Desde sempre

Capítulo 21 – Conclusão

Capítulo 21 – Conclusão

O som do mar sempre fora algo tranquilizante, quase hipnótico para Liz e a tranquilidade de Trancoso em pleno abril exacerbava ainda mais este efeito. Liz sentou-se na areia, pegou um punhado de areia molhada e apertou até formar um bolo compacto. Quase seis da tarde e ela se lembrou de que só havia comido meio pão francês pela manhã e nada de fome. Suspirou. Um ser pequeno e transparente passou correndo de lado e quase arrancou um sorriso da loirinha.

– Engraçado como eu sempre achei que conduzi a minha vida correndo de lado como um caranguejo sem nunca encará-la de frente. Acho que já está na hora de mudar.

O susto fez o coração de Liz bater no meio da garganta. Fabiana estava parada olhando para ela. A loirinha não conseguiu pensar em nada para dizer a não ser…

– Como você chegou aqui?

– Taís.

– Duvido.

Fabiana apenas elevou os braços como a dizer: eu não estou aqui?

– Como?

– Eu liguei para o Caio e pedi o telefone dela.

– Você e Caio andam com tão boas relações assim?

– Não tão boas quanto eu gostaria. Por culpa minha, eu acho, mas espero corrigir isso. Como eu já disse, Caio é um homem maravilhoso e um estimado amigo.

Liz ficou calada e Fabiana continuou:

– Foi um pouco mais difícil com Taís. Não, foi dificílimo. De alguma forma eu sabia que ela sabia onde você estava. Ainda tenho a impressão de que ela teria enorme prazer em me esganar, mas acho que meus argumentos terminaram por convencê-la de que nós precisávamos ter esta conversa. Tive ainda que convencê-la de minhas intenções, não sem grande esforço. Ela é muito leal. Acho que nos envolvemos com uma família mesmo especial.

Liz olhou para ela, mas antes que pronunciasse qualquer palavra, Fabiana sentou-se ao seu lado na areia.

– Você terminou a nossa conversa sem comentar sobre o que eu disse. Na verdade, ao interromper a conexão de uma forma tão abrupta e o posterior telefonema do editor me informando, delicadamente, que se eu tivesse mais alguma coisa para dizer ou alguma exigência de última hora, que eu me reportasse diretamente a ele, para muitos, poderia ser uma resposta mais do que contundente. Não para mim. Há muito eu deixei de me contentar com aparências e mesmo que o que você me diga hoje despedace as minhas mais acalentadas esperanças, ainda assim, eu quero e preciso ouvir.

– Por que isso agora, Fabiana? Digo, depois de tanto tempo e quando você e eu temos toda uma vida apartada uma da outra.

– Exatamente por isso. Porque nós construímos uma vida apartada uma da outra e eu sinto, com uma certeza profunda, que nossas vidas não foram moldadas para seguirem separadas.

Liz sorriu em descrédito.

– É, eu sei. Cafona, não é? Pois eu não me importo de parecer cafona, se eu fizer com que você compreenda que eu não vivo sem você. Quero dizer, vivo, sim, mas não com a completude que só sua presença é capaz de me proporcionar. Eu me transformo na rainha do ridículo se isso te fizer enxergar que, para mim, a visão do céu está eternizada nesses seus olhos claros, se eu te fizer entender que a minha noção de lar, de conforto e de amor, cabe na exata envergadura dos seus braços.

Liz sentiu que iria começar a chorar de novo e ela não queria mais isso. Não!

Definitivamente, bastava de chorar. Olhou para Fabiana com a mágoa de anos.

– Por que você voltou para destruir a calma que eu demorei tanto para edificar?

– Por que eu achei que nós merecíamos isso.

– Nós?!!!!

– É. Nós.

– Em que exato instante você começou a pensar em nós e não em você? Em sua vida mediana e vulgar? No que você sentia e temia? Quando?

– Na verdade mesmo, Liz, foi quando Eric me forçou a perceber que eu tinha abandonado o grande amor da minha vida.

– Eric…

– É. Eu nem sei como pude merecer outra pessoa assim tão extraordinária em minha vida. Eric me fez contar coisas de minha vida de que não ousava sequer me lembrar para não morrer de tristeza e vergonha e, me fez enfrentar a minha covardia. Também me fez exercitar a grande força que você já havia percebido em mim, quando ainda éramos meninas. E quando eu desabrochei para a verdade simples de que eu era forte e capaz e, de que eu a amaria irrevogavelmente para sempre, ele apenas sorriu com orgulho e me deixou cuidá-lo com carinho. Desde então, eu tenho preparado um jeito de me aproximar de você.

– Para que? Bastava ter chegado e dito tudo isso. Para que toda esta história de uma série de reportagens?

– Não bastava, não, Liz. Eu cheguei da forma mais natural que consegui e ainda assim tive enorme dificuldade de me aproximar de você, para não dizer que, mesmo após toda a minha preparação, você ainda me deixou falando para as paredes por pelo menos duas vezes. Imagine o que aconteceria se eu simplesmente aparecesse, após tantos anos, e te dissesse tudo isso que eu estou te dizendo agora?

Silêncio.

– Isso mesmo.

– Fabiana, me desculpe, mas eu não sei como processar isso. Eu te quis tanto e por tanto tempo. Meu Deus! Acho que desde a primeira vez em que eu te vi. E depois, a gente fez amor…e foi maravilhoso…e você some! Some! Fabiana, eu nunca tive razões para confiar nas pessoas com as quais eu cresci, mas também, graças a Deus, tive algumas outras pessoas que me resgataram esta confiança e me ergueram na direção de uma vida digna. Quando você foi embora, depois de horas de um amor profundo, de uma intimidade inexprimível, eu senti como se tivesse levado umas dez surras de meu pai, umas vinte cusparadas de meus irmãos, uns trinta olhares doloridos e impotentes da minha mãe. Desamparada, desprotegida, desamada como eu nunca pensei que me sentiria novamente. E muito pior. Porque contra você eu não tinha defesa. Eu não podia desprezá-la, sussurrando insultos pelos cantos. Eu não podia vilipendiá-la com sonhos vingativos. Eu te amava e você me machucou de uma forma inexprimível.

Fabiana abaixou a cabeça tristemente.

– Taís foi uma pessoa maravilhosa. Recolheu os cacos de minha autoestima pelo chão e me amou de uma forma tão carinhosa que eu me reergui mais forte e mais disposta a amar e acho que, felizmente, eu pude devolver a ela todo o bem que ela me fez porque nós realmente tivemos um relacionamento invejável durante todos os anos de nossa convivência. Eu amo e respeito profundamente aquela mulher.

– Tudo o que você não sente por mim, não é mesmo, Liz?

Não sei. Eu não sei mesmo. Eu me sinto um pouco fora de mim. É como se algo pelo que eu ansiasse, desde sempre, acontecesse de uma forma estranha e tão fora do tempo que eu não mais reconhecesse – Liz pousou os olhos verdes límpidos em Fabiana. – Entende?

– Acho que sim. Posso ao menos te contar uma coisa? – Liz apenas assentiu com a cabeça.

– Naquele dia em que eu me deitei na sua cama, eu sabia exatamente o que eu queria. Exatamente. Era sólido, profundo, irrecusável. Quando eu senti a sua pele na minha, foi como se nada no mundo pudesse ser mais perfeito. Senhor! Eu acho que poderia gozar só de você colocar as coxas no meio das minhas coxas. Eu pressenti que talvez, eu nunca mais tivesse uma sensação daquelas e estava certa. Mas, ainda assim eu te deixei. Eu fui embora atrás de um modelo de vida que eu julgava ser o correto…tão boba…levando comigo a lembrança de uma noite de felicidade completa que eu iria guardar como um tesouro para todo o sempre, dentro da vida que eu havia escolhido para mim.

Liz olhou para o mar, respirou com força e perguntou:

– E quando você achou que tinha o direito de retornar e me falar essas coisas sem se importar se eu gostaria de ouvir, sem se perguntar se eu poderia estar bem melhor sem você?

– Desculpe, Liz, mas desta vez eu não pensei. Pela primeira vez eu não enchi a minha cabeça de elucubrações vãs e dúvidas incessantes. Eu provoquei, sim, o nosso reencontro. Eu planejei e fiz acontecer, porque, repito, nós merecíamos e ainda acho que merecemos uma nova chance. E não venha me dizer que está melhor sem mim. Eu acho que você realmente seguiria com a sua vida perfeitamente, mas não depois que eu tive você novamente nos meus braços, Liz, e sorvi a verdade da sua boca. E a verdade é que nós nos amamos desde sempre, Liz.

E de repente, ambas estavam naquela praia no Guarujá na noite do reveillon em que Liz se declarou para Fabiana. Mas, desta vez, foi Fabi que, num gesto inesperado atirou-se sobre a loirinha, deitando-a sobre a areia e capturando-lhe os lábios com toda a força de anos de um amor adiado. Liz não esboçou reação a não ser passar as mãos pelo pescoço do grande amor da sua vida e entremear os dedos no cabelo escuro.

Rendeu-se. Beijou-a com ardor e doçura. Deixou-se conduzir pelo prazer de algo mil vezes desejado e tantas vezes negado. Permitiu fluir, as incríveis sensações que nos concedem os lábios que são o princípio da delícia de se devorar quem se quer.

Os lábios são o princípio do sabor.

Fabiana se levantou e estendeu a mão. Calmamente, Liz abraçou a mão estendida e caminharam juntas aspirando o ar salgado e quente da tarde nordestina. Entraram na casa. Mas, quando Liz fechou a porta atrás de si e olhou para o amor da sua vida…Sabe aquelas coisas irreais? Aquela sensação de sonho como se nada daquilo estivesse realmente acontecendo com você? Pois é! Liz parou. Parou com um medo ancestral. Tão antigo quanto as marcas do chicote do pai que, no entanto, já não a incomodavam há muito tempo. E, no entanto, Fabiana…Ah, Fabiana era capaz de deixá-la despida, desarmada, indefesa. Tão capaz de ser ferida quanto um filhote de passarinho.

 

Fabiana também parou. Também de medo. Medo de Liz ter se arrependido. Medo dela nunca mais a perdoar. De não querê-la de volta. De não amá-la mais. Um sabre longo e gelado pareceu trespassar-lhe o peito. Um aperto. Um não sei quê de agonia a paralisou.

 

Liz olhou para Fabiana com os olhos turvos de amor e dúvida e nesse momento Fabiana soube que deveria agir, ou então, o seu pequeno amor a deixaria. Avançou com a coragem que não tinha. Olhou para a sua amada com uma certeza que no fundo era a de um equilibrista e disse vagarosamente:

 

– Liz, eu te amo profundamente. Acredite em mim.-  Olhos azuis ansiosos.

Liz suspirou, enlaçou o pescoço tão alto, aspirou o hálito inesquecível tão próximo e trouxe a boca adorada para si. Se isso era um sonho? Foda-se! Pois iria vivê-lo até a última gota.

 

Liz beijou-a mansamente apenas roçando os lábios e Fabi riu baixinho porque ela estava na ponta dos pés e por isso ganhou uma mordida no lábio, somente para rir mais largamente, ainda com aquele sorriso perfeito que só Fabiana tinha. Desafiada, Liz a agarrou com força e deu-lhe um beijo de tirar o fôlego, Fabiana gemeu e abraçou a cintura do seu pequeno amor, trazendo-a para junto de si. Foi a vez de Liz rir por entre um beijo sôfrego.

Liz passou as mãos por dentro da blusa de Fabiana e tocou a pele morena e macia, passando a mão pelas costas e para cima arrancando um suspiro da morena no meio de um beijo interminável.

Repentinamente ousada, Fabiana afastou-se um pouco, tirou a blusa e o sutiã e a visão dos seios fartos cor de caramelo deixou Liz tonta de desejo. Aparentemente desprovida de sua antiga timidez, Fabiana avançou tirando gentilmente o vestido de Liz e desamarrando-lhe a parte de cima do biquíni. Foi a vez de Fabiana respirar forte à visão de um par de seios perfeitos e rosados. Tocou-os com cuidado. Liz suspirou e colocou a mão sobre a mão de Fabiana fazendo-a apertar-lhe o seio, enquanto a loirinha fechava os olhos com um gemido.

Beijaram-se novamente sentindo desta vez o calor e a maciez únicos dos seios nus da mulher amada em meio a um longo abraço.

Liz deu a mão para Fabiana e puxou-a sem pressa para o quarto. Delicadamente, fez com que a morena deitasse sobre a cama e sem tirar os olhos dos olhos claros de sua amante retirou a calcinha do biquíni e surgiu na frente de uma Fabiana enfeitiçada com toda a sua encantadora nudez. Então, ajudou Fabiana a livrar-se das calças leves de verão e com um sorriso indecifrável deitou-se sobre ela.

Inexplicável a sensação de deitar-se sobre a mulher amada e nua. Um encontro nada casual de delícia, enlevo e tesão. Beijaram-se com paixão. Desses beijos que não se preocupam com perícia ou sensações delicadas. Desses beijos de pura gula: sôfregos, molhados, loucos, antropofágicos.

Fabiana rebolava por baixo da sua pequena amada, procurando contato, implorando por ele.

Liz começou a massagear-lhe o torso em movimentos cadenciados e circulares, descendo e subindo o corpo sobre o corpo de Fabiana, estabelecendo um contato íntimo e abrangente entre seios, barrigas e sexos e de tal forma que chegava os bicos rosadas junto aos lábios de uma Fabiana boquiaberta e sedenta e escorregava serpenteando sensações até roçá-los no sexo palpitante que, nesse momento, faltava explodir em pulsações quase dolorosas.

Sem mais suportar, Fabiana agarrou a sua loirinha com as pernas, forçando-a a parar sobre ela. Liz, então, posicionou os quadris em cima do sexo palpitante que se lhe oferecia, encharcado e quente e, começou um rebolado ritmado e lascivo por entre as pernas abertas que lhe enlaçavam a cintura. O atrito maravilhoso deste contato voluptuoso, a umidade abundante fazendo entreabrir os grandes lábios e expondo os clitóris aos movimentos frenéticos daquela dança sensual, o tesão acumulado de anos de sonhos inconfessáveis fez com que ambas explodissem num orgasmo rápido e intenso.

Respirações difíceis, suor e sensações antigas tomaram conta do quarto.

Ignorando o coração ainda com batimentos de velocista, Fabiana rolou sobre Liz posicionando-se sobre ela. Com os olhos azuis quase acinzentados, embaciados de desejo, começou a beijar o corpo pequeno e perfeito, descendo pelo pescoço, passeando os lábios, a língua e os dentes pela pele clara, aspirando e provando sem pudor cada pedaço quente de epiderme. Parou de frente a um dos seios e abocanhou-os. Liz expirou forte como num susto. Fabiana prosseguiu mordiscando de leve o biquinho rígido, passando a língua sobre ele em movimentos cada vez mais fortes até que Liz começasse a elevar os quadris involuntariamente. Impassível, Fabiana prestou as mesmas homenagens ao outro seio e quando, por fim, os gemidos de Liz tornaram-se mais urgentes, Fabiana desceu o rosto roçando os lábios pela barriga dividida, respirando bem perto do sexo latejante que Liz erguia sem se conter em direção ao rosto moreno. Devagar, Fabiana passou a língua levemente sobre o clitóris vermelho e túrgido. Liz gemeu longamente de olhos fechados e os lábios premidos de expectativa. Sedutoramente, Fabiana se aproximou e finalmente deitou a língua quente sobre a feminilidade pulsante de sua pequena amante em lambidas cadenciadas de baixo para cima fazendo Liz verter sons quase soluçantes e entrecortados. Devagar, penetrou-a com dois dedos entrando e saindo ritmadamente enquanto a língua trabalhava incessante e na mesma cadência.

Liz pensou que fosse desfalecer.

Um rubor intenso tomou-lhe o rosto e o pescoço, o ventre contraiu-se e ela arqueou o corpo gemendo longamente num gozo poderoso como jamais havia sentido. Sem forças, deixou-se abraçar por Fabiana que a acalentou com beijos suaves no rosto e nos cabelos loiros.

– On-onde você aprendeu a fazer isso? – Liz perguntou ainda vacilante. Fabiana riu daquele seu jeito particular.

– Ciúmes, meu amor?

– Curiosidade.

– Bom, esta é realmente uma de suas companheiras mais constantes. Pois bem, pequena curiosa, digamos que não se deve subestimar a força substanciosa de anos de sonhos inconfessáveis e avassaladoramente  impuros com a mesma pessoa.

– Impuros? – Liz perguntou com um meio sorriso maroto. Fabi deu uma risada.

– Impuríssimos – respondeu.

– Bem, já estamos ambas perdidas mesmo – Liz disse e pulou sobre Fabiana como uma gata. – Minha vez, Mrs. Hathaway.

 

Epílogo

 

– Anda logo, amor. Nós vamos chegar atrasadas.

– Caramba, Fabi. Eu gostaria de ver você se movimentar com esta barriga.

– Eu nunca terei esta sorte, pequena.

– E não precisa, porque este bebê é nosso e você pode ter certeza de que farei você sentir cada minuto do meu desconforto.

– Ái, Jesus. Eu não duvido.

– Fabi…

– Diga.

– É o nosso filho. Mesmo que você não o tenha gerado, é nosso filho.

– Eu sei, amor.

– Talvez saiba, mas está com dificuldade de compreendê-lo no coração. Eu te conheço, Fabiana.

Fabiana suspirou com força.

– E o que eu faço, minha amada?

– Bom… – Liz a enlaçou pelo pescoço e sorriu. – Pode começar olhando carinhosamente para ele, no dia em que nascer com estes seus lindos olhos azuis e uma certa expressão compenetrada demais para um bebê. Eu sei que ele terá a sua cara.

– Ceeerto, e me diga como, Liz? – Fabiana roçou o nariz no nariz de sua mulher já com um enorme sorriso no rosto.

– Porque ele só pode nascer com o rosto que está gravado na minha alma. Fabiana colocou o queixo em cima da cabeça loira num gesto comum entre elas. Liz perguntou baixinho:

– Nós temos mesmo que almoçar com ela?

– Aham.

– Ai, meus sais. Eu estou grávida. Não deveria passar por este suplício.

– Eu entendo, amor. Mas, veja só, ela melhorou muito.

– Claro! Agora, ela é apenas uma megera e não mais uma torturadora das masmorras medievais.

– Você vai aguentar, amor. É somente por um par de horas.

– E se ela me perguntar de novo sobre a linhagem do pai da criança?

– Diga que é brasileira.

– Grande!

– Ok. Diga que é sua e minha.

– E, então, ela vai perguntar em que dia entre hoje e a concepção virginal de Maria, a ciência conseguiu esta façanha. Fabi, eu te imploro…

– Ela está velha.

– E continua um porre.

– Ela é minha mãe.

– É a única qualidade que ela tem.

– Eu te amo.

– É a maior qualidade que você tem.

– Liz!

– Tá bom, tá bom. Vou passar por esta provação com a fleuma dos mártires.

– Ela gosta de você.

– Claro. Eu entendi isso da última vez em que ela me lembrou de que eu me visto como uma mendiga.

– Pelo menos, ela nunca tocou no assunto de que eu vivo maritalmente com você.

– Maritalmente? De onde veio este vocabulário? É a influência epidêmica da proximidade da sua mãe. Tem certeza de que ela não comanda uma horda de seres soturnos e maléficos que sussurram palavras como maritalmente em nossas mentes incautas?

– Bem, a única coisa de que eu tenho certeza é a de que eu te protegerei com todas as minhas forças de modo a, não existir nada no mundo que possa te alcançar sob o meu cuidado.

– Eu sei…

– Sabe mesmo?

– Eu sei que você é a mulher da minha vida. Eu sei que vou querer morrer a cada minuto desse fatídico almoço, mas vou suportá-lo bravamente por você. Só por você.

– Obrigada.

– Não. Obrigada a você por existir, por ter voltado para mim, por me fazer uma pessoa imensamente feliz.

 

1987

 

– Anda logo, Fabiana. Você vai perder o espetáculo.

– Já vou, já vou. Olha aqui a pipoca.

– Deita aí. Poxa vida, eu nunca vi um eclipse solar na minha vida.

– Nem eu.

– Me dá um pouco de pipoca. A irmã Maria falou que apesar dos eclipses ocorrerem em algum lugar da Terra a cada dezoito meses, é estimado que eles recaiam duas vezes em um dado lugar apenas a cada trezentos ou quatrocentos anos…

– Liz, vê se não atrapalha o momento dizendo qualquer coisa bem científica e chata, tá?

– Ô, ignorância.

Liz levou um peteleco na cabeça loira.

– Ai, Fabi.

Fabiana deu uma risada sonora e colocou um punhado de pipoca na boca.

– Liz…

– Hum.

– Será que a gente vai ver um próximo eclipse juntas novamente?

– Se depender de mim, eu vou ver todos os eclipses daqui para depois do próximo milênio ao seu lado, Fabi.

Fabiana levantou o tronco do chão e falou olhando para a melhor amiga.

– Jura?

– Juro.

O sorriso que Fabiana deu pareceu mais luminoso que o sol que começava a ser coberto por uma ponta de unha negra.

 

– Olha só, Fabi. Vai começar. Cadê o meu pedaço de filme?

– Tá aqui. Toma.

– Liz…

– Hum.

– Você é a minha melhor amiga.

– Sou?

– É. A melhor.

– Então, tá.

E foi a primeira vez que Fabiana falou sem dizer e Liz ouviu sem ouvir um eu te amo.

 

Fim

Nota: Aqui chega ao fim esta incrível história. Nós do Lesword agradecemos a Paula Marinho por permitir que postássemos “Desde Sempre”. 



Notas:



O que achou deste história?

4 Respostas para Capítulo 21 – Conclusão

  1. Sempre amei essa estória. Muito feliz de ter encontrado ela aqui! Obrigada por essa oportunidade.

  2. Ok.
    A trama é sólida.
    Os personagens são bons.
    A escrita foi 99% satisfatória.

    Mas…

    1987
    1992/93

    Que chatisse, meu Deus!

    Isso arrebenta o ritmo de leitura.

    Flashback tem que ser exigido. Tem que ter um porquê. Eu pulei todos, e adivinha só: não me fez falta alguma. Compreendi 100% do conto.

    Bom trabalho, na verdade ótimo. Tirando os infinitos flashbacks inúteis.

Deixe uma resposta

© 2015- 2017 Copyright Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução total ou parcial do trabalho sem a expressa autorização do autor.