17.

Carla havia tomado uma decisão.

Sempre andou de mãos dadas com a morte e nunca lhe importou realmente se voltaria para casa ao fim do dia ou não. Sobrevivia um dia por vez e fazia o necessário para chegar ao fim dele respirando.

De fato, havia trilhado um caminho sangrento e cheio de desvios sombrios, onde fez coisas que, em seus piores pesadelos infantis, jamais imaginou. Sim, era o monstro que Carolina afirmou, mas até mesmo as feras amavam e ela amava Carolina desde o instante em que seus olhares se cruzaram pela primeira vez, embora fosse ainda uma menina. Encontrou vida na escuridão de seus olhos e quando Marcos lhe propôs trabalhar para ele ou morrer, mesmo a morte lhe parecendo bem-vinda, escolheu a vida que viu no olhar dela.

Naquelas íris escuras, também encontrou forças para manter em equilíbrio a luz e a escuridão dentro de si. Era monstro, mas também era humana e prova disso era o amor que sentia pela moça.

Situações como a que havia acabado de acontecer não eram incomuns em sua vida. Havia sempre a possibilidade de ser sugada pelas trevas em seu caminho, afinal, poucas eram as pessoas em seu ramo de negócios que morriam de velhice e, tinha certeza, não faria parte desse grupo.

Sendo assim, queria que Carolina soubesse suas reais intensões e o quanto significava para ela, principalmente, porque apesar de ter se livrado de Joaquim, seus problemas estavam longe de acabar.

— Eu te amo — repetiu.

Abalada com a força com que suas palavras a atingiram e as lágrimas em seu olhar, Carolina quis se afastar outra vez, mas Carla ainda mantinha firme a pressão em sua mão. A loira podia ver a incredulidade em seus olhos, mas também observou com alegria o rubor em sua face. Carolina gostava dela, talvez não da mesma forma que se sentia, mas nutria sentimentos por ela, mesmo que fosse apenas desejo.

Carolina puxou a mão com força e recuou um passo no instante em que a bolsa de gelo que segurava atingiu o chão. Seus olhos vagaram desnorteados para longe da figura dela, enquanto suas mãos tremiam de emoção.

— Eu preciso ir — disse com o coração aos pulos e começou a se afastar, ciente de que se ela voltasse a repetir aquela frase não teria mais forças para sair daquele quarto.

— Não fuja — Carla pediu.

Ela já havia alcançado a porta e apertava firme a maçaneta, mas não a abriu e nem se voltou para fita-la quando continuou a falar.

— Se quiser partir, é um direito seu. Não irei impedir. Mas, poderia me ouvir antes?

Carla mantinha-se parada no mesmo lugar observando-a por segundos intermináveis, ansiando fazer o que jamais se permitiu: desnudar sua alma.

Como Carolina permaneceu algum tempo imóvel e sem dar indicativos do que iria fazer, com passos leves e ligeiros, Carla cruzou a distância que as separava e pousou a mão sobre a dela na maçaneta no exato momento em que se decidiu e abria a porta.

— Por favor — pediu. — Sei que não é o momento mais adequado, mas gostaria que me ouvisse antes de “partir”.

— Não sei se quero ouvi-la — confessou, temerosa de que as palavras dela a fizessem mudar de ideia sobre as decisões que havia tomado mais cedo.

— Por favor! — Carla voltou a pedir, aumentando a pressão em sua mão. Precisava, desesperadamente, que ela a ouvisse. — Serão apenas alguns minutos e a deixarei livre para partir com a promessa de que jamais voltará a me ver e nem mesmo Marcos voltará a incomodá-la.

A ideia de que nunca mais se veriam soou dolorosa para ambas.

Carolina mordiscou o lábio, cedendo. Não pela possibilidade de cruzar aquela porta como uma mulher livre e com um futuro longe de toda a escuridão que envolvia o padrasto e aquela mulher terrivelmente linda e cruel ao seu lado, mas sim, porque queria ouvir o que tinha a dizer. Ansiava por beber de suas palavras, saber de seus sentimentos, enxerga-los em seu olhar como havia feito segundos antes.

Ergueu o olhar para fita-la penetrante, percorrendo cada centímetro de seu belo rosto com ansiedade e a viu sorrir outra vez, descobrindo que também amava aquele sorriso.

— Você é linda — Carla disse, deslizando a mão livre por sua face.

Carolina sentiu a pele arder ante a suavidade daquele toque, sentindo o cheiro do sabonete que ela havia usado para se limpar minutos antes que adentrasse no quarto lhe invadir as narinas agradavelmente.

Fechou os olhos, o coração a bater descompassado com sua proximidade e entreabriu os lábios puxando-a para um beijo apaixonado, incapaz de permanecer inerte diante do calor das safiras em seu olhar.

— Eu te amo — Carla sussurrou no meio do beijo, feliz pela iniciativa dela e os pelos de sua nuca se eriçaram com a emoção contida naquelas palavras.

Carla apertou-se a ela, sôfrega, desejosa de que Carolina pudesse sentir sua alma e descobrisse que o amor que lhe dedicava não tinha tamanho ou fim. Inebriada de paixão, a pressionou contra a porta, lhe arrancando um gemido de prazer quando deslizou seus lábios pelo pescoço perfumado que ela lhe oferecia.

De repente, a loira afastou-se, temerosa de que pudesse assustá-la com a intensidade do desejo que abrasava sua pele e a consumia naquele instante. Não queria espantá-la e perder a oportunidade de confessar seus sentimentos.

Então, viu-se presa do lago negro nos olhos dela, enxergando em suas íris o mesmo fogo que sentia. Carolina a queria com a mesma intensidade e não hesitou em permitir, com um sorriso, que a morena a atirasse contra a parede devorando seus lábios com urgência, enquanto deslizava as mãos pequenas e delicadas com impaciência por sua pele desnuda até encontrar os botões de sua calça.

Sedenta e incapaz de continuar reprimindo seus sentimentos, Carolina insinuou sua mão até o sexo dela, sentindo uma forte contração em seu ventre ao perceber o quanto estava excitada e Carla gemeu alto com o prazer que aquele toque lhe trouxe e a empurrou em direção a cama, sem permitir que suas bocas se desgrudassem, abrindo a blusa dela com violência, ignorando os botões que se espalharam pelo chão.

Carolina caiu sobre a cama, sentindo sua intimidade ficar ainda mais úmida quando a viu se despir apressada, expondo toda a pele clara, macia e perfumada, as curvas sensuais e os seios pequenos e rijos de bicos entumecidos de desejo. E riu alto quando Carla a ajudou a se desfazer do resto de suas roupas afastando-se, em seguida, para contemplar sua nudez com um brilho animalesco nos olhos.

— Vem — Carolina a chamou em um sussurro rouco e Carla aceitou seu convite ávida pelo calor da pele dela contra a sua, sentindo um arrepio gostoso ao detectar tanto desejo em sua voz.

A puxou com força e Carolina envolveu sua cintura com as pernas, então a ergueu e sentou na beirada da cama sentindo a umidade do sexo dela escorrer por seu ventre, enquanto beijava, mordiscava e sugava seus seios vorazmente, inebriada pelo cheiro de sua pele morena e arrepiada com seus toques.

Carinhosa e ansiosa, Carolina tomou sua mão e a guiou até seu ventre, compartilhando um gemido de prazer quando Carla acariciou o clitóris túmido e implorou com voz manhosa:

— Por favor!

A loira atendeu seu pedido penetrando-a sem mais delongas, imersa na ventura de realizar o sonho de possuir a dona de seu coração. Carolina cavalgou em seu colo vigorosamente, sentindo-se invadir por uma alegria insana por estar se entregando ao amor que via nos olhos dela, sendo envolvida pelo calor do sorriso largo e extasiado em seus lábios. Então, deixou que aquela alegria lhe escapasse pela garganta liberando um grito rouco ao alcançar o ápice do prazer em um gozo loucamente longo e intenso como jamais havia experimentado.

Carla a envolveu em um abraço apertado, distribuindo beijos miúdos em seu ombro, enquanto sua respiração normalizava e Carolina escondeu o rosto em seus cabelos, deixando que lágrimas silenciosas os molhassem, incapaz de dar voz aos seus sentimentos e a felicidade que percorria suas veias arrebatadora.

E assim permaneceram por um longo minuto até que Carolina se afastou, ainda sentindo seu corpo em chamas, desejosa de provar os sabores que aquele corpo de pele alva e músculos firmes escondiam. Escorregou as mãos pelos cabelos dela com carinho, desfazendo sua trança, sentindo o perfume deles a envolver quando a empurrou para a cama com um sorriso malicioso e percorreu seu corpo entre beijos e mordidas suaves, deixando marcas por onde passava, lhe arrancando suspiros e gemidos.

Sentiu um arrepio de prazer quando sua língua travessa encontrou o clitóris inchado. Brincou com ele por alguns segundos, arrancando suspiros de Carla, então o capturou entre os lábios e a devorou, enquanto a penetrava devagar, aumentando a intensidade dos movimentos gradativamente e depois reduzindo-os repentinamente, enlouquecendo aquela mulher terrível que roubou seu coração até que a sentiu convulsionar de prazer abafando um gemido alto com o travesseiro, enquanto seu gozo escorria farto entre seus dedos.

A morena distribuiu beijos ternos ao escalar seu corpo e se enroscar nela, enquanto Carla abafava seu choro de felicidade com o travesseiro que Carolina tomou logo em seguida, ansiando encontrar seu olhar e mergulhar outra vez em seus lábios.

Por um minuto, a morena contemplou seu olhar marejado, então deslizou os dedos por sua face, enxugando as lágrimas que lhe vertiam frouxas. Desta vez, foi Carla que encontrou abrigo para seu pranto nos ombros dela concluindo com um sorriso que, de fato, sonhos se realizavam e aquele havia sido perfeito.



Notas:



O que achou deste história?

Deixe uma resposta

© 2015- 2021 Copyright Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução total ou parcial do trabalho sem a expressa autorização do autor.