CARPE DIEM

Carpe Diem

“Não importa o que dizem a você, palavras e ideias podem mudar o mundo. ”
Sociedade dos Poetas Mortos

 

 

Muitos não se arriscariam em se aproximar daquele galpão abandonado, pois sabiam que geralmente drogados frequentavam aquela região, vazio e solitário, ou seja o lugar perfeito para fazer alguém falar. Os sons eram ritmados e cada vez mais fortes.

 

– PARA, PORRA! EU JÁ DISSE QUE NÃO SEI DE NADA! – cuspia sangue com a respiração ofegante.

– Não me faça perder a paciência com você! Desembucha o nome do seu chefe, e quais foram as ordens! – Dionísio falava entredentes, segurando o homem pela gola da camisa imunda.

– Já disse que não sei de nada, chefia! – tentou recuar, arrastando-se no chão.

– Vou ter que refrescar a sua memória? – sua voz era branda.

 

Disse, saindo da escuridão deixando que a luz que mal iluminava o lugar, tocasse seu corpo. O homem estreitou os olhos buscando na memória aquele rosto, foi quando olhou aqueles olhos negros sérios e a arma em sua mão; que um ligeiro sorriso brotou em seu rosto de barba mal feita.

 

– De você eu me lembro… estava junto daquela… – tentando recordar – Qual era o nome dela?  – sorria com escárnio – Não importa mais, já que eu me diverti muito com ela.

 

A sua risada não durou mais que dois segundos, o som estrondoso e o tiro em seu escroto o fizeram uivar de dor. Aproximou-se, agachando ao seu lado fazendo o seu joelho pressionar a traqueia do interlocutor, passando o cano quente da arma no rosto que gemia de dor. Havia uma sombra perigosa em seu olhar, acompanhando de meio sorriso em seu rosto.

 

– Acredito que terei mais prazer em tirar as informações de você… –  a voz soou baixa e enraivecida.

 

8 MESES ANTES…

 

– Oh Barbosa! Temos um presentinho para você direto do 4° distrito.

 

Finalizou o adversário no chão imobilizando o braço, duas batidas rápidas no chão em sinal de rendimento. Levantou ofegante ficando ereta, de olhos fechados colocou a mão no pescoço estralando em seguida. Esticou a mão ajudando o oponente a levantar.

 

– Precisa melhorar o seu contra ataque! – Sorriu de lado.

– Caramba, Barbosa – apertando o ombro – Tu quase desloca o meu ombro, mulher!

– Seja homem, Fernandes! Na próxima vez que eu disser que precisa treinar, obedeça!

 

Jogando a garrafinha de água para o colega, Íris Barbosa bebeu um longo gole da sua própria antes de deixar o tablado e ir ver o que Manuel queria.

 

– Que porcaria você arrumou agora para mim? – questionou observando o homem alto e robusto.

– O de sempre; novatos! – desdenhou sem desviar o olhar do corpo da outra.

– Antunes deve me achar com cara de babá! – disse irritada – Quero uma equipe pronta, e não um bando de crianças que acabaram de sair da academia – falou mal humorada.

 

O homem deu um sorriso grosseiro, dando passagem para a jovem atrás dele.

 

– Sério isso? – olhando por um segundo o corpo menor – Acho que está no andar errado, mocinha. – desdenhou voltando para o tablado – Departamento jurídico é no andar de cima.

– Hahahaha… Que isso Barbosa? Diz um oi para a menina, afinal ela é a nova integrante da sua equipe. – encostou na parede cruzando os braços – Vai lá, garota! – deu um leve empurrão em seu ombro, incentivando a aproximação.

– Agente Leandra Menezes; vim transferida a pedido de seu Delegado. – Apresentou-se sem se afetar pelo desdém da outra.

– Qual é a sua especialidade? – avaliando o porte físico da mulher mais baixa.

– Armas brancas, combate corpo a corpo e hackear sistemas.

– Qual arte marcial? – investigou.

– Defesa pessoal na verdade – observou a sobrancelha levantando sutilmente – Krav maga.

– Uma Kravista. Hmm… – pressionando o maxilar – Fernandes? – chamou.

– Sim? – respondeu alongando o braço.

– Treino rápido! – ordenou.

 

Disse saindo do tablado, sentando-se. Leandra olhou sem entender por um instante, tirou o coldre com a arma, colocando em cima do balcão e retirou os sapatos entrando no tablado avaliando com cuidado o seu adversário. Breve reverência. O combate não durou um minuto, Fernandes tentou usar o seu tamanho para ter vantagem sobre o corpo menor, agarrando e imobilizando. Com agilidade e precisão, Leandra desferiu uma sequência rápida sem atingir as áreas do adversário por ser tratar de um treino, derrubou ele no chão prendendo entre suas pernas o pescoço grosso, batidas rápidas de rendição encerraram o combate.

 

Íris nada disse, estreitou os olhos, ouvindo o chamado do rádio transmissor, atendeu trocando meia dúzia de palavras e confirmando, em seguida fazendo sinal de círculo com o dedo para os demais que entenderam, saindo em seguida.

 

– Ela é sempre assim? – Leandra questionou, levantando-se.

– Não, geralmente ela não é tão gentil. Vamos, estamos sendo chamados.

 

***

 

– Deixa eu te falar qualé a seguinte da parada – fala agitada – Meu patrão quer esse bagulho aí sendo distribuído até o fim do dia, ou a chapa vai esquentar, cê tá ligado? – ameaçou.

– Leve esse cidadão para delegacia, pego em flagrante por porte ilegal de armas, drogas, resistência à prisão, só para começar. Lá eu terei uma conversa mais amistosa com ele. – Barbosa ironizou.

 

Íris passou a mão na testa, olhando o barraco que parecia desabar a qualquer momento. Atenderam um chamado sobre possível movimento de tráfico, arrombaram a porta dando ordem de prisão. Houve trocas de tiros, resultando em um bandido morto e dois feridos.

 

– Vejam isso! – Gonçalves chamou – A novata tropeçou no que parece ser um alçapão. – estourou o cadeado, abrindo-o – Mercadoria da pesada – constatou pela quantidade de drogas e armas escondidas ali.

– Descobrimos um belo ninho de cobras aqui. – Íris olhou para Leandra – Continue tropeçando assim, quem sabe achamos o cativeiro do “Munhez Teixeira” – saiu dando ordens.

 

Dionísio aproximou-se, tocando-lhe o ombro.

 

– É o mais próximo de um elogio que alguém obteve dela. – sorriu.

– Que sorte a minha! – olhou aborrecida pela maneira que estava sendo tratada.

 

***

 

Íris jogou a bituca de cigarro no chão, apagando com a bota. Colocou a mão por dentro da blusa em busca do cordão, pegando a sua aliança, colocando-a em seguida. Agora sim estava pronta para deixar o trabalho da porta de sua casa para fora e poder curtir uma noite sossegada ao lado de sua companheira Luiza.

 

– Amor? – deixando as chaves sobre a mesa, seguindo até a cozinha – Hmmm que cheiro bom! – beijando-lhe a nuca.

– Oi querida, chegou cedo hoje. – virou, ficando de frente – Estou preparando aquele cozido que você adora. – envolvendo o pescoço da outra.

– O que seria de mim, sem você em minha vida? – tomou a boca com vontade.

– Provavelmente estaria comendo porcarias e acabando com o seu físico. – apertando a sua cintura – Andou fumando?

– Só um para relaxar. – disse sincera.

– Espero que sim. Não quero pensar que acabou baleada por não ter fôlego para fugir de algum tiroteio. – tocando-lhe a face carinhosamente.

 

Íris pensou que jamais fugiria de um tiroteio, era mais provável jogar-se de cabeça em um. Apenas sorriu tranquilizando a beleza negra a sua frente.

 

– Vou tomar um banho, já volto.  – deu um selinho.

 

A água quente caía em seu corpo relaxando a musculatura, suspirou ao sentir as mãos pegando em seus seios de forma possessiva. O calor dos lábios carnudos em seu pescoço, virou ficando de frente para ela. Chupou seus lábios devorando a boca. Luiza abraçava, tocava, apertava aumentado o prazer de ambas. A boca gulosa de Íris desceu para o pescoço fino deixando a sua língua fazer o caminho até os seios fartos, mamando ora um ora outro. Luiza suspirava sentido o calor da boca quente e o frio do azulejo em suas costas. A policial estava excitada demais, devido adrenalina daquela tarde, abaixou e sugou com vontade o sexo de sua esposa. A sua língua brincava no clitóris, enquanto seus dedos entravam fundo estocando rápido e forte. Luiza colocou a perna em seu ombro empurrando a sua cabeça pedindo por mais contato. Íris mordiscava os grandes lábios antes de lambê-los, a penetrando fundo com a língua.

 

– Ai amor! Que delicíaa – de olhos fechados, mordendo o seu lábio inferior, rebolava gostoso na língua faminta – Vou gozar em sua boca… – arfava – Ainnn mais rápido… isso… ain… amoorr!! – seu corpo estremeceu, sendo amparado pelas mãos fortes da morena ajoelhada.

 

Fez caminho de volta sedenta, deixando uma trilha molhada pelo corpo cheiroso de sua fêmea. A sua língua era sugada, as suas mãos massageavam e sentiam o peso dos seios de Luiza, abriu mais as pernas sentindo o dedo longo acariciando o seu sexo. A mordida forte em seu ombro a deixou mais excitada.

 

– Adoro o seu cheiro – lambia o pescoço moreno – Fico molhada só de pensar quando você saca a sua arma e mostra quem é que manda! – desferiu um tapa forte no rosto de Íris – Mostra quem é que manda aqui em casa, mostra… – lambeu os lábios que tremiam tamanho tesão.

 

Os olhos pareciam duas pedras de ônix, arrancou Luiza do box levando-a para cama e jogando nela sem delicadeza. Subiu na cama abrindo as pernas dela com os seus joelhos, descendo até a sua bunda e mordendo forte. Os gritos de Luiza eram deliciosos, levantou o quadril dela enfiando a sua língua em sua fenda. Suas mãos buscavam pelos bicos, apertando-os.

 

– Minha putinha gosta de gritar, é?! – subindo o corpo, pressionando contra o colchão – Anda, rebola essa bunda gostosa, rebola! – mandou, puxando os cabelos e mordendo forte a nuca dela.

– Ahhhh… isso… – levou a própria mão ao clitóris tocando-se, rebolando sentindo a excitação de Íris.

 

O som do tapa em sua bunda foi alto, acompanhando um grito prazeroso. Íris a torturava, penetrando fundo e forte e parando toda vez que estava prestes a gozar. Levou os dedos molhados a boca os chupando com extremo prazer.

 

– Deliciosa do jeito que eu gosto! – falou sedutoramente.

 

Levantou o suficiente para alcançar a gaveta da cômoda, pegando o artefato e a camisinha. Luiza sorria de maneira safada sem deixar de se tocar. Prendeu bem em sua cintura, mas antes de por a camisinha os lábios carnudos envolveram a cabeça do pênis de borracha, iniciando um oral sensual. Os olhos negros estreitaram, suas narinas entreabriram farejando o cheiro da excitação no ar como predador diante daquela visão. As mãos de Luiza tocavam todo o corpo moreno, ora massageando ora arranhando. A policial pegou o rosto amado trazendo para si, as suas bocas se engoliam. Desceu as mãos até a bunda apertando-a, impulsivamente a fez virar colocando-a na posição que estava antes de penetrar forte por trás. Luiza gemeu alto como uma gata no cio, rebolando sem parar. A morena deixou o seu corpo pesar sobre o outro aumentando o contato, chupando e mordendo o pescoço e os ombros.

 

– Isso… rebola para mim! – sussurrava em seu ouvido – Goza gostoso, minha putinha… goza comigo… – pedia.

 

Não demoraram muito para chegar juntas ao gozo forte. Íris tombou ao lado recuperando as forças. Luiza aconchegou em seu corpo cheirando seu pescoço, desceu as mãos até a cinta desprendendo da cintura bem feita da morena. Retirou o artefato e abocanhou o sexo encharcado. Íris gemia de prazer, sentia-se derretendo naquela língua experiente. Arqueou o seu corpo antes de tombar novamente contra o colchão sentindo o seu corpo todo vibrar pelo orgasmo.

 

***

 

– Amor, você precisa ir amanhã na Luana! Olha só as suas unhas – ralhou – Isso lá são unhas de uma futura Delegada?

 

Íris mastigava apreciando o delicioso cozido que havia sido preparado para ela, olhou para as suas mãos sorrindo.

 

– Pretinha, você sabe que eu não tenho tido muito tempo para ser vaidosa – falou suavemente.

– Nem vem, morena! Não quero saber de mulher minha sendo desleixada! – levantou indo até o quarto, retornando em seguida com uma necessaire.

– Que isso amor?! – sorria divertida – Eu não sou desleixada! – fingiu de brava, vendo ela por água um pequeno pote.

– É porque eu não deixo! – sorria, pegando-lhe a mão livre – Agora seja boazinha e deixe a sua mão na água.

– Eu não posso nem comer em paz? – resmungou.

– Pode! Não precisa comer com as duas mãos – bebericou o suco – Até por que sei que essas mãos não vão parar quietas assim que você terminar! – sorria safada.

– Eu mereço. – lamentou, terminando de comer.

 

***

 

Leandra estava em sua mesa, pegando o depoimento de um senhorzinho que havia sido assaltado. Os seus olhos seguiram por um momento a mulher que a havia menosprezado quando chegou ali. Barbosa, como gostava de ser chamada para impor respeito com o seu jeito áspero e costumeiro humor negro. A relação com os colegas entre amor e ódio. Alguns gostavam do jeito que ela trabalhava sempre direta e sem frescuras. Outros apenas olhavam para o seu corpo com desejo de submeter tamanha fera indomável. Notou o olhar de Manuel que era um cretino misógino, não precisou de muito tempo para saber disso, aquele olhar dizia tudo. Outro moreno aproximou comentando algo somente para Barbosa ouvir, os olhos negros estreitaram e assentindo em seguida. Dionísio Fernandes era o braço direito de Íris, soube que ela salvou a vida dele e de sua filha pequena, criando assim um laço de lealdade.

 

– … então ele montou na moto e fugiu. – dizia ainda nervoso.

 

Leandra despertou rapidamente para não perder nenhum detalhe do que era dito. Em seu interior desejava fazer o seu melhor, ganhando o respeito que merecia.

 

***

 

– Aquela novata é uma delícia ein! – Evandro falava animado.

– Que bundinha gostosa! – Inácio comentou – Eu iria fuder ela todinha. – falou, olhando Leandra de longe.

– E eu achando que ela iria se borrar ontem quando invadimos a boca. – Gonçalves – A menina mostrou ter fibra! Quem sabe ela se torne uma segunda Barbosa. – olhou sobre o ombro para a mulher sentada no fundo.

– A nossa chefinha é outro nível, a novata precisará de anos para tentar alcançá-la! – Evandro puxava o saco.

 

Íris ouvia tudo em silêncio, bebericando o seu café e avaliando a sua colega de longe.

 

***

 

– Posso sentar contigo? – Dionísio perguntou gentil.

– Claro! – Leandra respondeu sem muito ânimo.

– Deixa, eu sento em outro lugar, não quero atrapalhar.

– Não! Que isso, sente-se! Desculpa é que todo mundo me olhando está me deixando um pouco nervosa. – falou sem jeito.

 

Dionísio olhou para o lado oposto vendo os colegas com sorrisos sacanas, fazendo gestos do tipo “Vai que é tua!” Suspirou sentando-se.

 

– Ignore, sempre haverá esses tipos de babacas no mundo.

– Eu sei! – pausa – Achei que fosse sentar com a Barbosa.

– Ela já terminou e normalmente gosta de comer sozinha.

– Ela não é nem um pouco social – cutucou – Sempre arisca!

– São ossos do ofício, ficamos tanto tempo lutando contra o crime e vendo coisas absurdas que acabamos com uma proteção contra o mundo.

– Compreendo. – ficou pensativa.

– Ainda não, mas daqui uns anos saberá perfeitamente o que eu digo. – comeu pedaço de pão.

– Por que todo mundo acha que eu acabei de sair da academia? Já tenho três anos na corporação. – havia indignação em sua voz.

– Quanto tempo em campo? – a voz dele permanecia tranquila.

– Um pouco mais de um ano e meio.

– Matou quantos? – continuou comendo.

 

Silêncio.

 

– Por isso eu digo, daqui alguns anos você entenderá! – sorriu.

 

***

 

– Precisamos de reforço na entrada da “favela dos milicianos” – ouviram tiros pelo rádio transmissor.

– Estamos a caminho! – Barbosa confirmou.

 

Dionísio estava dirigindo com Íris ao seu lado, Leandra e Gonçalves atrás. Barbosa fez contato com outro camburão, sabendo que o tráfico daquele lugar era pesado e fortemente armado.

 

A troca de tiros estava frenética quando chegaram, desceram aproximando com cautela. Deram cobertura para os policiais que trocavam tiros com os traficantes. Barbosa e Fernandes atiravam enquanto Menezes e Gonçalves avançaram pelo outro lado.

 

– Vá pela direita que eu te cubro. – Íris agachou atrás do carro.

– Okay! – correu abaixado.

 

Assim que Dionísio avançou, a morena percebeu a movimentação pela esquerda por onde os outros dois agentes foram, correu abaixada até a entrada da pequena loja, cortando caminho pelo interior dela. Chegou a tempo de dar assistência para os dois que estavam ficando acuados no canto.

 

Menezes olhou rapidamente de onde vinha assistência, trocaram olhares. A morena fez gestos para ela esperar e depois atirar, para Gonçalves era manter a posição. A ação foi rápida, fazendo eles ganharem mais terreno. Foram minutos que pareciam horas, não demorou muito para as sirenes se fazerem presentes.

 

Barbosa encostou na parede um segundo observando antes de avançar; Menezes estava ao seu lado, invadiram por trás uma casa assim poderiam aproximar sem serem notados.

 

Havia movimento no telhado, Gonçalves se adiantou acertando um garoto que não deveria ter mais que dezenove anos, estava carregando uma submetralhadora. Menezes fechou os olhos um instante lamentando aquilo, abrindo em seguida vendo o olhar severo em sua direção, sinalizando “Foco!”

 

***

 

– Quando eu acho que teremos um dia tranquilo, entramos no meio de uma guerra. – comentou Dionísio, colocando um indivíduo na viatura.

 

A operação levou horas para cessar, até a chegada de reforço fazendo alguns traficantes recuar. Ao longe, equipes de reportagem tentavam ganhar algum furo de notícia.

 

– Eu só quero um banho quente, comer e dormir! – Íris tocava o ombro dolorido.

– Você está bem? – Leandra questionou.

– Se fosse um pouco pra cima eu estaria fudida. – observou as feições da outra – Foi a sua primeira morte? – Leandra abaixou os olhos, a mão tocou em seu queixo fazendo olhá-la – Nunca é fácil e nunca será! Esteja ciente que é você ou ele… ou se preferir, o bem ou o mal. – falou entrando na viatura.

 

***

 

Naquela noite, Leandra não conseguiu dormir. Virou a noite fazendo exercícios físicos, mexendo na rede ou qualquer coisa que pudesse fazê-la esquecer aquela tarde. Decidiu tomar um calmante para tentar pelo menos relaxar, no dia seguinte seria a sua folga.

 

***

 

– Não sabe o susto que levei quando eu vi aquela reportagem e você estava no meio daquele tiroteio. – Luiza massageava o corpo nu da policial – Eu morro se algo te acontecer! – beijou com carinho, o ombro com a marca da bala.

– Nada irá acontecer, querida, tenho o meu anjo da guarda sempre por perto – pegou a mão dela, beijando-a – É para você que eu sempre volto!

– Faça logo aquela prova, realize o seu sonho e se torne Delegada, assim eu terei um pouco de paz. – pediu.

 

Íris acariciou aquele rosto, era sim seu sonho se tornar Delegada, mas no momento estavam em constantes conflitos com traficantes, sentia-se mais útil em campo fazendo o seu trabalho da melhor forma possível do que focar cem por cento do seu tempo estudando. O olhar de Luiza a fez pensar, deveria mudar as suas prioridades.

 

***

 

Na sala de reunião estavam algumas equipes com pessoas selecionadas a dedo. Antunes explicava sobre uma operação em conjunto com o Delegado Ferraz do 12° distrito. Após meses de investigação conseguiram a localização do atual chefe da “boqueta”, “Amadeus Costa”. Foram algumas horas de reunião, acertando estratégias.

 

– Isso vai ser barra pesada. – Dionísio falou baixinho para Íris – Estou surpreso do Antunes ter convocado Menezes.

 

Os olhos negros observaram um instante o corpo da colega na cadeira à sua frente.

 

– Ele deve saber o que faz. – voltou a prestar atenção nas ordens.

 

***

 

– Isso ai, pessoal! Conseguimos desmembrar mais uma quadrilha! – Thiago falou comemorando.

– É só o começo, não podemos deixar eles se reagruparem. Amanhã mesmo voltamos com reforço e tomamos de vez aquele morro. – Indicou lugares no mapa – Amanhã, senhores, faremos história! – seus olhos encontraram com os castanhos escuros, dando um leve aceno.

 

***

 

Leandra percebeu a movimentação suspeita na rua do seu apartamento. Graças ao seu constante treinamento teve tempo suficiente para reagir. Acelerou o carro quando iniciaram uma série de tiros contra ela.

 

***

 

– O que está havendo? – Antunes questionou nervoso.

– Temos um delator! – Leandra fez expressão de dor enquanto suturavam a sua testa.

– Mande as viaturas agora! – ditou ordens pelo rádio transmissor.

 

***

 

Arrastou-se pelo chão pressionando o tiro em seu tórax tentando estancar a hemorragia. Estava ofegante com a sua vista embaçando, Íris recebeu um chute em seu rosto fazendo o seu corpo tombar. A mão forte pressionou o seu maxilar da policial, aproximando o seu rosto com um sorriso zombeteiro.

 

– O meu chefe mandou um recado para você que eu terei o maior prazer em executar. – pressionou o ferimento de bala, apreciando o rosto que se contorcia de dor.

 

Recebeu em resposta uma cusparada com sangue em seu rosto.

 

– Insolente até o final! – acertando forte o rosto da policial – Já desmaiou? Assim não tem graça! – chutando com vontade as costelas do corpo inerte.

 

Olhou para os corpos das mulheres caídas, agachou sussurrando no ouvido da morena.

 

– Dizem que audição é a última coisa que perdemos antes de morrer – passando o dedo na face inconsciente – Pois espero que ouça com atenção em seus últimos momentos, os gritos da sua esposinha.

 

Sons de tapas e roupas rasgando, e uma covarde luta corporal. Foram minutos torturantes que passaram a ser eternizados.

 

– Nãooooo!! Me solta…. Ahhhhh… Socorro… Amor me ajuda!! Nãooooo – os gritos desesperados e o choro sofrido foram abafados por um som estrondoso.

 

Os olhos despertaram assustados e confusos fechando em seguida, pela claridade do ambiente. Sentia-se sufocar pelo tubo em sua boca, a cabeça doía. Tentou levantar o braço, mas estava imobilizado, fez um esforço monstruoso arrastou o seu braço livre até a boca tentando arrancar o intruso. A máquina começou apitar e a porta abriu em seguida.

 

– Ei, calma! – disse a enfermeira – Deixa eu tirar isso de você.

 

Íris estava aliviada por ter os aparelhos retirados, tentou falar mais a voz não saía. Os seus olhos arderam, queria informações da sua esposa, a enfermeira pediu calma quando o médico chegou e começou a examiná-la.

 

– Está se recuperando bem. – pegou a pequena lanterna – Acompanhe a luz, por favor.

 

Piscou diversas vezes, mas acompanhou. Sentia ardência na garganta pela sede que a consumia. A jovem enfermeira pareceu entender buscando água e oferecendo no canudinho. Os seus olhos voltaram a pesar devido a medicação aplicada no soro em seu braço.

 

– Descanse mais, é o que o seu corpo precisa. – fez anotações na prancheta – Avise que ela já está consciente. – pediu a enfermeira.

 

Seus olhos piscaram, caindo novamente em um sono profundo.

 

O calor da pequena mão em seu rosto aos poucos a fez voltar da escuridão latente. A sua mente ainda estava confusa, forçou a vista tentando reconhecer aquele rosto, suspirou aliviada ao encontrar o sorriso maravilhoso de Luiza. Fechou brevemente os olhos, sorrindo suavemente e oferecendo os seus lábios que foram aceitos de bom grado. O beijo foi terno, sentiu as lágrimas escorrendo pelo rosto amado, suspirando em sua boca.

 

– Descanse, ficará tudo bem! – sussurrando, fazendo carinho na face cansada.

 

***

 

O desconforto em seu corpo a fez despertar aos poucos. Olhou para o ambiente deixando os seus olhos acostumarem, percebeu um corpo adormecido na poltrona próxima à cama, tentou levantar mas a forte fisgada em suas costelas fez perceber a má ideia. Respirou fundo, tentou emitir algum som aos poucos; foi o suficiente para despertar a outra. Piscou várias vezes achando que tinha visto Luiza sentada lá, mas na verdade era Leandra que se aproximou, olhando preocupada.

 

– Está sentindo dor? – segurou a mão carinhosamente – Está com sede? – pegou o copo, levando o canudo aos lábios ressecados.

 

Íris sugou com certa dificuldade, agradecendo com um leve aceno. Os seus olhos negros procuravam ansiosos a única pessoa que importava no momento, suspirou frustrada encarando os olhos castanhos. Houve uma troca de olhares; o olhar ansioso buscava e os castanhos fugiam. Íris apertou de leve a mão de Leandra, precisava entender o que havia acontecido.

 

– Não é o melhor momento, você precisar descansar mais – o suspiro irritado foi a resposta para aquilo – Eu sei que esta cansada de ouvir isso, mas é para o seu próprio bem.

 

Leandra tentou se afastar, mas a mão morena segurou a sua firme, deixando claro que não aceitaria um não como resposta. Moveu os lábios de maneira que a outra entendesse. L U I Z A. Íris ficou apreensiva com a reação da outra desviando o olhar. Insistiu conseguindo pronunciar um FALA em um fio de voz.

 

– O delegado virá falar com você – Leandra sussurrou – Ele já deve estar chegando.

 

Os olhos de Íris arderam entendendo o motivo daquela frase e a fuga de Leandra. Ficou agitada tentando levantar, sendo impedida pelo corpo menor.

 

– Fica calma! – pedia – Eu sinto muito! – acolheu o corpo entre os seus braços, beijando-lhe a testa com carinho.

 

***

 

– Foi uma ação premeditada. Todos os agentes envolvidos com a operação “Faxina” sofreram algum tipo de atentado. A maioria conseguiu escapar ilesa – pausa. – Os demais que tinham família na cidade já não tiveram tanta sorte.

 

Ouvia a explicação de Antunes, devido à medicação para as dores a sua mente estava um pouco lenta. O homem mais velho olhou por um instante pela janela antes de encarar aquele olhar vago.

 

– Alguns agentes que conseguiram escapar dos atentados comunicaram rapidamente… Mandei viaturas para as nove residências – apertou a nuca. – Infelizmente, não foram a tempo de impedir o atentado contra você… e Luiza.

 

Íris fechou os olhos, o seu queixo tremia. Breve silêncio até ela abrir novamente os olhos que estavam vermelhos esperando ele finalizar.

 

– Perdemos você por dois minutos – aproximou tocando-lhe o pé – Mas você é guerreira, quando todos achavam que a luta havia sido perdida, aí você voltou com o seu coração batendo mais forte do que nunca! – sorriso fraco.

 

Respirou fundo indo até a janela, prosseguiu:

 

– Os pais de Luiza requisitaram o corpo e mandaram cremá-lo. Retornaram para Curitiba no mesmo dia que foi liberado. – pausa – Isso foi há duas semanas. Entraram com uma ação contra você, mas não quero que se preocupe, tenho muitos conhecidos que irão cuidar disso, enfim acho que no momento é tudo o que precisa saber.

 

***

 

Foram quase dois meses para ter a sua recuperação.

 

– Devido ao seu estado e envolvimento com a operação e o assassinato de… de uma civil, você deixará a investigação imediatamente. – Antunes lamentava, mas era o melhor a ser feito.

 

Respirando fundo, concluiu:

 

– Entregue a sua arma e distintivo. – ordenou.

 

Íris olhou pela última vez a insígnia, recordando quantas vezes Luiza a puxava pelo cordão para fazerem amor.

 

– O que eu vou falar não é como delegado e sim como um amigo que sabe o que é perder alguém para marginais. Tente usar esse tempo longe da corporação para avaliar a sua vida e o que fará daqui para frente. É difícil, eu sei, mas você tem que acreditar no trabalho que estamos fazendo aqui, vamos prender esse cretino e ele lamentará pelo que fez. – prometeu.

 

***

 

– Luiza Medeiros Neto – voz abafada – Você foi o legista que cuidou do corpo? Senhor… – olhou o crachá – Antônio Magalhães.

 

O homem mais velho olhou para a mulher de expressão cansada à sua frente e para o policial ao seu lado.

 

– Sim! O que desejam? – questionou com curiosidade.

– O relatório da autópsia.

– Eu já enviei para o departamento de polícia o mês passado.

– Mas existe uma cópia com o senhor? – Dionísio perguntou.

– Por questão de segurança, existe sim. – estreitou os olhos – Suponho que tem um mandado para requere-la?

– Eu quero o relatório da autópsia – a inércia do legista a irritou – Agora!! – bateu a arma sobre a mesa, assustando ele e fazendo procurar rapidamente o que foi pedido.

 

***

 

As fotos estavam espalhadas sobre a cama de casal. A cada linha que lia do relatório, desejava que tivesse sido ela no lugar de Luiza. Dionísio como bom amigo não deixou ela sozinha, dormiria no sofá caso fosse preciso e assim o fez, dando a ela privacidade para ler os arquivos em seu quarto. Em toda a sua vida jamais havia chorado ou sentindo tamanha dor. Amaldiçoou o dia que conseguiu entrar para academia de polícia, sem se importa de ter salvo inúmeras vidas, a única que realmente importava e que mais precisou dela não pode fazer nada além de ficar inconsciente, ouvindo os gritos e o choro sofrido dela pedindo ajuda.

 

Arrastou-se até a cama deitando e abraçando forte o travesseiro que ainda possuía o perfume dos cabelos cacheados de Luiza. Olhava a fotografia delas abraçadas e sorrindo, que estava pendurada na parede oposta à cama, sussurrando um pedido sofrido:

 

– Me perdoa? Me perdoa, é tudo culpa minha! – repetia sem parar em seu pranto.

 

***

 

Leandra prosseguia com as buscas, hackeando qualquer sistema operacional que pudesse dar alguma informação a respeito de Otaviano Cunha conhecido como o “Escorpião Negro” que, de acordo com a descrição de Íris, seria o responsável pela morte de Luiza. Ao pegar a xícara sentia o leve tremor em sua mão, suspirou fechando os olhos. Levou a ponta dos dedos até os seus lábios, ainda sentindo o calor daquele beijo. Foi um alívio imenso quando soube que finalmente ela havia voltado à consciência. Conseguiu ir vê-la e se comoveu quando recebeu aquele olhar de ternura, envolveu a mão machucada e aceitou aqueles lábios. Agiu por impulso, sentia-se mal pelo o que houve com a esposa de Barbosa, imaginou que essa fosse a resposta pelo que aconteceu.

 

***

 

A busca levou quase um ano, finalmente encontrou a sua caça. Dois dias foram necessários para armar e capturar aquele animal desprezível.

 

***

 

– MALDITA! – gritava – VOU MATAR VOCÊ!!

– Você já matou… – disse pausadamente – Duas vezes! – Concluiu antes de enfiar a faca próxima a rótula da perna dele e torcer – Já desmaiou? Assim não tem graça! – repetia as palavras ironicamente.

 

Tamanha dor o fez desmaiar. Íris ficou ereta pondo a mão na nuca estralando o pescoço. Era evidente o desconforto de Dionísio, não importava que aquele escroto desmaiado fosse um assassino e estuprador, sempre teriam aqueles que lutariam pelos direitos humanos daquele animal. E eles seriam diferentes? Ou só estariam do outro lado da história?

 

– Já temos as informações – respirou fundo – Não acha que já está na hora de acabar com isso? – sugeriu.

– Agora que eu estou me divertindo? – sorria diabolicamente.

– Está se ouvindo? Barbosa você não é assim! Íris não se torne um monstro como ele! – olhava preocupado.

– Não me compare a esse maldito! – rosnou – Tudo isso ainda é pouco pelo o que ele fez!! – falou entredentes.

– Juramos servir e cumprir lei contra a criminalidade! – retrucou.

– Eu estou… a meu modo! – pressionou as mandíbulas – Vermes como ele tem poder suficiente para contratar um pequeno exército de advogados que iriam driblar as leis e quando menos espera esse maldito estará solto!

 

Passou as mãos em seus cabelos em um gesto nervoso, respirando fundo, prosseguiu dizendo:

 

– Eu agradeço tudo o que você tem feito por mim. De verdade! A sua lealdade não tem preço – tocou-lhe a face – Mas eu preciso terminar com isso de uma vez por todas!

 

Ouviram os gemidos e uma risada, aproximaram do homem que cuspia as palavras:

 

– Acha que isso ficará assim?? – pressionando o ferimento – Não sabem da influência que eu tenho! – tossia, sentindo o gosto de sangue em sua boca – É questão de tempo até me tirarem da prisão… – falava ofegante. – Pessoas como eu, não ficam muito tempo atrás das grades! – disse arrogante.

 

A face de Íris demonstrava uma frieza sombria antes de pronunciar:

 

– Quem disse que eu irei te prender? – arqueando a sobrancelha.

 

Não ouve tempo de resposta, somente um disparo e um corpo inerte tombando no chão com perfuração no meio da testa.

 

– Ele é só mais um dos lacaios do chefão da boqueta, Delegada. Não vai demorar muito para ser substituído. – Dionísio comentou sério.

 

Íris guardou a arma no coldre, olhando o insignificante corpo no chão, ditou:

 

– Eu só estou começando. – saiu sem olhar para trás.

 

 

Fim?!

Música tema de Íris: 

https://www.youtube.com/watch?v=W1XVHQ-aiwE



Notas:



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4 Respostas para Carpe Diem

  1. Boa tarde, tudo bem?Sou a amiga de Carol! Ela me indicou lá nos comentários da estória dela. Gostei bastante desse conto!!! Adoro o gênero policial!
    Bom finde,
    Abraços!

  2. Leio aos poucos devido os afazeres, às vezes fiquei um pouco perdida, mas peguei novamente a história e amei! Parabéns, Karina!

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