DAKOTA

10. UM POUCO DE SORTE CAI BEM

Quer me falar sobre ela?

Dakota encheu as bochechas de ar e arrastou a mensagem para o lado, desprezando-a. Porém, não foi rápida o suficiente para fazer isso antes de Isadora conseguir lê-la, visto que passava às suas costas no momento.

— Isso é sobre mim? — quis saber ela, sentando-se à sua frente.

— Gio está curioso — contou e levou a xícara de café aos lábios.

Estavam em uma padaria, próxima à pousada onde pernoitaram. Desfrutavam o desjejum enquanto aguardavam a garçonete do cabaré. A moça entrou em contato ao raiar do dia, anunciando que conseguiu a informação que buscavam.

— E você está fazendo questão de mantê-lo assim — apontou Isadora.

— Considere uma pequena vingança pela babaquice dele — uma ruguinha soberba se formou no canto da sua boca.

— Por que tanta curiosidade? — fez um gesto, agradecendo ao garçom que depositou um pratinho com pães de queijo à sua frente.

— Digamos, apenas, que sou discreta em meus envolvimentos amorosos — olhou para o croissant em seu prato, o pegou e mordeu. Enquanto mastigava, prendeu a atenção na madeira da mesa que ocupavam.

— Uma hora você terá que contar que ele está fazendo suposições erradas — mordeu um pãozinho de queijo.

— Será que está? — a outra recostou-se na cadeira, um sorriso provocador no canto da boca.

Isadora franziu o cenho, sem entender.

— Você fugiu da raia ontem — Dakota acusou.

Quando ela saiu do banho, após lançar seu pequeno desafio, Isadora já estava na cama. A garrafa de vinho permanecia intocada.

— É que você demorou demais no banho, eu estava cansada e acabei adormecendo — retrucou com o rosto afogueado. Era verdade, porém, nem toda ela.

— Covarde — Dakota provocou-a, apenas pelo prazer de vê-la sem graça. Entretanto, sentia-se um pouco decepcionada. Não que realmente tivesse segundas intenções na noite passada, ainda mais depois de conversar com Gio, mas antes de dormir passou um bom tempo analisando suas impressões da convivência que estavam tendo naqueles poucos dias.

Ela, Dakota, não costumava ser tão amigável com estranhos. Tampouco, se mostrava interessada na vida amorosa dos outros, ou ainda, disposta a falar sobre si mesma tão facilmente. Também não era tola ao ponto de tentar se enganar para não admitir o fato de que estava atraída por Isadora.

Decerto que, naqueles dias, essa atração foi sobrepujada por todas as outras circunstâncias que envolviam seu retorno à Cascabulho. Todavia, não era do seu interesse alimentar essa fera, mesmo tendo a impressão de que Isadora se sentia da mesma maneira. Entretanto, no caso dela, era fácil compreender o surgimento de uma atração por alguém que a entendia e estava apoiando em um momento conturbado. A própria Dakota viveu coisas assim quando seu casamento chegou ao fim.

Realmente, era muito fácil acabar se enganando e projetando sentimentos errados por uma pessoa amiga, apenas para escapar da dor de um término.

Antes que Isadora pudesse se recompor e encontrar uma resposta à altura, ela avistou Amanda Vilela entrando na padaria. A prefeita de Passo Doce cumprimentou os funcionários do lugar e juntou-se às duas na mesa.

— Que coincidência boa encontrar vocês  — disse ela, após pedir um cafezinho. — Pensei que já tinham partido.

— Daqui a pouco. Estamos esperando uma informação sobre o incidente que te falei ontem — esclareceu Dakota.

— Espero que seja uma boa dica. E que bom que eu resolvi entrar aqui para tomar um café antes de ir para a prefeitura. Ia mesmo te ligar.

— Soube de algo?

— Infelizmente, não. Mas preciso de um favor.

— Favores custam mais caro! — Dakota brincou. Depois, perguntou: — Algum problema?

— Sempre há problemas na política, meu bem! — Amanda sorriu para o garçom que trouxe seu café e esperou ele se afastar para continuar: — Não conseguimos conversar muito ontem, mas, há alguns dias, estive com um velho amigo que anda enfrentando uma situação complicada. Não conheço os detalhes, ele achou melhor ser discreto. Contudo, em outra ocasião, comentei com ele sobre aquele problema em que você me ajudou e indiquei a Bellator.

Deu um sorriso ligeiro para um homem no balcão e descansou as mãos sobre a mesa.

— Ele precisa de alguém com os seus talentos, Dakota. Sei que você está enrolada com o sumiço de Isabella e todo o resto, mas poderia indicar alguém? Uma pessoa discreta, de preferência.

Dakota roubou um dos pãezinhos de queijo de Isadora e o mordeu devagar. Amanda insistiu:

— Ele entrou em contato com a Bellator, mas aquela sua amiga é um pouco difícil. Se negou a atendê-lo. Ontem, quando deixei o restaurante, ele me ligou desesperado. Atualmente, ele está cumprindo o mandato de Deputado Estadual e se encontra numa posição bastante delicada.

— Eu não gosto de trabalhar com políticos e Rachel pensa igual.

— Mas você me ajudou.

— Porque somos amigas e eu te devia — estreitou o olhar, mastigando o resto do pãozinho. —  Não entenda mal a rejeição dela, Rachel está cuidando de uma cliente bastante complicada. Ainda assim, está tentando me dar uma mão, mesmo que distante, com o sumiço de Isabella. O fato de ter me afastado do trabalho também é um peso para ela.

— Entendo, o olho do dono é o que engorda o gado. Certo?

— De certo modo, sim. No caso da Bellator, um erro pode custar todo o negócio. Enfim, me diz, está tentando obter algum favor político com esse cara?

A amiga riu suavemente.

— Talvez isso aconteça, no futuro. Contudo, não é a minha intenção. Ele é mesmo um amigo, fizemos faculdade juntos. — Dakota arqueou uma sobrancelha, a qual expressava sua desconfiança, e Amanda admitiu: — Tá, também fomos namorados, um dos relacionamentos mais saudáveis que já tive. Resumindo, ele é um dos poucos caras bons nesse ramo, atualmente. Não posso afirmar que seja incorruptível, porque somos humanos, portanto, falhos. Mas está se esforçando para fazer um bom trabalho. O problema é que a sua honestidade está começando a incomodar algumas pessoas, e esses caras não têm escrúpulo algum de ameaçar a família dele.

Com um gesto, Dakota pediu mais café para si e para Isadora, que prestava tanta atenção na conversa, que deixou a sua bebida esfriar. Após o garçom servi-las, ela pegou um guardanapo, dizendo para Amanda:

— Ele deve ser mesmo um bom sujeito. Você não costuma distribuir elogios de graça, apesar da profissão que tem.

A amiga fez uma careta risonha para ela.

— Me poupe do seu julgamento fajuto! Eu já te vi de tranças e sem tatuagens, lembra? Você não passa de uma nerd repaginada.

A declaração fez Dakota rir alto e piscar para ela, dizendo:

— Isso me lembra que você nunca devolveu a minha coleção de livros de “O Senhor dos Anéis” que te emprestei no Ensino Médio.

— E nem vou! Minha filha caçula se apossou dela há anos.

— Hm… a menina tem bom gosto — Dakota decretou e depositou o guardanapo na mesa, então pediu uma caneta emprestada ao garçom. Rabiscou endereço e hora no papel, antes de empurrá-lo para Amanda. — Se o seu amigo não estiver lá amanhã, nesse horário, pode procurar outra empresa. Talvez a Anglad aceite o trabalho. Eles adoram políticos.

— São um bando de exploradores, além de nada discretos! — Amanda se revoltou. — Ele irá. Obrigada, Dakota.

— Não me agradeça ainda. Ele vai precisar convencer Rachel ou a pessoa que ela enviar.

Amanda revirou os olhos.

— Qual o seu problema com as mulheres? Só faz amizade ou casa com gente complicada!

— Sabe que está se inserindo nesse meio, né? — sorriu de lado.

— Nos conhecemos desde a infância. Isso não conta.

— Mas pode indicar um padrão — riu mais abertamente, fazendo um carinho rápido na mão dela. Depois, roubou outro pãozinho de Isadora, que tentou, em vão, puxar o prato antes dela alcançar seu objetivo. — Rackie é um pouco ríspida, mas é uma boa pessoa. Se o seu amigo falar com ela honestamente, ficará em boas mãos.

Agradecida, Amanda fez companhia para as duas por mais alguns minutos, antes de recordar dos seus afazeres e partir com a promessa de ir até Cascabulho em alguns dias. Por sua vez, Dakota pegou o celular, pediu licença para Isadora e saiu do estabelecimento para fazer uma ligação, a fim de atender o pedido dela. Quando voltou, poucos minutos depois, Isadora estava concentrada no celular.

— Você encontrou? — Dakota perguntou, fazendo-a erguer o olhar da tela.

— O quê?

— A Bellator. Estava pesquisando sobre ela, certo? — voltou a sentar do seu lado.

Isadora soprou forte, fazendo alguns fios de cabelo caírem sobre a testa.

— Você é uma chata metida a sabichona, Dakota!

Ela jogou a cabeça para trás, numa risada gostosa. Então, pegou a carteira e tirou um cartão de visitas. A única coisa impressa nele era um QRcode. Disse:

— Achei que tínhamos concordado em me deixar ser a estranha misteriosa um pouco mais.

— Você decidiu isso sozinha, Dakota.

— Se não tivesse se acovardado e aberto aquela garrafa ontem à noite, talvez já soubesse tudo sobre mim — mostrou um sorriso preguiçoso e roubou outro pãozinho dela, antes de findar a provocação ao lhe entregar o cartão. — Já deu para perceber que você é o tipo de leitora que não tem muita paciência com livros de mistério e vai direto até a última página para descobrir o assassino.

— Engraçadinha você.

— A última página do livro “Dakota” está bem aí — sorriu daquele jeito irritante, que Isadora achava charmoso. — Você vai abrí-la ou quer ler um pouco mais?

Isadora fitou o cartão por algum tempo, depois encarou os olhos castanhos e provocativos dela, quase como se estivesse desafiando-a. Por fim, guardou o cartão no bolso, arrancando um novo sorriso de Dakota. Ela parecia bem humorada naquela manhã e mais propensa a sorrir de forma alegre do que a naturalmente irônica.

— Sei que não tinha segundas intenções, Dakota. Já deu para perceber que você é o tipo de mulher que gosta de estar sóbria ao tomar decisões e estava, apenas, tentando me provocar por causa da pergunta descabida que fiz. Só para deixar claro, eu não fugi da raia, só acabei adormecendo enquanto te esperava. A verdade é que eu não tenho dormido bem ultimamente. Sei que você compreende.

Todavia, por um breve momento, ela se pegou a pensar como seria se Dakota quisesse beijá-la ou algo mais. Se sentia tão carente que, provavelmente, não rejeitaria uma investida dela. Fisicamente, Dakota não era mesmo o tipo de mulher que a atraía. Mas todo o resto era bastante cativante.

Sim, Isadora adorava mistérios, embora já soubesse quase tudo que era importante sobre ela. E ainda que não fosse fã de sarcasmo, ele ficava muito bem em Dakota, assim como o jeito calmo de pronunciar as palavras com a dicção perfeita, e aquele ar de quem não dava importância para nada e, no entanto, levava tudo a sério.

Compreensiva, Dakota lhe enviou uma piscadela. Então, baixou o olhar para a tela do celular, que exibiu um pop-up com uma mensagem da amiga, Rachel, respondendo à mensagem de áudio que lhe enviou após não conseguir falar diretamente com ela.

Odeio políticos.

Sorriu e pediu um momento para Isadora, a fim de responder. Antes de fazer isso, outra mensagem tomou o lugar da anterior na tela:

Vou pessoalmente.

Ela não costumava fazer isso, porém, Dakota agradeceu:

\\Obrigada, Rackie.

Não agradeça ainda.

Esse cara é uma pessoa

de interesse no sumiço

de Isabella.

\\Como assim?

O nome dele surgiu

na minha investigação.

\\Coincidência?

É possível. Terei mais

detalhes depois de 

conversar com ele.

\\Leve alguém com você.

Ok.

Nos falamos 

mais tarde.

Bj.

— Algum problema? — Isadora quis saber, percebendo seu desconforto.

— Ainda não sei dizer — colocou o celular no bolso e avistou a garçonete do cabaré entrando na padaria. Ela estava em companhia de outra moça, cujo parentesco entre elas ficava bem evidente em seus traços. As duas sentaram à mesa e rejeitaram a gentileza de Dakota, quando esta perguntou se desejavam comer ou beber algo.

— O que você quer com ele? — perguntou a prima da garçonete.

— Apenas conversar — Dakota afirmou.

Os olhos da moça percorreram as tatuagens dela até pararem em seu rosto. A desconfiança era evidente.

— Ele pagou quatro idiotas para invadirem minha casa e me darem um susto. Quero saber o motivo — explicou.

— Ele não é disso — a moça duvidou. — Na verdade, é um cara bem legal. Só não deu certo entre nós, porque é mulherengo, sabe? Mas até nisso ele foi bem honesto comigo, desde o início. Tem certeza de que foi ele quem pagou esses caras?

— Não, mas eles garantem que foi. O mínimo que posso fazer é investigar. Você vai me dizer o nome dele e como encontrá-lo ou não?

A moça remexeu-se, incomodada.

— Tem certeza que não vai machucar ele? Você bateu nos homens que invadiram sua casa. Eu conheço eles, de quando trabalhava no cabaré. Sei que não são boa gente. Bia me falou — apontou para a prima — que estão arrebentados.

— Apenas me defendi — garantiu. — Você não faria o mesmo, se tivesse sua casa invadida?

— Para ser honesta, eu correria pedindo ajuda aos berros — apresentou um olhar encabulado. A prima dela, que sem a maquiagem pesada da noite anterior podia ser confundida com uma adolescente, perguntou:

— Você garante que não vai fazer mal a ele? Não queremos prejudicar ninguém.

Dakota quase revirou os olhos, impaciente.

— Eu só quero conversar. Quero ouvir explicações e entender o que aconteceu. Só agirei de forma violenta, se ele também for violento. Está bem assim?

As duas moças concordaram e ela tirou um maço de notas do bolso, o qual entregou para uma delas. A ex-namorada do homem que procurava pegou o celular e enviou uma mensagem para o número dela, antes de deixar o local com a prima.

Dakota abriu a mensagem e encarou a foto de um rapaz de vinte e poucos anos, com um sorriso meio travesso. Ele tinha olhos e cabelos claros, um bigodinho ralo e uma barbicha. Isadora espichou-se sobre a mesa, para olhar a imagem.

— Que merda! — ela disse, reconhecendo seu ex-cunhado, Nando.

***

Após uma rápida passagem pela cidade para descarregar as bebidas que Dakota comprou para repor o estoque. Ela tinha aproveitado a ocasião para fazer uma encomenda maior e garantir a entrega por parte do fornecedor que, segundo Júlio, há muito tempo tinha deixado de fazer aquele trajeto usando como desculpa as más condições da estrada, o que obrigou Tonho a ir pegar as bebidas pessoalmente, todos os meses.

Dakota também achava a situação da estrada um absurdo, porém, era uma negociadora melhor do que o falecido amigo. As entregas voltariam a ocorrer mensalmente. Pelo menos, enquanto ela estivesse à frente do negócio. O que, ela esperava, não durasse muito.

— Nando é um bom rapaz, Dakota. Não faria algo assim sem que exista uma explicação lógica. Será que você pode tentar ouvi-lo antes de partir para a agressão?

Dakota nada disse, e desviou de um buraco, guiando a picape para a lateral da estrada, que estava completamente submersa naquele ponto. Preocupada, Isadora pegou o celular. No aplicativo de mensagens, finalmente, abriu a janela de conversa com Alice, desprezando tudo o que a ex-namorada lhe enviou nos últimos dias, apressou-se a digitar uma mensagem sucinta:

Estou indo para a fazenda 

com Dakota. 

Nando pagou os bandidos 

para invadirem a casa dela.

Estamos quase chegando!

***

Depois de um dia atribulado, finalizando os últimos preparativos para iniciar a produção, Alice se sentia mais confiante de que poderia tirar a Mimosa do buraco financeiro em que se encontrava. Os técnicos conseguiram finalizar o serviço no dia anterior mesmo e, agora, só precisava aguardar que os fazendeiros e pequenos produtores com quem firmou acordo, enviassem suas produções.

Sequer tinha voltado seus pensamentos para Dakota, apesar de ainda estar tentando engolir o fato de que eram parentes e que ela era a herdeira direta da fazenda Mimosa.

Ela sentou no sofá da sala, tirando o boné surrado da cabeça. Dona Rosana, que estava sentada no sofá oposto, nem se dignou a olhá-la quando falou:

— Achei que quando voltássemos a nos encontrar, as coisas seriam diferentes.

Ela fitava o álbum de fotografias sobre a mesa de centro, onde a imagem de uma adolescente sorridente trazia mais lamentos para o seu coração. A afilhada deixou o sarcasmo deformar seus traços.

— Palavras têm muito poder e a senhora sempre soube como usá-las.

Rosana não se deu conta da cutucada e continuou a falar:

— Ela sequer fez questão de se revelar, nem mesmo usa o nome de batismo.

— Eu também não usaria — Alice foi sincera. Não estava com ânimo para a autopiedade da madrinha. Dessa vez, Rosana a encarou e ela continuou a dar voz aos pensamentos: — Eu era uma criança e tinha acabado de me mudar para a fazenda. Apesar de ainda estar tentando me adaptar a essa nova realidade, entre outras perdas pessoais, conseguia perceber a tristeza e tensão sob a qual esta casa vivia. Não fazia ideia do porquê vocês discutiam tanto, mas a tristeza de Lara era tão evidente que não foi possível ignorar. Assim como, a sua raiva e inflexão, Madrinha. E enquanto crescia e começava a entender meus sentimentos e aceitar o fato de que tinha uma forma diferente de amar, essas lembranças retornaram. Então, compreendi a dor que Lara sentiu ao ser rejeitada pela mulher que deveria amá-la irrestritamente. Era sua neta, seu sangue, e teve que aguentar os seus insultos, seus olhares de asco e ameaças absurdas. Por que acha que eu demorei tanto para assumir minha sexualidade para você?

Se inclinou um pouco, afundando as costas no sofá oposto ao que a madrinha ocupava. Resvalou o olhar no álbum de fotografias, depois pelo rosto de Rosana e, por fim, no retrato de Lara na parede às costas da madrinha.

Cabelos longos, um sorriso tímido, óculos de grau, algumas espinhas e quilos a mais. Observou aquela imagem milhares de vezes e, ainda assim, não foi capaz de associá-la a Dakota. Agora que sabia a verdade, era possível reconhecer algumas semelhanças entre a garota da foto e a motoqueira, porém, eram poucas.

— Não pode culpá-la por isso, pode?

Passou a mão na testa e inclinou a cabeça, olhando para o teto. Captou o som do assobio suave de Matilde, um pouco antes dela entrar na casa com uma cesta de legumes e vegetais que colheu na horta da fazenda.

— Boa tarde! — ela cantou, seguindo direto para a cozinha a fim de entregar os alimentos para a cozinheira. Voltou um minuto depois, mastigando um biscoito de leite. Parou por trás do sofá e fez um carinho nos cabelos de Alice. — O dia foi puxado hoje?

— Sim — a moça respondeu, grata pelo carinho. — Mas agora que está tudo pronto, podemos começar a produção em alguns dias.

— Isso é muito bom — a mulher se afastou e Alice se endireitou no sofá. — Tem notícias de Isadora?

— Ela ainda não atende minhas ligações, nem se dá ao trabalho de responder as mensagens. Acho que me bloqueou — comprimiu os lábios ao mesmo tempo em que balançava os ombros. O gesto pareceu quase infantil para as duas mulheres mais velhas.

— Ela só precisa de um tempo para colocar a cabeça no lugar — Matilde soou positiva. Mas, na verdade, não acreditava nisso. Amava Alice, mas não podia deixar de reconhecer os erros dela.

— Espero que seja isso mesmo. Sei que fiz burrada e que ela não merecia.

— Se você empregasse no seu relacionamento, toda a energia que gasta correndo atrás de rabos de saia, não estaria nessa situação — Dona Rosana alfinetou.

A afilhada preferiu não entrar naquela briga. Ficou em silêncio e ajeitou-se no sofá, virando o rosto para a porta aberta, em tempo de assistir a picape de Dakota estacionar diante da residência.

— E parece que o tempo dela já passou — Matilde sorriu, ao ver Isadora descer do veículo.

Alice ficou de pé no exato instante em que a ex-namorada entrou na casa, sem se dar ao trabalho de pedir licença.

— Isa… — ela mostrou um sorriso que bailou entre o tímido e o alegre, o qual se desfez rápido.

A ex mal se deu conta do gesto, foi logo dizendo:

— Você é uma piada, Alice. Passou os últimos dias enchendo meu celular de mensagens e ligações e, quando eu tento contato, você nem se dá ao trabalho de ler.

— Eu… eu não vi — pegou o celular e encheu as bochechas de ar ao constatar que a bateria havia descarregado. Mostrou a tela apagada. — Algum problema?

— Um do tipo que não dá para afastar com seus sorrisos e desculpas furadas. Agora é tarde. Então, segura a onda.

Mal Isadora terminou de falar, Dakota alcançou o umbral da porta. Propositadamente, ela não passou daquele limite, tampouco se deu ao trabalho de olhar para onde Rosana estava. Todavia, quando Matilde foi até ela, retribuiu seu abraço.

— Minha menina! — dizia a mulher, encaixada entre seus braços. — Você está tão diferente! Podia ter nos dito quem era!

Dakota beijou a bochecha dela um par de vezes.

— Desculpe, Tilde. Conversamos sobre isso depois, está bem? — beijou a testa dela e brincou: — Nossa, você ainda tem esse cheirinho gostoso de bolo de fubá!

A mulher desmanchou-se em uma risada alta, antes de soltá-la. Por sua vez, Dakota deixou o sorriso de lado e foi direto ao assunto:

— Cadê o seu irmão, Alice?

— Por quê? O que quer com o Nando?

— Quero saber a razão dele ter pago aquele bando para me dar um susto. Está lembrada deles? Você estava lá.

Alice fitou Isadora, incrédula. A ex-namorada confirmou com um balançar de cabeça, ao passo que Dona Rosana ia até elas.

— Isso é um absurdo, Dakota! — Alice rejeitou a ideia. — Nando não faria uma coisa dessas! Ele nem te conhece.

— Você não pode vir aqui e acusar o menino desse jeito — Dona Rosana falou. Naquele momento, estava mais interessada em chamar a atenção da neta do que em proteger Nando, ainda que acreditasse em cada palavra que falou.

A reação de Dakota foi aquele sorriso torto e desagradável que, tanto Alice quanto Isadora, desgostavam.

— Eu só quero falar com ele, Alice. De preferência, uma conversa tranquila. Mas se tiver de ser agitada…

Alice não gostou da ameaça implícita naquelas palavras, todavia disse:

— Agora, eu também quero conversar com Nando. Você vai ver que ele não tem nada a ver com essa história!

— Nando não faria uma coisa dessas — Matilde afirmou, suave. A mão sobre o ombro de Dakota.

— Se é assim, vamos resolver isso logo — a motoqueira respondeu, suave. — Eu não quero confusão, Tilde. Só a verdade. Tenho assuntos mais importantes para resolver. E quanto antes acabar com este, melhor.

A forma como ela fazia questão de ignorá-la, estava deixando Rosana desnorteada. E esquecida do assunto que tratavam, perguntou:

— Ainda guarda tanto rancor que sequer é capaz de olhar sua avó nos olhos?

Dakota, finalmente, lhe prestou atenção. Então, disse:

— Chama seu irmão, Alice. Vou esperar lá fora.

Retrocedeu para a varanda, as mãos enfiadas nos bolsos. Alice a seguiu, junto com as outras mulheres.

— Não o vejo desde ontem, Dakota. Às vezes, Nando some para ficar com alguma garota. Vive nesse vai e vem.

— Então, vou esperar — Dakota sentou em um dos degraus da pequena escadaria. A ação culminou com a chegada de Jaime, que parecia bastante preocupado.

O capataz passou por Dakota sem a cumprimentar e foi direto para Alice e Rosana.

— Alice, vi uma situação estranha há pouco. Achei melhor falar com você, pois não sei se interpretei errado.

— O que foi, Jaime?

— Nando estava com um dos técnicos que vieram fazer a manutenção das máquinas. Na verdade, esse era um sujeito diferente.

— Como assim? Eles terminaram o trabalho ontem.

— Foi o que pensei e perguntei. Ele disse que esqueceram algumas ferramentas e foi incumbido de buscar. Achei estranho, porque fiz questão de inspecionar o lugar antes dos técnicos irem embora ontem. Não vi ferramenta alguma. Então, me ofereci para ajudar, mas o sujeito falou que Nando já estava fazendo isso. Nunca vi aquele rapaz tão pálido na vida, Alice.

Tirou o chapéu da cabeça e começou a girá-lo entre as mãos.

— O tal técnico era bem mal-encarado. E em vez de irem para a fábrica, eles entraram em um carro e seguiram para fora da fazenda. Não tenho certeza sobre isso, mas fiquei com a impressão de que o técnico estava armado. Dava para ver o volume por baixo da camisa. Era isso ou ele tem o mesmo hábito esquisito desses jovens de hoje, que adoram colocar o celular na cintura, mesmo tendo um bolso para isso.

Dakota passou a mão no rosto e ficou de pé, perguntando:

— O serviço foi concluído ontem mesmo?

— Sim — Alice e Jaime responderam ao mesmo tempo.

— Tem certeza de que não ficaram ferramentas largadas pela fábrica, Jaime?

— Absoluta.

Ela se voltou para Alice.

— Seu irmão costuma ser tão prestativo? Ajudaria um estranho assim?

Alice quase não conseguiu evitar sorrir.

— Nando?! Não mesmo.

Com um meneio de cabeça, Dakota olhou para o capataz.

— Como era o carro e qual direção eles tomaram? — quis saber.

O homem recolocou o chapéu na cabeça.

— Uma caminhonete branca. Menor que a sua e sem o logo da empresa. Acho que foram em direção a Cascabulho.

— Quanto tempo? — ela insistiu.

— Não faz mais que cinco minutos.

Ela voltou a olhar para Alice, fazendo uma pequena careta, enquanto analisava o melhor caminho. Por fim, dirigiu-se para as escadas.

— Se eu for pelos canaviais, consigo interceptá-los antes que cheguem ao rio — falou, já descendo as escadas.

— Eu vou com você! — Alice correu atrás dela e, quando Dakota deu a partida no motor, ela já estava no banco passageiro, enquanto Jaime se acomodava no banco de trás.

Dakota acelerou, guiando a picape pelas estradas da fazenda Mimosa até alcançar uma passagem estreita, quase completamente encoberta pelo mato, que os levou a uma estradinha que cortava um pequeno pomar. Esta, por sua vez, os levou até os canaviais.

— Mas que droga está acontecendo, Dakota?

— Acho que o seu irmão está sendo sequestrado — ela respondeu, esticando o braço e abrindo o porta-luvas, de onde tirou uma pistola. — Na mochila, embaixo do banco, tem outra arma.

Jaime pegou a mochila, fazendo cara feia para a Glock que tirou dela.

— Para que tanta arma, menina?

— Às vezes, eu gosto de caçar, Jaime. Como você me ensinou, lembra? — deu uma piscadela para ele, através do retrovisor.

Deu uma guinada no volante e fez uma curva fechada. Alice tinha muitas indagações na cabeça, mas preferiu manter a boca fechada e o seu almoço dentro do estômago. Tarefa que se mostrou complicada com todos os solavancos e curvas da estrada em harmonia com o jeito que Dakota estava dirigindo. Quando alcançaram a estrada principal, Jaime apontou para a caminhonete que seguia a frente.

— São eles!

Dakota pisou fundo no acelerador e emparelhou os dois veículos. Buzinou para o motorista do outro carro e fez um gesto, pedindo para ele parar. Diante disso, o homem apontou uma arma na direção de Alice. Nando, que estava no banco do passageiro, segurou o braço dele. Ocorreu um disparo que, felizmente, atingiu o teto do veículo.

O falso técnico conseguiu atingir o rosto de Nando com o cotovelo, livrando-se dele por alguns segundos. Quando ele voltou a apontar a arma na direção de Alice, Dakota tirou o pé do acelerador e jogou sua picape na traseira do veículo dele, que perdeu o controle da direção e saiu da estrada, atingindo uma árvore.

Dakota freou a picape e deu ré. Quando estacionou e desceu do veículo com arma em punho, Nando saiu do outro carro, desnorteado, e Alice o abrigou entre os braços. Dakota deu a volta na caminhonete e encontrou o banco do motorista vazio.

***

— Estou bem — Nando afirmou para Matilde, quando afundou no sofá.

Ele tinha alguns arranhões, provenientes de estilhaços do parabrisas quebrado. Devido a pancada que recebeu quando a caminhonete bateu, um galo crescia em sua testa. O nariz já não sangrava, depois da cotovelado que levou no rosto.

— Que bom — Dakota, que manteve o silêncio durante todo o trajeto de volta à Mimosa, falou. — Agora, comece a falar. Por que pagou aqueles caras para me darem um susto? Depois, você conta para a sua irmã no que está metido, porque ninguém é sequestrado de graça.

— Acho que isso pode esperar, Dakota. Ele acabou de sofrer um acidente… — Alice interrompeu a fala, quando ela ergueu um dedo, exigindo silêncio.

A motoqueira sentou sobre a mesinha de centro, diante do rapaz que abrigou o olhar nos cadarços do próprio tênis.

— Acabei de salvar a sua pele, Nando. É mais consideração do que você teve comigo ao contratar aqueles delinquentes. E, para ser sincera, eu não gosto muito deste lugar, então o meu humor está um pouco ácido. Explique-se de uma vez, para que eu possa ir embora daqui!

— Eu não sei do que você tá falando.

Impaciente, Dakota encheu as bochechas de ar. Ela fechou a mão no tecido da camiseta dele, obrigando-o a se curvar na sua direção. Seus rostos ficaram a poucos centímetros um do outro.

— O seu plano idiota podia ter resultado na morte da sua irmã, sabia? Alice estava comigo quando aqueles homens vieram. Sorte que eram amadores.

Ele fitou Alice e baixou o olhar, dizendo:

— Não era para ninguém se machucar. Era só um susto.

— Você é idiota, garoto?! — Dakota o soltou.

— Como é que eu ia saber que você é uma ninja maluca?! Quando armei isso, você ainda nem tinha dado uma surra no Rochinha. Se bem que aquele imbecil apanharia até de uma garotinha.

— Por que fez isso, Nando? — foi a vez de Alice perguntar, a decepção evidente em suas feições.

Ele não respondeu.

— Por quê? — a irmã insistiu.

Nando virou o rosto, mantendo o silêncio. Dona Rosana, que até então manteve o silêncio, entrou na conversa:

— Por que atacar alguém que você nem conhecia, Nando?

Alice sentou ao lado dele, passando a mão no rosto enquanto tentava entender aquela confusão. Seu irmão não era assim. Ele era um pouco irritante e irresponsável, mas não era um homem agressivo e, tampouco, se envolvia com gente de índole duvidosa.

— Eu só estava tentando ajudar uma amiga — ele respondeu baixinho.

— Que amiga pediria algo assim para você? — Jaime perguntou.

Dakota ficou de pé, ciente da resposta que ele não fez questão de dar. Soprou o ar com força, então enfiou as mãos nos bolsos, mais relaxada, e perguntou:

— Onde ela está?

— Quem? — Nando ficou vermelho e tentou se fazer de desentendido.

— Não vamos começar com isso de novo, garoto — ela soou branda. — Onde está Isabella?

Nando jogou as costas contra o sofá. Vendo que a conversa caminhava de forma mais tranquila, Matilde foi até a cozinha buscar gelo para o galo na testa dele. Jaime ficou por ali, sem saber o que fazer, tanto quanto Dona Rosana e Isadora.

— Ela está segura — afirmou o rapaz.

— Eu vou julgar isso — Dakota retrucou, finalmente, suspirando de alívio. — Vamos lá! Onde ela está?

— Já disse, está em um lugar seguro — ele soou rebelde, quase arrancando um sorriso de Dakota.

Se desejasse, ela arrancaria a resposta dele em poucos minutos. Porém, isso exigira o uso da força e causaria uma confusão entre as pessoas que os rodeavam.

— Ok. Então, vamos seguir por outro caminho. Conta o que aconteceu com ela. Por que se escondeu? E vê se não esconde nada.

Sem ter como fugir do assunto, Nando aceitou o gelo que Matilde trouxe e começou a falar:

— Nós somos amigos, sabe? Não costumávamos andar juntos, mas sempre nos encontrávamos na casa do Tonho quando ela vinha passar as férias por aqui. Dessa última vez, eu nem sabia que ela estava em Cascabulho. Bela me ligou no meio da noite, pedindo para encontrá-la. Tomei um susto danado quando a vi cheia de sangue. Ela me contou que tinha assistido o atentado contra o tio. Disse que era tudo culpa dela. Para ser sincero, eu não estava entendendo nada. Ela estava histérica. Pensei que tinha usado alguma droga forte. Ela não é disso, mas nunca se sabe.

Encolheu os ombros.

— Tentei levá-la para o hospital, mas ela implorou para não fazer isso. Disse que iriam matá-la. Então, a trouxe para cá. Quando o dia amanheceu, meu celular não parava de tocar. Eram ligações e mensagens sobre o que aconteceu com Tonho.

Fez uma pausa, tirando o gelo da testa.

— Foi quando entendi que o que ela relatou não era noia. Fiquei apavorado. Isabella contou que ela e uma amiga viram algo que não deviam e decidiram seguir com a vida normalmente. Acontece que essa amiga morreu em um assalto, dias depois. Foi algo triste que pode acontecer com qualquer um, né? Mas a mesma coisa quase aconteceu com Isabella, no dia seguinte. E dias depois aconteceu uma invasão no apartamento dela. O invasor só não a matou porque um vizinho percebeu a ação e entrou no apartamento. Depois disso, Isabella juntou os pontos. Com medo, ela veio se esconder em Cascabulho. Contou o que aconteceu para o Tonho e ele disse que ia dar um jeito, mas alguns caras apareceram na casa dele e vocês sabem o que houve.

Dakota exalou forte, passando a mão pelos cabelos curtos. A cabeça latejava, tentando entender em que tipo de confusão aquela garota tinha se metido.

— E por que você pagou os quatros palhaços para me assustarem? — perguntou a ele.

— Eu vi você no bar do Tonho e ouvi algumas histórias na cidade. Quando comentei sobre isso com Isabella, a garota surtou! Ela disse que você também iria morrer e… — ele mordeu o lábio inferior — falou que não ia suportar ser a culpada pela sua morte também.

Um sorriso torto visitou os lábios de Dakota.

— Que irônico! Na última vez em que nos vimos, ela disse que queria que eu morresse.

— Por que ela diria uma coisa assim? — Isadora saiu do seu silêncio. Do pouco que conhecia Isabella, ela era uma moça muito doce.

— História longa — Dakota limitou-se a dizer. — Por favor, Nando, continue.

O rapaz limpou a garganta, voltando a colocar o gelo na testa.

— Eu fiquei com pena dela e tentei dar um jeito nisso. Achei que se aqueles caras te dessem um bom susto, você iria embora de Cascabulho.

— Logo se vê que você é o gênio da família — Dakota zombou dele. — Se tivesse pedido a Isabella para falar um pouco mais sobre mim, saberia que seu plano teria o efeito contrário.

Ela lançou um olhar cobiçoso para a garrafa de uísque sobre o aparador no canto da sala. Sem cerimônia, foi até lá e se serviu. Tomou um gole longo e tornou a encher o copo. Fez o mesmo com outro copo e entregou a ele. Nando seguiu seu exemplo e tomou um gole farto, satisfeito pelo ardor na garganta.

— Agora me fala sobre o cara que te sequestrou — Dakota pediu.

— Não sei muito. Eu fui até a casa de Jaime e Matilde, mas não tinha ninguém. Então, quando estava vindo para cá, esse cara apareceu e colocou uma arma nas minhas costelas. Disse para não fazer movimentos bruscos e nem alertar as pessoas. Quando Jaime apareceu, ele disse para concordar com tudo que dissesse, senão iria matar ele. Quando saímos da fazenda, ele não parava de me perguntar sobre Isabella. Eu falei que não sabia de quem ele estava falando. Ele me agrediu e disse que viu uma foto nossa juntos e que eu estava mentindo. — Fez um biquinho e tomou o resto da bebida no copo. — Acho que a foto é do São João passado. Nos encontramos em Passo Doce e um amigo tirou uma foto para postar no Instagram. Nem me lembrava disso.

Dakota colocou o próprio copo sobre a mesa de centro. Escondeu o rosto entre as mãos por alguns segundos.

— Olha, — Nando falou — desculpa por aqueles caras, tá? É que a Bela ficou desesperada, achando que você ia morrer também… Eu precisava fazer alguma coisa.

Ela baixou as mãos e o encarou com um sorriso cansado.

— Sabe, Nando, Isadora tinha razão quando me disse que você é um bom rapaz. Além disso, você é muito sortudo! Pena que, agora, você também se tornou um alvo das pessoas que estão perseguindo Isabella.



Notas:



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