. Cristina, às vezes, se mostrava um pouco atrapalhada com o andar da relação e isso costumava se refletir em um pouco de insegurança quando tentava realizar gestos românticos. Vanessa achava isso gracioso, principalmente, quando ela confessou que esses receios vinham do fato de que nunca quis tanto alguém como a queria.

Cristina tinha se esforçado para fazer daquela noite um momento perfeito, para que Vanessa soubesse o quanto era amada. 

— Onde pensa que vai? — Vanessa questionou ao vê-la se afastar de seus braços.

Cristina ficou de pé, deixando que a namorada admirasse o corpo curvilíneo, de pele alva, completamente desnudo. Ela sorriu, deslizando um dedo pelo ventre de Vanessa, demorando-se a traçar caminhos imaginários pelos fios negros.

— Preciso de um copo d’água para recuperar minhas forças e dar início ao segundo ato — respondeu com um sorriso malicioso, já se afastando do sofá, onde tinham acabado de se amar.

Vanessa riu e a puxou de volta.

— Também tenho sede, minha linda. Mas é sede de você!

Grudou os lábios aos dela, em um beijo sufocante. Deslizava as mãos pela pele arrepiada e quente, até encontrar o sexo úmido que se abriu para recebê-la. Escorregou dois dedos para dentro dele, arrancando um gemido de prazer da namorada que sussurrou palavras obscenas no seu ouvido, movimentando-se cada vez mais rápido em busca do clímax que seus dedos prometiam.

Cristina a enlouquecia de desejo e Vanessa amava se aventurar em suas curvas, em seus beijos e gemidos. Era tudo tão natural e verdadeiro com ela, suave e, às vezes, selvagem. Seus olhares estavam fixos um no outro, quando Cristina disse que a amava entregue ao ápice que se aproximava.

— Cara, isso é melhor que filme pornô — disse uma voz masculina e as duas se afastaram de um pulo, protegendo a nudez com as almofadas.

Havia dois homens armados, parados na entrada do corredor que levava aos quartos, e um terceiro surgiu na porta que levava à cozinha. Aquele que falou, sorria malicioso, devorando as duas mulheres com olhos negros como piche.

— Agora esse trabalho está ficando interessante! — Juan falou.



Notas:



O que achou deste história?

Uma resposta para 3. Vanessa

  1. k k k
    Essas duas literalmente:
    Entrei de gaiato num navio
    Entrei, entrei, entrei pelo cano
    Entrei de gaiato
    Entrei, entrei, entrei por engano
    k k k

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